segunda-feira, 9 de julho de 2012

Após assistir à eliminação da seleção no Sarriá, chorei pela segunda vez na vida, já aos 32 anos

Juca Kfouri




Por que toda uma geração chora até hoje a eliminação brasileira na Copa de 1982, em Barcelona, no acanhado estádio de Sarriá, que nem existe mais? Fosse no Camp Nou, muito mais adequado para o tamanho do embate, a sorte seria outra?

Pode ser que sim, pode ser que não, e desde já deixo claro que o jogo, simplesmente espetacular, foi vencido com justiça pela Itália.

Choramos porque tínhamos Leandro, Oscar, Luisinho, Júnior, Cerezo, Falcão, Zico, Sócrates e Éder?

Lamentamos porque Telê merecia o título?

Culpamos o azar pela perda de Reinaldo e Careca ainda antes de a Copa da Espanha ter início? Por tudo isso, creio, e mais um pouco.

Porque apesar de a vitória italiana ter sido justa no detalhe, mesmo com o pênalti em que Gentile rasgou a camisa de Zico ainda no primeiro tempo, o time brasileiro era melhor, tanto que foi o que entrou para a história, como o húngaro de 1954 e o holandês de 1974.

Mas ouso dizer, passadas três décadas, que nosso choro tem mais a ver com um sentimento de ternura, que era o que aquele inteligente grupo despertava.

A começar, pasme!, pelo então presidente da CBF, Giulite Coutinho, um homem conservador, enérgico a ponto de ser autoritário, mas limpo até a medula e de grande sensibilidade.

Havia ali, até entre os reservas (exceção feita a Edinho, que passou a Copa de cara amarrada, inconformado com a titularidade de Luisinho, que lhe era superior), uma gente que era tão deslumbrante com a bola nos pés como numa simples conversa à beira do gramado ou na concentração, quase sempre aberta.

Não por acaso o capitão do time não era ninguém com o porte de Hideraldo Luiz Bellini ou Mauro Ramos de Oliveira, talhados para erguer a taça. Em vez de Oscar Bernardi, outro zagueiro do mesmo estilo, o capitão era um poeta, magro e feio, chamado Sócrates Brasileiro.

Que um dia me disse -e nunca acreditei- que o melhor que poderia ter acontecido àquele time era a derrota, porque uma lição de vida, e que, em caso contrário, eles virariam pessoas insuportáveis.

Como doeu!

Eu dirigia a revista "Placar", então, e não tinha saída a não ser bancar o jornalista frio e insensível, para tratar de não atrasar o fechamento. E saí dando ordens aos repórteres e fotógrafos, relembrando cada um de suas missões. Mas, já na porta do Sarriá, indo para o centro de imprensa, um repórter de rádio quis me ouvir...

Tentei afastar o microfone, ouvi que ele já me apresentava e comecei a falar lamentando que aquela geração talvez não tivesse outra chance e... desabei.

Tinha chorado uma vez na infância, por causa de fracasso do meu time. Voltei a chorar, naquele dia, já aos 32 anos de idade e pai, então, de três filhos.

Algo ainda me diz que, um dia, Éder, em vez de chutar em cima do beque, irá passar para o Magro a bola que empataria em 3 a 3 e eliminaria a Itália.


Publicado na Folha de S.Paulo, em 05/07/2012.

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