segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Bundas 1 x 10 Cadeiras

José Roberto Torero


Ando pensando em ficar milionário e já achei o caminho: construir arquibancadas. Dinheiro fácil e certo. Graças à Federação Paulista de Futebol.

É que, segundo o artigo 33 do Regulamento Geral das Competições da FPF, os times da primeira e da segunda divisões têm que ter estádios para 15 mil pessoas, mesmo que a média de público seja de 6.000 na primeira e 1.500 na segunda.

Na Série A1, Lins tem 75 mil habitantes, e Mirassol, menos de 55 mil. De que lhes adiantam estádios para um quinto ou um quarto de sua população?

Na segunda divisão, as cadeiras estão mais vazias ainda. Em 2009, na final do campeonato, ou seja, nos dois jogos mais importantes, Rio Branco e Monte Azul fizeram 2.179 pagantes na primeira partida e 4.013 na segunda.

São times que deveriam ter estádios pequenos e baratos. Mas, por conta do regulamento da FPF, em Monte Azul mais de 75% da população cabe no Ninho do Azulão. Já o Rio Branco não aguentou os custos com o Décio Vitta e teve que cedê-lo à prefeitura.

O artigo 33 não é menos cruel para a terceira divisão. Ele diz que os estádios da A3 têm que ter capacidade para 10 mil pessoas. Ou seja, as prefeituras de Itapira (68 mil habitantes) e Batatais (56 mil habitantes) se veem obrigadas a manter estádios desproporcionais à sua população. É como se obrigassem a Vila Belmiro a ter 70 mil lugares.

O fato é que os estádios encolheram. Morumbi, Mineirão e Maracanã são metade do que eram. Mas a FPF exige que o interior do Estado ande na contramão da história.
Assim, em vez de os clubes gastarem para formar boas equipes, têm que construir lugares que nunca serão ocupados.

Ou então o gasto cai sobre as prefeituras, o que é pior ainda, pois trata-se de um dinheiro que poderia ir para coisas ligeiramente mais importantes, como educação e saúde.
Nos estádios, o que importa é segurança, conforto e bom gramado. Cadeira vazia só serve para nós, construtores de arquibancadas.

O VERDE E O ARCO-ÍRIS

Eles adoram andar com outros homens, eles se vestem com roupas iguaizinhas, eles carregam faixas coloridas, eles cantam músicas em coral, eles se abraçam efusivamente, eles choram uns nos ombros dos outros, eles têm pôsteres de homens em seus armários.

Eles fazem tudo isso e não querem Richarlyson em seu time? Deve ser medo de se apaixonar.

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 14/01/2012.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O mundo e a glória



Carlos Heitor Cony


Nunca vi nada igual. Ao descer no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, para cobrir a Copa do Mundo de 1998, fiquei pasmo diante de um enorme pôster de Ronaldo Fenômeno.

Cobria praticamente toda a largura do aeroporto. Mais tarde, vi o mesmo pôster na Galeria Lafayette, não naquela loja atrás da Ópera, mas em Mont-parnasse, onde há uma filial do mesmo grupo. Era um anúncio da Nike, que patrocinava aquela Copa.

Nesta semana que acabou, vi a foto do mesmo Ronaldo nas folhas. Sentado numa cama exausta de ser cama, gordo, tendo contraído dengue, estava segurando aquela haste metálica onde os enfermeiros colocam as ampolas de soro e de outros medicamentos. Nos pés, uma sandália de dedo, sem identificação do fabricante, comprada em qualquer camelô.

Antes do deslumbramento do aeroporto, o maior pôster que havia visto era o de Che Guevara, na praça da Revolução, em Havana, mais ou menos no mesmo tamanho das fotos de Mao Tse-tung em Pequim e de Lênin na praça Vermelha, em Moscou. O pôster de Ronaldo era cinco vezes maior do que os três juntos. Bem verdade que, com a vitória da França naquele ano, Zidane substituiu o craque brasileiro. Mas quero repetir: nunca vira nada igual.

