quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Lançando na Área

Assuntos escalados para discussões futuras.
(JFQ)


Robinho no Santos


Está confirmado: Robinho está de volta à Vila Belmiro, se bem que por pouco tempo. Espera-se que consiga retomar o futebol alegre que o consagrou. Meu caro primo Arnaldo, como se nota aí embaixo (“Dinheiro e Felicidade”), não parece estar muito otimista. Eu também tenho minhas dúvidas; menos pela vontade e qualidade de Robinho, mais pelo pouco tempo e pelas limitações do time do Santos, apesar de ali estarem Neymar, Giovanne e, quiçá, as jovens revelações da Copinha, Nikão e Alan Patrick. Sempre é bom lembrar que futebol é esporte coletivo; portanto, não basta ser craque, há que se entrosar para mostrar o talento. Sorte ao Santos e a Robinho. Se não for bem sucedido na empreitada, diga-se de passagem, até a presença do “rei das pedaladas” na Copa – algo inquestionável até há pouco – estará em risco.

Legião estrangeira na Copa deve diminuir

Nas Copas de 1982 e 1986 havia apenas 2 jogadores “estrangeiros” – jogadores que atuam fora do país – na seleção brasileira. De lá para cá, o número sempre aumentou (os “estrangeiros” na Copa da Itália chegaram à metade: 11; em 1994, nos EUA, eram 12; em 1998, na França, 13; em 2002, na Coréia do Sul/Japão, ligeira diminuição: 10. Na última Copa, em 2006, o “estrangeirismo” virou quase total, restando apenas 3 jogadores que atuavam no Brasil: Ricardinho, no Corinthians, Rogério Ceni e Mineiro, no São Paulo, lembrando que este último só foi convocado por causa da contusão de Edmílson. A Copa da África do Sul, apesar de ainda não sabermos os 23 convocados, pode marcar uma ligeira inflexão na tendência. Alguns jogadores que atuam aqui têm boa expectativa de convocação – uns mais, outros menos – tais como: Adriano (Flamengo), Robinho (Santos), Victor (Grêmio), Miranda (São Paulo), Kleber (Internacional) e Kléberson (Flamengo). E quem sabe não venham outros: Ronaldo, Roberto Carlos, Marcos, Fred...

Ronaldinho Gaúcho na Copa


Por falar nisso, a pergunta do momento é: Ronaldinho Gaúcho deve ou não ser convocado para a Copa? Particularmente, acho que sim. E que não pese contra o jogador o último jogo do Milan contra a Internazionale, muito menos o pênalti por ele perdido. Até Pelé já teve seus dias ruins. Ronaldinho, na minha modesta opinião, é o único verdadeiro craque que surgiu após Zidane. Melhor que Kaká, Cristiano Ronaldo e Messi. Porém, esteve em má fase por um longo tempo. Mas está de volta. Em boa fase, é imprescindível a qualquer equipe, inclusive à seleção brasileira. Além disso, pode ser utilizado como reserva de Kaká – com qualidade imensamente superior a Júlio Batista, o atual reserva – ou como um atacante aberto à esquerda – lembrando que Robinho está longe de sua melhor forma. Ou seja, traz qualidade e opções táticas a Dunga.
Em breve, o blog trará um espaço especial para discutir os 23 convocados do Brasil para a Copa da África do Sul. Solicitaremos comentários e escalações.

Do passe aos contratos de gaveta

Virou moda o troca-troca (ou seria “rouba-rouba”?) de jovens jogadores entre os grandes clubes paulistas. Marcelinho, que era do Corinthians, foi para o São Paulo. Lucas Piazon, antes no tricolor, foi parar no Timão. Ramos, também ex-São Paulo, veste agora a camisa do Palmeiras. E Nikão, que era do Palmeiras, foi para o Santos (tornando-se, inclusive, um dos destaques da última Taça São Paulo). A lógica é a seguinte: como a Lei Pelé, que regula o desporto no país, não permite contratos com jogadores menores de 16 anos, os clubes não têm como segurar seus jovens talentos do assédio dos outros clubes até essa idade. Na iminência da idade-limite, surgem as propostas e negociações, em muito motivadas por empresários e outros cujos bolsos engordam sobremaneira a cada transação. O problema é como isso afeta (e desmotiva) a chamada base dos clubes, ou seja, o investimento na descoberta e formação de novos craques. As saídas encontradas pelos clubes vão da emancipação do jogador – exemplo de Neymar, no Santos – ou os contratos de gaveta – exemplo do São Paulo. Neste caso, a Justiça vem derrubando tais contratos, não reconhecendo sua validade jurídica. Eis uma questão que não é tão simples, em que mocinhos e bandidos não são tão claros, se é que há bandidos e mocinhos no caso. Quanto a isso, um excelente artigo foi escrito pelo sempre competente Paulo Vinicius Coelho, o PVC (“A base do problema”, Folha de S.Paulo de 24/01/2010, página D5). A seguir, a quem interessar, link para acessar a Lei Pelé: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9615consol.htm

Quem tem poder no mundo da bola?

