terça-feira, 30 de março de 2010

Toque de Letras

Já faz algum tempo, pensávamos em ter uma série no blog destinada às crônicas e aos contos sobre futebol. Nada melhor que estrearmos essa série, intitulada “Toque de Letras”, com uma homenagem ao mestre Armando Nogueira, falecido no dia de ontem.
Abaixo, reproduzimos uma crônica de Nogueira chamada “Peladas”, publicada no livro “Os melhores da crônica brasileira”, Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1977, p. 29, extraída do sítio http://www.releituras.com/
Não precisa dizer que é um texto primoroso.
JFQ

***

Peladas
Armando Nogueira

Esta pracinha sem aquela pelada virou uma chatice completa: agora, é uma babá que passa, empurrando, sem afeto, um bebê de carrinho, é um par de velhos que troca silêncios num banco sem encosto.


E, no entanto, ainda ontem, isso aqui fervia de menino, de sol, de bola, de sonho: "eu jogo na linha! eu sou o Lula!; no gol, eu não jogo, tô com o joelho ralado de ontem; vou ficar aqui atrás: entrou aqui, já sabe." Uma gritaria, todo mundo se escalando, todo mundo querendo tirar o selo da bola, bendito fruto de uma suada vaquinha.


Oito de cada lado e, para não confundir, um time fica como está; o outro jogo sem camisa.


Já reparei uma coisa: bola de futebol, seja nova, seja velha, é um ser muito compreensivo que dança conforme a música: se está no Maracanã, numa decisão de título, ela rola e quiçá com um ar dramático, mantendo sempre a mesma pose adulta, esteja nos pés de Gérson ou nas mãos de um gandula.


Em compensação, num racha de menino ninguém é mais sapeca: ela corre para cá, corre para lá, quiçá no meio-fio, pára de estalo no canteiro, lambe a canela de um, deixa-se espremer entre mil canelas, depois escapa, rolando, doida, pela calçada. Parece um bichinho.


Aqui, nessa pelada inocente é que se pode sentir a pureza de uma bola. Afinal, trata-se de uma bola profissional, uma número cinco, cheia de carimbos ilustres: "Copa Rio-Oficial", "FIFA - Especial." Uma bola assim, toda de branco, coberta de condecorações por todos os gomos (gomos hexagonais!) jamais seria barrada em recepção do Itamarati.


No entanto, aí está ela, correndo para cima e para baixo, na maior farra do mundo, disputada, maltratada até, pois, de quando em quando, acertam-lhe um bico, ela sai zarolha, vendo estrelas, coitadinha.


Racha é assim mesmo: tem bico, mas tem também sem-pulo de craque como aquele do Tona, que empatou a pelada e que lava a alma de qualquer bola. Uma pintura.


Nova saída.


Entra na praça batendo palmas como quem enxota galinha no quintal. É um velho com cara de guarda-livros que, sem pedir licença, invade o universo infantil de uma pelada e vai expulsando todo mundo. Num instante, o campo está vazio, o mundo está vazio. Não deu tempo nem de desfazer as traves feitas de camisas.


O espantalho-gente pega a bola, viva, ainda, tira do bolso um canivete e dá-lhe a primeira espetada. No segundo golpe, a bola começa a sangrar.


Em cada gomo o coração de uma criança.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Morreu Armando Nogueira


Morreu nesta madrugada um dos principais jornalistas do Brasil: Armando Nogueira. Ele estava com 83 anos e lutava contra um câncer no cérebro desde 2007.

Para se ter uma noção da sua importância no jornalismo, Armando Nogueira foi criador do “Jornal Nacional” e diretor da Central Globo de Jornalismo de 1966 a 1990, na Divisão de Esportes. Além disso, Nogueira trabalhou na Bandeirantes, no SporTV, na rádio CBN, no Jornal do Brasil, na Revista Manchete, na Revista Cruzeiro, entre outros.

O nome de Armando Nogueira está ligado diretamente ao esporte brasileiro, principalmente ao futebol.

Mais do que um minuto de silêncio em todas as partidas a serem disputadas nesta semana no país, o futebol brasileiro deve a Armando Nogueira sua eterna reverência e gratidão.

domingo, 28 de março de 2010

Se o clássico é bom, o placar é 4x3

Corinthians 4x3 São Paulo: jogaço! Ao lado de Santos 3x4 Palmeiras, o jogo das dancinhas, foi o melhor do campeonato. Emoção constante. O Corinthians começou soberano. Impôs-se ao tricolor, dominando a partida, demonstrando vontade ao passo que o São Paulo expirava apatia. Isso até as expulsões de Washington e Dentinho. Após, o São Paulo voltou ao jogo, fez seu gol, e lançou os alertas-clichês ao Timão: “clássico é clássico” e “jogo só termina quando acaba”. E assim foi até o último instante.

As grandes falhas ficaram por conta dos goleiros e dos técnicos. Para não falar no gol contra, por pura infelicidade, de Alex Silva. Há quem diga que Seneme, o árbitro, também falhou. Mais especificamente, nas expulsões. Feito o segundo gol corinthiano, na saída de jogo, Washington perdeu a bola e saiu como um trator em cima de Dentinho. O atacante corinthiano não gostou e, mais num impulso do que em algo premeditado – até porque em uma fração de segundo não é humanamente possível premeditar o que quer que seja – bateu o cotovelo no nariz do “coração valente”, que despencou. Quiproquó armado, jogadores dos dois times em bolo, cercando e protestando, saída clássica: chuveiro para os dois. Seneme errou? Não acho. Aliás, nem eu, nem Arnaldo César Coelho. Os jogadores envolvidos demonstraram hostilidade recíproca – “excesso de vontade”? – e, com as expulsões, o árbitro manteve a disciplina em campo.

Quem falhou foram os técnicos e os goleiros. Rogério Ceni, apesar da bomba de Roberto Carlos, da falta de Willian ao empurrar a barreira tricolor e do morrinho artilheiro, não conseguiu ao menos bater de jeito na bola. Encaixá-la ou desviá-la para algum lugar previamente determinado seria bastante difícil, mas não conseguir seguir bater na pelota. Também o jovem goleiro do Timão, Rafael Santos, bateu roupa no segundo e saiu mal no terceiro gols são-paulinos, ambos marcados por Rodrigo Souto.

Pior: os técnicos Ricardo Gomes e Mano Menezes substituíram mal seus times ao tirarem os corações dos respectivos meio-campos. Hernanes e Elias, na minha modesta opinião, só podem ser substituídos se estiverem lesionados ou muito mal em campo, o que não ocorreu num caso ou no outro. Sorte para Mano – sorte mesmo! –, que conseguiu remediar seu erro com a entrada de Jorge Henrique e viu o infeliz desvio de Alex Silva no chute forte de Iarley, no terceiro e decisivo gol corinthiano.

