quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Vale trave

Denise Fraga



 
Sou flamenguista de nascença, mas palmeirense pelo coração. Gosto de futebol. Meu marido é palmeirense roxo e meus filhos ainda ostentam com orgulho a camisa do Palestra. Não tivemos muitas alegrias na última década, mas, neste ano, nosso time nos deu a Copa do Brasil e garantiu nossa vaga na Libertadores.

Fazia tempo que não nos inflamávamos tanto na arquibancada nem víamos nosso time jogar bonito assim. Estava um ano quente.

Mas, por incrível que pareça, corremos o perigo de passar o Natal amargando 2013 na segunda divisão do Campeonato Brasileiro. O time até brilhou, mas a bola simplesmente não entrou.

Um poderoso sentimento de injustiça cresce em meu peito quando penso nas inúmeras bolas na trave que presenciei. Em minha relativista visão feminina do mundo pão, pão, queijo, queijo do futebol já tentei tecer várias teses a respeito da importância da bola na trave, mas sempre me olham como se eu fosse mulherzinha.

É óbvio que é muito mais difícil acertar nas traves e no travessão do que no vão de sete metros. Não valendo mais do que um gol, deveria, no mínimo, aumentar o número de pontos de times como o meu, à beira do precipício. Mas bola na trave não é gol. Bola na trave é intenção. E, como dizia minha avó, de boa intenção o inferno está cheio.

Futebol se mede por gols, audiência, pelo Ibope, o valor das coisas, por seu preço e meu filho, mesmo devorando livros, só passa de ano se tirar boas notas. São regras e parâmetros aos quais fomos nos acostumando para tentar ter a vida nos trilhos.

Da última vez, saí do estádio pensando em um texto que li de Maria Rita Kehl no qual ela dizia que nossa biografia não deveria se basear somente em nossos feitos. Às vezes, nossos desejos e intenções nos configuram de forma muito mais plena. Seria nossa "biografia em baixo-relevo". Mas como exigir desse mundo objetivo em que vivemos tamanha delicadeza?

Continuamos por aí nos afogando em números e perdendo nossos "quases" que tanto têm a dizer. Nosso time talvez caia para a segunda divisão pela segunda vez.

Na primeira vez, os meninos eram pequenos e se firmaram palmeirenses gritando muitos gols, sem saber que torciam para um time rebaixado. Agora não poderemos mais enganá-los: já sabem que a vida é feita de números. Mas, mesmo na segunda, continuaremos na arquibancada contando nossos gols, aos quais eu, eterna e secretamente, agregarei as bolas na trave e os passes perfeitos.

 

DENISE FRAGA é atriz e autora de "Travessuras de Mãe" (ed. Globo) e "Retrato Falado" (ed. Globo)

Publicado na Folha de S.Paulo, em 30/10/2012.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Justamente ilegal

Juca Kfouri
 
O cúmulo do desespero revela-se nas reclamações quanto ao gol anulado de Barcos, o pirata da cara de pau.

Só faltava, para acabar de desmoralizar a arbitragem deste Brasileirão do impedimento tríplice carpado, a validação do gol do argentino que, em vez de reconhecer a farsa, fingiu indignação.

Pior que ele só o tal Piraci, do jurídico alviverde, falar em anulação do jogo. Baseado em quê? No que jamais se provará?

Quem sabe o pirado causídico não anule a decisão da Copa de 2006, quando também se alegou auxílio externo para expulsar Zidane, autor da cabeçada em Materazzi, tão escandalosa como a cortada de Barcos.

Ora, com um mínimo de espírito ético e esportivo, os responsáveis pelas tradições palmeirenses deveriam se calar diante da insânia que seria a validação do gol.

Que o árbitro vacilou é inegável e sua má consciência foi tal que nem cartão mostrou ao autor da farsa --deveria ter mostrado o amarelo duas vezes, o primeiro pela mão, o segundo pela falsa indignação.

Mas, vá lá, do jogador de sangue quente admite-se as piores vilanias, assim como não se espera equilíbrio do torcedor que aplaude Joaquim Barbosa, mas quer que seu time ganhe com gol de mão, em impedimento depois dos acréscimos.