A propósito dos casos acima mencionados, Michel Platini, ex-craque da Juventus (Itália) e da França, atual presidente da UEFA, confederação européia da FIFA, já defendeu a proibição de transferências envolvendo jogadores menores de 18 anos. A medida, porém, choca-se com a lei europeia de livre circulação de trabalhadores. Leonardo, técnico do Milan, foi além: acha um absurdo a transferência desses jovens de um país a outro. É o caso de Messi, por exemplo. Só que Platini e Leonardo não têm poder para tornarem realidade suas ideias, bastante razoáveis, diga-se de passagem. Assim como parece não tê-lo o próprio presidente da FIFA, Joseph Blatter, defensor de restrições à “indústria de jogadores naturalizados”, temendo que um dia tenhamos uma Copa do Mundo disputada apenas por jogadores sul-americanos. Muito bem, só que a proposta não prosperou. Agora, se nem Blatter tem poder para promover mudanças, quem terá?

Naturalizações e “brasileiros” na Copa

O Brasil sentirá na pele a força dos “brasileiros” na Copa. Contra Portugal, no terceiro jogo, é muito provável que o escrete lusitano conte com os “brasileiros” Pepe, Deco e Liedson. Este último, aliás, já esteve bastante cotado a uma convocação para a seleção brasileira em 2003, quando atuava pelo Corinthians. Sorte sua; nesse caso, hoje não poderia atuar ao lado de Cristiano Ronaldo e outros de seus (neo) patrícios. Só que Liedson declarou, mesmo naturalizado português, que se considera brasileiro. Portanto, declarou algo óbvio, mas “politicamente incorreto” de se confirmar: as naturalizações no futebol são, em muitos casos, meros artifícios para que seleções sejam reforçadas. Problemas: Copa do Mundo não pressupõe o que de melhor cada país tem a oferecer? Não se trata de um confronto esportivo entre nações? Ou seguiria a mesma lógica dos clubes? No caso de jogadores “artificialmente nacionalizados” – e não me refiro aqui ao aspecto puramente legal, mas à ligação afetiva com as cores nacionais que o jogador representa em campo – não estaria ferindo um fundamento inerente à Copa do Mundo? Em uma metáfora assumidamente exagerada, se traçássemos um paralelo entre a Copa e uma guerra mundial, estaríamos diante de uma invasão de soldados mercenários. Pode haver seus benefícios, mas também há seus riscos a quem os contrata. Basta ler Maquiavel – em “O Príncipe” – para comprovar isso.

Boleiros, boleiros, negócios à parte

Há algum tempo foi moda dizer que todo clube deveria tornar-se empresa. A reboque da onda da modernização neoliberal dos anos 1990, o ideal seria que os clubes deixassem de ser meras associações e se tornassem empresas, com riscos, lucros, ações na bolsa, tudo o mais. Quem assim fizesse, tornar-se-ia, quase que automaticamente, moderno e eficiente. Quem se opusesse, por outro lado, estaria fadado à ineficiência, às derrotas, ao arcaísmo. Passado o tempo, passada a moda, o que temos? Quanto aos resultados em campo, não se pode confirmar ou negar o dito liberal. O Barcelona, por exemplo, que sempre se negou à moda, é o atual campeão do mundo, e vai muito bem, obrigado. Alguns dos que se tornaram empresa, também. No entanto, penso que o grande diferencial hoje está refletido na seguinte pergunta, comumente ouvida: quem é o dono do clube X ou do Y? Quem é o dono do Chelsea, do Manchester United, do City? É aquele bilionário russo? Seria aquele mafioso? Apesar de saber da tradição de rapinagem dos cartolas brasileiros, gosto de pensar que nossos clubes não têm “donos”. Especialmente o meu, para o qual reina a famosa ideia de que não é um time que tem uma torcida, mas uma torcida que tem um time. Penso que há uma moral da história aí: negócios lícitos e ilícitos independem de o clube ser ou não empresa.

