quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O incendiário, a revolução e a crise no Palmeiras

Paulo Vinicius Coelho


Há dois motivos para a revolução no Palmeiras.

Um deles é o estilo Palaia, uma espécie de Nero do Parque Antarctica. Sem perceber, põe fogo em tudo. O outro motivo é a crise política causada pela gestão Belluzzo. E por Gilberto Cipullo, diretor de futebol desde dezembro de 2006, empossado por fazer parte do grupo Muda Palmeiras, que, na prática, mudou pouco.

Palaia acusa o grupo de ter ampliado a dívida de R$ 24 milhões, em 2006, para R$ 53 milhões em 2010. Deseja fazer auditoria no departamento de futebol, que contratou 76 jogadores em quatro anos e só ganhou um título. Que se faça a auditoria, é justo!

A paz que o Palmeiras precisa Palaia não fará. Não é seu estilo. Tanto que não acolheu os conselhos de seu próprio grupo, que pedia que não anunciasse a demissão de Cipullo na reunião do Conselho de Orientação Fiscal. Incendiário, anunciou.

É de se salientar que a cultura da turbulência é do presidente licenciado Luiz Gonzaga Belluzzo. Sem visitar o clube, sem fazer a política mesquinha do Parque Antarctica, colecionou desafetos, entre eles, velhos aliados, descontentes com os rumos do departamento de futebol, como Fábio Raiola, ex-diretor financeiro, hoje cabo eleitoral de Palaia.

A guerra terá efeito na eleição de janeiro. Ou Palaia conseguirá usar o cargo para angariar mais aliados e se eleger, ou provocará um incêndio tão grande que inviabilizará sua própria candidatura. Que não inviabilize também o Palmeiras.

* Artigo publicado na Folha de S.Paulo, em 29/09/2010.

sábado, 25 de setembro de 2010

Dorival Júnior é o novo técnico do Galo


Modéstia à parte, já havia cantado essa bola tão logo o Santos demitira Dorival Júnior: o destino do ex-técnico do Peixe seria o São Paulo ou o Atlético Mineiro, sendo que, neste caso, o destino de Vanderlei Luxemburgo deve ser o Tricolor.

Que não deixe mentir o post abaixo, tratando da saída de Dorival Júnior após tentativa frustrada de prolongar a suspensão de Neymar.

Com o anúncio do Atlético-MG de que Dorival é seu novo técnico, só falta o São Paulo anunciar Luxemburgo para que eu grite "bingo".

JFQ

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Enfim, Luxemburgo caiu


Mesmo com as derrotas seguidas e a persistência na zona de rebaixamento, o técnico Vanderlei Luxemburgo estava sendo mantido no comando do Atlético Mineiro. Por várias razões: o custo rescisório de sua saída, o currículo de vitórias, o princípio de que demitir treinador não resolve os problemas, a falta de alternativa à altura. Porém, a goleada sofrida para o Fluminense, por 5x1, foi demais. O fato é que a campanha do Galo sob o comando de Luxemburgo foi absolutamente decepcionante, uma vez que, levando-se em conta um treinador vitorioso e um bom elenco, esperava-se um time a brigar pelo título, não a evitar o descenso. Triste momento, mas que, talvez, não seja a sentença de que Luxemburgo, enfim, é um técnico decadente. Qual será seu futuro? Ou melhor, quem será o próximo técnico do São Paulo: Dorival Júnior ou Luxemburgo, antigo sonho do Tricolor?

JFQ

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mano convoca a seleção: Neymar fora, Elias dentro

Elias, Giuliano, Mariano e Neto


Como eu já havia alertado ontem, Neymar corria o sério risco de não ser convocado por Mano Menezes, considerando todo o imbróglio envolvendo o jogador, o técnico Dorival Júnior e a diretoria do Santos.

Outra “novidade prevista” foi a convocação de Elias, há muito merecedor de uma chance na seleção. Dentre as novidades também estão Giuliano, do Internacional, e Wesley, ex-Santos, do Werder Bremen.

JFQ

***

Abaixo, a lista dos 23 convocados que ficarão concentrados entre 6 e 13 de outubro, para dois jogos na Europa.