Ainda mais do torcedor torturado pela pífia direção que Piraci representa.

Daí a mergulhar a instituição nas profundidades do ridículo vai enorme distância, para gozo dos rivais.

Já se disse aqui, e deve ser repetido, o que ensinou o uruguaio, este sim, jurista, Eduardo Couture, em seus Mandamentos do Advogado: "Teu dever é lutar pelo Direito, mas no dia em que encontrares em conflito o direito e a justiça, luta pela Justiça".

Alguma dúvida sobre o que tinha de prevalecer no caso da mão de Barcos?
Publicado na Folha de S.Paulo, em 29/10/2012.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Negócios à parte, torcedores

Paula Cesarino Costa
 
Nem centenas de milhões de reais foram capazes de separá-los. Em defesa de um mesmo objetivo, estão lado a lado personagens de uma disputa milionária: Rodolfo Landim, ex-executivo do grupo de Eike Batista --que reivindica na Justiça cerca R$ 500 milhões, referentes a 1% da holding que Eike teria lhe prometido--, e Flávio Godinho, do conselho de administração do grupo EBX.
"O Flamengo tem capacidade de unir até quem disputa milhões", diz Wallim Vasconcellos, candidato a presidente do clube rubro-negro.
Foi com um telefonema de Godinho para Landim que começou a crescer o movimento para criar a chapa que reúne empresários e executivos --como os presidentes da Sky, da Visa e da Cielo, o ex-presidente do BC Carlos Langoni e o ex-presidente da ANP David Zylbersztajn. Nesta semana, reuniram-se na casa do humorista Cláudio Manoel, do Casseta & Planeta, para acertos finais.
Ainda faltam estudos acadêmicos e/ou científicos que expliquem o comportamento do torcedor. Impressiona o que a paixão por um time é capaz de fazer com o ser humano.
Torcedores são capazes de tudo. Da irracionalidade flagrada durante uma partida, que faz homens civilizados agirem de maneira quase selvagem, à capacidade de fazer qualquer coisa pelo time que torce --ultrapassar divergências ideológicas, pessoais e disputas comerciais.
Como torcedores, esses executivos apostam numa receita moderna: profissionalizar a gestão contratando diretoria executiva, equacionar as dívidas, eliminar as ambições políticas e explorar melhor a marca valiosa. São quase 40 milhões de torcedores que não compram outro produto.
Mas eles disputam com várias chapas, entre elas a da presidente do Flamengo, Patrícia Amorim. Num ambiente em que a incompetência alimenta a má-fé, e vice-versa, pode vir a ser só mais uma ilusão de torcedor.
 Publicado na Folha de S.Paulo, em 18/10/2012.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A dor e a alegria

Luiz Zanin





Amigos, o futebol é esporte coletivo mas, muitas vezes, são as atuações individuais que mais nos chamam a atenção. Este fim de semana foi pródigo na supremacia do indivíduo sobre o conjunto. A começar pelo clássico espanhol, que teve o duelo à parte entre Cristiano Ronaldo e Messi. Imagino que ambos se lixavam para as manifestações separatistas da Catalunha que faziam vibrar as arquibancadas do Camp Nou. Estavam muito mais interessados em sua luta particular para ver quem é o melhor do mundo. E, nessa disputa de egos, empataram, da mesma forma como o jogo empatou. Dois gols para cada lado, duas atuações brilhantes. O lucro foi do público.

Entre nós, houve a atuação emocionante de Ronaldinho no sábado. Iluminado, ele fez três gols, construiu belas jogadas, dominou o jogo. Verdade, foi contra o Figueirense, uma das apostas mais seguras ao rebaixamento. Mesmo assim, houve quem dissesse que Ronaldinho não jogava desse jeito desde 2006, quando era o melhor do mundo, antes de naufragar naquela Copa em que o Brasil era tido como favorito. A bem da justiça, naquela Copa o Gaúcho não foi náufrago solitário. A equipe toda foi ao fundo, do roupeiro ao presidente, como um lamentável Titanic.