Clube itinerante

O Grêmio Barueri pode lançar moda no Brasil: a moda do clube itinerante. É parecido com o comportamento das empresas na chamada “guerra fiscal”: instala-se na cidade em que o poder público local lhe dê mais vantagens. No âmbito fiscal é conhecido o principal malefício do zigue-zague: tudo se dá às custas do dinheiro público, do erário municipal. Também há suas vantagens, especialmente nos empregos gerados no município. E quanto aos clubes? Dizem que o fenômeno é comum em outros lugares; nos Estados Unidos, por exemplo. Agora, que é esquisito, isso é! O Grêmio Barueri Futebol Ltda. (sim, Ltda.!; aliás, isso explica alguma coisa...) não é mais um time de Barueri, mas, sim, de Presidente Prudente. E já luta para mudar de nome. Quer se chamar Grêmio Prudentino Futebol... Ltda. É certo que dinheiro é fundamental e deve ser considerado. Mas o fenômeno não se choca com a ideia de amor à camisa, às cores do time, a uma torcida consolidada na história e na tradição do clube? Ou isso já não tem mais a menor importância mesmo?

Drogas e futebol

Pena de dois anos de suspensão foi aplicada ao botafoguense Jobson por uso repetido de cocaína. Após ditos e desditos, afirmou Jobson ser usuário de crack, produto derivado da cocaína. Num trocadilho infame, a suspensão é também uma pena para o próprio futebol. Mas, sobretudo, é uma pena ao próprio Jobson: à sua pessoa, muito além do aspecto profissional. Não obstante, não seria razoável por parte do STJD a simples absolvição sob o argumento de o jogador ser uma vítima de problemas sociais. Apesar de sê-lo, sim. O doping no futebol parece associar-se muito mais a tais questões sociais do que à busca de melhores rendimentos físicos por meios ilícitos. Que o digam, além de Jobson, Júnior Baiano, Reinaldo, Maradona, entre tantos outros.

Drogas e publicidade

Não só contra as drogas ilícitas o meio esportivo em geral, e o futebolístico em particular, deveria travar combate ou, no mínimo, se contrapor. O mesmo deveria acontecer quanto às drogas lícitas. Não é isso, infelizmente, o que se vê. Como mostram as ricas campanhas publicitárias com jogadores conhecidos. E não se restringe aos dias de hoje. A famosa “lei de Gérson”, por exemplo, que reza querer o brasileiro tirar vantagem de tudo, surgiu em um comercial de cigarros, Vila Rica. Até então, pode-se dizer a bem de Gerson e de outros (Leônidas da Silva, vejam só, também fez propaganda de cigarro) que não havia a mesma consciência que há hoje sobre os malefícios causados pela nicotina à saúde. Só que não dá para conceder o mesmo “desconto” a jogadores que enchem as burras de dinheiro para promoverem cerveja, como se fosse um produto inofensivo.

É o caso do “brahmeiro” Ronaldo Fenômeno. Falando nisso, estou entendendo por que minha barriga anda parecida com a dele.




O relógio da TV à revelia de jogadores e torcedores

Quando comecei a me apaixonar pelo futebol, lá pelos longínquos anos 1980, lembro que os jogos, em geral, eram marcados para os domingos, às 17 horas, e para quartas, às 21 horas. Isso, quando a novela das oito era realmente às oito! Foram passando os anos e a televisão passou a impor os horários dos jogos ao sabor da sua grade de programação. Dessa forma, aos domingos os jogos passaram para as 16 horas (com horário de verão, inclusive), e às quartas, para as 21h45. Resultado: jogadores pelejando sob um sol cada vez mais escaldante, para que possamos assistir ao Faustão com mais tranquilidade, e torcedores saindo às pressas dos estádios, em tempo de pegar a condução de volta para casa ou dormindo menos que as recomendadas oito horas diárias para que consigam ver seu timinho do coração na TV até o apito final do árbitro.

Os campeonatos estaduais não devem acabar

Muita gente defende o fim dos campeonatos estaduais. O argumento principal é: ao que leva ser campeão paulista, carioca, gaúcho? Ou seja, todo campeonato parece valer somente se classifica para algum outro campeonato. Tá, mas até chegar a onde? Ao Mundial? Não, pois também dizem que os europeus não dão lá muita bola para o Mundial da FIFA. Então, valem os campeonatos só se levarem, em última instância, à Libertadores, Copa dos Campeões da Europa e afins? Não concordo. Os campeonatos estaduais valem – e muito! – por si sós. Valem pela tradição, pela história que têm no futebol. E valem, acima de tudo, por serem os principais momentos de acirramento das grandes rivalidades futebolísticas. Fla-Flu, Corinthians x Palmeiras, GreNal, BaVi, Cruzeiro x Atlético, dentre outros, cresceram como grandes clássicos por causa, em primeiríssimo lugar, dos estaduais. Valeria a pena abdicarmos disso? Houve um ano – 2002 – em que tentaram acabar com os estaduais, substituindo-os por torneios que abrangessem mais estados. Não deu certo. Tudo voltou como dantes no quartel de Abrantes já no ano seguinte. Uma saída para unir gregos e troianos seria tornar os estaduais classificatórios para a disputa da Copa do Brasil. Como já o foram para a Taça Brasil, entre 1959 e 1968, disputada pelos campeões estaduais. A Taça Brasil, por sua vez, também levava o campeão à Libertadores.

