quinta-feira, 9 de junho de 2011

Nem brilhante, nem timinho: seleção em formação


Arrisco-me a ser execrado, mas não comungo das vaias e dos gritos de “timinho” alçados contra a seleção brasileira nas partidas contra a Holanda, em Goiânia, e contra a Romênia, em São Paulo.

É certo que o escrete canarinho não foi brilhante, mas também não se lhe pode impingir a pecha de timinho. Na verdade, ainda é um time em formação, passível de testes e sem o entrosamento mínimo desejado. Este, aliás, só virá com a definição de um elenco razoavelmente fixo de titulares – algo ainda mais complicado, dadas as seguidas contusões de Paulo Henrique Ganso, uma “peça” fundamental no esquema de Mano Menezes –, que jogue seguidas vezes.

Vale lembrar que as partidas contra a Holanda e a Romênia foram apenas as sétima e oitavas partidas do Brasil sob o comando de Mano Menezes. Talvez seja também o caso de lembrar aos que pedem a cabeça de Mano Menezes e, especialmente, àqueles que pensam que o Brasil, por ser o único pentacampeão mundial, tem a obrigação de jogar bonito e vencer – até mesmo, de goleada! – contra todos e em quaisquer circunstâncias, que a seleção de Dunga foi absolutamente vencedora nos anos que antecederam à Copa de 2010. É essa a referência de seleção que a torcida brasileira almeja no momento?

Na partida contra a Holanda, Mano colocou os jogadores que, dadas as últimas convocações, compõem o elenco principal, com as ausências dos lesionados Alexandre Pato e P.H. Ganso. O adversário, é sempre bom lembrar, é o vice-campeão mundial – o mesmo que eliminou o Brasil na África do Sul –, que, sob o comando de Bert van Marwijk perdeu apenas duas partidas em 38 jogos, sem uma delas a final da Copa! Destaque-se, ainda, que a Holanda está à frente do Brasil no ranking da FIFA e que, apesar da ausência de Sneijder – na minha opinião, menos importante a esta azeitada versão da Laranja Mecânica do que Ganso ao incipiente selecionado brasileiro –, contava com tudo o que tem de melhor, inclusive o perigosíssimo trio de atacantes, Kuyt, Van Persie e Robben. Em suma, o Brasil não tinha obrigação de vencer – como gostam de vociferar certos comentaristas –, mas de jogar bem. E o fez, sendo o placar de 0 a 0 justo e não condizente às boas chances criadas pelas equipes.

O Brasil criou pouco na primeira etapa e teve dificuldades em conter as investidas do jovem Affelay, que quase abriu o placar, não fosse a ótima intervenção de Júlio César. No segundo tempo, porém, o Brasil se acertou e chegou a esboçar um jogo envolvente, com rápidas e certeiras trocas de passes. Mas isso foi abortado pela entrada violenta e expulsão de Ramirez, em má fase: vem chegando atrasado aos lances, acertando com freqüência o adversário. Daí para frente, o Brasil parou de atacar, mas conseguiu conter a subida da Holanda.

Na partida contra a Romênia, a avaliação do time de Mano passa por duas ponderações: o técnico usou a partida para testar jogadores, em tese, reservas, e se tratava de um jogo de festa para a despedida de Ronaldo. De qualquer forma, a seleção esboçou jogadas de ataque, ainda que com excessiva procura de Neymar e dificuldade para finalizar. Mas o teste serviu para dar ao técnico confiança em relação a jogadores contestados como Jadson e Fred. Lembrando: contestados e reservas.

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O perfil da seleção de Mano

Após oito partidas sob seu comando, começar a ficar claro o perfil da seleção pretendido por Mano Menezes. Assim como alguns jogadores de sua confiança para preencher as respectivas funções em campo.

O time joga em um 4-4-2, que pode se tornar um 4-3-3, dependendo de como Robinho atue: mais recuado ou mais avançado. Aliás, um esquema muito parecido com o Corinthians de Mano, com destaque para o “meia cerebral” e o “centroavante referência”, no caso, Douglas e Ronaldo.