Destaques do Corinthians: Roberto Carlos (jogando o “feijão com arroz”, acerta o lado esquerdo do time, especialmente no aspecto defensivo) e Danilo (estava muito a fim de mostrar futebol contra o ex-time e conseguiu). Destaques do São Paulo: Rodrigo Souto (pelos dois gols) e Cicinho (entrou bem e deu maior poder ofensivo ao lado direito são-paulino).

Por fim, o Corinthians está vivo no Paulistão e o tabu continua – há 9 jogos o São Paulo não vence o time do Parque São Jorge. E o principal: que jogaço!

* * *


O Palmeiras obteve, com méritos, sua desclassificação matemática ao empatar com o Mirassol por 1x1. O presidente Luiz Gonzaga Belluzzo já fala em renúncia. A propósito, Belluzzo, que surgiu como um raro cartola “ético”, mostrou que este requisito, apesar de fundamental, não só no âmbito profissional como no pessoal, não é suficiente para dirigir um clube da grandeza do Palmeiras. É preciso unir à ética competência administrativa e habilidade política.

Na disputa pelo G4, a Portuguesa perdeu em casa para o Grêmio Prudente. O ex-time de Barueri tomou lugar no G4 e a Lusa caiu para sexto, logo atrás do Corinthians.

Ah, e o Santos? Só 5x0 no Monte Azul. Com direito a um golaço de cobertura de Paulo Henrique Ganso, na minha modesta opinião, o melhor jogador do campeonato.

Faltam apenas duas rodadas para que se saiba quais os quatro classificados para as semifinais do Paulistão. Santos e Santo André já estão lá. Prudente (31 pontos), São Paulo (30), Corinthians (29), Portuguesa (28) e Botafogo (28) são os principais concorrentes para as duas vagas restantes.

JFQ

Vivo!

Quem dava o Vasco como morto no carioca se deu mal. O time de Phillipe Coutinho, Dodô e companhia goleou o Fluminense por 3x0. Beneficiado pela derrota do América para o Flamengo (2x1), o Vasco depende apenas de si para chegar às semifinais da Taça Rio. Destaque para Carlos Alberto que, apesar do tempo parado devido a contusão, foi o garçom do time: deu passes açucarados para Dodô e Fágner marcarem, respectivamente, o segundo e terceiro gols vascaínos.


Ou seja, os times rodam, rodam, mas a decisão tende sempre a ficar entre os quatro grandes. Assim foi nas semifinais da Taça Guanabara e, pelo jeito, será na Taça Rio.

Faltam só uma rodada para acabar a fase de classificação. No Grupo A, Flamengo, já classificado para as semifinais, lidera com 19, seguido por Fluminense, com 16, e Bangu, com 13. No Grupo B, o Botafogo é o líder com 13 pontos e um jogo a menos, seguido pelo Vasco, com 12, e pelo América, com 11.

JFQ

sexta-feira, 26 de março de 2010

Pitacos da Última Rodada

Grandes fiascos

Os chamados grandes deram fiasco na última rodada, em seus respectivos estaduais. No paulista, o São Paulo perdeu para o Bragantino por 1x0. Menos mal: ainda manteve a terceira colocação, e consequentemente, a vaga no G4. O Palmeiras praticamente deu adeus à vaga ao empatar com o Rio Branco por 2x2 e o Corinthians, que já perdera para o Prudente no final de semana, foi derrotado pelo fraco Paulista por 1x0. Saldo negativo múltiplo para o Timão: derrota, saída do G4 – está em 6º agora –, mais uma atuação ruim de seu ídolo Ronaldo e sinais de impaciência da Fiel em um momento em que o Paulistão e a Libertadores se aproximam de fases decisivas. Mano Menezes e seu elenco precisam ter muita competência para contornar esse princípio de crise que, aliás, virá fatalmente em caso de derrota e quebra de tabu para o São Paulo, no próximo domingo.

Também no carioca um grande apequenou-se. O Vasco foi derrotado para o Americano por 3x2, em pleno São Januário, e complicou-se muito no campeonato. Sobrou para o técnico Vagner Mancini, demitido logo após a partida. Flamengo, Fluminense e Botafogo, por outro lado, estão praticamente nas semifinais da Taça Rio.

A zebra – se é que se trata de zebra – também andou solta nos pampas gaúchos. O Internacional perdeu para o São José por 3x0. A crise no Colorado já é evidente.

Em suma: alguns grandes apresentaram futebol ruim, outros, apenas “para o gasto”. A exceção: o Santos, sempre o Santos. Os meninos da Vila fizeram mais uma bela partida contra o Botafogo que, a propósito, merece os parabéns: pela resistência e pelo bom campeonato. O placar: Peixe 4x2.

Veteranos e seus erros infantis

Nossos veteranos não andam lá muito bem. Ronaldo, após apresentar futebol irreconhecível na derrota para o Paulista, disse que cometeu erros infantis, que tem as costas largas para apanhar, e que se bata nele, não nos meninos do time. Justo. Os erros foram realmente infantis – em que pese haver muitas crianças boas de bola –, mas a retórica foi madura. O que não foi lá tão madura foi a reação do Fenômeno a um grupo de torcedores que o xingavam na saída do estádio de Barueri. Ronaldo não aguentou e mostrou-lhes o dedo médio em resposta. Pergunta: esse pessoal não tem muito espaço para se “manifestar”? Não entendo o acesso de torcedores na saída dos jogadores dos estádios, mas... De qualquer forma, o dedinho de Ronaldo, que não tem sangue de barata, pode ser mais um ingrediente na piora contínua de seu relacionamento com a Fiel. Solução: pedir desculpas – o que já fez – e voltar a jogar bem e, sobretudo, marcar gols. De qualquer forma, vale o alerta de Neto em seu blog: do mesmo jeito que a Fiel ama, odeia!

Também o veterano Marcos mostrou, mais uma vez, que não tem sangue de barata. Após anunciar o desejo de aposentar-se dos campos, ao final de partida em que também mostrou futebol irreconhecível, Marcão abandonou treino do Palmeiras, descontente com o sistema de marcação. A diretoria foi hábil deixando de punir o goleiro, o que só faria aumentar um clima que já é ruim.

Em suma, nossos veteranos em fim de carreira - no caso, tanto Marcos como Ronaldo já anunciaram que suas aposentadorias têm datas marcadas - passam por crises nesse "crepúsculo de jogo". Espero que sejam crises passageiras, a bem de tudo o que fizeram e fazem pelo futebol brasileiro. 

