sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Morre Félix, goleiro da seleção brasileira na Copa de 1970




Félix Miéli Venerando, goleiro da seleção brasileira na Copa de 70, morreu nesta sexta-feira pela manhã aos 74 anos. O ex-jogador lidava com um enfisema pulmonar através de remédios e sessões diárias de oxigênio.
 
O goleiro foi revelado pelo Nacional, de São Paulo, e jogou na Portuguesa e no Fluminense e foi titular na conquista do tricampeonato, ao lado de Pelé, Tostão, Clodoaldo, Gerson e Rivellino.

Fonte: UOL http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2012/08/24/felix-goleiro-da-selecao-brasileira-na-copa-de-1970-morre-aos-74-anos.htm

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"Keep Tense and Carry On"

Lúcio Ribeiro


Amanhã o Brasil pega a Suécia em amistoso festivo que serve de despedida do estádio em que ganhamos a Copa de 1958 e onde começamos a assombrar o mundo. Tudo neste noticioso trecho inicial é verdade.

Mas, além da simples notícia, ele é muito irônico. Alegria, tristeza, começos, fins. O clima não é de festa. É de funeral.

A dois anos de uma segunda Copa do Mundo em casa, tal amistoso vem poucos dias depois de o Brasil perder a Olimpíada mais ganha da história, batendo rivais fracos e perdendo a final para o primeiro selecionado médio que enfrentou. Isso com o "time-base" do Mundial-14, sob o comando do técnico "ideal" do Mundial-14, carregado pelo suposto futuro melhor jogador do planeta na projeção para 2014 etc.

O fiasco olímpico veio mostrar que continuamos a assombrar o mundo. Mas, desta vez, do modo negativo. Em 2011, o grito foi forte contra uma certa capa da revista inglesa "Four Four Two". O título da publicação era impiedoso: "A morte do Brasil". E trazia o símbolo da nossa camisa com um "RIP" (descanse em paz, do inglês "rest in peace") em vez de "CBF", a sigla da nossa empresa regente, da qual os ingleses adoram lembrar os escândalos.

Foi um sinal claro de que os gringos, principalmente os ingleses sempre tão apaixonados pelo Brasil, não estavam mais engolindo o "joga bonito" da propaganda. E, sem discutir os (bons) argumentos da reportagem, se ela fosse publicada agora, não ia ter muitas vozes contrárias. O que vai acontecer do pontapé inicial deste Brasil x Suécia de amanhã até o pontapé inicial do primeiro jogo do Brasil na Copa-14 move perfeitamente o mantra que virou título desta coluna, alusão contrária à famosa frase "Mantenha a Calma e Siga a Vida".

O Brasil ainda consegue façanhas. Para citar dois jogadores recém-vendidos e um cobiçado, Lucas e Oscar foram comprados por cifras astronômicas. Neymar é "incomprável". (Mesmo com a bola que vem jogando, continua um produto em alta. Basta ver esta Folha, com dois anúncios gigantes do jogador ao lado de textos sobre seu fracasso na edição de domingo. Neymar, fora do comercial contra a caspa, só apareceu mais quando foi vaiado.)

Vender jogadores por fortunas é um milagre que nosso futebol continua operando. Um caso algo recente, do atacante Keirrison (R$ 41 milhões para o Barcelona, sem nunca ter jogado pelo clube catalão), é exemplo didático-ilustrativo.

Claro que o Brasil fez por merecer ser chamado de "país do futebol" um dia, mas há tempos que o marketing do "joga bonito" é maior do que a realidade. Não faz sentido ver uma placa no Manchester Stadium dizendo que ver o City é como ver o Brasil jogar. Não em tempos de Barcelona e Real Madrid. Continuamos enganando o mundo. Mas eles estão caindo cada vez menos. E daqui a dois anos vêm nos visitar.


Publicado na Folha de S.Paulo, em 14/08/2012.

Pras cabeças

Antonio Prata





"Nunca tantos deveram tanto a tão poucos", disse Winston Churchill sobre os pilotos ingleses, na Segunda Guerra Mundial. "Nunca tantos perderam tanto por tão pouco", digo eu, sobre os bravos guerreiros brasileiros que nos representaram nesta Olimpíada.

Foi um tal de ouro virando prata, prata virando bronze e bronze virando nada, na última hora, que é o caso de nos perguntarmos se não há, por trás de todas essas frustrações, um traço comum. Seria apenas azar ou sadismo dos deuses a queda de Diego Hypólito, o vento de Fabiana Murer, o bronze do Cielo, o "apagón" diante do México e a perestroikada que os russos nos deram no vôlei, quando ganhávamos por dois a zero e já tinha brasileiro (eu) gritando "é glas'nós't na fita!"?