Voltemos ao presente: Ronaldinho foi saudado como craque redivivo e não faltaram comentários do tipo "Ah, se ele jogasse sempre assim..." Bem, ninguém joga sempre assim. O mínimo que se pode exigir de um craque é certa regularidade. Mas, mesmo essa qualidade da constância o Ronaldinho vem mantendo em sua fase atleticana. Para quem saiu do Flamengo com o rótulo de "ex-jogador em atividade", a volta por cima é significativa. Ele tem sido decisivo para o time mineiro em suas pretensões a um título que não vê desde 1971.

Não que já não tenhamos visto atuações antológicas do Ronaldinho no Brasil. Lembram daquele mágico Flamengo 5 x 4 Santos na Vila Belmiro, no qual ele ofuscou até mesmo Neymar? Mas este jogo no Independência parecia especial. As câmeras mostraram como ele chorou após marcar o seu primeiro gol, aquele golaço improvável, por cobertura. Por que chorava? Descobriu-se que seu padrasto havia falecido na véspera. A própria mãe do craque parece que está muito doente. Com essa carga sobre os ombros, Ronaldinho tomou-se de emoção e devolveu em futebol a dor que vida lhe causava. Ele, sempre tão lembrado pela vocação boêmia, era turbinado em campo pelo mais elementar sentimento humano - a revolta diante do destino, a angústia da mortalidade, da nossa condição plebeia e perecível. Foi, talvez, esse sentimento confuso da finitude que forneceu ao craque as armas para uma atuação inesquecível.

Que paradoxo, não é verdade? Quando sentimos a morte de perto, na perda de um ente querido, mais vontade temos de nos afirmarmos como vida. O luto do Gaúcho, naquele sábado, terminou numa explosão de alegria da torcida. O futebol só não suporta é a indiferença.


Publicado em O Estado de S.Paulo, em 09/10/2012.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Nem na várzea

Antero Greco




Brasil x Argentina, o maior duelo mundial de seleções, está escangalhado desde 2011, quando inventaram o Superclássico das Américas. A série de confrontos entre as duas escolas que mais astros revelaram para o futebol em todos os tempos não passa de deslavado caça-níquel para forrar os bolsos das respectivas confederações e seus parceiros comerciais. Por uns cobres, banalizaram rivalidade centenária e tentaram tapear torcedor e jogadores com a conversa de que tem taça em disputa. Até ai, nenhuma novidade; nos antigos festivais da várzea sempre havia um trofeuzinho como prêmio, e que era levado a sério.

Não é o que aconteceu com esses tira-teimas com os argentinos. Os responsáveis pelos confrontos deram tanta importância ao peso histórico da amarelinha e da celeste que decidiram mandá-las a campo numa cidade de fronteira. Quem conhece Resistencia garante tratar-se de lugar simpático, agradável e sossegado, de comida farta e de gente atenciosa. Acredito, e espero um dia desses ter o privilégio de visitá-la.

Mas, muito obrigado, por nada. Águas de Lindoia também é acolhedora, tem clima espetacular e paisagem repousante; vale a pena a viagem. Nem por isso, recebe jogos da seleção brasileira. Nem que tivesse um estádio moderninho como o Centenário, onde, se presumia, as equipes nacionais iriam encontrar-se na noite de anteontem para definir o campeão da versão 2012 do Superclássico. Não teve jogo por causa de black out, ou apagão mesmo, como usamos de uns tempos para cá, para ressaltar uma falta de luz que beira à esculhambação.

Não gosto de recorrer à expressão deuses do futebol, pois a considero batida e tremenda lorota. Mas que foi uma ironia do destino, não há dúvida. Parece que a natureza quis pregar uma peça na cartolagem ao desligar a torre central de iluminação. Recado para aprenderem a não brincar mais com tradição. Não respeitaram a majestade dessas seleções e entraram pelo cano. Tomaram prejuízo e ainda têm de indenizar o público. Se eu tivesse comprado ingresso, faria um barulho e tanto para ter o dinheiro de volta. No mínimo.