O veterano que ri à toa é Giovanne. Mesmo na reserva, faz parte do time do momento. No time do Santos, é um tiozão a servir de referência aos meninos da Vila.

JFQ


Imagem tirada do blog do Juca Kfouri

quarta-feira, 24 de março de 2010

O Maior Artilheiro da Seleção Brasileira de Futsal


No Brasil, sujeito chamado Falcão, com a bola nos pés, costuma ser craque. Nos gramados, Paulo Roberto Falcão, é considerado um dos maiores meio-campistas da história do Internacional, da Roma e da seleção brasileira. Nas quadras, um outro Falcão, o Alessandro Rosa Vieira, acaba de sagrar-se o maior artilheiro do futsal da seleção do Brasil em todos os tempos. Com sua habilidade descomunal – parece uma foca com a bola nos pés –, Falcão passou Manoel Tobias ao marcar dois gols canarinhos na vitória por 8x0 contra o Equador, na segunda rodada dos Jogos Sul-Americanos, no último domingo, em Medellín, Colômbia. Falcão atingiu a marca de 279 gols e já traçou a meta: chegar aos 300.

Considerado o melhor jogador de futsal do mundo pela FIFA em 2004, campeão mundial pela seleção em 2008, Falcão também teve sua incursão pelos gramados. Em 2005, jogou pelo São Paulo Futebol Clube, onde, muito embora tenha sido desdenhado pelo técnico Leão, participou das conquistas do Paulistão e da Libertadores daquele ano.

Fica aqui a homenagem deste blog ao genial Falcão, o maior artilheiro da história da seleção brasileira de futsal.

Para ver alguns lances de Falcão no último mundial, eis o vídeo abaixo. Vale a pena!

terça-feira, 23 de março de 2010

Pitacos da Última Rodada

Paulista e Carioca chegam aos momentos decisivos

Os campeonatos paulista e carioca vão chegando seus momentos de decisão. No paulistão, restando apenas 4 rodadas para acabar a fase de classificação, o Peixe continua vencendo, convencendo e encantando. Não bastasse a liderança, o Santos deu mais uma prova de que tem mais uma safra especialíssima de jogadores. Após os 10x0 contra o Naviraiense pela Copa do Brasil, tascou um acachapante 9x1 no pobre Ituano. Detalhe: desfalcado de Robinho e Neymar! O grande destaque foi Paulo Henrique Ganso, convocação certa para a seleção pós-Copa... pelo menos, é o que eu e grande parte dos amantes do futebol esperamos.

São Paulo e Santo André também têm um pé nas semifinais, o que o Corinthians deixou de ter após a derrota para o Grêmio Prudente. O Palmeiras, pelo jeito, praticamente se despediu da disputa pelo título após a derrota para a Ponte Preta.

No Rio, Botafogo e Flamengo empataram por 2x2. Tudo aponta para que ambos estejam entre os semifinalistas da Taça Rio. Flamengo e Fluminense caminham bem no Grupo A. Botafogo, América e Vasco disputam as duas vagas do Grupo B. Ou seja, tudo parece ir para o destino de costume: os grandes resolvendo entre eles quem levanta o caneco. Com a vantagem para o Botafogo, que já faturou a Taça Guanabara e, na pior das hipóteses, já está na final do carioca.

JFQ

sexta-feira, 19 de março de 2010

Liga dos Campeões Chega às Quartas

A Liga dos Campeões da Europa chega às quartas de final. Não valesse só pelos grandes jogos, equipes, jogadores, etc., o torneio também interessa a quem disputa a Libertadores da América. Afinal, os campeões de ambos os certames estarão no Mundial da FIFA, no fim do ano, em Dubai.

O caminho menos complicado parece ser o da Internazionale de Milão, com todo o respeito ao russo CSKA. Lyon e Bourdeux fazem o clássico francês e, como se sabe, clássico é clássico. Os outros dois jogos prometem ser muito bons: Bayern de Munique x Manchester United e Arsenal x Barcelona.

O melhor time, no papel e em campo, é o Barcelona, atual campeão europeu e mundial. A princípio, é o favorito. Além do endiabrado Messi, Xavi e Iniesta compõem hoje, quiçá, o melhor meio-campo do mundo (segura a Espanha na Copa!). Além deles, nosso Daniel Alves e a revelação Pedro vêm jogando muito.

O Arsenal também tem o seu espanhol bom de bola, Fabregas, que articula a maioria das jogadas do time londrino (de novo: segura a Espanha na Copa!). Além de outros bons jogadores, como o francês Gallas, o russo Arshavin e o holandês Van Persie.

No Manchester United, destaque para o furacão Rooney, em ótima fase. No Bayern, o holandês Roben vem tendo participações decisivas nos jogos, mas o time passa aos trancos e barrancos, como na disputa contra a modesta Fiorentina, em que o time de Munique passou graças a gol em que Klose estava impedido.

Para não perder o costume dos palpites – já disse que o Corinthians será campeão da Libertadores, o Santos, do Paulista e o Botafogo, do carioca e da Copa do Brasil –, antevejo em minha bola de cristal: a Inter dos brasileiros Júlio César, Maicon e Lúcio, assim como do camaronês Eto’o, dos argentinos Zanetti e Milito, e do treinador português José Mourinho, depois de longa data, voltará a faturar o título maior do Velho Continente.

A conferir.

JFQ

segunda-feira, 15 de março de 2010

O Império do Amor... e dos Pênaltis


O clássico carioca entre Flamengo e Vasco não teve a mesma intensidade de emoções que o clássico paulista entre Santos e Palmeiras. Mas teve lá suas emoções.

No Maracanã não teve dancinha, mas teve beijinho. Após o jovem talento cruzmaltino Phillipe Coutinho, em jogada rápida pela entrada da área adversária, sofrer pênalti de Willians, este, talvez mostrando arrependimento, aplicou-lhe um carinhoso beijinho no rosto. Bonito. Seria uma prova de que na Gávea realmente impera o amor? E o carinho de Willians foi retribuído por Dodô que, carinhosamente, cobrou fraquinho a penalidade, direto para as mãos de Bruno.

No crepúsculo da chuvarada que caiu sobre o Rio de Janeiro no dia de ontem, quem dançou foi o Vasco, a reboque dos pênaltis perdidos por Dodô. O atacante vascaíno perdeu mais um no segundo tempo. Sem tirar os méritos do goleiro Bruno, o artilheiro dos gols bonitos mostrou ser incapaz de somar àquele o título de artilheiro dos gols de pênalti.