Só Nelson explica, meus caros, Nelson Rodrigues e seu imorredouro diagnóstico do nosso complexo de vira-lata.

O patrício pode ser alto, forte, rico, talentoso, pode ter treinado como um chinês e ter médias de americano, mas na hora do vamos ver, quando o juiz apita, quando corre em direção à linha, quando flexiona as pernas para dar o salto, ele se enxerga banguela, desnutrido, desassistido; ele fraqueja.

É por isso que, pensando na Copa de 2014, na Olimpíada de 2016 e no futuro da nação, venho aqui propor ao governo a criação do Ministério da Psicanálise: pois de nada adianta gastarmos bilhões em infraestrutura se não sanearmos os subterrâneos da alma nacional.

O leitor consciente e politizado dirá que não faz sentido abrir mais um ministério, aumentar o funcionalismo e a burocracia, dar mais cargos ao PMDB etc. Concordo. Peguemos então um ministério que já exista e troquemos sua função. O Ministério da Pesca, por exemplo. A Dilma assina um decreto e os funcionários daquela pasta passam, como Simão, depois de encontrar Jesus, a ser "pescadores de homens".

Na chefia, sugiro uma mulher, porque elas não são frouxas, como nós --basta ver de que maneira o time de Neymar digeriu o gol do México e de que forma a equipe de Jaqueline reagiu ao set perdido pros Estados Unidos. Indico, como ministra, a psicanalista e colunista deste jornal, Ana Verônica Mautner, que além de mulher é húngara, povo que pode ser acusado de muitas coisas (não sei quais, essa é só uma frase de efeito), menos de refugar na hora do salto.

O Ministério da Psicanálise vai descobrir as raízes profundas de nossa viralatência. Vai fazer com que o brasileiro e, mais ainda, o atleta brasileiro, que é antes de tudo um forte, enxergue no espelho uma imagem digna de sua grandeza. Ele merece, nós também. Afinal, pode ser doce morrer no mar, Caymmi, mas morrer na praia é amargo pra caramba.


Publicado na Folha de S.Paulo, em 13/08/2012.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Nada é por acaso

Paulo Calçade




O Brasil conquistou 17 medalhas nos Jogos Olímpicos. O resultado prático disso é que a cada 11,5 milhões de habitantes o País consegue levar um atleta ao pódio. Com um olhar diferenciado para a educação e o esporte, a Austrália deixou Londres com 35, uma a cada 645 mil pessoas. E desta vez sem ser brilhante.

Esses números funcionam como um indicador de competência. Nos últimos 17 dias, falou-se demais por aqui na formação de uma nação olímpica. Simples como se bastasse apenas um decreto presidencial para mobilizá-la. Sem educação, saúde e esporte na escola, não funciona.

A única maneira de aumentar a quantidade de medalhas é investir, mas desde que o filtro de talentos seja melhorado. Não tem mistério nem fórmula mágica.

Entretanto, o que deveria ser visto como uma fonte de boas notícias acabou se transformando em mais uma fissura no duto do dinheiro público. Hoje existe dinheiro para o esporte: do governo, das estatais e das loterias. Mas ele nem sempre chega ao atleta, perde força no caminho e desaparece.

Não seria óbvio e obrigatório exigir auditorias independentes das confederações, para que cada real tivesse sua destinação comprovada? Essas entidades até divulgam balanços, de vergonhosa transparência.

Nem a elite do futebol escapa dos problemas estruturais do esporte brasileiro, que mesmo com a medalha de ouro permaneceriam intactos. A derrota talvez faça a CBF pensar um pouco. Melhor começar agora que esperar pelo resultado do Mundial. Um pouquinho de gestão não faz mal a ninguém.

O México não merecia perder o ouro na decisão do futebol, e a explicação é bem simples: trabalhou mais e melhor que o Brasil para conquistá-lo. O pódio é determinante para a formação do time de 2014 e a cor do metal no pescoço dos jogadores dirá muito sobre o futuro de Mano Menezes.

A prata pode servir para os outros, nunca para o futebol, cada vez mais sem sentido nos Jogos Olímpicos. A seleção teve demasiados problemas defensivos contra os mexicanos, sofreu o primeiro gol aos 28 segundos e teve muita dificuldade para ultrapassar o bloqueio de uma equipe mais bem treinada.

