terça-feira, 17 de julho de 2012

Ferrolho

Vinicius Mota


Em sete meses, o futebol brasileiro caiu na real. O time mais habilidoso do país, o Santos de Neymar, foi massacrado em Yokohama pelo Barcelona de Messi, Iniesta e Fabregas.
Já a Copa do Brasil e a Libertadores da América foram vencidas por equipes despojadas de craques, organizadas e retranqueiras: o Palmeiras de Felipão e o Corinthians de Tite. Dois técnicos gaúchos durões que não querem saber de poesia.

Por razão insondável, os estilos de jogo das equipes no Brasil tornaram-se motivo de batalhas entre filósofos do esporte. Quando está em questão a conduta da seleção nacional, o embate vira cruzada.
Inventividade, improviso e ofensividade são marcas do futebol brasileiro das quais não se abre mão, diz um dos lados. Sem cautela, marcação e no mínimo três volantes não se ganha campeonato, afirma o outro.

O fato é que o Brasil já teve equipes competitivas nas duas modalidades. Venceu jogando feio (1994) e batendo o fino da bola (1970). Vale também a recíproca. Perdemos dando baile (1982) e passando vexame (1990).

O pior dos mundos são os momentos em que não há jogadores bons o suficiente seja para pressionar o adversário com eficiência, seja para manter a meta incólume diante do assédio adversário.
Corinthians e Palmeiras indicam que o Brasil, na Copa de 2014, pode ser competitivo se optar pelo resguardo defensivo. Já os craques do Santos mostraram-se anuláveis por sistemas de marcação mais organizados.

Neymar, convenhamos, ainda está longe de ser um demolidor de defesas do porte do Romário de 1994 --ou da dupla Ronaldo e Rivaldo de 2002.

Nem sequer sabemos se o 11 santista vai chegar lá ou se seguirá o destino de ciscadores folclóricos, como Robinho e Denílson (ia citar Cafuringa, mas deixa para lá). Por via das dúvidas, é melhor o Brasil armar a melhor retranca possível, o proverbial ferrolho, para 2014. Técnico gaúcho para isso a seleção já tem.


 
Publicado na Folha de S.Paulo, em 16/07/2012.

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