Muita água correu sob a ponte, Ronaldo engordou,foi picado pelo Aedes aegypti, ainda impõe baita respeito em campo, foi um dos maiores jogadores de todos os tempos. Os pés que lhe deram tamanha glória, que fizeram marketing para uma fábrica internacional, estavam à vontade nas sandálias de dedo.

Evidente que lhe desejo pronto restabelecimento, mas olhar a sua foto sentado na cama, cara meio desolada, me fez meditar mais uma vez sobre o efêmero da glória. Ia citar aquele clichê latino, "sic transit gloria mundi". Faz de conta que não citei, mas citado está.


* Publicado na Folha de S.Paulo, em 08/12/2012.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Palmeirenses reagem contra faixa “A Homofobia Veste Verde”

Vitor Angelo


De repente, como quem não quer nada, a torcida organizada Mancha Verde se posicionou na frente da entrada da Academia de Futebol, na quarta-feira ,04, em São Paulo e ostentou, mesmo que por pouco tempo, a faixa: “A Homofobia Veste Verde”. A cor é o símbolo do Palmeiras.
Sabe-se do alto grau homofóbico de muitas organizadas, que chegam a proibir o uso de brinco ou cabelo comprido entre seus filiados, como se isso fosse sinal de “viadagem”. Sabe-se também do alto grau de preconceito contra o jogador Richarlyson, considerado homossexual e por isso indigno de jogar em que clube for. A ligação (tosca) é esta: a organizada, apavorada como uma menininha no escuro, quis dar seu recado à diretoria do clube que não queria o craque no time. E para isso, deu um show de intolerância.
Mas a resposta ao ato não tardou a surgir dos próprios palmeirenses. “Será que na origem desse tipo de manifestação homofóbica estão os medos, traumas e frustrações que buscamos evitar quando escolhemos um time e projetamos nele nossa própria imagem? Acho que sim. Mas se isso não nos impede de superar rivalidades regionais e idolatrar argentinos, chilenos, jogadores que até a temporada passada estavam nos times rivais e uma infinidade de outras situações, por que então não é possível aceitar no time um jogador gay bom de bola? Eu sou palmeirense e quero um time que jogue bem e ganhe títulos. Os jogadores podem ser brancos, pretos, gays, japoneses, vesgos ou canhotos. Eu quero é que o cara dentro de campo jogue bem. Se ele ficar com frescura caprichando no nó da chuteira na hora do adversário cobrar falta, isso sim é um problema grave. O que ele faz fora do campo, não é”, escreveu Marcelo Marchesini no blog Vai Parmera, criado pelo palmeirense Luiz Fernando Moncau.
Nesta sexta-feira, 06, no mesmo blog, Rodrigo Savazoni escreveu um texto com o título: “A esperança é verde. Homofobia? É crime!”. Ele coloca: “O que é verde, meus caros, é a esperança. A esperança de vivermos um dia em um país em que os direitos humanos sejam respeitados, em que jogadores raçudos e competentes como Richarlyson não sejam perseguidos por sua orientação sexual (seja ela qual for), em que a democracia se imponha sobre a barbárie. Homofobia deveria ser crime. Não é, porque este é um país com um alto déficit democrático, mas estamos avançando”.
Essas posições que Luiz Fernando Moncau resolveu abrir para rebater a faixa homofóbica mostra que acima do fanatismo de qualquer torcedor, seja de que time for, está o cidadão, seja ele verde, preto e branco, azul, vermelho...

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Saudoso futebol dos verdadeiros ídolos fica mais pobre ainda com o fim da carreira de São Marcos



Vitor Birner


Talvez você não se lembre, mas houve momentos em que a titularidade de São Marcos foi questionada.

Isso aconteceu quando Diego Cavalieri apareceu e o santo goleiro palestrino enfrentava problemas de lesões, os mesmos responsáveis pela triste e inevitável decisão de ele parar.

Na época, eu era comentarista da CBN.

Meu amigo e narrador Deva Pascovicci, nas transmissões dos jogos do Palmeiras, cumpria o dever de me perguntar qual dos goleiros deveria começar jogando.

