segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Clássico é clássico

Clássico é clássico. Ou seja, não importa se um dos times está numa conjuntura favorável e o outro em pleno inferno astral: em um clássico, qualquer resultado é possível. Ontem, o princípio valeu até para o rubgy e o futebol americano. No rugby, o Brasil, pela primeira vez na história, venceu a Argentina (vão precisar refazer aquela propaganda que exalta o crescimento do esporte no nosso país, mencionando o feito histórico). No Super Bowl, o principal jogo daquele rugby de capacetes que os norte-americanos chamam de futebol, o franco-favorito Pittsburgh Steelers viu a zebra Green Bay Packers, que quase não se classificou para os playoffs finais, levantar a 45ª taça.


Voltando ao futebol de verdade, jogado com os pés, Palmeiras x Corinthians, pelo Paulistão, Botafogo x Fluminense, pelo Carioca, e Brasil x Argentina, pelo Sul-Americano Sub-20, reforçaram o princípio.

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São Júlio César

Em tarde inspiradíssima do goleiro corinthiano Júlio César, o Timão frustrou as expectativas – de alguns corinthianos, inclusive – de que passaria por mais um vexame após a derrota para o Tolima, o que seria a pá de cal sobre Tite, Ronaldo, Andrés Sanchez e companhia. Mas, apesar de ter maior volume de jogo, mais posse de bola e, sobretudo, mais chances reais de gol, o Palmeiras, líder do Paulistão, se viu derrotado pelo arquirrival em uma das duas únicas subidas perigosas do Corinthians. Além do gol de Alessandro, o Timão só ameaçou a meta alviverde em um chute à queima-roupa de Jucilei, defendido por “são” Marcos.

No entanto, quem andou fazendo milagres foi mesmo Júlio César. O goleiro corinthiano fez nove defesas, sendo quatro bastante difíceis. O que mostra a evolução desse jovem talento do Parque São Jorge. Como se não bastasse, Júlio César também contou com aquilo que nove entre dez comentaristas mencionam como pré-requisito de todo bom goleiro: sorte. Em dois lances, o gol palmeirense só não saiu por conta do rodrigueano Sobrenatural de Almeida. No primeiro, após rebatida do goleiro corinthiano, o zagueiro Maurício Ramos, frente a frente com o gol livre, chutou para fora. No segundo, um lance inacreditável, já nos estertores da peleja, em que, após outra rebatida, a bola foi cabeceada na trave por Patrick, bateu nas costas de Chicão e foi agarrada por “são” Júlio César em cima da linha.

Apesar da superioridade palmeirense, como futebol é bola na rede, comemorou o Timão, que soube se defender e marcar o tento da vitória.

No Palmeiras, destaque para Adriano, que deu grande movimentação ao time logo que entrou no lugar de Tinga. Destaque também para a “ausência” de Cicinho, apagadíssimo em campo, e para a evidente necessidade de um companheiro de ataque para Kleber. Que venha Valdívia.

No Corinthians, além de Júlio César, destaque para Ralf, sempre eficiente na marcação, para a renascida determinação de Jucilei e para a evidente incapacidade de Edno em cumprir a função de um atacante realmente perigoso. Que venha Liedson.

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Loco é quem me diz...


Na partida entre Botafogo e Fluminense aconteceu de tudo. Pênaltis polêmicos, pênalti com cavadinha (dois), pênalti marcado, pênalti perdido, expulsões, substituições criticadas, cinco gols e até convite para churrasco. Isso mesmo. Perguntado após o jogo sobre entrevero com Fred, o botafoguense “Loco” Abreu, disse que o atacante tricolor se enervara por sua recusa em ir a um churrasco que faria logo mais.

Como se não bastasse, para comprovar que o apelido vem bem a calhar, Abreu cobrou dois pênaltis – um polêmico, outro inexistente – com a tradicional cavadinha. No primeiro, Diego Cavallieri pegou facilmente; no segundo, converteu.

O grande destaque em campo foi Renato Cajá, que marcou gol, deu assistência para outro de Herrera, além de chutes sempre perigosos de fora da área.

O Fluminense, então líder do grupo e favorito, também viu sua superioridade em tese cair na real. Em que pese o chororô contra a arbitragem (neste caso, chororô com razão de ser, partido do pessoal das Laranjeiras), o Botafogo faturou três gols, três pontos e a chance de escapar do Flamengo nas semifinais da Taça Guanabara.

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Complexo de Felipe Melo

Também o Brasil foi vítima da maldição dos favoritos nos clássicos deste domingo. Acima de tudo, foi vítima de si mesmo, de seu nervosismo. Enfrentando uma Argentina que, pelo retrospecto no torneio sul-americano, assusta muito menos que outros escretes hermanos do passado, o Brasil deixou-se levar pela ansiedade e, talvez, pela pressa em resolver sua classificação para o Mundial da Colômbia e para as Olimpíadas de Londres.

Logo no início, nossa seleção perdeu o zagueiro e capitão Bruno Uvini, contundido. Com a zaga enfraquecida, sofreu com as investidas do bom atacante argentino Funes Mori. Logo aos 7 minutos, Mori disputou uma bola com o zagueiro Juan que, num ímpeto de Felipe Melo, aplicou-lhe um sopapo dentro da área. Resultado: pênalti para a Argentina e Juan expulso. O mesmo Funes Mori bateu e converteu a cobrança. Ney Franco foi obrigado a sacrificar o atacante Oscar para repor a zaga.

Mesmo jogando com a zaga reserva (Romário e Saimon) e com um a menos, o Brasil era mais perigoso. Neymar passou a se movimentar por todo o campo – e, da mesma forma, foi duramente caçado pelos marcadores argentinos. Lucas também participou mais da articulação de jogadas. Aos 10 do segundo tempo, em um chute de fora da área, William marcou um golaço.

Com o empate, o Brasil deu mais espaços à Argentina, que contra-atacou pouco quando esteve em vantagem no placar. A Argentina chegou ao segundo gol em uma bobeira da defesa brasileira, que assistiu Iturbe entrar costurando até ficar na cara de Gabriel. Resultado: 2 a 1, Argentina.

Daí para frente o Brasil foi nervosismo puro. E ineficiência para chegar ao gol argentino. Para piorar, Neymar, irritado com as constantes faltas sofridas, tomou cartão amarelo por reclamação e está fora da próxima partida.

Em suma, o Brasil está agora em segundo lugar – o que basta para ir às Olimpíadas –, restando duas partidas para acabar o Sul-Americano. Porém, no próximo confronto, contra o Equador, a equipe não contará com Bruno Uvini, Juan e Neymar. Se não vencer, o Brasil pode ver muito longe uma vaga que já dava como certa.

JFQ

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