Richarlyson e a homofogia nos estádios

Richarlyson foi hostilizado pela sua própria torcida no jogo em que o São Paulo, desfalcado e jogando muito mal, empatou com o Mirassol. E o empate veio de um golaço do próprio Ricky, como gosta de ser chamado. Mesmo encoberto pelas vozes do locutor e dos comentaristas, em alguns momentos foi possível perceber os gritos da torcida – “bicha, bicha” – quando Richarlyson pegava na bola. Tais manifestações de homofobia já foram notadas antes, em outros jogos. Fico pensando quando os gays – e aqui não afirmo que Richarlyson seja ou não gay, mas, sim, uma vítima constante da ignorância homofóbica – terão seu momento de inflexão contra as violências discriminatórias que sofrem. Quando – e se – ocorrerá algo parecido com o episódio envolvendo o atacante Grafite e o zagueiro argentino Desábato, em um jogo entre São Paulo e Quilmes, da Argentina. Os negros parecem que já conquistaram um “up grade” importante em sua perpétua luta contra a discriminação, inclusive no futebol. Essa conquista virá aos gays algum dia? A propósito, vale a pena dar uma lida no artigo de Leandro Fortes, intitulado “Os novos negros”, publicado na Carta Capital. O artigo já é um pouquinho antigo, mas, infelizmente, continua atual. Eis o link:  http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=5263. Outro artigo interessante é o de José Geraldo Couto, "Último reduto do macho", publicado na Folha de S.Paulo de 13/02/2010: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk1302201015.htm

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Dinheiro e Felicidade

"Dinheiro não traz felicidade" é com certeza um dos provérbios mais conhecidos e contestados da nossa cultura popular, variando de verdade absoluta à desculpa de pobre, dependendo da situação. Adoro sentar em um botequim, tomar uma gelada, jogar bilhar e petiscar salsicha em conserva, mas não me esqueço de cada momento de minha viagem de formatura, navio 5 estrelas, lugares e comidas fantásticos. Do quê você abriria mão para ficar com as pessoas que ama? Quanto dinheiro seria suficiente para lhe tirar do "seu" lugar? Você abandonaria tudo por um ano e 1 milhão de reais?
Acredito que muitos já responderiam sim, mesmo sem saber o que seria necessário para isso. Para convencer os restantes, vamos dizer que essa grana seria para jogar futebol, na Inglaterra, Premier League, formando o ataque com Tevez e Adebayor... ainda não? Ok, é 1 milhão por MÊS, só de salário.
Como sabem, é isso tudo e muito mais que o Robinho está deixando para trás. Apesar de, como corinthiano, ter sido vítima frequente de seu futebol, estou chateado e preocupado. Na última segunda-feira Robinho completou apenas 26 anos, mas está em situação igual ou pior do que vários craques com bem mais idade que retornaram à Pátria Amada.
Robinho disse que não está feliz no Manchester City, disse até que seu amigo "Di" o chamou para ser feliz na Juventus, mas não, tem que voltar para o Peixe, sua casa. Sim, a mesma casa que ele mesmo abandonou ainda sob contrato, forçando uma transferência para o Real Madrid com a ameaça do Santos ficar sem um tostão, como no caso Ronaldinho Gaúcho e Grêmio, cuja torcida não esqueceu até hoje tal "traição".
É tudo muito parecido com a volta de Adriano ao Flamengo, trocando Milão pela Vila Cruzeiro. Ambos tomaram a mesma atitude em má fase nos clubes mas com créditos com Dunga. A diferença é que o Imperador não buscava a felicidade em outro clube, buscava somente a felicidade, precisava de momentos sem pressão para poder definir seu futuro. Com tudo isso, seus motivos eram sinceros, a imprensa italiana não dava folga, a torcida pegava no pé, só Mourinho lhe protegia. Acertou sua vida pessoal, foi para o Flamengo, entrou em forma, gols, título brasileiro e vai vestir a amarelinha na copa.
Não acho que com Robinho o final vai ser feliz. Após a conturbada ida para o Real, Robinho nunca mais foi constante em clubes, com poucos momento de brilho ficou chateado em ser considerado moeda de troca que o Chelsea não aceitou, jogou pouco e foi para o City. Ao contrário de Adriano, não sofria pressão de torcida e imprensa, mesmo depois de cair em uma armadilha loira e ser acusado de estupro. Roberto Mancini até hoje diz que quer o jogador.
Nesse período só fez sucesso com a seleção, sendo fundamental na conquista da Copa América e nas Eliminatórias. Mas até onde Dunga iria por seus protegidos? Robinho não precisará jogar tudo que sabe no Brasil para ir para a África, mas terá que recuperar as formas física e técnica, o que não acho que dará tempo.
Em seu penúltimo jogo pelo City, quando entrou aos 9 do primeiro tempo e saiu aos 15 do segundo, Robinho lembrou a forma de Ronaldo. Não a forma técnica, bem abaixo, mas a física, só que não a forma física do Ronaldo hoje, mas a do Fenômeno na partida de seu primeiro gol contra o Palmeiras, em Presidente Prudente. No próprio Santos estará fisicamente abaixo de Giovanni.
Robinho quer a felicidade, mas não estará livre da pressão em Santos. Se vai aguentar ou não, nós e Dunga teremos que esperar para ver.
Vou torcer para que a volta de Robinho seja como a de Adriano, Fred, Ronaldo e Pet (praticamente brasileiro), mas tá mais para Denílson.
Arnaldo