Além de Dodô e Bruno, destaque para Adriano que, retornado de mais um período de atribulações pessoais, diferentemente de Dodô, soube bater seu pênalti e garantir a vitória flamenguista. Só não deu para entender quem são as “pessoas ruins” a quem o Imperador pediu para que fossem perdoadas, em inscrição na camisa mostrada na comemoração do gol.

Pergunta: será que caminhamos para mais uma final entre Botafogo e Flamengo?

JFQ

domingo, 14 de março de 2010

Quatro pra lá, três pra cá

Jogaço na Vila. O Palmeiras deu um “passa-moleque” no Santos. Foi o jogo dos meninos santistas contra os briosos palmeirenses. O Verdão, como disse Diego Souza, é o patinho feio do campeonato. Pelos próprios deméritos, diga-se de passagem. Também pelas próprias forças pode tornar-se o cisne do Paulistão.

A superação palmeirense foi impressionante. O Santos jogou como vem jogando: leve, habilidoso, incontível. Ao fazer dois a zero, a expectativa era de goleada. Chamou o Palmeiras para dançar: a cada gol, uma dancinha para comemoração. Porém, o time do Parque Antártica resolveu mostrar que também é bom de dança: ainda no primeiro tempo fez o dois pra lá, dois pra cá, o 2x2 que derrubou o ímpeto santista.

O segundo tempo foi digno do primeiro e da história desse clássico. Virada palmeirense, empate santista, nova reviravolta palmeirense. E dá-lhe dancinha.

Destaques:

Marcos: Mesmo não tendo feito uma partida brilhante, “São” Marcos completou 483 jogos no Verdão, superando Valdir de Moraes, e passando a ser o segundo goleiro que mais vestiu a camisa do Palmeiras. Só está atrás de Leão, com 617 jogos.

Robert: O contestado atacante palmeirense mostra que sabe fazer gols. Fez dois no primeiro tempo, mais um no segundo. Merece respeito da torcida, que, descontente com os últimos resultados, vem culpando, injustamente, o atacante.

Lincoln: Jogou pouco tempo, mas mostrou que será muito útil ao meio-campo palmeirense. Carrega e distribui muito bem a bola. E olhe que não jogava havia 8 meses.

Antonio Batista do Prado: O árbitro inexperiente pegou um jogo dificílimo, mas saiu-se muito bem. Não há o que culpar a arbitragem sobre o desenrolar e o resultado do jogo. Inclusive, pela merecidíssima expulsão de Neymar.

Neymar: O mais evidente dos novos meninos da Vila deve tomar a partida contra o Palmeiras como uma ótima lição para sua carreira, que promete ser brilhante. Neymar é um jogador fora de série, uma promessa de craque, mas é menino, carente de amadurecimento. Quando as coisas estão bem, exagera nas firulas, perde a seriedade. Mas precisa aprender que isso pode ter consequências fatais, como neste clássico. Contra o Corinthians, Neymar foi ajeitar a bola antes de cobrar o pênalti, que acabou sendo defendido por Felipe; em seguida, deu o chapéu em Chicão quando o jogo estava parado, e o Corinthians marcou seu gol. Ou seja, atitudes de menosprezo ao adversário servem de poderosa motivação para superar uma situação adversa. O Corinthians poderia ter empatado o jogo contra o Santos (com dois jogadores a menos, Tcheco perdeu um gol feito no final da partida), e o Palmeiras conseguiu uma virada na esteira das dancinhas dos meninos da Vila. Além de perder a cabeça e levar um merecido cartão vermelho.

JFQ

Bandeiras em Luto


“Quando você morrer, quer que coloquem a bandeira do Corinthians sobre seu caixão?”, foi a pergunta da minha mulher. Engraçada essa, digamos, tradição brasileira. Desconheço se há algo parecido em outros países, mas, no Brasil, é bastante comum. No Brasil, aliás, o sujeito é identificado pelo nome, sobrenome, números de RG e CPF, profissão, estado civil, nacionalidade, naturalidade, residência, domicílio e o time do coração. Além disso, torcer para algum time, aqui, constitui uma peculiar estratificação social: sou da classe tal, tenho renda X, escolaridade Y e torço para o time W.

Minha mulher, vale dizer, me fez a pergunta influenciada pela triste imagem dos caixões do cartunista Glauco e de seu filho Raoni, cobertos, respectivamente, com as bandeiras do Corinthians e do São Paulo, além das bandeiras alusivas ao Santo Daime.

Glauco e Raoni foram mais duas vítimas da violência que assola nossa sociedade, diretamente relacionada ao consumo de drogas. Mutatis mutandis, a tragédia pertence ao mesmo rol de fatos violentos que tantas vezes observamos entre torcidas de futebol, não raro, produzindo vítimas fatais. Recentemente, uma briga entre as torcidas do São Paulo e do Palmeiras e outra, entre torcedores do Flamengo e do Vasco, fizeram aumentar ainda mais a lista infindável de vítimas dessa violência bestial e desenfreada.

Até quando essa barbárie vicejará no país? Até quando cobriremos caixões de pessoas assassinadas com bandeiras de seus times, em vez de as ter em mãos, vivos e sorridentes, tremulando-as por conta do resultado obtido em campo ou simplesmente para mostrar aos outros, sem romper a harmonia, o orgulho pelas cores do clube?

As bandeiras de dois times rivais sobre os caixões de pai e filho demonstram a possível convivência entre seres humanos com paixões distintas, mas compromissados com o amor mútuo, com o respeito ao outro, com uma bandeira maior que todas: a bandeira da paz.

Ao grande artista Glauco, o adeus deste que aprecia a sua arte desde a infância. Se compararmos os quadrinhos ao futebol, Glauco era, com certeza, um expoente do mais genuíno futebol-arte. Pena. Foi-se um craque.

JFQ

sábado, 13 de março de 2010

Resultado e Novas Enquetes

Foi encerrada a enquete sobre quem será o campeão da Libertadores 2010. O Corinthians foi o primeiro colocado, com 42% do votos, seguido de perto pelo São Paulo, com 32%. Os flamenguistas também compareceram, com 7%, assim como os palmeirenses, quer dizer, aqueles que não acreditam na vitória de nenhum dos brasileiros participantes desta edição da Libertadores: 17%.

Como estamos na iminência das vuvuzelas soarem e da jabulani rolar pelos gramados, o Ludopédicas volta sua enquete em direção à África do Sul. E solta logo 2 enquetes: pergunta qual jogador você convocaria, dentre uma lista de opções, e qual o adversário mais perigoso para o Brasil em um jogo eliminatório, também dentre alguns apresentados pelo blog.