Falei em várzea, e peço desculpas aos varzeanos. Lá isso não aconteceria. Evidente que incidentes como esse podem ocorrer em qualquer cidade - na quarta-feira mesmo alguns estados no Brasil sofreram com queda de energia. A questão, maior, está no fato de que clássico de tamanha envergadura (mesmo que jogado só com atletas que atuem nos dois países) não pode ser marcado para cidade com estrutura modesta. Os nossos vizinhos têm Córdoba, Mendoza, Rosario, para citar alguns centros importantes, fora Buenos Aires. Seriam mais adequados e talvez contassem com mais recursos para os reparos. Porém, sabe-se lá por quais razões políticas, foram para Resistencia...

Deu pena das delegações. Os rapazes convocados treinaram, se concentraram, viajaram, chacoalharam em avião, alguns sonharam com a possibilidade de agradar aos técnicos e serem chamados mais vezes. Voltaram para casa frustrados. Como decepcionados também ficaram os fãs. Fora jornais, rádios.

O grotesco deu as caras até após o anúncio do cancelamento da partida. Um repórter levantou a dúvida a respeito do destino da taça - e ouviu do diretor de seleções da CBF que o certo seria considerar o Brasil "campeão", por ter vencido por 2 a 1 em Goiânia. Vixi! A situação era tão constrangedora que a questão do troféu não importava nada no momento. Tinha cabimento pensar nisso? Chato.


Publicado em O Estado de S.Paulo, em 05/10/2012.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Tiranos dos estádios

Antero Greco



Vira e mexe, a tevê mostra torcedores com cartazes singelos, na base do “Mamãe, olha eu aqui”, “Galvão, me filma”, “Amor, te amo!” e coisas do gênero. Não faltam, também, imagens de crianças, senhoras, jovens a tomar sorvete. “As famílias de volta aos estádios”, exultam narradores empolgados. Uma impressão de ambiente descontraído, sereno, alegre e democrático. Certo? Errado.

Os campos de futebol tornaram-se lugar de autoritarismo, arbítrio, repressão. Sem espaço para democracia. Começa pelo clima tenso nos meios de transporte. O sujeito corre risco de linchamento, se cruzar com rivais, no ônibus, no metrô – ou a pé mesmo. Caminhar com camisa da equipe só em grupos, como as organizadas. Caso contrário, é colocar a cabeça a prêmio.

Depois, há a intimidação dos flanelinhas ou a ação escorchante de cambistas. No portão, se o guarda se invocar, o infeliz não entra nem com faixas engraçadas. E, se a fila demora a andar, pode ser atropelado por cavalos, nos sentidos literal e figurado. Lá dentro, arrisca-se a ver o cartaz confiscado, se o árbitro considerar que contenha frase ofensiva. Tem mais: o bolso lhe é tungado, se sentir vontade de comer ou de beber algo. E o nariz é aviltado, se usar o banheiro.

A maior afronta que sofre, no entanto, está na liberdade de torcer, de curtir o espetáculo, de aplaudir os ídolos, de exercer a cidadania pelo lazer. As arquibancadas pertencem a bandos de machistas, truculentos, de tiranetes que determinam como os outros devem comportar-se. E não necessariamente os “inimigos”; impingem regras despóticas para os seguidores de seu próprio time.
 

Os covardes se fortalecem sob a certeza da impunidade, escorados no famoso “não vai dar nada mesmo”, e não têm mais noção de dignidade. Exemplo chocante ocorreu no domingo, após o jogo em que o São Paulo empatou com o Coritiba (1 a 1), no Couto Pereira. O meia-atacante Lucas ouviu os apelos de uma fã, aproximou-se das arquibancadas e lhe atirou a camisa que vestia.

A adolescente Milenna, 13 anos, viveu naquela tarde momento inesquecível, para o bem e para o mal. Assim que agarrou o presente se viu cercada por brucutus irados, por acéfalos que a xingaram e ameaçaram. O pai, assustado, tentava dialogar com os estúpidos, apavorado com a perspectiva de ver sua menina agredida. A camisa tricolor foi jogada no fosso. A PM não interveio e Milenna conheceu a realidade das arquibancadas.

