Xico Sá
Amigo torcedor, amigo
secador, nesta semana fez um ano que o doutor Sócrates partiu. Não careço de
efeméride alguma para celebrar, todo dia, toda noite, a memória do velho
camarada. O momento, porém, tingido em branco e preto, é especial e comoveria o
Magrão.
É, doutor, o bando de loucos, como você
bem conhece, invadiu o Japão. Como na música do Gil, meu velho, teve corintiano
que viajou até no cargueiro do Lloyd lavando o porão. Se oriente, rapaz, a
festa começou em Cumbica e talvez não pare nem mesmo com o anunciado apocalipse
que se aproxima.
Outra coincidência da semana, Magrones,
é que o teu chapa Oscar Niemeyer também se foi. O último dos bravos comunistas,
sempre motivo dos teus brindes, está chegando aí. Sei que vais tirar onda e
dizer que estou sempre dando notícias velhas, que estou mais enferrujado do que
minha última Remington.
Ah, Magrão, não zoa, mas realmente nada
mudou muito depois que partiste. Aqui na terra estão jogando futebol, tem muito
samba, muito choro e rock'n'roll, mas nada de novo debaixo do sol dos homens,
meu camarada, como diriam o Eclesiastes e o teu amigo Chico.
Sabe quem saiu da CBF, Magrão? Acredite:
o Ricardo Teixeira, teu ídolo (rs) para não dizer o contrário. O bom é quem
entrou: o José Maria Marin, doutor, pode crer. Aquele mesmo cupincha da
ditadura.
Mil desculpas, velho camarada, mas nada
mudou neste último ano, embora o deputado Romário (PSB-RJ) insista em uma CPI
para investigar os podres da CBF. O Juca, porém, continua cutucando os homens
com sua caneta afiada, não para. O prezado amigo Afonsinho, aquele bom papo de
sempre, agora escreve no espaço que ocupaste na "Carta Capital", tem
repetido a categoria dos tempos de Botafogo.
Não zoa, notícia velha um cacete. Agora
vou te contar uma nova. O Mano caiu, no momento mais errado do mundo -se é que
tem tempo certo para queda- e o Felipão assumiu o comando da canarinha.
Foi mal, Magrão, esta bola tu cantaste
há séculos. Essa, porém, é novíssima: os estádios para a Copa do Mundo estão em
um atraso miserável (rs). Mais uma: a Fifa tende a proibir a venda de acarajé
nos arredores da Fonte Nova durante o Mundial de 2014. Sério, Magrones, essa é
braba, confesse.
Sabes quem está na bancada do nosso
"Cartão Verde", doutor? O Rivelino, com um bigode de deixar teu ídolo
Nietzsche com inveja, e o boa-praça Celso Unzelte, este sim um jornalista
competente. Pasme, Magrão, o Vitor Birner aderiu ao futebol-arte. Um poeta. O
velho Mussa, como chamavas carinhosamente o Vladir Lemos, continua o mais
civilizado dos mediadores.
Fazes muita falta, doutor, e sempre
cantamos para ti aquela seresta do Sérgio Bittencourt: "Naquela mesa tá
faltando ele / e a saudade dele está doendo em mim".
Publicado na Folha de S.Paulo, em 08/12/2012.
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