Participe! As 2 enquetes estão logo aí à direita.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Análise SWOT da Seleção – Parte 2

Continuando a análise dos principais pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças à Seleção Brasileira, seguem abaixo as vulnerabilidades, ou:

FRAQUEZAS




  • A Saída de Bola – O Brasil deverá enfrentar times bem fechados, fazendo com que muitas vezes a saída de bola passe por Gilberto Silva e Felipe Melo, o que tira a velocidade e objetividade das jogadas brasileiras.

  • Dependência de Kaká – Se Kaká não estiver em um bom dia ou muito marcado, a criatividade da seleção fica sofrível, o time de Dunga não tem muitas variedades de jogadas. Além disso, como todos já se questionam, e se Kaká se machucar?

  • O Lado Esquerdo – Aí o problema não é a qualidade de Michel Bastos ou Gilberto, mas a tendência da equipe de jogar pela direita, de forma previsível. Kaká, Ramires, Daniel Alves, Elano ou Júlio Baptista, todos caem mais para a direita do que pela esquerda.

  • A Rigidez Tática – A seleção só jogou de uma forma desde que Dunga assumiu, ganhando ou perdendo, contra Bolívia ou Itália, sem nenhuma variação. Se isso serve para um bom entrosamento, também serve muito para técnicos adversários bloquearem nossas jogadas. Geralmente as seleções enfrentam o Brasil marcando forte no campo de defesa, causando grandes dificuldades para chegarmos ao gol. Foi o que aconteceu nas Eliminatórias, jogando em casa: 0x0 com Bolívia, Colômbia e Venezuela. Será que dói muito testar a equipe com só um volante?
Arnaldo

quinta-feira, 11 de março de 2010

Pitacos da Última Rodada

Os Meninos Globettroters da Vila



Está certo que o Naviraiense (MS) não era lá um grande adversário, mas os 10 x 0 aplicados pelo Santos foi fantástico. Ou, como diriam em outras épocas: “santástico”! Não só pelo placar – “5 vira, 10 acaba”, como diriam os peladeiros –, mas, principalmente, pela exibição primorosa dos novos meninos da Vila. Foi uma sucessão de gols, cada qual mais bonito que o outro. Exibição digna dos Harlem Globettroters, eu diria. Aliás, esses virtuosos jogadores de basquete, que não disputam competições, fazendo “apenas” jogos de exibição, também não enfrentam adversários muito difíceis. O que não lhes tira o brilho das jogadas, assim como a capacidade de produzir brilho nos olhos de quem assiste.

No caso do Santos, ontem, tal qual os Globettroters demonstram o quão belo pode ser o jogo de basquete, Neymar, Ganso, Robinho e companhia mostraram como pode ser encantador o futebol. Além de trazerem com sua juventude o velho espírito artístico, sem deixar de ser competitivo, do futebol brasileiro. Diga-se de passagem, algo que ocorre de tempos em tempos na Vila: no Santos de Robinho e Diego, no Santos de Pita e Juari, no Santos de Coutinho e Pelé. No Santos, sempre Santos!


Copa do Brasil

Além do show do Peixe, o Fluminense também se classificou contra o Confiança: vitória por 2 x 0 em pleno Maracanã.

Até o momento, a Copa do Brasil caminha sem zebras. Nenhum Asa de Arapiraca deu o ar da graça por enquanto.

Libertadores

Da mesma forma, os times brasileiros, que não vêm mostrando brilho na Libertadores, pelo menos caminham sem muita dificuldade rumo à classificação para as oitavas. É claro, há que se ponderar que o torneio mal começou. Porém, os adversários, com uma ou outra exceção – o Velez, no grupo do Cruzeiro, por exemplo –, não assustam tanto.

Ontem, o Flamengo de Pet e Vagner Love passou pelo Caracas por 2x1, em terras venezuelanas. Destaque para Love, autor dos dois gols do Mengo. Destaque negativo para a torcida do Caracas, que agrediu flamenguistas no estádio. Lamentável, além de anacrônico: não dá mais para aceitar fatos assim como normais, componentes do “espírito guerreiro” dos sul-americanos ou lorotas do tipo.

Já o Corinthians, a reboque do principal jogador, Ronaldo, não jogou nada. O que não o impediu de sair de Bogotá com um importante ponto e a liderança do grupo. O 1x1 contra o Independiente de Medellin foi justo e um prêmio a Dentinho, que costuma ser muito produtivo quando entra. Ficam duas dúvidas para Mano Menezes, uma complementando a outra: 1) o Corinthians joga melhor no 4-3-3 do que no 4-4-2; e, 2) o melhor companheiro para Ronaldo e Jorge Henrique no ataque parece mesmo ser Dentinho.

Campeonato Paulista

Apesar da vitória, o Palmeiras parece incapaz de sair da maré ruim que o aflige desde o ano passado. Vitória por 3 x 2 contra o Sertãozinho, no sufoco. Detalhe: o adversário é o lanterna do campeonato!

Para quem pensava que o Palmeiras, por “não estar preocupado com a Libertadores”, seria o favorito para faturar o Paulistão – tese que sempre refutei –, agora constata a séria possibilidade de não ver o time entre os quatro classificados para as semifinais.

Minha intuição diz que Corinthians, São Paulo e Santos estarão lá – e o Peixe tornou-se favoritíssimo para o título. No entanto, a vaga que seria “cadeira cativa” do Verdão, deve ser alvo de boa disputa entre Botafogo de Ribeirão Preto, São Caetano e Santo André.

Liga dos Campeões da Europa


Os ingleses impõem novamente sua força na Liga dos Campeões da Europa. Não bastasse a goleada do Arsenal sobre o Porto (5x0), o Manchester United despachou o Milan de Ronaldinho Gaúcho por 4x0. Lembrando que o time inglês já havia vencido o jogo em Milão por 3x2. Mais uma vez, destaque para Wayne Rooney, em fase espetacular.

Outro fiasco ficou por conta dos “neogaláticos” do Real Madrid, com realce para a ausência de futebol de Kaká, que deu chilique ao ser substituído. Fica a torcida para que o futebol de Kaká não suma durante a Copa. A propósito, considerando Kaká e Robinho os únicos “fora de série” do Brasil, teremos a seleção com o elenco mais mediano (ou seria medíocre?) das últimas Copas. Não obstante, conseguirmos, paradoxalmente, os melhores resultados dos últimos tempos. Detalhe: resultados obtidos antes da Copa.

Jesus! Como fala essa mulher!