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Corinthians Campeão Mundial da FIFA: 10 Anos




Confesso que para mim foi uma notícia inesperada. Ainda melancólico com a recente (e primeira!) eliminação da Libertadores pelo Palmeiras, em 1999, ouvi um zum-zum-zum de que o Corinthians participaria da primeira edição da Copa do Mundo de Clubes da FIFA, a realizar-se no Brasil em janeiro de 2000. Questão inescapável: como, se o Timão não fora campeão da Libertadores, até ali condição sine qua non para um clube brasileiro pleitear o título (em tese) mais portentoso do futebol? Explicação: o torneio da FIFA comportaria todos os campeões de suas confederações, além do campeão intercontinental (conhecido como mundial interclubes) e o campeão nacional do país sede. O Corinthians preenchia esta vaga, como campeão brasileiro de 1998.

Daí, porém, vinha outra questão: por que o campeão brasileiro de 1998 e não o de 1999, já que o torneio seria disputado em janeiro de 2000? Bem, aí já entra uma malandragem que não pode ser ocultada: sendo o Vasco (do então todo-poderoso Eurico Miranda) o campeão da Libertadores de 98 e o Corinthians, campeão brasileiro do mesmo ano, o chaveamento ficaria perfeito, considerando a participação de 8 times divididos em dois grupos de 4, um com sede em São Paulo – território corintiano – e outro com sede no Rio de Janeiro – território vascaíno. Na verdade, dos 8 participantes, 4 credenciaram-se com títulos obtidos em 1998 e 4, em 1999. Eis os participantes: 1) Al Nassr, da Arábia Saudita, campeão da Supercopa da Ásia de 1998 (vaga da Ásia); 2) Corinthians, do Brasil, campeão brasileiro de 1998 (vaga do campeão nacional do país-sede); 3) Manchester United, da Inglaterra, campeão da Liga dos Campeões da UEFA de 1999 (vaga da Europa); 4) Necaxa, do México, campeão da Copa dos Campeões da CONCACAF de 1999 (vaga da América Central e do Norte); 5) Raja Casablanca, do Marrocos, campeão da Liga dos Campeões da África de 1999 (vaga da África); 6) Real Madrid, da Espanha, campeão da Copa Intercontinental de 1998 (vaga do campeão “mundial”); 7) Vasco da Gama, do Brasil, campeão da Taça Libertadores da América de 1998 (vaga da América do Sul); e, 8) South Melbourn, da Austrália, campeão da Copa dos Campeões da Oceania de 1999 (vaga da Oceania).

Ouviram-se protestos (justos, no meu entendimento) dos palmeirenses, campeões da Libertadores de 1999. Sendo o torneio disputado em 2000, o ano-base para as vagas deveria ser 1999; portanto, o Palmeiras, e não o Vasco, deveria ser o legítimo representante do continente sul-americano no Mundial. Quanto ao campeão brasileiro valia a mesma crítica, muito embora não restasse dúvidas sobre o clube a representar o país-sede: o Corinthians fora o campeão brasileiro de 1998 e de 1999!
Além desses esperneios palestrinos, apareceram outras críticas à guisa de zombarias.

