sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Globo e Hugo Chavez, tudo a ver

Qual a semelhança entre a Rede Globo e o presidente venezuelano Hugo Chavez? Neste momento, consigo ver duas: a vontade de ocultar a realidade quando esta fere seus interesses e de agir de todas as formas para anular seus concorrentes.

A última do regime bolivariano (esquerdas de todo o mundo, uni-vos para pular deste barco furado) foi enviar “jornalistas” a Trípoli para mostrar, via Telesur, a rede oficial da Venezuela, que a normalidade impera na Líbia. Sim, aquele mesmo país que todos os demais meios de comunicação do mundo revelam estar à beira da guerra civil, cujo presidente, um ditador detestável, está no poder há mais de quarenta anos, que ordenou às suas forças de segurança que abrissem fogo contra a multidão revoltosa (há quem fale em mais de mil mortos) e que mantem com o “socialista” Chavez bons laços de amizade. Não nos surpreendamos se Gaddafi, caso não “morra como mártir”, venha curtir seu exílio no nosso vizinho de cima.

A Globo, por sua vez, não noticia com a relevância merecida o caso do esfacelamento do Clube dos 13. A emissora da venus platinada resolveu que a saída em massa de clubes da organização – o Corinthians puxando a fila – não é um fato jornalisticamente relevante e, pior, não lhe diz respeito. Ou, quem sabe, finge que o fato é irrelevante justamente porque lhe diz respeito. E como! O irônico é que a mesma Globo promoveu uma (quase) total ocultação da cobertura do Mundial da FIFA em 2000, ganho justamente pelo Corinthians, já que os direitos de transmissão daquele torneio ficaram nas mãos da Bandeirantes. Jornalismo, jornalismo, negócios à parte... e acima. Na briga atual, a Globo corre o risco de perder seu monopólio eterno na transmissão de futebol ou de pagar muito mais caro por isso. Para se ter uma ideia, hoje a emissora desembolsa R$ 400 milhões por ano ao Clube dos 13 para TV aberta, TV fechada, paper-view, internet e placas de publicidade. Se vingasse a concorrência a ser promovida pelo C13, para o Brasileirão de 2012 a 2014, a proposta mínima somente para TV aberta seria de R$ 500 milhões! Em tese, seria um aumento substancial de recursos aos clubes. Em contrapartida, um dispêndio bem maior à Globo, que sofreria a concorrência da Record e da RedeTV! Detalhe: sob o pretexto de ser uma emissora que oferece maior exposição às marcas, para vencer a concorrência, a Globo poderia ofertar um preço 10% maior que a da menor proposta. Mas, nem assim...

A propósito, me lembrei de uma outra semelhança entre Globo e Chavez: a disposição em se associar a líderes que não conseguem largar do poder. Chego a sonhar (maldito pendor utópico!) com os torcedores brasileiros, a exemplo de tunisianos, egípcios e líbios, derrubando Ricardo Teixeira. Pelo sim, pelo não, vou já ao Facebook.  

***

Em tempo: Juca Kfouri, sua coluna da Folha, em 24/02/11, escreveu o seguinte a respeito do racha no Clube dos 13 (“A implosão”):

O racha se dá porque os que saíram não querem saber de mudanças e preferem a Globo. Eu, aliás, também preferiria, ainda mais que o dinheiro da Record é uma forma de concorrência desleal, porque da Iurd [Igreja Universal do Reino de Deus].”

Pois é. Pode ser que o monopólio da Globo não seja o único senão da sexagenária TV brasileira. É o clássico “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

JFQ

Um comentário:

  1. A Globo soltou há pouco o seguinte comunicado: "Os dirigentes efetivamente preocupados com os legítimos interesses dos seus clubes e, acima de tudo, os torcedores são testemunhas dos volumosos investimentos que a Rede Globo tem feito ao longo desses anos, numa parceria pelo aprimoramento do nosso futebol, na busca de um espetáculo emocionante, com profissionalismo e qualidade.

    Essa contribuição tem se traduzido no crescimento das receitas dos clubes, não só através das receitas obtidas com a venda dos direitos de transmissão, bem como com a comercialização de outros direitos, incluindo propaganda nos uniformes e publicidade nos estádios.

    As exigências e modificações nos conteúdos das plataformas implicam na desestruturação de um produto complexo, que foi construído ao longo dos últimos 13 anos, inviabilizando assim qualquer perspectiva de um retorno compatível com os investimentos na compra dos direitos.

    As condições impostas na carta-convite não se coadunam com nossos formatos de conteúdo e de comercialização, que se baseiam exclusivamente em audiência e na receita publicitária, sendo incompatíveis com a vocação da televisão aberta que, por ser abrangente e gratuita, é a principal fonte de informação e entretenimento para a maioria dos brasileiros.

    Assim é, em respeito ao interesse do público, que a Rede Globo se sente impedida de participar desta licitação e pretende manter diálogo com cada um dos clubes para chegarmos a um formato para a disputa pelos direitos de transmissão que privilegie a parte mais importante desse evento: o torcedor.

    Central Globo de Comunicação"

    (JFQ)

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