quinta-feira, 9 de junho de 2011

Heroico



Não apenas o navegante português que lhe dá nome, mas a saga do clube nos últimos anos pode ser considerada heroica. Como foi heroica a conquista da Copa do Brasil pelo Vasco, em um jogaço contra o não menos heroico Coritiba.

A partida foi de matar do coração as sofridas torcidas cruzmaltina e coxa branca, além de, no mínimo, provocar alguma taquicardia naqueles que nada têm a ver com um ou com outro finalista.

Em um estádio Couto Pereira lotado e efervescente, o Coritiba, muito bem comandado por Marcelo Oliveira, tratou de partir logo para cima. A vitória vascaína no primeiro jogo, por 1 a 0, impunha-lhe a obrigação de vencer. Pior: em caso de gol do adversário, como não tinha feito nenhum tento em São Januário, obrigava-lhe a vitória por dois gols de diferença. Como nestes tempos sofrimento pouco é bobagem para o Coxa, o Vasco acertou um contra-ataque aos 12 minutos do primeiro tempo que culminou no gol de Alecsandro... justamente o filho de Lela, um dos heróis coritibanos na conquista do Brasileirão de 85.

Enganou-se, porém, os precipitados (geralmente, enquadro-me neles) que sentenciam de pronto: será impossível a equipe paranaense marcar três. Marcelo Oliveira tirou o volante Marcos Paulo e colocou o atacante Leonardo. O fato é que o Coritiba começou a se acertar em campo – o time estava bastante nervoso – e a bola começou a chegar à meta do ótimo goleiro Fernando Prass com frequência considerável. Com um ataque mais intenso – para usar um jargão “mano-menezesco” –, composto também pelos ligeiros Rafinha e Davi, além do oportunista Bill, este mesmo, aos 30 minutos, completou cruzamento de cabeça para empatar a partida. Na base do não para, não para, não para, aos 45, Davi acertou um tirombaço no ângulo: Coritiba, 2 a 1.

O segundo tempo começou com o Coxa precisando de apenas um golzinho para o título. E foi para cima. O Vasco oscilava momentos de impotência com outros, poucos, de contra-ataques bem produzidos, sempre pelos pés do rápido Éder Luis. Felipe e Diego Souza, os responsáveis por prender a bola e conter o ímpeto coritibano, não estavam conseguindo fazê-lo eficientemente. Mas, em jogada individual de Éder Luis, aos 13 da segunda etapa, um chute forte e com efeito, mas de muito longe e no meio do gol, terminou na falha (frango?) do goleiro Edson Bastos e em novo empate vascaíno. Novamente, o Coxa precisava marcar dois gols.

O que parecia mais uma vez impossível, passou a ser nova esperança quando, aos 21, Willian acertou um lindo chute – algo frequente neste jogaço – que fez a bola morrer no ângulo da meta de Prass. Daí para frente foi só pressão coritibana, resistência vascaína – Diego Souza e Felipe, substituídos, ficaram rezando no banco de reservas – e muita luta de lado a lado para a conquista de um título inédito e vaga na Libertadores do ano que vem. Tal conquista, enfim, coube ao Vasco da Gama, muito bem treinado por Ricardo Gomes, quando o árbitro Sálvio Spínola apitou o final da partida.

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O triplo renascimento do Vasco da Gama


A conquista da Copa do Brasil de 2011 pelo clube de São Januário marca um triplo renascimento deste que, indubitavelmente, é um dos grandes escudos do futebol brasileiro.

O primeiro, de curto prazo, é o da equipe que começou o ano marcado por um péssimo início de campeonato carioca. A mudança começou a partir da vinda de Ricardo Gomes, treinador contestado após passagens pela seleção brasileira olímpica e pelo São Paulo – onde, é bom lembrar, chegou perto de conquistar o Brasileirão de 2009. Gomes, aos poucos, acertou a equipe, montando uma defesa mais consistente com Allan e Ramon nas laterais, Anderson Martins e o bom Dedé na zaga, além dos volantes Rômulo e Eduardo Costa (com inegável estilo brucutu, mas sempre presente na marcação). Para completar, a criação e ataque composto pelo veterano Felipe, o habilidoso Diego Souza, o ligeiro Éder Luis e o artilheiro Alecsandro. Com este elenco, o Vasco chegou às finais da Taça Rio e à conquista da Copa do Brasil.

O segundo renascimento é justamente do time acostumado a títulos importantes. Quem viu a fase de fins dos anos 90, começo dos 2000, sabe que a camisa vascaína não combina com derrotas, mas com conquistas. A imagem de equipe campeã foi manchada pelo rebaixamento, em 2008 – o que também ocorreu com outros grandes nos últimos tempos –, e com a ausência prolongada de títulos de peso (o último que assim pode ser considerado foi a Taça João Havelange, o Brasileirão de 2000). A conquista da Copa do Brasil e a consequente vaga na Libertadores recolocam o Vasco em seu devido lugar.

O último renascimento é político. Após brava luta, o clube conseguiu se ver livre do comando do cartolão Eurico Miranda. No entanto, em que pese a imagem de prepotência e condução por meios escusos, pesava a favor de Miranda dirigir um clube vencedor. Roberto Dinamite, para muitos vascaínos, o maior ídolo de todos os tempos do clube, acima de Edmundo e Romário, assumiu a presidência com a missão de fazer do Vasco um clube administrativamente limpo e vencedor nos gramados. Neste último quesito, a vitória de ontem foi fundamental.

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Aplausos ao bravíssimo Coxa


A trajetória do Coritiba, mesmo perdendo o título, não foi menos heroica que a do Vasco da Gama. O Coxa, rebaixado no Brasileirão de 2009 – pela segunda vez em poucos anos –, está fazendo de 2011 um ano histórico. Campeão brasileiro da segundona, retorna ao Brasileirão após campanha sensacional: o Coritiba manteve invencibilidade de 29 jogos, sendo 24 vitórias consecutivas, recorde mundial.

A conquista da Copa do Brasil selaria essa trajetória fantástica de renascimento, o que, a bem da verdade, não deixou de ocorrer com o vice-campeonato.

JFQ

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