Caroline Celico, a bela esposa de Kaká, é a fã número 1 do jogador. Mas a incontinência de elogios a favor do marido e as reações contra os críticos de Kaká parecem fugir ao controle de Caroline, que também é pastora evangélica. Há algum tempo, ela havia dito em um culto, transmitido pela TV, que se o Real Madrid tinha dinheiro suficiente para levar Kaká era porque Deus o havia colocado lá. E eu, que ignorava essas aplicações financeiras do divino investidor!

Agora, furiosa com a substituição do marido no jogo contra o Manchester, Caroline escreveu o seguinte sobre o técnico do Real, Manuel Pellegrini, em seu twitter: “Técnico covarde sempre tira um jogador cobrado para tentar tirar o foco da própria incompetência”. Jesus! Se cuida, Dunga!

Talvez seja o caso de Kaká conversar com a esposa, tentando conter-lhe o ímpeto. E, quiçá, nas suas preces, rogar: “Deus, perdoai, ela não sabe o que diz”.


JFQ

terça-feira, 9 de março de 2010

Decidam com Moderação


Não há mais dúvida: os escândalos protagonizados por Adriano não se explicam somente pela contumaz indisciplina do atacante ou pelo seu incontido gosto por baladas, mas, principalmente, por uma doença. Após negativas constantes, o vice-presidente do Flamengo Marcos Braz, a presidente Patrícia Amorim, o empresário do jogador Gilmar Rinaldi e o próprio atacante entregaram: Adriano sofre de alcoolismo. Tanto melhor, já que a aceitação do problema é o primeiro passo para combatê-lo.


Questão derivada: diante disso, Dunga deve ou não levar Adriano para a África do Sul? A questão tem duas vertentes: uma propriamente futebolística e outra, digamos, humana. A futebolística: Adriano, física e psicologicamente debilitado, continuaria sendo a melhor opção para a reserva de Luís Fabiano ou seria melhor chamar outro atacante? A questão humana: a própria reabilitação da pessoa, e não só do jogador, justificaria o risco de sua convocação? Ou não, pela preservação do grupo e para “não repetir os erros de 2006”?

Aliás, o corte de Adriano beneficiaria ou prejudicaria o grupo? Se, por um lado, pode-se aventar a velha necessidade de retirar a “maçã podre” para não contaminar as demais, por outro, há que se considerar o apreço dos demais jogadores por Adriano e a motivação adicional em tentar reerguê-lo como jogador e como pessoa.

Há, ainda, um outro nó a ser desatado por Dunga. Na verdade, um belo paradoxo ético. Sendo a seleção brasileira patrocinada por uma marca de cerveja e o próprio Dunga seu garoto propaganda, até que ponto essas pessoas têm moral para tecer qualquer juízo sobre o comportamento de Adriano, decidindo sobre seu destino? Sim, a decisão sobre a ida ou não do atacante flamenguista à Copa cabe a Dunga, independentemente dos patrocínios da seleção. No entanto, o caso de Adriano é um exemplo que bateu violentamente à porta da seleção: exemplo dos malefícios trazidos pelo álcool, exemplo de que o consumo de bebidas alcoólicas deve ser contido, o que requer, além do pífio alerta “beba com moderação”, restrições à sua publicidade. Especialmente quando relacionada a práticas esportivas e a ícones do futebol como a seleção brasileira e seu técnico.

A decisão sobre o corte de Adriano deve ser feita ponderando-se todas essas questões. E, posteriormente, uma outra decisão deve ser tomada: não obstante os inegáveis ganhos financeiros, vale a pena associar a imagem da seleção brasileira a uma bebida alcoólica?

CBF e Dunga: decidam com moderação!

Adriano: força para sair da dependência! Seja um guerreiro de verdade: deixe de ser “brahmeiro”!

JFQ

Em tempo: Além de Dunga, já vi comerciais da Brahma com Luis Fabiano e Ronaldo. Nunca os vi, porém, com Kaká e com Adriano. Quanto àquele, presumo que seja uma escolha do jogador, uma vez que é evangélico. Quanto a este, por razões óbvias, a restrição deve vir da própria Brahma.

Para quem não viu o comercial com Dunga, eis o link: http://www.youtube.com/watch?v=lMkoljwIMYg


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Sobre a questão do patrocínio da Brahma à seleção brasileira, vale muito a pena ler o artigo de Ruy Castro, publicado na Folha de S.Paulo de ontem, 08/03/2010, transcrito abaixo. A propósito, também vale a pena ler o livro de Castro, “Estrela Solitária: um brasileiro chamado Garrincha”, biografia de um dos maiores craques da história do futebol brasileiro e mundial, também vítima do alcoolismo. (JFQ)

Guerreiros e zuzus
Ruy Castro


O que é mais “imoral” na TV? A socialite Paris Hilton se esfregando numa garrafa de cerveja ou o treinador da seleção brasileira, Dunga, batendo no peito e se dizendo “brahmeiro”? A meu ver, Dunga. Mas Paris Hilton é que foi censurada.


Você dirá que, no comercial, Dunga não fala brahmeiro, e sim, guerreiro. Mas, passados os tambores, representando a batida no peito, ouve-se o locutor dizendo brahmeiro. A associação é clara: Dunga é guerreiro porque é brahmeiro. É mais claro do que imaginar que Paris Hilton esteja cometendo sexo. Aliás, ela não parece mais devassa do que tantas modelos brasileiras em outros comerciais, inclusive de iogurte.


Não sei se o comercial de Paris Hilton, antes de ser evaporado, era exibido durante o dia. Mas o de Dunga passa a toda hora entre desenhos animados e jogos de futebol, ao alcance de criancinhas mamíferas, garantindo os bebuns de amanhã. De novo as companhias de cerveja impõem a ideia de que cerveja não é bebida alcoólica, embora o próprio Ministério da Saúde acuse que nossos garotos começam a bebê-la cada vez mais cedo e já existam casos frequentes de alcoolismo aos 12 anos.


O Brasil, um dos países mais permissivos do mundo, não se deixaria abalar pela lascívia de uma perua estrangeira, tendo abundante oferta de matéria-prima nacional. Mas a ligeireza com que se tratam questões de saúde pública vive nos apresentando a conta. A escalada do crack, por exemplo, foi prevista há 15 anos e passou em branco por vários ministros da Saúde, alguns dos quais concentrados em sua ideia fixa de perseguir tabagistas.


