terça-feira, 1 de março de 2011

Choque-Rei aquático



Após espera de uma hora, concluiu-se que São Paulo e Palmeiras poderiam jogar futebol sob a chuva que caiu no Morumbi, no último domingo. As imagens dos torcedores nadando – literalmente – nas arquibancadas do estádio são impressionantes. Assim como a ótima drenagem do gramado que, de fato, mostrou sua eficiência.

Valeu a espera. As duas equipes, cada qual com seu estilo, fizeram uma boa partida, muito embora tenham exagerado na “vontade”: neologismo para violência.

O São Paulo veio mais uma vez com a nova formação implantada por Carpegiani: um 3-5-2, que deixa o jogo do tricolor fluir melhor, aproveitando as melhores características de seus jogadores. Atrás, Miranda, Alex Silva e Rodolfo compõem a zaga e dão cobertura para que Jean, pela direita, e Juan, pela esquerda, fiquem mais avançados. Casemiro e Carlinhos Paraíba – este mais solto, aquele mais contido – são os volantes, enquanto Lucas tem a incumbência de fazer a bola girar do meio para o ataque, juntamente com Dagoberto e Fernandinho. No entanto, Felipão, sabedor da importância e da qualidade do jovem talento são-paulino, impôs forte marcação em Lucas, praticamente o anulando na partida. Fernandinho, mais restrito ao lado esquerdo, e Dagoberto, o mais livre para atuar em todas as regiões do campo, acabam de montar o esquema que prescinde de centroavante, mas não o torna menos ofensivo e perigoso.

Já o Verdão tem uma postura mais pesada, porém equilibrada. O Palmeiras cadencia mais a bola, até por não ter jogadores tão leves e, especialmente, tão técnicos como o São Paulo. Aliás, esse é o grande problema do Palmeiras: afora Valdívia – ainda aquém do seu melhor futebol – e de Kleber, é um time de jogadores regulares, esforçados. Dada a movimentação rápida do São Paulo, o Palmeiras se viu obrigado a segurar Cicinho atrás, perdendo uma boa opção de ataque. Além dele, Márcio Araújo, Marcos Assunção e o lateral esquerdo Gabriel Silva também pouco subiram – até pela necessidade de conter o ímpeto ofensivo do adversário –, fazendo voltar a ladainha mais ouvida no Parque Antártica: Kleber fica isolado na frente, precisa de um companheiro de ataque. Luan e Tinga não têm a qualidade necessária para formar um time que amedronte os adversários, e Valdívia, como já dito, vem de longo período de recuperação.

Se o gol de Fernandinho fez com que o Tricolor vislumbrasse um cenário otimista de contra-ataques fulminantes, a reação impulsiva de Alex Silva e sua decorrente expulsão fizeram com que o Palmeiras reequilibrasse as forças, crescendo em campo. Em que pese o São Paulo, durante um bom tempo, ter sido melhor, ainda que com um jogador a menos.

Felipão, antevendo tendência de o árbitro “compensar” a expulsão do zagueiro são-paulino, tirou de campo os jogadores que haviam tomado cartão amarelo. Leandro Amaro entrou no lugar de Danilo e Marcos Assunção deu lugar a João Vitor. No entanto, a substituição mais decisiva foi a de Adriano “Michael Jackson” no lugar de Luan. O jogador deu mais velocidade às chegadas do Palmeiras e se aproximou de Kleber, tornando o ataque mais eficiente. Como se não bastasse, fez o gol de empate, em belo chute cruzado no canto esquerdo de Rogério Ceni.

Carpegiani, por outro lado, promoveu substituições que tornaram seu time mais lento e desarticulado. A entrada de Xandão, para recompor o sistema de três zagueiros, no lugar de Fernandinho, fez o tricolor perder força no ataque. Rivaldo, no lugar de Lucas, e William José, no lugar de Dagoberto, apesar de boas opções, não corresponderam às expectativas.

Final: 1 a 1. Embaixo de tanta água, até que São Paulo e Palmeiras fizeram uma partida, se não brilhante, digna de um verdadeiro Choque-Rei.

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Quem tirará satisfação de Alex Silva?



Parabéns ao árbitro Marcelo Ribeiro de Souza. Apesar das reclamações de parte a parte – na minha opinião, decorrentes muito mais do nervosismo gerado pelas dúvidas sobre a realização da partida após tanta chuva do que, propriamente, por erros de arbitragem –, Souza fez um excelente trabalho. Soube esperar, soube decidir e soube fazer a escolha certa: realizar a partida. Ademais, soube punir Alex Silva por uma atitude que, além de um ímpeto, é uma modinha ridícula oriunda dos “civilizados” gramados europeus: a modinha de tirar satisfação de adversário por suposta simulação.

Sim, a simulação é anti-jogo e deve ser prontamente punida pelo árbitro. Ressalte-se: pelo árbitro! Se um jogador faz as vezes de árbitro ou de “profissional ofendido” pela atitude antiética de outro, também deve ser punido. Simplesmente porque não lhe cabe tal atitude.

Infelizmente, há modas na Europa que são copiadas por nossos jogadores. Em vez de copiarmos o que somente há de bom, copiamos também as bobagens. O “tirar satisfação” é uma delas. Assim como o tal do fair play, em que, quando um jogador aparenta estar machucado, o outro deve jogar a bola para fora de campo para seu atendimento. Sim, está certo. Mais certo, ainda, seria o árbitro parar a partida para o atendimento, já que a responsabilidade por avaliar e decidir é dele, não dos jogadores.

No caso de Alex Silva, sua atitude foi decisiva para o crescimento do Palmeiras na partida, quiçá para o resultado final. Será que seus companheiros, a diretoria ou a torcida são-paulina têm o direito de “tirar satisfação” de Alex por isso?

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Jogar, cair e reclamar

Valdívia é um excelente jogador. Ainda está sem ritmo de jogo, mas, quando o adquirir, promete ser uma das sensações do campeonato. Porém, o chileno precisa perder o vício da catimba. Por mais faltas que sofra, Valdívia a aumenta à enésima potência. Um esbarrão nele tem o mesmo efeito de um cruzado de direta de Mike Tyson no auge da carreira. Além do teatro, seguem-se as reclamações, muitas vezes acintosas, para as quais ganha a companhia de Kleber.

Se o excesso de “civilização à européia” de Alex Silva é criticável, também o é o excesso de “catimba sul-americana”. Talvez o melhor futebol esteja no meio do caminho.

JFQ

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