É necessário reconhecer Londres como uma etapa da preparação. O torneio olímpico mostrou que parte do grupo, que será bem diferente daqui a dois anos, ainda necessita de um banho de futebol internacional para aprender a enfrentar as imposições táticas e psicológicas de um tipo de jogo ainda raro por aqui.

Nada acontece por acaso. Nove jogadores mexicanos campeões pan-americanos em Guadalajara no ano passado receberam o ouro em Londres.

O futebol é apenas parte dos Jogos Olímpicos e já faz tempo que está na marca do pênalti. Triste é a maneira como os demais atletas brasileiros são tratados. São 'amarelões', fracassados, incapazes... É muito fácil analisar do sofá de casa e voltar a falar deles daqui a quatro anos.

Nada acontece por caso. Nadinha!


Publicado em O Estado de São Paulo, em 13/08/2012.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Neymar e a história

Juca Kfouri


Neymar jogará onde Pelé jamais jogou --certamente numa pena maior para Wembley do que para o Rei do futebol.
Mas neste sábado, às 15h de Londres, 11h de Brasília, Neymar pisará a grama tão sagrada de Wembley para o futebol como a de Wimbledon para o tênis.
Além do mais, Neymar terá a oportunidade que Romário teve, em 1988, em Seul, na Coreia do Sul, e não aproveitou, ao perder o ouro para a União Soviética, por 2 a 1, na prorrogação. O time brasileiro de então era melhor que o de hoje, a começar pelo goleiro, Taffarel. E tinha Jorginho, Ricardo Gomes, Mazinho, Bebeto, um timaço jovem contra os profissionais soviéticos que se diziam amadores.
Se em 1984 a prata veio numa Olimpíada boicotada pelos países comunistas e mais fortes no futebol olímpico, a de 1988 bateu na trave, mas, novamente, frustrou.
Para chegar à finalíssima deste sábado, Neymar e companhia precisaram vencer exatamente os anfitriões da Olimpíada de 1988, os coreanos do sul, cada vez mais rápidos, cada vez mais altos, cada vez mais fortes e menos bobos.
E que chegaram a perder dois gols em más saídas de Gabriel e patacoadas de Juan, além de terem sofrido um pênalti do zagueiro brasileiro, que quase arrancou a cabeça do bom atacante Ji Dongwon, que joga no Sunderland britânico, no primeiro tempo.
A sorte brasileira foi que o time asiático tem em Lee Bumyoung um goleiro do nível de Gabriel e, de erro em erro dele, além da conhecida visão de jogo e senso coletivo de Oscar, nasceu o gol brasileiro, de Rômulo, que permitiu aos meninos de Mano irem para o intervalo com uma vantagem que, se não fazia justiça, também não ofendia ninguém.
Passou a ofender quando, logo no recomeço do jogo, outro pênalti, desta vez de Sandro, no mesmo Ji, não foi assinalado pelo árbitro tcheco.
Como não demorou para sair o segundo gol, de Leandro Damião, ficou uma sensação de facilidade que, definitivamente, não houve. Daí em diante, a coisa mudou, e em ritmo de samba, Damião fez mais um, ao seu estilo, para manter o aproveitamento de 100% da seleção.
Old Trafford, que esperava ver seus representantes britânicos na semifinal, lotou mais uma vez para ver os brasileiros, agora contra os algozes de seus patrícios. Coreanos que empataram com os finalistas do México sem gols, na primeira fase.
O Rei Pelé deverá torcer pelo novo ídolo santista pela TV, quem sabe ouvindo os comentários de Romário. Que estará nas tribunas para comentar a final, garantia de recorde de audiência da Record. E, caso o ouro venha, com direito a festa da torcida nas ruas, hipótese pouco provável, apesar de o time merecer a comemoração.

Publicado na Folha de S.Paulo, em 08/08/2012.