A polêmica estava na mídia e não havia como escapar da discussão

A minha resposta era sempre igual.

“São Marcos”!!!!!

Eu dizia o nome dele como se entoasse um mantra capaz de salvar o futebol dos atletas que amam seus empresários e não dão a mínima para a camisa do clube que vestem.

E emendava lembrando os ouvintes do óbvio:

“Aproveite cada segundo da carreira dele. São Marcos é um dos raríssimos ídolos de verdade. Uma hora ele vai parar e hoje em dia não aparecem mais atletas identificados as pessoas da arquibancada. Marcos é um jogador do futebol moderno, mas com atitude dos antigos, pois mantém a alma do futebol romântico que ganhou o coração dos brasileiros”.

Além de reverenciar a postura do atleta palmeirense, eu defendia o goleiro tecnicamente acima da média, fundamental no pentacampeonato mundial da seleção e no título da Libertadores em 1999.

O atleta que pegou a penalidade de Marcelinho na semifinal da Libertadores em 2000, momento com sabor de título palmeirense, naquele campeonato vencido pelo Boca Juniors.

Ele foi tão, tão, tão especial, que nem os corintianos, maiores vítimas das santas técnica e estrela do São Marcos, têm antipatia por ele .

Simples, comunicativo e muuuuuuuuuuuuuuito menos político que a média de seus companheiros na hora de explicar derrotas e dividir responsabilidades, Marcos Roberto Silveira Reis caiu nas graças de quem ama o futebol, seja qual for a paixão clubística do torcedor.

Especialmente após a participação na Copa do Mundo em 2002, quando, por conta do título, se transformou em ídolo nacional.

O tempo, carrasco da condição de física de todos os seres humanos, não permite exceções e findou a história do goleiro dentro das quatro linhas.

Ela, de hoje em diante, será contada nos jornais, documentários, livros e principalmente pelos palestrinos que tiveram o privilégio de ver São Marcos centenas de vezes com a camisa do clube.

Está encerrado um dos mais bonitos capítulos do futebol.

Marcão, valeu por tudo!!!!!!!!!!!!!!


domingo, 1 de janeiro de 2012

Morre o jornalista Daniel Piza

O corpo do jornalista Daniel Piza foi enterrado na manhã deste domingo, 1º, no Cemitério de Congonhas, em São Paulo. Piza, de 41 anos, morreu na noite desta sexta-feira, 30, após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). Estava em Gonçalves (MG), onde passava as festas de fim de ano com a família. Chegou a ser socorrido pelo pai, que é médico, mas não resistiu.



Arquivo/AE

Paulistano e corintiano fanático, Piza era colunista do jornal O Estado de S. Paulo, onde começou a carreira em 1991. Escrevia aos domingos no Caderno 2 e, desde 2004, assinava também uma coluna sobre futebol, além de manter um blog no portal estadão.com.br. Apresentou os programas Estadão no Ar e Direto da Redação na rádio Estadão ESPN.

Advogado, formado no Largo de São Francisco, era escritor, com 17 livros publicados, entre eles Jornalismo Cultural (2003), a biografia Machado de Assis - Um Gênio Brasileiro (2005), Aforismos sem Juízo (2008) e os contos de Noites Urbanas (2010). Traduziu títulos de autores como Herman Melville e Henry James e organizou seis outros, nas áreas de jornalismo cultural e literatura brasileira. Fez também os roteiros dos documentários São Paulo - Retratos do Mundo e Um Paraíso Perdido - Amazônia de Euclides.

Daniel Piza deixa mulher, Renata Gonçalves Piza, e três filhos.

Carreira. Na década de 1990, trabalhou nas editorias de Cultura do Estado, Folha de S. Paulo e Gazeta Mercantil, na cobertura de literatura e artes visuais. Em maio de 2000, retornou ao Estado como editor-executivo e colunista cultural.


Publicado em http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,enterrado-corpo-do-jornalista-daniel-piza,817341,0.htm