terça-feira, 13 de abril de 2010

Só milagre evita a final santa


Santos e Santo André só não fazem a final do Paulistão 2010 por um milagre. Ou, para os incrédulos, por um desastre. Para irem à final, São Paulo e Prudente precisam vencer por dois gols de diferença. Além disso, precisam derrotar equipes que se mostraram superiores em todo o transcurso do campeonato. E na casa do adversário. Fácil, né!
Se o resultado for mesmo Santos e Santo André, justiça terá sido feita: são, indiscutivelmente, as melhores equipes do campeonato.

O São Paulo, que me perdoem os amigos são-paulinos, não merece conquistar o título. Levou o campeonato com a barriga tanto quanto o Corinthians. Ambos passaram longe do empenho mostrado por Santo André, Prudente, Botafogo e, sobretudo, pelo Santos, sob o pretexto da prioridade da Libertadores. O tricolor chegou às semifinais um pouco por méritos e um pouco por sorte, já que os adversários diretos tropeçaram mais que ele na reta final. Além disso, um inesperado título do time do Morumbi seria um prêmio ao excesso de conservadorismo de Ricardo Gomes, que se recusa inapelavelmente a qualquer ousadia. Por exemplo: seria tão prejudicial ao time colocar juntos seus três atacantes, Washington, Dagoberto e Fernandinho? Em vez disso, Gomes prefere apostar em Cicinho, em condições sabidamente limitadas, aberto na direita, tirando o principal ponto de referência da área: Washington. Ressalte-se que não se trata de uma opção feita para o enfrentamento contra o Peixe, mas uma opção contumaz, aplicada contra qualquer adversário. Três atacantes, simplesmente e por definição, são inadmissíveis no São Paulo de Gomes. Fosse técnico do Santos, talvez colocasse Robinho, Neymar ou André na reserva para reforçar o meio ou a zaga.

O Santos joga com os laterais – Wesley na direita e Léo ou Pará na esquerda – contidos, subindo apenas na boa. Resguarda, ainda, Arouca e os zagueiros Edu Dracena e Durval. Aliás, Arouca e Marquinhos ficam mais atrás, fazendo o primeiro movimento de articulação rumo ao ataque. Um pouco mais à frente, Paulo Henrique e, de uns tempos para cá, Robinho, jogando muito bem um pouco mais recuado do que de costume. Praticamente todo o time articula-se do meio para a frente, movimentando-se e trocando passes sem parar no intuito de furar a zaga adversária e chegar ao gol. Quando não é suficiente, ainda têm o recurso, para eles fácil, do drible. Tratando-se de jogadores habilidosos como Robinho, Paulo Henrique, Neymar e André, o esquema vira um tormento, uma verdadeira tortura aos adversários.

Guardadas as devidas proporções, esse Santos tem algumas qualidades, mas também os defeitos da maravilhosa seleção brasileira de 1982. (Quem será o Paolo Rossi do Santos?). A qualidade: nível técnico elevadíssimo dos jogadores, não apenas na atuação individual, mas também em conjunto, unidos em um futebol bonito, ofensivo e, sim, eficaz quanto aos resultados. Afinal, quem falou que resultados não se constroem com futebol bem jogado? O defeito principal: justamente a dependência da ofensividade como fator essencial de contenção. Sim, o Santos, assim como a seleção de 82, defende-se, antes de mais nada, impondo ao adversário que não pare de pensar em se defender. Arouca seria o equivalente de Toninho Cerezo, ou seja, um habilidoso meia, que sabe articular a armar jogadas, sob uma função improvisada de defensor. Brucutu, brucutu mesmo, não existe. Será que isso é defeito?

Um outro defeito, para muitos uma qualidade, confundida com alegria, são as dancinhas. Na verdade, para o espetáculo, em todos os sentidos, é bom. Para o Santos, às vezes se mostra ruim, por ser a motivação que o adversário encontra em momentos difíceis para se superar. Isso aconteceu contra o Palmeiras e contra o Corinthians. No primeiro caso, o Santos acabou derrotado; no segundo, quase empata tendo dois jogadores a mais.

Ruim mesmo para o Peixe é a iminência do desmanche. Ninguém no Brasil tem tão bons e jovens jogadores impunemente. A temível janela para a Europa vem aí. Pelo menos, outras promessas santistas como Alan Patrick e Nikão, revelações da Taça São Paulo de Juniors deste ano, poderão futuramente mostrar o seu talento.