Cito algumas:
1) “É um torneiozinho de verão”. Como se a própria Copa do Mundo não fosse, como disse Garrincha, um torneiozinho que nem tem returno...
2) “Os times europeus estão pouco preocupados com esse campeonato”. Talvez; mas Real Madrid e Manchester United vieram com o que tinham de melhor.
3) “Nem a Globo vai passar os jogos”. De fato: a Globo, que perdera para a Bandeirantes o direito de transmissão, dava apenas notinhas em seus telejornais esportivos, como se não se tratasse de um fato jornalisticamente relevante. A propósito, como no caso das Diretas Já, hoje, passados tantos anos, a Globo comenta o Mundial de 2000 com a mesma relevância com que fala dos demais mundiais, sem revelar o desprezo dado no momento em que os fatos ocorriam. De mais a mais, só tem importância o que passa na Globo?
4) “O campeão não sairia de Tóquio”. Sim, tal qual o Santos de Coutinho e Pelé, o Real Madrid de Puskas e Di Stefano, além de tantos outros campeões mundiais que ergueram a taça em outros lugares. Aliás, vale lembrar que a Taça Intercontinental, até então considerada o “mundial de clubes”, realizado desde 1960, só passou a ser jogado no Japão em 1980! E o Mundial da FIFA, após as “edições japonesas” de 2005 a 2008, voltou a ser disputado em outros países a partir de 2009.
5) “O Corinthians seria campeão sem ganhar a Libertadores”. Sim, todos os participantes tinham a chance de ser campeão. O problema neste caso é a vaga dada ao país-sede, o que existe, por exemplo, na própria Copa do Mundo. Além do Corinthians em 2000, o Urawa Red Diamonds em 2007, o Gambá Osaka em 2008, e o Al-Ahli em 2009 participaram do torneio pela vaga de campeão do país-sede, a qual persiste no Mundial da FIFA. A propósito, como subsídio a essa discussão, vale lembrar que a França foi campeã mundial em 1998, classificada para aquela Copa por ser o país-sede, após ter ficado fora das duas Copas anteriores, 1990 e 1994, derrotada nas eliminatórias. Por fim, pergunto: o que é mais injusto, um time participar de um torneio mundial (e, eventualmente, vencê-lo) por ser sede ou ser considerado “mundial” um único jogo disputado apenas pelo campeão europeu e pelo campeão sul-americano?

Além dessas, havia inúmeras outras manifestações de desdém dos rivais, a desvelar, em parte, argumentos razoáveis e, em parte, indisfarçável dor de cotovelo.
Os craques, especialmente os brasileiros, não decepcionaram. Edmundo, por exemplo, marcou um gol maravilhoso na vitória por 3x1contra o Manchester United (ver o link: http://www.youtube.com/watch?v=fuiOPuNe0N0 ); Romário marcou os outros dois. Já o Corinthians fez um jogo “para o gasto” contra o Raja Casablanca e dois jogos para lá de emocionantes, afora a final contra o Vasco.

Contra o Real Madrid, no finalzinho da partida, quando o jogo estava empatado em 2x2, houve pênalti para os “merengues”. Anelka, autor dos dois gols da equipe espanhola, foi bater. No gol corintiano estava Dida, especialista em pegar pênaltis. Não deu outra: defesa fundamental de Dida, já que uma derrota praticamente tiraria a possibilidade do Timão de ir à final.

No jogo contra o Al Nassr, o Timão precisaria vencer por 2 gos de diferença para chegar à final; assim, empataria com o Real em pontos, superando-o no saldo de gols. Aos 24 minutos o Timão já vencia por 1x0, gol de Ricardinho. Mas o bendito segundo gol não vinha de jeito nenhum e o jogo tomou ares de dramaticidade, até que, aos 36 minutos do segundo tempo, Rincón marcou o gol da classificação.

Participaram do torneio jogadores como Hierro, Morientes, Roberto Carlos, Redondo, Anelka, Raúl e Eto’o (um jovenzinho camaronês, então desconhecido, que ficou na reserva), pelo Real Madrid; Keane, Giggs, Stam, Solskjaer, York e David Beckham, pelo Manchester United; Edmundo, Romário, Felipe e Juninho Pernambucano, pelo Vasco; e, por que não citá-lo, o equatoriano Alex Aguinaga, pelo Necaxa. No elenco do Corinthians, vale destacar, cinco jogadores – Dida, Ricardinho, Vampeta, Luizão e Edilson – estariam na seleção brasileira pentacampeã mundial, dois anos depois.

