quarta-feira, 11 de julho de 2012

Vai, Coxa!

Lúcio Ribeiro




Antes de prejulgar o título acima, vale o esclarecimento. Talvez me considere o palmeirense mais palmeirense que eu conheça. Um dos mais que meus amigos próximos conhecem, com certeza.

Não o mais dramático, desses que se descabelam quando o juiz "ladrão" inverte um lateral duvidoso que era "nosso" (sim, uso os pronomes na primeira pessoa do plural). Nem o mais exibicionista, que em épocas de grandes vitórias vai a concerto de música clássica com um paletó por cima de certa camisa verde.

Mas, se um dia eu fosse escrever uma autobiografia, certamente teria que usar o futebol e em particular o Palmeiras como ponto de referência dos meus altos e baixos, da passagem da infância à adolescência e depois à adultescência, pois por exemplo consigo fácil relacionar as namoradas que tive com as fases do time na época delas. Ok? Posso continuar?

Cravei o apelido do Coritiba no título para falar sobre a final de amanhã da Copa do Brasil e a responsabilidade que tem nas mãos o time paranaense diante da história do futebol recente. Da história palmeirense, quero dizer. Dentro da bizarrice tragicômica que é acompanhar as notícias do Palmeiras nos últimos tempos, o time vai a Curitiba levando na bagagem uma enorme vantagem e um cheiro de desastre de mesma medida.

O time, na semana em que o presidente saiu na mão com um conselheiro, que o maior rival alcançou glória inédita e que sua maior esperança de gols teve uma crise de apendicite no dia da primeira final, fez 2 a 0 no jogo de ida. Quando podia ter saído do primeiro tempo com um 0 a 4 desfavorável, mas também terminado o segundo com um favorabilíssimo 3 a 0, não fosse um gol perdido sem goleiro.

Na fila por uma taça que preste, o Palmeiras, suas crises internas e seu elenco mais ou menos rumam a Curitiba sem sua esperança de gol (o do apêndice), sem seu mais hábil jogador (o recém-sequestrado craque que pode nem jogar mais no clube, por medo) e sem talvez sua principal válvula de escape na hora da pressão que vai sofrer (o veloz e amalucado Maikon Leite, machucado domingo na derrota contada no Brasileiro).

E, para jogar no mesmo estádio que perdeu de seis na última visita na mesma Copa do Brasil em 2011, para o mesmo time que talvez devesse ter sido o campeão daquele mesmo torneio. Vai, Coxa! Direciona esse filme palmeirense de amanhã para a prateleira que a ele cabe na locadora do futuro: a das aventuras épicas, a dos dramalhões chorosos ou a da comédia, em que ele na verdade já está.


Publicado na Folha de S.Paulo, em 10/07/2012.


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