sábado, 12 de fevereiro de 2011

Um fantasma à solta


Depois de Luis Ramirez, no jogo Tolima 2x0 Corinthians, pela pré-Libertadores, e de Juan, no jogo Brasil 0x1 Argentina, pelo Sul-Americano sub-20, agora foi a vez de Hernanes confirmar, no Stade de France, que um fantasma ronda o futebol brasileiro: o fantasma de Felipe Melo. Se bem que o lance protagonizado pelo ex-são paulino foi mais parecido com a entrada de De Jong, da Holanda, na final da Copa 2010 (detalhe: o holandês não foi expulso naquela oportunidade). Ou, quem sabe, Hernanes tenha se inspirado na última luta de Anderson Silva...

O fato é que a saída prematura de Hermanes e o jogador a menos pesaram decisivamento no jogo da seleção brasileira, que praticamente passou o restante da partida defendendo-se das investidas francesas. Por si só, a expulsão não explica a vitória da França, que jogou muito bem e poderia ter feito mais gols, não fosse a atuação primorosa de Júlio César. Aliás, o goleirão da Internazionale não precisa mais provar que é, disparado, o melhor goleiro do Brasil, restando aos demais jogadores da posição brigarem pela primeira vaga no banco de reservas.

A França conseguiu imprimir seu ritmo ao jogo, com toques rápidos, envolventes, e chegadas constantes à frente. Menéz e Malouda, sempre procurando os lados do campo, e o perigosíssimo Benzema foram os destaques franceses. Em pouco tempo, o técnico Laurent Blanc mostra resultados promissores sob o comando dos Bleus, invertendo a aura de fundo do poço deixada pelo arrogante Raymond Domeneche. Há que se lembrar ainda que nem Nasri, do Arsenal, nem Ribery, do Bayern de Munique, participaram da partida de ontem. Ou seja, pode-se vislumbrar daqui para frente uma França muito mais poderosa do que o lamentável escrete que circulou por campos da África do Sul em 2010.

Quanto ao Brasil, além de Júlio César, destaque para Daniel Alves, David Luiz e, apesar do pouco tempo em campo, Jadson, bastante rápido e capaz de boas assistências para os atacantes na entrada da área. Merece ser convocado novamente.

Apesar da derrota, confesso que estou otimista em relação à seleção brasileira. Da mesma forma que no jogo contra a Argentina, contra a França, nossa seleção não pode ser avaliada tão-somente pelo resultado negativo. Inclusive para que não se faça o mesmo juízo das equipes comandadas por Parreira e Dunga, vitoriosíssimas antes das Copas, mas que culminaram nos vexames de 2006 e 2010.

Nas cinco partidas disputadas até agora, Mano Menezes tentou consolidar um padrão de jogo, mas sofre com a ausência dos principais jogadores. Três deles – Kaká, Ganso e Neymar – tendem a se firmar como titulares absolutos ao longo do tempo. Do meio para trás, Mano está consolidando uma boa formação com jogadores de nome duplo: Júlio César, Thiago Silva, David Luiz, Daniel Alves e André Santos. Os dois zagueiros são jovens e excelentes – confesso que não conhecia e hoje sou fã de David Luiz –, podendo a seleção, quem sabem, contar com o infindável Lúcio no futuro. Quem sabe, em uma linha de três zagueiros, nada ao gosto dos brasileiros, mas que deu muito certo no penta em 2002. De qualquer forma, é uma opção.

Já os laterais caracterizam-se pela rapidez e pela facilidade no apoio, mais do que pela capacidade de marcação. Como Dani Alves – em ótima fase – e André Santos – com menos nome, mas com a confiança do técnico – apóiam muito, a tendência é que Mano procure uma dupla de volantes fortes na marcação, para cobrirem as subidas dos lateriais. Lucas parece titularíssimo; quem será o outro? Elias vem sendo testado, Hernanes, apesar da técnica apurada e da boa fase na Lazio, não caiu nas graças de Mano (ainda mais depois da expulsão contra a França), Sandro vem sendo convocado, mas pouco testado. Em suma, algum volante de contenção deve fazer dupla com Lucas, o que tira pontos de Ramirez, bastante leve.

O grande problema da seleção está no meio – ausência de um cérebro, um articulador que pense e distribua o jogo – e na frente – ausência de um matador. No caso do meio, Paulo Henrique Ganso tem tudo para cumprir a função, apesar de sua recuperação ser ainda uma incógnita. Na frente, já foram testados Alexandre Pato, Hulk, André, Diego Tardelli; nenhum convenceu. O certo é que Neymar deve ser o segundo atacante.

Uma solução, digamos, heterodoxa, seria um esquema sem centroavantes, à moda Barcelona. Kaká, Robinho e Neymar fariam as vezes de atacantes chegando de trás. O fato é que o Brasil de hoje não tem mais um atacante que amedronte a zaga adversária. Em outras palavras, não tem mais um Romário ou um Ronaldo.

No entanto, a grande ameaça para a seleção, ao meu ver, é o entendimento de Mano Menezes de que a seleçao precise de um salvador da pátria, alguém que seja responsável por resolver sozinho as partidas. Os nomes prováveis seriam Kaká, Robinho e Ronaldinho Gaúcho, na minha modesta opinião, incapazes de postularem atualmente a condição do Messi ou do Cristiano Ronaldo da seleção brasileira. Aliás, não creio que o Brasil precise disso. Talvez nem Pelé tenha desempenhado esse papel, sendo um jogador excepcional entre outros craques. O problema é que já não temos tantos craques como em 70 ou em 82.

JFQ

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