De lá para cá já foram realizadas outras 5 edições do Mundial da FIFA (2005: vencido pelo São Paulo; 2006: pelo Internacional; 2007: pelo Milan; 2008: pelo Manchester United; e 2009: pelo Barcelona). Em 2001 o torneio, que seria realizado na Espanha, restou frustrado por problemas envolvendo a organizadora do evento, a empresa suíça ISL. Detalhe: participariam da edição de 2001 doze time, entre os quais Real Madrid, Boca Juniors, Deportivo La Coruña e... Palmeiras. Enquanto isso, o Torneio Intercontinental prosseguiu até 2004, vencido em sua última edição pelo Porto.

Enfim, em 14 de janeiro de 2010 não dá para não dizer: Parabéns, Timão! Há 10 anos inscrito na história do futebol como o primeiro clube Campeão Mundial da FIFA!
JFQ

A seguir, o link para a página no site da FIFA onde está registrada essa glória do alvinegro de Parque São Jorge (a página está em inglês): http://www.fifa.com/tournaments/archive/tournament=107/edition=3692/index.html



Foto acima: na entrada do Maracanã, palco da final do 1º Mundial de Clubes da FIFA, há um pôster com a comemoração dos corintianos. JFQ



Foto acima: eu e meus sobrinhos, Rodrigo e Ana Laura, ao lado da taça de campeão mundial da Fifa, no Memorial do Corinthians (Parque São Jorge). JFQ

Em tempo: neste ano de 2010, além do centenário de sua fundação, o Corinthians ainda comemora os 10 anos do primeiro título mundial e o 20 anos do primeiro título brasileiro. Tudo isso justifica um série especial dedicada ao Timão neste blog – e o fato de os blogueiros serem corintianos é, de verdade, mera coincidência! – durante o ano. Aliás, bom ano para a primeira Libertadores, não?! JFQ

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Lances de Pelé

Já faz algum tempo que recebi esse vídeo com lances de Pelé. Vale a pena dar uma olhadinha. É uma pequena amostra que justifica bem a seguinte frase do célebre historiador Eric Hobsbawn em seu livro "A Era dos Extremos": "(...) e quem, tendo visto a seleção brasileira em seus dias de glória, negará sua pretensão à condição de arte?". Sem dúvidas, Pelé era o maior artista.
JFQ

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O legado do Maracanazzo




Por falar na calçada da fama do Maracanã, além dos pés de Marta e tantos outros craques, agora estão lá também os pés de Gigghia, carrasco uruguaio da Copa de 1950. A propósito do fato, Ruy Castro escreveu um excelente artigo, publicado na Folha de S.Paulo de 2 de janeiro de 2010, último sábado (página A2). Castro provoca nossa reflexão ao comparar a homenagem prestada a Gigghia com o sofrido destino de Juvenal, jogador brasileiro presente àquela trágica partida. Ao ler, veio à minha mente a frase que quase se tornou uma regra historiográfica: “a história é contada pelos vencedores”. Parece que sim. Completaria: os pesos da vitória e da derrota serão carregados pelo futuro e além.
Abaixo, o artigo de Ruy Castro:
(JFQ)

O Carrasco e a Vítima
Ruy Castro

Maracanã, 1950. Aos 20 minutos do 2º tempo, o ponta uruguaio Gigghia avançou pela direita, driblou o lateral Bigode e, diante do zagueiro Juvenal, que se deslocara para combatê-lo, cruzou para seu companheiro Schiaffino. Este recebeu livre no centro da área e fuzilou o goleiro Barbosa, empatando para o Uruguai. O 1x1 abalou os quase 200 mil torcedores, mas, com aquele resultado, o Brasil ainda seria campeão do mundo.

Aos 34 minutos, repete-se o lance. Só que, desta vez, Juvenal guarda sua posição para não deixar Schiaffino livre. Gigghia, então, em vez de cruzar, atira a gol e a bola penetra entre Barbosa e a trave – 2x1, silêncio no Maracanã, Uruguai campeão.

Na terça-feira, Gigghia, 83 anos, gravou seus pés em cimento para a Calçada da Fama do Maracanã. Já são 59 anos desde aquela tarde em que suas arrancadas pela ponta levaram tantos brasileiros ao desespero – e, desde então, o Brasil cansou de ganhar Copa – , mas não sei de outro país ou povo que prestasse homenagem a seu carrasco. Nem Gigghia, em lágrimas, esperava por isso.

Em compensação, há dois meses, uma das vítimas daquela história, Juvenal, foi enterrado no cemitério de Camaçari, em Salvador, na presença de meia dúzia. Tinha 86 anos, dos quais os últimos foram muito tristes: pobre, quase esquecido, numa casinha de 10 metro quadrados, sem poder andar, com artrose nos joelhos e quadris, e ligado ao mundo apenas por um rádio.

