Juca Kfouri
Neymar jogará onde Pelé jamais jogou
--certamente numa pena maior para Wembley do que para o Rei do futebol.
Mas neste sábado, às 15h de Londres, 11h
de Brasília, Neymar pisará a grama tão sagrada de Wembley para o futebol como a
de Wimbledon para o tênis.
Além do mais, Neymar terá a oportunidade
que Romário teve, em 1988, em Seul, na Coreia do Sul, e não aproveitou, ao
perder o ouro para a União Soviética, por 2 a 1, na prorrogação. O time
brasileiro de então era melhor que o de hoje, a começar pelo goleiro, Taffarel.
E tinha Jorginho, Ricardo Gomes, Mazinho, Bebeto, um timaço jovem contra os
profissionais soviéticos que se diziam amadores.
Se em 1984 a prata veio numa Olimpíada
boicotada pelos países comunistas e mais fortes no futebol olímpico, a de 1988 bateu
na trave, mas, novamente, frustrou.
Para chegar à finalíssima deste sábado,
Neymar e companhia precisaram vencer exatamente os anfitriões da Olimpíada de
1988, os coreanos do sul, cada vez mais rápidos, cada vez mais altos, cada vez
mais fortes e menos bobos.
E que chegaram a perder dois gols em más
saídas de Gabriel e patacoadas de Juan, além de terem sofrido um pênalti do
zagueiro brasileiro, que quase arrancou a cabeça do bom atacante Ji Dongwon,
que joga no Sunderland britânico, no primeiro tempo.
A sorte brasileira foi que o time asiático
tem em Lee Bumyoung um goleiro do nível de Gabriel e, de erro em erro dele,
além da conhecida visão de jogo e senso coletivo de Oscar, nasceu o gol
brasileiro, de Rômulo, que permitiu aos meninos de Mano irem para o intervalo
com uma vantagem que, se não fazia justiça, também não ofendia ninguém.
Passou a ofender quando, logo no recomeço
do jogo, outro pênalti, desta vez de Sandro, no mesmo Ji, não foi assinalado
pelo árbitro tcheco.
Como não demorou para sair o segundo gol,
de Leandro Damião, ficou uma sensação de facilidade que, definitivamente, não
houve. Daí em diante, a coisa mudou, e em ritmo de samba, Damião fez mais um,
ao seu estilo, para manter o aproveitamento de 100% da seleção.
Old Trafford, que esperava ver seus
representantes britânicos na semifinal, lotou mais uma vez para ver os
brasileiros, agora contra os algozes de seus patrícios. Coreanos que empataram
com os finalistas do México sem gols, na primeira fase.
O Rei Pelé deverá torcer pelo novo ídolo
santista pela TV, quem sabe ouvindo os comentários de Romário. Que estará nas
tribunas para comentar a final, garantia de recorde de audiência da Record. E,
caso o ouro venha, com direito a festa da torcida nas ruas, hipótese pouco
provável, apesar de o time merecer a comemoração.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 08/08/2012.