sexta-feira, 2 de julho de 2010

Coerência

Brasil 1x2 Holanda (Quartas de final)

Não é fácil. O jogo acabou agora, estou escrevendo e vendo a entrevista do Júlio Cesar, emocionado. O Galvão, hipócrita, falando que o trailer já havia passado, que todo mundo sabia que o Felipe Melo poderia ser expulso e que não havia qualidade no banco de reservas. É verdade, mas ele mesmo fez parte do "essa é a seleção", "nosso esporte é torcer pelo Brasil".

Bom, como não sou jornalista e nem tenho compromissos comerciais ou editoriais, aqui vai a minha opinião. Tenho certeza que o João, idealizador e alma deste blog, concordando ou não, colocará a dele nos comentários.
A história começou em 2006, um time de estrelas, atual campeão do mundo, craques em todas as posições e que não tiveram comando da CBF e de Parreira, caindo do próprio salto nas quartas, contra a França.

Como reação foi feito o oposto, sai o estratégico e entra o novato, com garra e força para montar um time de guerreiros. E, como em 2006, passamos da primeira fase devendo futebol, fomos para as quartas devido à fragilidade do adversário e tombamos frente ao primeiro time de real valor. Mudou-se o comportamento, não a eficiência.

O sentimento é diferente hoje, é menos raivoso, é mais angústia do que ira, pois perdemos por limitações e erros de comando, não por vaidade e preguiça. Dói mesmo assim. Machuca por vermos jogadores, que não tem culpa de nada, ralarem para conquistarem os objetivos, superarem lesões, pressão e tudo mais para acabar nas quartas.

Galvão e a Globo já escolheram os culpados, Dunga e Felipe Melo. Será? Eles fizeram algo de diferente do que se esperava deles? Alguém imaginava que Dunga tornaria-se, do nada, grande técnico? Felipe Melo fez o que fez em toda sua carreira, mesclou grandes lances como o passe de hoje e o gol contra a Itália ano passado com o destempero emocional e expulsões imbecis. É a corência que Dunga sempre prometeu.

Os verdadeiros culpados continuam no comando, buscando dinheiro público para o Brasil não passar vergonha na organização de 2014. O que farão agora? Qual vai ser a resposta? Vai-se fazer novamente tudo para respoder as críticas e acalmar a revolta popular? Buscar o oposto de Dunga? Utopicamente espero que não.

No jogo de hoje vimos um primeiro tempo muito bom do Brasil, não caindo na malandragem que a Holanda quis trazer para o jogo, marcando perfeitamente Robben e Sneijder e não deixando os laranjas trocarem passes com facilidade. O gol aconteceu cedo e deu ainda mais moral para o time.

Já o segundo tempo parecia uma tormenta astral, o time começou nervoso e a Holanda conseguiu empatar sem criar nenhuma chance de gol na partida. Na primeira, em um escanteio, fez o 2x1 e, aí sim, mostrou porque venceu todos os seus jogos até aqui desde as eliminatórias.

Aconteceu a justa expulsão de Felipe Melo e não tivemos mais como reagir. Tivemos luta, mas não tivemos time.

Estamos eliminados e não gostaria de ver a carreira de nenhum jogador marcada por isso, vários eu acredito que não deveriam estar lá, mas a culpa não é deles. Gilberto Silva, por exemplo, não estava na seleção de ninguém e jogou uma barbaridade nessa Copa, foi perfeito em todas as partidas, assim com Júlio, Maicon, Lúcio e Juan, melhores do mundo em suas posições.

As críticas podem mirar Kaká, mas também o defendo, pois encarou de frente adversidades físicas e do esquema tático que o isolava, tentando de tudo, dando seu máximo.

O Brasil não tem obrigação de ganhar todos os mundiais, mas tem o dever de ser o exemplo do bom futebol, do espetáculo. Mostrar garra e vontade não é contrário a isso, é complementar.

Fora de campo, desejo que em 2014 façamos uma Copa como esta, com o espírito de congregação entre nações, com veneração às maravilhas que o ser humano pode realizar dentro e fora das quatro linhas. E que dentro de campo vença o melhor, quaisquer que sejam suas cores.

Arnaldo

Um comentário:

  1. Parabéns, Arnaldo. Belo texto. Pena que escrito num momento de tristeza, de aborrecimento, de raiva, entre outros sentimentos, digamos, indesejáveis (?). Essas coisas também nos inspiram. Quero escrever alguma coisa mais adiante. Apenas digo que esta foi a eliminação de Copa em que menos sofri. Estou até otimista com 2014: acho que temos tudo para levantarmos um novo/velho paradigma do futebol brasileiro. Um paradigma que una o resultado - ganhar Copas é, sim, fundamental a um país que se quer "o país do futebol" -, mas não é só. É preciso ganhar e encantar. Ultimamente, a título de montar "equipes equilibradas", valoriza-se extremamente o aspecto defensivo sobre o ofensivo. Isso não é equilíbrio. Esta nossa seleção era limitada - não tinha opções (por opção!!!??? do Dunga) ao esquema contra-ataques e jogadas aéreas. ´
    E muito pobre para o potencial que tem o Brasil. Não levar um talento como Ganso foi uma perda como seria se a Alemanha não tivesse levado Özil, um jovem craque. Além do mais, fomos um time ioiô: oscilamos más e boas partidas; hoje tivemos ambas, cada uma em um tempo de jogo.

    ResponderExcluir