GOLEIROS

Victor (Grêmio)
Jefferson (Botafogo)
Neto (Atlético-PR)

LATERAIS

Mariano (Fluminense)
Daniel Alves (Barcelona)
André Santos (Fenerbahce)
Adriano (Barcelona)

ZAGUEIROS

Rever (Atlético-MG)
Thiago Silva (Milan)
Alex Costa (Chelsea)
David Luiz (Benfica)

VOLANTES

Elias (Corinthians)
Lucas (Liverpool)
Sandro (Tottenham)
Ramires (Chelsea)

MEIAS

Wesley (Werder Bremen)
Carlos Eduardo (Rubin Kazan)
Giuliano (Internacional)
Phillipe Coutinho (Internazionale)

ATACANTES

Nilmar (Villareal)
Robinho (Milan)
Alexandre Pato (Milan)
André (Dínamo de Kiev)

***

Ney Franco é o técnico da Seleção Brasileira Sub-20 e coordenador das seleções de base

* Notícia veiculada em CBF.com.br

Escolhido por Mano Menezes, o técnico do Coritiba, Ney Franco, será o coordenador das seleções de base e treinador da Seleção Brasileira Sub-20. A contratação foi formalizada em reunião que aconteceu com o presidente Ricardo Teixeira.

Ney Franco será assim o treinador da Seleção Sub-20 que tentará no Sul-Americano do Peru 2011 uma das duas vagas destinadas à América do Sul nas Olimpíadas de Londres 2012.

O Sul-Americano Sub-20 do Peru será disputado de 16 de janeiro a 6 de fevereiro de 2011 e vale ainda a classificação de quatro seleções para o Mundial, também em 2011, na Bolívia.

Atualmente dirigindo o Coritiba, Ney Franco cumprirá o contrato com o clube paranaense até o final, no encerramento do Campeonato Brasileiro da Série B, que terá a última rodada no dia 27 de novembro.

Ney Franco trabalhará diretamente com o técnico da Seleção Principal, Mano Menezes, no planejamento e preparação das seleções de base.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Conmebol muda regra e só os 3 primeiros do Brasileirão terão vaga na Libertadores

* Noticia publicada no UOL Esportes


A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) confirmou, nesta quarta-feira, as mudanças nas regras da Copa Libertadores, válidas a partir da próxima edição. Com as novas diretrizes, apenas os três primeiros colocados do Campeonato Brasileiro ganharão vaga para a edição 2011 do torneio continental, deixando assim o quarto melhor classificado fora até da fase preliminar da competição.

Isso acontece porque, agora, o vencedor da Libertadores acaba "roubando" uma das vagas fixas que é destinada ao seu país. Para a próxima edição, como o Internacional é o atual campeão, o time gaúcho acabou diminuindo o número de vagas distribuídas no Campeonato Brasileiro.

Dessa forma, se o Campeonato Brasileiro acabasse hoje, estariam classificados para a próxima edição da Copa Libertadores o Internacional (atual campeão do torneio continental), Corinthians (1º colocado), Fluminense (2º colocado), Cruzeiro (3º colocado) e o Santos (campeão da Copa do Brasil), totalizando assim as cinco vagas que o Brasil tem direito.

Além das cinco vagas garantidas para o Brasil, a Conmebol também instituiu que a Argentina terá o mesmo número, enquanto Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela e México terão três cada.

A entidade que comanda o futebol no continente também confirmou que o campeão da Copa Sul-Americana irá se classificar automaticamente para a edição seguinte da Libertadores. Neste caso, o país vencedor ganhará uma vaga extra. Por exemplo, caso Atlético-MG, Avaí, Goiás ou Palmeiras, que ainda estão na disputa da Copa Sul-Americana, vençam o torneio, o Brasil teria seis vagas na Copa Libertadores de 2011.

Dorival Jr demitido: quem ganha e quem perde?



Dorival Júnior assumiu um risco muito alto: manter a suspensão de Neymar no jogo contra o Corinthians, principal rival do Peixe. A diretoria santista achou demais, demitiu o técnico e assumiu ela própria um outro risco: manter a, digamos, harmonia no elenco santista, mesmo deixando claro aos demais jogadores que um deles está acima das decisões do próprio treinador. Aliás, quem terá a coragem de assumir o comando do Santos com esse “sinal” dado pela diretoria?

Apesar de, à primeira vista, ficar a impressão de que Neymar venceu uma queda de braço, o fato é que terá que sustentar um peso enorme nas costas. Terá que mostrar aos próprios companheiros que é mesmo imprescindível, que seu afastamento seria um fardo muito pesado ao próprio time. Deve começar a prová-lo hoje, vencendo o Corinthians. Uma derrota, dependendo de como for, pode criar um clima muito ruim entre a torcida e a diretoria. É bom lembrar que Neymar é o grande ídolo do time, ainda mais considerando a saída de Robinho e a ausência de Ganso. Mas também há que se recordar que Dorival Junior ganhou o respeito do torcedor ao montar uma equipe brilhante, que conquistou o Paulistão e a Copa do Brasil (e, por extensão, a vaga na Libertadores).