Os laterais – Daniel Alves e André Santos são titularíssimos – jogam como alas, sem abdicar do dever de marcar.

Quanto aos volantes, Mano gosta de um mais fixo, que jogue mais próximo aos zagueiros – Lucas Leiva é titular certo nesta função; Sandro é o reserva –, e outro, mais leve e que jogue mais à frente. Os volantes, ainda, não devem ter o “estilo botinada” (digamos, à la Felipe Melo), mas devem “mordem” o tempo todo, cercar o espaço do armador adversário, além de saber sair jogando e/ou até chegar eventualmente como jogador de ataque para uma finalização surpresa. Para a função de segundo volante, Ramirez, até então titular, pode perder a predileção do técnico, para alegria de Elias.

O problema de Mano está mais à frente. O “meia cerebral”, articulador, capaz de organizar e distribuir as jogadas de ataque e ditar o ritmo da equipe – enfim, o craque, o camisa 10 da seleção – parece ser o maior de todos os desejos de Mano Menezes. Contudo, para essas características, Paulo Henrique Ganso parece ser candidato único. Todos os demais possíveis candidatos – Jadson, Douglas, Thiago Neves, dentre os já testados – são meros espectros desse jogador. Até mesmo Robinho, Elano e Hernanes já tentaram cumprir esse papel, sem a qualidade vislumbrada em Ganso.

No ataque, Mano gosta de jogar com um centroavante referência – cujo nome do titular ainda não foi consolidado, com ligeira vantagem para Pato – e um ou dois jogadores rápidos e bem abertos pelos lados. Esta função é muito bem cumprida por Neymar, que, na ausência de um outro atacante com características similares, também joga no estilo limpador de pára-brisas – ora na direita, ora na esquerda –, fazendo lembrar, mutatis mutandis, Bebeto na Copa de 1994. Mas também pode ficar apenas pelo lado esquerdo, ficando Robinho pela direita ou outro atacante rápido, como Lucas, do São Paulo, ou Nilmar.

Enfim, esquema, filosofia de jogo ou expressões congêneres, há. Só que em tese. Falta, na prática, consolidá-los. O que virá ao longo dos jogos, assim como o tal entrosamento.

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Mano não é “dunguista”


Mano Menezes pode ser criticado por várias coisas, menos de ser “dunguista”. Em outras palavras, não tem apreço desmedido por volantões ou por avançar apenas em contra-ataques e não convoca seus jogadores por “comprometimento”.

No que diz respeito a suas convocações, inclusive a último, para a Copa América, ainda que se discorde deste ou daquele nome, foi chamado o que há de melhor no momento. Aliás, para os que pedem a cabeça de Mano, correndo novo risco de críticas severas, também não vejo ninguém muito melhor para comandar a seleção brasileira.

Às portas da Copa América, a um ano das Olimpíadas de Londres e a três da Copa do Mundo, talvez o melhor mantra seja este: paciência e persistência.

JFQ

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Convocação para a Copa América

Goleiros

Julio César (Inter de Milão)
Victor (Grêmio)

Laterais

Daniel Alves (Barcelona)
Maicon (Inter de Milão)
André Santos (Fenerbahçe)
Adriano (Barcelona)

Zagueiros

Lúcio (Inter de Milão)
David Luiz (Chelsea)
Luisão (Benfica)
Thiago Silva (Milan)

Volantes

Ramires (Chelsea)
Lucas Leiva (Liverpool)
Sandro (Tottenham)
Elias (Atlético de Madri)

Meias

Elano (Santos)
Paulo Henrique Ganso (Santos)
Jadson (Shakhtar Donetsk)
Lucas (São Paulo)

Atacantes

Neymar (Santos)
Robinho (Milan)
Fred (Fluminense)
Alexandre Pato (Milan)

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