sexta-feira, 13 de julho de 2012

Avanti, Palestra!

Antero Greco




Os palmeirenses foram dormir de alma lavada e enxaguada na alegria e na emoção. Como os rivais corintianos uma semana atrás, na noite de ontem vibraram, choraram, gritaram, soltaram fogos, se mandaram para a rua num buzinaço atordoante. Não era pra menos. Depois de quase uma década e meia de grandes frustrações e pequenas alegrias, viram o time livrar-se do papel de coadjuvante e reassumir a condição de protagonista. Ora, direis, foi apenas uma Copa do Brasil. É verdade, mas com valor de título mundial, ou o equivalente a faturar sozinho a Mega Sena.

A conquista veio com o elenco mais improvável para o sucesso. E invicto, Nos prognósticos de início de temporada, o Palmeiras aparecia em posição modesta na lista de candidatos ao topo. Vinha atrás de pesos pesados na competição, como Grêmio e Cruzeiro (os maiores campeões), ou de São Paulo e Botafogo, ambos em busca de título inédito. Até o bom Coritiba, vice de 2011, tinha precedência nos palpites preliminares.

O ceticismo em relação ao futuro palestrino no torneio não era preconceito gratuito, como lamentam exaltados e traumatizados. Ao contrário, tinha fundamento - infelizmente. O grupo sob o comando de Felipão era quase o mesmo que colecionou fiascos em 2011, com pequenas novidades e com os problemas costumeiros. O roteiro de outra participação interrompida na metade estava prontinho para ser executado. Questão de tempo, até as etapas mais duras.

Pois as fases complicadas vieram, as dificuldades não abandonaram técnico e seus rapazes, e estes não largaram o osso da Copa do Brasil. Torcedores escaldados ficaram na defensiva, à espera do tropeço, do momento de sair de cena. E era uma forma de blindar-se e não cair em depressão, como tem sido rotineiro na história recente. Até os mais empolgados ficaram com um olho no peixe e outro no gato. O palmeirense sabe o que é chorar de tristeza; mais do que ninguém tem noção do quanto é incômoda a maledetta dor de cotovelo.

Mas voltou a sentir o gosto das lágrimas de alegria e recuperou o ar altivo, bem condizentes com a trajetória de glórias quase centenária. Pois vi marmanjo com os olhos cheios d'água, a acompanhar os minutos finais do jogo no Couto Pereira. O rosto daqueles rapazes em Curitiba resumia a tensão, a expectativa, a euforia contida de milhões de alviverdes espalhados pelo país.

E por um jogo que se desenhava interminável quando Airton fez 1 a 0 para o Coritiba aos 16 do segundo tempo. Parecia que haveria uma avalanche pra cima do Palmeiras. Mas quatro minutos depois, Marcos Assunção e sua bendita "bola parada" resolveram, com a cabeça de Betinho no meio do caminho. Que ironia, Betinho, o que está em experiência, o herói acidental.

O Palmeiras tinha segurado bem a onda no primeiro tempo, empurrou a angústia para o Coritiba e se comportou com dignidade. O grupo sem estrelas se superou, na vontade, na raça, na consciência de sua limitação.

O Palmeiras agora tem outra taça valiosa a colocar em destaque na futura casa nova. Mais do que um pedaço de cobre, o troféu deve servir de inspiração para os dirigentes e indicar-lhes que o time precisa retomar o caminho de grandeza e dar um sonoro bico no complexo de inferioridade que baixou no clube. Chega de bom e barato! Basta com o meia-boca!

Avanti, Palestra! Bom retorno ao grupo dos vencedores! E a Libertadores de 2013 já começa pra lá de especial. Quem sabe, com um Palmeiras x Corinthians na final? Que me diz?


Publicado em O Estado de S.Paulo, em 12/07/2012.

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