Além disso, também recai sobre Neymar as máculas que vem acumulando em sua imagem: a fama de cai-cai, de provocador (ex: chapéu em Chicão quando o jogo estava parado), de esnobar adversários dizendo-se milionário (o que teria ocorrido em jogo contra o Avaí), de não saber lidar com provocações (como ocorreu no jogo contra o Ceará), de criar atritos dentro do próprio time (como no caso dos xingamentos contra Edu Dracena e Dorival Junior por tê-lo impedido de cobrar um pênalti). Por mais brilho que mostre com a bola nos pés, Neymar vem criando antipatias e receios dentro e fora do Santos. Aliás, não será tão surpreendente se Mano Menezes deixar de relacioná-lo na convocação para a seleção brasileira que será divulgada amanhã.

Se a diretoria santista procurou preservar Neymar, cujo contrato, há pouco firmado, foi vantajoso o suficiente a ponto de impedir a venda do craque para o Chelsea, talvez o tiro saia pela culatra. Justamente porque a suspensão imposta pelo ex-treinador visava mostrar ao jovem talento do Peixe que ele não está acima do bem e do mal, que há limites, que deve respeitar seus companheiros de time. A escolha da diretoria do Santos pela demissão de Dorival pode passar a Neymar uma mensagem em sentido contrário do que pretendia o ex-técnico. E, a propósito da expressão “jovem talento”, destaco observação do sempre brilhante Tostão em um de seus últimos artigos: Neymar já tem 18 anos e é, por lei, responsável por seus atos.

Enfim, quem ganha e quem perde com tudo isso, os próximos acontecimentos dirão, a começar pela partida de hoje entre Santos e Corinthians. Talvez ganhe o São Paulo Futebol Clube: o treinador que vinha procurando desde a saída de Ricardo Gomes. Ou, ainda, o Galo, caso Luxemburgo vá para o Morumbi.

JFQ

O nome da promessa



Desde que participou da primeira partida no São Paulo, o então denominado Marcelinho, apelido surgido na escolinha de base de Marcelinho Carioca, onde foi descoberto, vem causando frisson, revelando-se uma boa promessa do futebol. Rápido, inteligente, competente nas finalizações. Não é à toa que o garoto foi pivô de uma disputa entre São Paulo e Corinthians, ainda na época das categorias de base.

No último jogo contra o Palmeiras, sob o nome de batismo e registro, Lucas, o ex-Marcelinho provou que tem mesmo talento.

É bom que se tenha cuidado com Lucas. Não são raros os casos de promessas que acabaram por não se cumprir. Todavia, também abunda no futebol brasileiro as promessas realizadas, como Kaká e Júlio Batista. A propósito, estes são os jogadores comparados por Rogério Ceni a Marcelinho, Lucas ou seja lá que nome se dê à nova promessa são-paulina.

***

O Timão não pode esquecer do Palmeiras 2009

A vitória do Corinthias sobre o Fluminense e a combinação de resultados da última rodada deixaram os corinthianos líderes e entusiasmados. Afinal, ainda por cima o Timão tem um jogo a menos que os principais concorrentes à ponta da tabela. Porém, o Corinthians precisa ter em mente que ainda resta muito campeonato pela frente, que não é lá tão grande sua vantagem perante Fluminense e Cruzeiro, que, além destes, há outros grandes times com boas condições (Internacional, Botafogo, Santos), e que ainda tem embates dificílimos a disputar. Como se não bastasse, o Corinthians precisa se lembrar do que aconteceu com seu rival maior, o Palmeiras, em 2009. O que parecia um título bem encaminhado, terminou em um frustrante quinto lugar. Entre as lições dos pontos corridos, uma diz que na reta final do campeonato há que se cuidar muito da cabeça, quiçá mais do que dos pés. E pensamento de “já ganhou” é um excelente começo para que desande o que parecia para lá de garantido.