Marcia Turvão, a bondade em pessoa, minha amiga e de Juvenal, tentou vestir seu caixão com uma bandeira do Brasil, do Flamengo ou do Bahia, cores que ele defendeu. Mas era véspera de feriado e, quando Marcia conseguiu achar uma bandeira e voltar ao cemitério, Juvenal já fora sepultado. Mais um desencontro do destino entre ele e Gigghia.





Foto: Uma das formações da Seleção brasileira de 1950. Em pé: Eli, Juvenal, Augusto, Danilo, Barbosa e Bigode. Agachados: Maneca, Ademir, Baltazar, Jair Rosa Pinto e Friaça. Obs: Zizinho é a principal ausência nesta foto, considerado o melhor jogador daquela seleção.

Rainha




Nelson Rodrigues, provocador contumaz e incorrigível, certa vez escreveu algo do tipo: Pelé é tão bom que até parece um jogado carioca. Aliás, o cronista tinha predileção por cutucar paulistas, sendo também dele a célebre frase: “a pior forma de solidão é a companhia de um paulista”. Deixe estar...

Fosse vivo, o “anjo pornográfico” talvez fizesse uma outra provocação, bem ao seu estilo “intencionalmente reacionário”, dizendo: Marta joga como um homem.

Machismos à parte, não estaria de todo errado. A depender do homem, no caso, algum dos craques que fizeram as glórias do chamado esporte bretão, estaria corretíssimo. Sem rodeios, estaria perfeito se dissesse: Marta joga como Pelé.

Após 4 prêmios de melhor jogadora da FIFA – a única a receber tal honraria – , já não há mais pudores para se afirmar que Marta, muito mais que a melhor jogadora atual, é a melhor jogadora de todos os tempos. Dona de habilidade e de visão de jogo ímpares, Marta faz em campo o que muito marmanjo gostaria de fazer, mas não tem a competência necessária. O gol feito por ela contra os EUA na semifinal da Copa do Mundo da China, em 2007, por exemplo, é simplesmente antológico: Marta aplica o chamado drible da vaca na zagueira, de costas e de calcanhar, cortando, em seguida, outra zagueira antes de chutar a bola no canto direito da goleira. Obra-prima que faz lembrar – mas é ainda melhor! – um golaço de Edmundo, no Vasco, contra o Manchester United no Mundial de Clubes da FIFA, em 2000. Para quem não viu essa pintura de Marta, eis um link: http://www.youtube.com/watch?v=tr5xsomBuss.

Falando em craques, o estilo de Marta me faz lembrar Zico. Especialmente pelo jeitão de correr, curvada para frente, aparentando esforço demasiado, uma espécie de sofreguidão, mas sempre chegando à frente dos oponentes e finalizando o lance com um gol.

Contudo, à “rainha” Marta falta algo que sobrou ao “rei” Pelé: os principais títulos. Muito embora tenha ganho campeonatos importantes como o sueco, a Libertadores – pelo Santos – e o Pan do Rio em 2007, Marta e suas companheiras de seleção brasileira ainda não superaram certo “medo de ser feliz”, uma instabilidade emocional tipicamente brasileira que explica a perda de títulos importantes, mesmo sendo superiores tecnicamente às adversárias. Provas disso: derrota para a Alemanha na final da Copa do Mundo de 2007 seguida por vitória nas semifinais das Olimpíadas de Pequim 2008; vitórias robustas contra os EUA – 5x0 na final do Pan do Rio 2007 e 4x0 nas semifinais da Copa 2007 – , seguidas por derrota de 1x0 na final das Olimpíadas 2008. Em suma: o Brasil não consegue manter a necessária estabilidade emocional em finais de Copa do Mundo e de Olimpíadas, em que pese termos sido ligeiramente “garfados” na final das Olimpíadas de Atenas, contra as mesmas americanas, em 2004.

Citando Nelson Rodrigues novamente, falta à rainha o que o rei tinha de sobra em 1970, já que “Pelé é tricampeão nato e hereditário”. Ao contrário dele, a Marta e suas companheiras de seleção falta superar o “complexo de vira-latas”.

Apesar disso, para nossa sorte, o que não falta a Marta é a expectativa de uma carreira longa e ainda mais brilhante, já que sequer completou 23 anos de idade. Sorte nossa, dos brasileiros e dos amantes do bom futebol.

E já que o esporte é bretão: salve a rainha!

JFQ




Foto: Marta foi a primeira jogadora a ter os pés gravados na calçada da fama do Maracanã, logo após conquistar a medalha de ouro no Pan 2007.