segunda-feira, 10 de maio de 2010

Torcida Contra

Preciso admitir: eu não estava totalmente certo na minha análise sobre o sentimento dos corinthianos quanto à eliminação do time na Libertadores. Mais especificamente: há controvérsias sobre a manutenção ou não de Mano Menezes no comando do time e quanto ao fato de que os torcedores assimilaram a derrota como algo “do jogo”, reconhecendo o esforço dos jogadores.
Ledo engano. Já no primeiro treino após a eliminação, no Parque São Jorge, torcedores compareceram para tirar satisfações e protestar. Abre parênteses: eu não sei qual a vantagem de abrir os treinamentos ao público, mas...; fecha parênteses. O interessante é que, mesmo entre os “torcedores profissionais” – membros de torcidas organizadas – não havia consenso. A maioria gritava “O, o, o, queremos treinador”, “Não é mole não, o Brasileiro agora é obrigação”, e coisas do tipo. Mas houve uma minoria que defendia o apoio ao técnico. Por pouco não foi linchada pelos “coirmãos”.
À noite, nos programas de debate na televisão, ex-craques do Timão não titubearam em criticar Mano Menezes, eleito como o grande responsável pela desclassificação. O ex-goleiro Ronaldo ironizou a postura analítica do “professor”, enquanto Neto, ainda mais afoito, reclamou do prêmio dado a Mano pela eliminação: o contrato estendido até o final de 2011. Em resumo, os argumentos contra o técnico corinthiano foram: covardia em não colocar o time para cima do Flamengo, especialmente no primeiro jogo, e as contratações erradas para posições erradas. Ainda bem que não falaram sobre a substituição de Elias no jogo do Pacaembu, já que o próprio jogador, alegando cansaço, pediu para sair. A propósito, eis uma pista para se entender o porquê da demissão da equipe de preparadores físicos.
Em que pese as críticas não serem totalmente improcedentes, vejo nelas uma dose cavalar de paixão sobrepondo-se à razão. Vociferações oriundas do coração, mas também do fígado, em vez do cérebro. Respeitando os contrários, não tenho dúvidas de que é uma estupidez demitir Mano Menezes neste momento. Quantos palmeirenses e são-paulinos não adorariam que isso acontecesse; aliás, quantos não adorariam que Mano fosse parar justamente no Palestra Itália ou no Morumbi?
Basta olhar para o passado e ver o quão contraproducente é a demissão de um técnico – sempre o técnico! – após um fracasso. Inclusive, no próprio Corinthians! Por outro lado, também é fácil observar que o sucesso no longo prazo passa pela manutenção do treinador. Ainda mais um treinador tão vitorioso como Mano Menezes, que, só no Timão, trouxe a equipe de volta à primeira divisão, disputou duas finais de Copa do Brasil, vencendo uma, e conquistou um Paulistão invicto. Ruim com ele (ruim?), péssimo sem ele!
A torcida em geral e a do Corinthians em particular é fundamental para qualquer time. Porém, a mesma força que levanta o time, quando transformada em pressão constante, pode ser um fator de desestabilização e crise. Se a Fiel quer ajudar o Corinthians, mesmo contrariada, neste momento deve apoiar seus jogadores e seu treinador.
Ah, no começo disse que não estava “totalmente certo”, mas também não estava “totalmente errado”. Ontem estive no Pacaembu para assistir à partida contra o Atlético Paranaense e presenciei algo inusitado. Em claro confronto com os pedidos – ou melhor, exigências – das organizadas, grande parte da torcida aplaudiu bastante Mano Menezes na hora da apresentação inicial. E mais: nas duas vezes em que a Gaviões entoou o coro de “queremos treinador” e “fora Mano”, recebeu uma sonora vaia de reprovação de parte da maioria dos torcedores, digamos, “desorganizados”.
Enfim, a torcida está rachada.
***
Ditadura Corinthiana
Espantosa a atitude de um sujeito, membro de torcida organizada, que foi ao treino do Corinthians no Parque São Jorge para protestar. Ao perceber que outro torcedor não concordava com sua demanda de demitir o treinador, preferindo o apoio ao elenco e à comissão técnica, o sujeito partiu para cima do oponente ameaçando-o de agressão.
Essa postura autoritária de alguns torcedores e torcidas organizadas é repulsiva, merecendo repúdio de quem se acha capaz de pensar por si só e cultivar sua paixão pelo time do coração preservando o espírito crítico. Isso é ainda mais asqueroso em se tratando de um clube como Corinthians, cujo nome já foi tão bem associado à ideia de democracia.
JFQ

Nenhum comentário:

Postar um comentário