***

A zica palmeirense continua

Por falar em Palmeiras 2009, continua a impressionante zica palmeirense iniciada em 2009. Saiu Luxemburgo, entrou Muricy, saiu Muricy, entrou Antonio Carlos, saiu Antonio Carlos, entrou Felipão. Tudo isso sem que a sina de um futebol sofrível fosse estancada. Em suma, o problema não é treinador. Também saiu Cleiton Xavier, saiu Diego Souza, saiu Robert, vieram Ewerton, Kléber e Valdívia. Nenhuma mudança significativa nos resultados. Enfim, o problema está no campo ou fora dele? Está na bola ou na cabeça dos palmeirenses?

***

Gangorra carioca

Se o mundo dá voltas, o mundo da bola dá mais voltas ainda. Final do Brasileirão do ano passado: Flamengo campeão, Fluminense fugindo de forma inacreditável do rebaixamento. Brasileirão 2010: o Fluminense flertando com a ponta de cima da tabela, o Mengo pelejando para não cair à zona dos rebaixados. Embora isso mostre o quão fluido é o futebol, também evidencia o quão instável é o futebol carioca, onde os times se estruturam e se desestruturam da noite para o dia. Consequência: às vezes sobe, às vezes desce.

Torço sinceramente pelo fortalecimento do Flamengo. Especialmente pelo que o clube passou com as crises pessoais de Adriano, com o episódio criminoso envolvendo o goleiro Bruno e por respeito à seriedade reconhecida da presidente Patrícia Amorim e do sempre ídolo Zico.

***

Se correr o bicho pega, se ficar...

Quando começou o campeonato, o Atlético Mineiro tinha motivos de sobra para esperar um bom desempenho, quiçá brigando pelo título. Afinal, o Galo teria o comando do vitorioso treinador Vanderley Luxemburgo, além de um bom elenco, com Ricardinho, Obina, Diego Tardelli, Diego Souza.

No entanto, o que se viu foi um time brigando desde as primeiras rodadas para fugir da zona de rebaixamento. O risco – real! – de uma nova queda do Galo, certamente já deve ter levado muito dirigente e torcedor a pensar na dispensa do “profexô” Luxa. O problema é a multa rescisória e o perigo de que a demissão do técnico piore ainda mais os resultados do time. Ou seja, se as coisas estão muito ruins para o Atlético Mineiro, sem Luxemburgo, ao contrário do que apregoa Tiririca, podem, sim, ficar piores. No caso, irreversíveis.

JFQ

A verdade às vezes dói

É engraçada a peça publicitária veiculada pela Portuguesa por oportunidade do seu aniversário de 90 anos (ver o vídeo abaixo). Ao mesmo tempo, não deixa de ser um tanto melancólica, ao menos para seus sofridos torcedores. Seguindo o slogan de outras propagandas, o vídeo, que tem como protagonista o zagueiro Domingos, é encerrado com o texto: “Orgulho de ser diferente. Orgulho de ser de verdade.”

Não entendi muito bem qual foi a intenção em colocar o zagueirão como representante da “diferença” e da “verdade” que tanto orgulham os torcedores da Lusa. Corinthiano que sou, mas que nutre grande simpatia pelo time do Canindé, preferia ver imagens de outro Domingos, o “da Guia”, além de Enéas, Edu Marangon, Dener e tantos ótimos jogadores que vestiram a camisa rubro-verde. A peça talvez se justifique por Domingos representar, goste-se ou não, a verdade nua e crua do futebol da Portuguesa: sem brilho, mas valente, brigador. A bem da própria verdade, acrescente-se: violento, demasiado violento. Como diz o ditado, a verdade às vezes dói. No caso, também nos atacantes adversários...

Parabéns, Portuguesa! Que muitas conquistas venham para orgulhar ainda mais esse clube tão querido. É o que deseja esse corinthiano. De verdade.

JFQ.


sábado, 18 de setembro de 2010

De pai para filho

José Geraldo Couto


É curioso como Neymar, com seus lampejos, tropeços e cabeçadas, suscita em nós, homens de gerações anteriores, um certo instinto paterno.

Não estou falando só dos moralistas de plantão, sempre prontos a dizer como os outros devem agir. Seja com o intuito de orientar ou de punir, todos parecem ter uma palavra a dizer a Neymar.

Mas eu não tenho nenhuma. Gasto todas com meu filho, que é só um ano mais velho do que o craque santista. E muitas delas entram por um ouvido e saem pelo outro. Pelo simples fato de que meu filho não é uma mera projeção de mim. É outro indivíduo, com seus próprios medos e desejos, sua própria subjetividade.

