sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Qual Felipão?

Eduardo Maluf




A CBF "apresentou" ontem Luiz Felipe Scolari como técnico da seleção. A questão é: qual Felipão vai assumir a equipe? O campeão da Libertadores de 1995 e 99, mundial em 2002 e vibrante comandante de Portugal ou o desmotivado e acomodado treinador do Palmeiras rebaixado para a Segunda Divisão?

Desde que retornou ao País e ao Palestra Itália, em 2010, Felipão não parece mais aquele líder obcecado por vitórias e por montar grandes times. Seu comportamento até certo ponto apático levou-me a escrever coluna intitulada "A crise de Felipão", em setembro de 2011. Em 2012, apesar do título da Copa do Brasil, manteve-se indolente. Quem acompanhou de perto seu trabalho nos anos 90 e no início da década passada chegou a ficar chocado com a mudança em seu estilo.

Big Phil, como é chamado na Europa, está na lista dos maiores treinadores da história de Portugal e do Brasil por suas notáveis conquistas. Depois de 2006, quando avançou à semifinal no Mundial da Alemanha com os portugueses, porém, não alcançou mais grandes feitos. Foi mal no Chelsea, sumiu no Usbequistão e manchou o currículo com a queda do Palmeiras para a Série B.

Esse simpático senhor de 64 anos tem carisma e é querido por grande parte da população. Tudo isso conta, sobretudo quando falamos de uma Copa no Brasil. Mas... e a eterna conversa de que seleção é momento? Vale para jogador e não para treinador? Ou abrimos exceção? Ele pode, claro, resgatar o entusiasmo ao se ver diante de um novo grande desafio em sua vida profissional. Mas não creio que esta fosse a hora de promovê-lo ao cargo.

Considerei equivocada a demissão de Mano Menezes (também motivada por questões políticas) por acreditar que o menor de nossos problemas estava na comissão técnica. O maior déficit, hoje, é de jogadores. Os principais nomes são jovens demais, como Neymar, Oscar, Lucas. Eles são talentosos, mas precisam de companheiros mais experientes para lhes dar retaguarda. É aí que pecamos.

O sinal de desespero na busca por um líder é a forma como encaramos o retorno de Kaká. Houve um festival de elogios ao meia do Real Madrid depois dos últimos amistosos. Será que José Mourinho não entende de futebol para deixá-lo no banco em quase todas as partidas do Real? Se o brasileiro estivesse no auge da condição, não ficaria fora nem de um conjunto de estrelas como esse espanhol.

A capacidade técnica de Kaká é indiscutível. Faltam-lhe, no entanto, sequência, ritmo, consistência... Tomara que seus problemas físicos tenham, de fato, sido resolvidos, mas só saberemos ao fim de uma temporada inteira.

Não era momento de mudança no comando da seleção - até por não haver nenhum nome com unanimidade para substituir Mano. A amarelinha sozinha já nos põe entre os favoritos em qualquer disputa, independentemente da situação. Mas estamos andando na contramão dos principais adversários e tornando nosso caminho para o hexa cada vez mais distante e esburacado.


Publicado em O Estado de S.Paulo, em 30/11/2012.

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