Desafio ao Galo

Lúcio Ribeiro


Faz um tempinho que quero falar aqui sobre o Atlético-MG e sua simpática campanha no Brasileiro, mas sempre vou dando aquela empurrada para frente, firme na filosofia "É o Galo. Vamos esperar mais uma rodada".
Nem sou mineiro para ser tão desconfiado assim. E a culpa disso não é minha, mas sim do próprio Atlético. O time é que é danado para superempolgar e depois megafrustrar na mesma velocidade, na mesma intensidade. Quando parece que vai, não vai. Mas, desta vez, neste ano "estranho", além de em campo a equipe estar convencendo, a conjunção astral indica que a sorte atleticana está mudando. E, se o aspecto místico realmente contar, boto fé no Galo em 2012. Por dois motivos:
1. Dá tempo de o time finalmente ganhar o título, porque o Brasileirão tem sua última rodada (2/12) marcada para algumas semanas antes do tal fim do mundo (21/12).
2. Neste ano apocalíptico, Corinthians foi campeão da Libertadores, o Chelsea eliminou o Barcelona, o Manchester City foi campeão inglês...
É engraçado notar que as últimas cruzadas do Galo têm de alguma forma o rival Cruzeiro no caminho. Na era dos pontos corridos, as duas melhores campanhas do Atlético foram com o Celso Roth, atual treinador "inimigo". Em ambas, ficou em 7º (2003 e 2009).
Em 2003 o Cruzeiro foi o campeão. Em 2009, o Atlético passou o campeonato praticamente todo no G4, chegando a liderar como agora, mas perdeu o fôlego no final e viu a última vaga da Libertadores ir para o Cruzeiro, nos últimos minutos da última rodada.
Desde que o técnico Cuca assumiu, faz exatamente um ano amanhã (olha o Atlético ficando um ano sem mudar treinador!), o Galo ensaia uma recuperação definitiva de autoestima. Do time e do técnico.
O Atlético foi campeão invicto no Mineiro deste ano e fez a arriscadíssima contratação de Ronaldinho Gaúcho. A fase anda tão boa que o Ronaldinho, que já não jogava bem no Flamengo, está jogando menos ainda no Galo, mas consegue ser muito útil. Tudo porque o time joga num 4-2-3-1 e a presença do Danilinho na direita e especialmente do Bernard na esquerda fazem o esquema funcionar. Até o Jô está tendo seus momentos. E, enquanto Ronaldinho chama toda a atenção e Bernard vai fazendo golaços, o low-profile Pierre mineiramente segura a onda lá atrás como um gigante. Um diferencial que o Galo tem para este ano é que, agora, tem um goleiro de nível e boas peças de reposição.
E, fora tudo isso, quando o Atlético consegue se manter líder em uma rodada em que ele nem joga e podia ser ultrapassado, chegou mesmo a hora deste espaço falar do clube mineiro, porque talvez tenha chegado mesmo a hora do Galo.

Publicado na Folha de S.Paulo, em 07/08/2012.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Moderno e romântico

Paulo Vinicius Coelho


O jornalista argentino Roman Lutch escreveu a biografia de Marcelo Bielsa (La Vida por el Fútbol - O último romântico). No capítulo da chegada do treinador campeão olímpico de 2004 à seleção do Chile, Bielsa define os princípios básicos do futebol moderno em três pontos: pressão, rotação e ataque.

A seleção de Mano Menezes tenta repetir esses princípios, mas sem alcançar resultados tão explícitos quanto os de Bielsa na Argentina campeã olímpica em Atenas. O Brasil joga com bola no pé, marca pressão - mas nenhum de seus 12 gols olímpicos nasceu de bola roubada na frente - e jogou seu melhor futebol quando fez Hulk, Oscar e Neymar mudarem de posição constantemente.

Não aconteceu contra Honduras.

Se não acontecer contra a Coreia do Sul, o Brasil terá problemas. A seleção sul-coreana joga com duas linhas de quatro bem estreitas. É diferente da ofensiva seleção sul-coreana treinada por Guus Hiidink, semifinalista da Copa do Mundo dez anos atrás com Hong escalado como líbero.

Uma das tentativas de Mano Menezes é deslocar Oscar para o lado do campo e jogar com Neymar por dentro, atrás dos volantes, perto do centroavante. Pode ser perfeito contra a Coreia.

Aberto pela esquerda, Neymar tornou-se previsível contra o Egito, em parte do jogo contra a Bielorrússia. Contra Honduras, os dois gols de bola rolando nasceram quando saiu da ponta para o meio, arrastando seu marcador.

Se não há rotação, não há futebol moderno, ensina Bielsa.

Sem pressão, também não. O Brasil precisa ainda acertar o momento de marcar no ataque e tomar a bola lá. O resto é atacar.

As lições de Bielsa levaram a Argentina a sua primeira medalha de ouro, oito anos atrás. Aplicá-las amanhã é a melhor maneira de o Brasil sair da caixa de fósforos com a qual os sul-coreanos tentarão defender-se.


 

Publicado em O Estado de S.Paulo, em 06/08/2012.