sexta-feira, 24 de junho de 2011

Milhões de detalhes levam à taça


José Roberto Torero


Este texto não é um. São dois. A primeira metade estou escrevendo no intervalo do jogo, no meio da torcida santista no Pacaembu (a ala dos jornalistas estava lotada). A segunda parte farei no fim do jogo.

Pois bem, após estes 48 primeiros minutos, minha conclusão, nada criativa, é que o jogo será definido por um detalhe. Digo isso não só pelo 0 a 0, mas principalmente pelo currículo dos clubes na fase de mata-mata.

Explico: o Santos sempre venceu seus oponentes por um e apenas um gol, somando-se os dois jogos.

Com o Peñarol deu-se a mesma coisa nas oitavas e nas quartas, e nas semis passou ainda com mais dificuldade, graças ao critério dos gols marcados fora de casa.

Ou seja, são dois times que sempre superam seus inimigos por pouco, que passam raspando sobre precipício, e hoje não há como ser diferente. Um detalhe, um lance fatal, uma jogada perfeita deve decidir o jogo.

Nestes primeiros minutos houve vários candidatos ao posto de jogada decisiva: dois chutes de Elano, um de Zé Love, uma grande chance de Léo e uma cabeçada de Durval. Da parte do Peñarol, houve belo chute cruzado.

Daqui a 45 minutos escreverei de novo. Talvez dizendo que minha tese foi perfeita, talvez dizendo que sou uma besta.

Fim do jogo. Sou uma besta. Não porque houve três gols, ou seja, três detalhes, mas porque pensei melhor e achei minha tese do lance decisivo uma bobagem.

Não foi o gol de Danilo que deu o campeonato ao Santos.

Foi também o tapinha salvador de Rafael, a saúde de Pará, os bicões de Durval, a cabeçada de Edu Dracena, a garra de Léo, a perna providencial de Adriano, a calma de Ganso, a eficiência de Elano, as boas antecipações de Arouca, o gol de Neymar, o suor de Zé Eduardo, a esperteza de Muricy. E todos os jogos e lances que fizeram o caminho do time até aqui, inclusive a conquista da Copa do Brasil.

Uma vitória não se faz apenas por um sim do time que vence, mas por vários nãos do time que perde. Os erros dos outros também contam.

São os milhões de detalhes que levam um time ao título. E o último gol, é claro, é o mais importante deles.

Agora, enquanto Pelé entra em campo, penso que ele foi o maior detalhe que já houve. Detalhe tão gigantesco que foi sempre uma sombra sobre o Santos. Mas agora não há mais sombra. O time de Neymar conseguiu a maior vitória da era pós-Pelé.

O Santos é o campeão da América do Sul. E isso não é um detalhe.
 
* Publicado na Folha de S.Paulo, em 23/06/2011.

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