Quero ver se Dunga continuará tão satisfeito de ser “brahmeiro” se, na Copa, algum jogador se exceder num dia de folga e voltar zuzu para a concentração, batendo no peito e se dizendo “guerreiro”.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Homenagem às Mulheres

No dia de hoje, 8 de março, Dia Internacional das Mulher, o blog presta sua homenagem às mulheres reverenciando nossa seleção feminina de futebol. A genial Marta, escolhida quatro vezes como melhor jogadora do mundo pela FIFA, e toda nossa seleção feminina, vice campeã mundial e olímpica, provam que futebol não é só coisa de homem. Para desespero dos machistas e para bem desse esporte tão amado pelos brasileiros. E pelas brasileiras.


A propósito, como uma segunda homenagem às mulheres, repudiamos veementemente o palpite infeliz do goleiro Bruno, do Flamengo. Para defender o amigo Adriano, que foi às vias de fato após discussão com a noiva, Bruno questionou aos repórteres: “Quem nunca discutiu com a mulher, quem até não saiu na mão com uma mulher?”, concluindo: “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Então tá!

Para o goleiro, “sair na mão” com mulher realmente parece coisa banal da vida. A ex-namorada de Bruno, Eliza Samudio, já registrou queixa contra o goleiro por sequestro, agressão e ameaça. Além disso, Bruno era o anfitrião em festa realizada em Ribeirão das Neves (MG), em 2008, em que duas garotas de programa teriam sido agredidas pelo jogador Marcinho, então colega de Bruno no Flamengo.

Talvez seja prudente para o goleiro lembrar que o Flamengo é hoje presidido por uma mulher, a ex-nadadora Patrícia Amorim, que criticou seu pronunciamento. Seria mais prudente ainda a Bruno dar uma olhadinha na Lei Maria da Penha, promulgada para punir machões como ele que, às vezes, “saem na mão” com a mulher como se fosse o exercício de um direito natural. Para ajudá-lo, vai aí o link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11340.htm

quinta-feira, 4 de março de 2010

Análise SWOT da Seleção – Parte 1


      Em administração mercadológica, a análise SWOT examina os pontos fortes e fracos de uma empresa e as oportunidades e ameaças externas que devem ser consideradas para seu plano de negócios. A sigla é em inglês por pura frescura de marketeiros, significando Strenghts, Weaknesses, Opportunities e Threats. Como o Dunga já deixou claro que não vão haver surpresas no time da Copa, concluímos que o que iremos ver na África do Sul vai ser muito parecido com o que aconteceu na vitória por 2x0 sobre a Irlanda e, com essas informações, podemos traçar uma análise SWOT da seleção na Copa 2010.

FORÇAS

O Sistema Defensivo – Com exceção da Argentina de 86, qual outro campeão do mundo não tinha um sistema defensivo excepcional? Neste ponto estamos muito bem, com o melhor goleiro do mundo e com Lúcio, impecável sempre, colocando no bolso até mesmo o futuro adversário Didier Drogba no último Inter x Chelsea, pela Champions. Os volantes praticamente não avançam e os laterais o fazem alternadamente, mantendo sempre pelo menos 5 jogadores em posição defensiva.



A Lateral Direita – Maicom e Daniel Alves jogariam em qualquer outra seleção e, para mim, Daniel Alves deveria ser o titular da lateral esquerda, mas ainda poderemos vê-lo no meio campo. Maicom é o titular por seu melhor desempenho defensivo, mas leva perigo também no ataque.


O Grupo – É só ver as entrevistas dos jogadores (todos falam as mesmas coisas) que dá para notar que o comportamento patriota, com vontade e sem estrelismos predomina, evitando possíveis conflitos e problemas de relacionamento. O trauma de 2006 ainda está forte nas cabeças dos jogadores.


O Jogo Aéreo – Antes o maior pesadelo para a torcida brasileira eram as bolas erguidas na nossa área. Hoje é nosso ponto forte, no ataque e na defesa.


O Trio – Kaká, Luis Fabiano e Robinho (que me enganou direitinho, tava dando o famoso migué no Manchester City) podem decidir o jogo a qualquer momento e impõem respeito à qualquer adversário. A velocidade e movimentação desses três jogadores formam a arma mais letal de nossa seleção, o contra-ataque.

     Em breve, na parte 2, as fraquezas.
Arnaldo

segunda-feira, 1 de março de 2010

Pitacos da Última Rodada

Paulistão


Emocionante o clássico da rodada: Santos 2x1 Corinthians. A nova geração de meninos da Vila soube impor seu futebol alegre a um Corinthians nitidamente nervoso. Aliás, exceção feita à expulsão de Roberto Carlos, não há o que reclamar da arbitragem de José Henrique de Carvalho. O Corinthians fez muitas faltas, reclamando do juiz como se não as tivesse feito, inclusive no pênalti infantil cometido por Roberto Carlos.
A propósito, Neymar, talvez a maior promessa do futebol brasileiro e convocação certa para a seleção pós-Copa da África do Sul, precisa deixar as firulas e catimbas de lado. O goleiro corinthiano Felipe teve uma motivação extra para pegar o pênalti, após Neymar ter feito a gracinha de ir ajeitar a bola como se estivesse fora da marca da cal.
Paulo Henrique, o Ganso, outra promessa santista, exagerou um pouco nas faltas – tanto que levou cartão amarelo –, mas também deixou a marca do seu talento em campo. Do lado corinthiano, destaques positivos para o goleiro Felipe e para Dentinho, e destaque negativo para Elias, um tanto desligado em campo, errando passes em demasia, muito longe daquele bom jogador do meio da semana, na Libertadores.
Enfim, mesmo sem Robinho e correndo sério risco de ver uma vitória certa transformada em um frustrante empate – Tcheco perdeu um gol incrível no final do jogo – ao trocar a objetividade do gol pelos floreios e olés num momento de “já ganhou” (Madson também entrou em campo com esse espírito), o fato é que o Peixe foi claramente superior ao Timão. Mereceu a vitória e reafirmou sua condição de líder e, na minha opinião, favorito à conquista do título.

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Além de Neymar, o grande destaque da rodada foi o novo são-paulino Fernandinho. Contratado pelo tricolor junto ao Barueri – aquele time de Presidente Prudente –, após disputa com outros grandes clubes, a revelação Fernandinho mostrou a que veio. O São Paulo meteu 5 a1 no Monte Azul, e Fernandinho assinalou 4! Ótima contratação e futura dor de cabeça para os adversários do São Paulo.

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Após a boa estreia do técnico Antônio Carlos no comando do Palmeiras, na vitória contra o São Paulo, eis que a bruxa voltou a sair da toca. O Palmeiras conseguir perder para o lanterna Rio Claro, por 1x0.
A pergunta volta: agora vai, Verdão?