Por algum motivo, o futebol está profundamente ligado à relação pai-filho.

No documentário sobre o São Paulo, "Soberano", que está em cartaz nos cinemas, o binômio paixão clubística/amor filial emerge em todos os depoimentos de torcedores.

Um deles afirma que só viu o pai chorar uma vez, numa derrota do tricolor. Outro lembra a primeira vez que foi ao estádio, levado pelo velho, e assim por diante.

Todo brasileiro tem uma história marcante de infância que envolve o pai (ou, na falta deste, outra figura paterna) e o futebol.

Claro que há aqueles que renegam o time do pai, escolhendo um outro qualquer, e até os que criam aversão ou indiferença ao esporte.

Mas, mesmo nesses casos, o pai é a referência básica, para o bem ou para o mal.

Não é um traço exclusivamente brasileiro, claro. Mas aqui, talvez pela fragilidade do nosso sistema educacional, o futebol assume uma dimensão pedagógica amplificada, como espaço de transmissão de valores e de aprendizado do convívio social.

Lembro a primeira vez que levei meu filho ao estádio. Foi no Morumbi, dia de estreia de Túlio Maravilha no Corinthians, contra o Flamengo.

A certa altura, um flamenguista, não sei se desavisado ou provocador, surgiu no meio da torcida do Timão com uma camisa rubro-negra. Entre tapas, safanões e cusparadas, foi obrigado a tirar não só a camisa mas toda a roupa, ficando só de cueca.

Meu filho, de olhos arregalados, perguntou o que estava acontecendo. Tentei explicar que aquilo era uma brincadeira, uma espécie de ritual pré-jogo. Mas me senti como o bobalhão do Roberto Beningni iludindo o filho em "A Vida É Bela".

Se é difícil educar o próprio filho, que dizer dos filhos dos outros?


* Artigo publicado na Folha de S.Paulo, em 18/09/2010.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Carta ao jovem Neymar

Xico Sá

Amigo torcedor, amigo secador, peço a devida licença, como em outras oportunidades, para dirigir a palavra ao jovem Neymar, com quem gostaria de manter uma prosa, um lero, trocar uma ideia, sem conselhos, sem afagos, sem vigiar ou punir, verbos que não me cabem no figurino, afinal de contas não passo de um tiozão errado, meu caro, a virtude aqui passou longe.

Uma coisa eu te digo, menino, invejo a tua rebeldia, é serio, mesmo com alguns chiliques e não-me-toques, mesmo no egoísmo com a equipe e com o técnico, exerces o livre arbítrio e te refugias no individualismo, único momento em que és tu mesmo, independentemente de pais, mestres, mídia ou carreira. Certo ou errado, prefiro não julgá-lo, ninguém sabe o que se passa na cabeça de um homem em certos momentos, tenha ele 18 ou 80 anos.

O preço é alto, como em tudo a partir de agora, afinal de contas perdeste a condição de moleque livre numa pelada praieira de fim de tarde, tens vários donos, és uma commodity, como se diz na linguagem econômica, estás na bolsa de mercadorias e tens muita gente de olho no teu futuro e no teu dinheiro.

Sim, és um tremendo abusado, despertas invejas e ódios, mas nada diferente dos jovens do teu tempo, resguardadas as proporções que tuas atitudes e desobediências têm na imprensa. Mas longe de ser um rascunho de monstro, como insinuou o santo René Simões, técnico vítima da sensacional virada santista que ajudaste a construir com o teu repertório de dribles.

No teu caso, menino, fico com um cara que sabe muito, um dos mais sábios da crônica esportiva, o Alberto Helena Jr., meio século de jornalismo: "O monstro, creia, é Neymar... Ora, vá ver se estou na esquina", ele escreveu no seu blog. "Cada bocejo do menino vira vendaval, e ainda querem que ele se comporte como um cavalheiro inglês da era vitoriana."

No mais, meu jovem, já pediste desculpa, isso é sempre um gesto nobre -no futebol e principalmente com as mulheres, nunca te esqueças.

Ah, não quero mais te encher o saco, já foram tantos malas pegando no teu pé de ontem para hoje, mereces um sossego.

Quanto aos brucutus que te perseguem em campo, paciência, mas não custa nada pedir umas dicas de malandragem ao Serginho Chulapa, aí bem do teu lado. Aceite um abraço do tio. Sem mais para o momento, para cima deles, menino!



* Artigo publicado na Folha de S.Paulo, de 17/09/2010.