segunda-feira, 9 de julho de 2012

Los Secretos

Rodrigo Bueno



O sucesso da Espanha não é por acaso. Quando o país recebeu a Copa de 82, a que o Brasil fez arte e não venceu, o time espanhol era medíocre. A partir daí, criou-se uma cultura de formação de atletas.

Dois anos depois, já pintava o vice no Europeu sub-21. Em 86, a Espanha levou o troféu nessa categoria e no sub-17. Em 88 e 91, novas taças juvenis, e, no ano seguinte, o ouro olímpico já veio com bom futebol, tendo o Barça do jogador Guardiola como pano de fundo. Entre 1995 e hoje, seis conquistas europeias no sub-19, cinco no sub-17, duas no sub-21 e prata em Sydney. Após a Copa-82, três finais de Mundial sub-20 (título em 99) e três decisões de Mundial sub-17 (e o país virou potência no futebol de salão, areia etc.).

Os espanhóis estão entre os favoritos (como brasileiros e uruguaios) para ganhar uma medalha em Londres. Javi Martínez, Mata e Alba, melhor lateral da Euro-12, compõem o time olímpico, cheio de promessas-realidades, como De Gea, Azpilicueta, Thiago, Isco, Adrián e Tello.

Do time bi da Euro, o mais ameaçado por idade de não jogar a próxima Copa é Xavi, mas ele já disse "2014 seguro". O império espanhol tende a continuar. E o ótimo trabalho de base pode criar reinado maior que os de Uruguai (24/28/30), Itália (34/36/38) e Brasil (58/62/70).

A França ganhou Mundial e Euro recentemente (1998/00), além de duas Copas das Confederações (2001 e 03), mas fator casa e fator Zidane pesaram muito. A Espanha é mais coletiva.

Há sim uma "chatice" nas seleções que dominam o futebol desde 1990: são equipes que pouco sofrem gols. A Espanha não foi vazada nos mata-matas da Euro-08, Copa-10 e Euro-12, absurdo! Isso significa pouca chance para o rival, muita imposição de jogo, domínio grandioso da bola. Casillas, primeiro a alcançar cem vitórias por uma seleção, não é vazado a 990 minutos em mata-matas de grandes torneios pela Espanha.

A Itália, que com Prandelli não tinha caído em jogo de competição até domingo, levou a única goleada em final de Euro. Desde 1957 a Azzurra não perdia por quatro ou mais gols de diferença. O alemão Bonhof era o único jogador campeão de duas Euros, agora 12 espanhóis igualaram o feito.

O chavão do grupo unido é um dos segredos da outrora rachada Fúria. Leia "Los Secretos de la Roja" e veja como cinema em grupo, pocha, músicas do DJ Sergio Ramos, pôquer, videogame, apelidos carinhosos e passeios em família deram resultado. Não à toa os filhos dos campeões espanhóis invadiram de forma linda o gramado no domingo.

 

Publicado na Folha de S.Paulo, em 04/07/2012.


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