Copa do Brasil



Os times de segunda e terceira divisões, como fazem tradicionalmente, aprontaram para cima dos grandes na Copa do Brasil. É sempre bom lembrar que Criciúma, Santo André e Paulista de Jundiaí já foram campeões, além do que Brasiliense e Ceará já foram finalistas.
Santos e Fluminense, como já ocorrera ao Palmeiras, não conseguiram eliminar a segunda partida contra seus, em tese, frágeis adversários. O Peixe fez só 1x0 no Naviraiense-MS e o Flu, no sufoco, empatou por 1x1 contra o Confiança-SE. No caso do Verdão, a classificação veio em seguida, numa vitória tranquila contra o Flamengo do Piauí por 4x0 em pleno Parque Antarctica (xô, Asa de Arapiraca!).
Destaque para Obina, autor de cinco gols na acachapante vitória por 7x0 do Atlético Mineiro contra o Juventus do Acre.

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Quero deixar aqui registrado: na Copa do Brasil, aposto que o Botafogo de Joel Santana será o campeão, mesmo tendo perdido a primeira partida contra o São Raimundo-PA por 1x0. Esse torneio exige garra, aplicação e capacidade de superação, atributos que o Fogão já mostrou ter.
Além do mais, o Flamengo não está disputando a Copa do Brasil...

Libertadores



Cruzeiro, Flamengo e Corinthians passaram algum sufoco, mas venceram suas partidas na Libertadores, todas em casa. Os dois últimos, aliás, fizeram suas estreias no mais almejado dos torneios deste ano.
O Cruzeiro, após estar empatando por 1x1 contra o Colo Colo do Chile, arrancou uma vitória até certo ponto tranquila por 4x1. Já o Flamengo, mesmo com a expulsão boba de Williams no comecinho do jogo, conseguiu, mesmo com um jogador a menos, vencer o Universidad do Chile por 2x0. E o Timão, na obsessiva luta pela primeira taça sul-americana, tomou um gol logo aos 36 segundos, mas virou o jogo, vencendo por 2x1. Destaque para Elias, autor dos dois gols alvinegros, e menção honrosa para os até aqui apagados Souza, Tcheco e Roberto Carlos. Além de Mano Menezes que, arriscando em substituições improváveis – Souza no lugar de Defederico e Jucilei no de Alessandro –, melhorou a movimentação do time em campo.
Na quinta, o São Paulo pegou o Once Caldas, seu algoz em 2004, e, mesmo com Rogério Ceni tornando-se o maior artilheiro são-paulino em Libertadores, com 11 gols, não conseguir segurar o adversário colombiano, que venceu por 2x1.

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Lição da rodada: o “fator casa” mostra-se de fundamental importância nesse início de Libertadores. No caso dos times brasileiros, para o bem e para o mal.

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Aposto no Corinthians como campeão, por motivos semelhantes àqueles que utilizei para justificar meu palpite no Botafogo na Copa do Brasil. Além, é claro, de óbvias razões sentimentais.
E é bom lembrar: Palmeiras e River Plate não estão participando da Libertadores neste ano...


Pênaltis

A paradinha de Fred, no jogo do Flu contra o Confiança, e o chutão à la Baggio de Vagner Love, no Flamengo x Universidad Católica, são exemplos de cobranças de pênalti ousadas, arriscadas e, no caso, desperdiçadas. Após a moda do toque de leve no meio do gol – Marcelinho Carioca adorava chutar assim – e do retorno da paradinha, estou ficando convencido de que a melhor opção para o momento é o velho feijão com arroz: escolher o canto e bater firme.

Contagem regressiva para Rogério Ceni

No último jogo pela Libertadores, o goleiro são-paulino atingiu a marca histórica de 11 gols nessa competição. Superou Pedro Rocha, Palhinha e Müller, todos com dez gols, tornando-se o maior artilheiro tricolor de todas as Libertadores. Marca fantástica para um goleiro. Além disso, o gol foi o 88º de sua carreira na contagem oficial (extraoficialmente, Ceni conta 90 gols). Ou seja, considerando que Rogério deve jogar mais dois ou três anos, pode começar a contagem regressiva para o centésimo gol deste extraordinário goleiro. O que, para alguns comentaristas, equivaleria ao feito de 1000 gols para um jogador de linha.

Roberto Carlos, o exaltado

Caso ainda tenha pretensões de vestir a camisa da seleção em 2010 – algo muito, muito improvável – , o veterano lateral do Corinthians precisa compreender que marcar em cima, apertar o adversário, não significa aplicar faltas bruscas a todo momento. Roberto Carlos estreou contra o Bragantino, dando um carrinho despropositado, atingindo o banco de reservas corinthiano. Contra o Palmeiras, foi expulso com justiça após carrinho violento por trás em Clayton Xavier. Contra o Racing, tomou cartão amarelo de bobeira ao atingir, por trás, o zagueiro do time uruguaio. Contra o Santos, em vez de apenas cercar o meia Marquinhos, atingiu a perna deste, também por trás, provocando pênalti. Em poucos jogos pelo Timão, protagonizou as mencionadas cenas, típicas de jogador jovem, inexperiente – o que, definitivamente, Roberto Carlos não é – e já foi expulso duas vezes.
Enfim, Roberto: menos, menos!

O drible e o bullying no futebol



Sou absolutamente favorável ao drible e contra a interpretação de que se trata de um recurso antiético, destinado a subestimar o adversário. Pelo contrário: o driblador é o verdadeiro artista da bola e quem faz uma falta contra ele deve ser prontamente punido, não sendo admissível o argumento de “legítima defesa da honra”. A propósito, pode-se dizer que defensores como Gamarra ou Baresi eram craques, justamente por conseguirem impedir o drible sem cometer faltas.
Porém, há que se distinguir o drible – arma do craque, do jogador habilidoso – que objetiva o gol ou, pelo menos, o espetáculo (o que também é legítimo) da mera galhofa, da humilhação intencional e desrespeitosa contra o adversário. Esta, sim, deve ser coibida, por ter a única intenção de provocar o adversário, enervá-lo e, se possível, provocar sua expulsão. Fico com a impressão de que esse expediente seria uma forma de bullying – a prática de humilhações que jovens, nas escolas, utilizam como forma de autoafirmação às custas da honra alheia, dos mais fracos ou mais desprotegidos.
O lance em que Neymar, do Santos, dá um chapéu em Chicão, do Corinthians, é exemplo deste último, já que a bola nem mais estava em jogo. Também são exemplos disso as reboladas de Edmundo quando ficava à frente do adversário ou as famosas embaixadinhas de Edilson na final do Paulista de 1999 entre Corinthians e Palmeiras. O problema é que esses jogadores, em foco na mídia, são exemplos para outros jogadores que passam a imitá-los.

JFQ