Impressionantes alguns desdobramentos do episódio. Nas redes sociais, não foram poucos os jovens a argumentar que a mocinha e o pai dela “vacilaram”. Postura de certa forma corroborada por Vilson Andrade, presidente do Coritiba. O dirigente afirmou, para a rádio CBN, que iria acionar responsáveis pelo incidente, “inclusive o rapaz (Lucas) que jogou a camisa”, como se no gesto delicado estivesse embutida hostilidade. Voltou atrás.

Fere saber que muitos entendam como lógica e normal a submissão à vontade das quadrilhas de boçais. Envergonha ler comentários de que estavam certo torcedores do Corinthians que exigiram a expulsão de um turista escocês, que no domingo foi ao Pacaembu ver o jogo contra o Sport com camisa do Celtic (verde e branca).

Acham natural que atitudes fascistas esmaguem o direito que temos de nos vestir como queremos, de nos divertirmos num campo de futebol. Pessoas assim também vão dizer que ditaduras são inevitáveis, irão justificar linchamentos, aplaudirão esquadrões da morte. E nem se darão conta de que, assim, vivem presas ao medo.


Publicado em O Estado de S.Paulo, em 03/10/2012.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

"Placar" crucificada

Xico Sá
 
 
 
 
Amigo torcedor, amigo secador, uma ótima ideia a da "Placar", digna dos tempos gloriosos da publicação, foi, mesmo antes de a revista chegar às bancas e ser lida, rebaixada à condição de polêmica santa, cega e sem juízo.
As redes sociais da Internet, tais como algumas pracinhas moralistas e fofoqueiras do interior, pegaram uma capa antológica para Cristo. Nela aparece o genial e genioso Neymar, do Santos FC mais uma vez campeão deste ano, crucificado como Jesus.
Os editores da revista usaram a crucificação como castigo público, talvez a imagem simbólica mais velha e popular do mundo, para discutir as acusações contra o atacante do Peixe e da seleção canarinha.
A capa explica o motivo de pregar o jogador na cruz: "Chamado de 'cai-cai', o craque brasileiro vira bode expiatório em um esporte onde todos jogam sujo". Você pode discordar ou não do pensamento, mas daí a fazer disso uma guerra pentecostal contra a sacada da "Placar", pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Para muitos, a revista estava comparando Neymar com o homem de Nazaré. Isso seria um pecado mortal. Os editores foram condenados ao inferno em segundos. Fico espantado com a treva, com a incapacidade de se fazer uma leitura menos religiosa e mais sensata.
Não duvido que alguns exemplares sejam queimados nos templos evangélicos e católicos. Se bem que, como discordam do uso e culto às imagens, algumas igrejas pentecostais não podem condenar por uma simbologia em que não acreditam.
Você pode até acusar a revista de apelativa, sensacionalista e outros adjetivos colados ao exercício do jornalismo desde Gutenberg. Não consigo ver nem mesmo este aspecto. Acho, no máximo, um recurso engraçado para ilustrar a reportagem. No tempo em que nossa imprensa era mais criativa e bem-humorada, tínhamos capas e mais capas, páginas e mais páginas desse naipe.
É certo que não existiam as redes sociais, e apenas umas raras cartinhas, lavrando o protesto moralista, chegavam às redações. Assim como é certeiro que jornalista é um bicho orgulhoso que não gosta muito de ser contestado, tem dificuldade para lidar com as críticas do ombudsman e não gosta de assinar o "B.O." da seção "Erramos".
Bom que o barulho do Facebook e do Twitter, em muitas ocasiões, seja capaz de desconstruir manchetes vendidas como bombásticas e arrasadoras etc. Tudo isso é muito positivo. A confusão com a metáfora da "Placar", porém, não faz sentido. Modestíssima opinião para tentar colaborar com o debate.
Usamos diariamente, até sem perceber, a imagem da crucificação. Fulano pegou alguém para Cristo etc. Sinceramente é muito barulho por nada, minhas caras irmãs Cajazeiras da pracinha do interior chamada Internet.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 28/09/2012.