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O árbitro e a disciplina
Árbitro inexperiente em clássico decisivo já parte com uma missão duríssima: preservar a disciplina do jogo. Recurso útil: aplicação de cartões para manter sua autoridade desde o início. Problema: tanto a ausência como a distribuição excessiva podem justamente quebrar a aura de autoridade do “professor”. Foi o que ocorreu com o senhor Marcelo Rogério, que optou por distribuir cartões em lances de faltas “normais” e acabou refém de seu próprio critério e das reclamações constantes dos dois times. O festival de cartões, inclusive, começou com Neymar, em falta sobre Dagoberto. Sob protestos ruidosos da torcida e da encenação do são-paulino, Marcelo Rogério, quase que por impulso, aplicou o amarelo por uma falta, na minha opinião, não passível de cartão. Daí em diante, perdeu o controle do jogo. Resultado: teve que expulsar Marlos ainda no primeiro tempo e passou o resto da partida ouvindo bravatas de lado a lado e assistindo a tombos teatrais na tentativa de arrancar uma expulsão do adversário.

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Quando a TV come bronha

Após levar o segundo cartão amarelo, Marlos foi expulso. Ouviram-se críticas duras dos são-paulinos pelo rigor excessivo do juizão. Para tirar a prova dos nove, fazia-se necessário observar o lance do primeiro amarelo. Mas, cadê? Na Globo, pelo menos, até Cleber Machado não conseguiu disfarçar o constrangimento. Tanto a crítica como a justificativa para a atitude do árbitro ficaram mancas, restritas ao lance em que Marlos chuta e tira a perna na direção de Robinho.

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Os goleiros falharam?

Além do suposto excesso de rigidez do árbitro na aplicação dos cartões, foram ouvidas críticas aos goleiros. Mais a Rogério Ceni – quiçá, por ser um consagrado ídolo e pelo seu time ter perdido – do que a Felipe. O santista teria caído mal no chute de Hernanes, forte, porém defensável. Ceni, por sua vez, falhou no derradeiro gol santistas, catando borboleta, como se diz na gíria futebolística. Falharam mesmo? Talvez. Mas não vejo nada clamoroso em ambos os lances. O grande problema é que são erros cometidos por goleiros: o único jogador em campo cuja falha, por menor que seja, determina o resultado do jogo e do campeonato.

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A regra é clara
O primeiro gol do Santos – gol contra de Júnior César – vale uma lição em curso de arbitragem. Mostra com clareza a mudança de interpretação da regra do impedimento. Léo parte para a esquerda e lança na área. Ali estão dois jogadores santistas, Robinho e André, ambos em posição de impedimento. O impedimento deve ser observado no momento em que a bola parte. Antigamente, era marcado logo no cruzamento e, neste caso, haveria impedimento indiscutível, pois nenhum dos jogadores santistas estaria em posição legal. Porém, atualmente, mesmo sendo observado no momento do lançamento, o impedimento só é marcado após o desenrolar do lance, constatando-se a participação efetiva de um jogador em posição irregular. Ou seja, se Júnior César simplesmente deixasse a bola passar, qualquer movimento de Robinho ou André em direção à pelota configuraria o impedimento. Que azar!

Os gols da partida podem ser vistos pelo link abaixo:

http://video.globo.com/Videos/Player/Esportes/0,,GIM1245760-7824-OS+GOLS+DE+SAO+PAULO+X+SANTOS+PELA+SEMIFINAL+DO+PAULISTAO,00.html

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Outra ótima notícia para o Santos
Deu no blog Bola de Meia, de Bernardo Pombo, do jornal O Globo, ontem, dia 12/4. Os jogadores do Santos redimiram-se da atitude infeliz de há poucos dias e visitaram as crianças e adolescentes do Lar Espírita Mensageiros da Luz.

Abaixo, uma foto de Neymar brincando com uma criança atendida pela instituição.


Isso sim é postura de campeão!

A notícia pode ser lida acessando o link abaixo:

http://oglobo.globo.com/blogs/bolademeia/posts/2010/04/12/antes-tarde-jogadores-do-santos-voltam-atras-visitam-lar-espirita-283216.asp

JFQ

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