terça-feira, 20 de novembro de 2012

Na rota do iceberg

Luiz Zanin


Dizem os especialistas que uma falha apenas não basta para derrubar um avião ou afundar um navio. É preciso que várias delas aconteçam ao mesmo tempo e se aliem a erros humanos. Também acredito que uma só causa, por forte que seja, não explique o descenso de um dos gigantes do futebol. Estamos falando do Palmeiras, afinal um octocampeão brasileiro, time de passado invejável. Caiu. Pela segunda vez em dez anos.

Todos já falaram sobre o assunto e mesmo eu quando a queda era provável mas não consumada. E todos fomos unânimes em apontar a incúria administrativa como responsável pelo péssimo desempenho do time, que acabou por levá-lo ao buraco.

Não tenho a mínima intenção de livrar a cara dos dirigentes. São mesmo ineptos a mais não poder – e não apenas no Palmeiras. Além disso, mais usam os clubes (por motivos políticos, vaidade ou razões inconfessáveis) do que o servem. No Palmeiras, o caso fica pior pela interminável disputa interna, o que só agrava as incompetências. E não deixa que os competentes trabalhem, o que parece ter acontecido com Luiz Gonzaga Belluzzo, economista brilhante que simplesmente não conseguiu impor suas ideias no Parque Antártica.

A minha dúvida é se, por ineptos que sejam, esses dirigentes conseguiriam, sozinhos, derrubar um gigante. A minha impressão é que não. Embora sejam os principais responsáveis, pois afinal estão no “comando”, tiveram o auxílio de vários outros fatores para conseguirem levar o Palestra ao abismo.

É possível, também, que parte da torcida tenha dado a sua inestimável contribuição. Foi responsável pela perda de mandos na etapa crucial da decisão. Fazer ameaças num momento desses equivale a jogar um balde de gasolina para apagar o incêndio. Nada a ver com a torcida de verdade, essa que acompanhou e sofreu com o time, lágrima por lágrima. Esta estará lá, na série B, incentivando os jogadores para que o time esteja de volta à série A em 2014.

Há também o aspecto psicológico, aquele lance do “vamos fazer os pontos quando quisermos, etc”, depois da conquista da Copa do Brasil que garantiu a vaga na Libertadores. Esse otimismo simplório deve ter contaminado o elenco – que já não é dos melhores. Como se sabe, a pior coisa do mundo é aliar incapacidade a ego inflado. Essa mistura explosiva pode ter contribuído para o resultado final. Talvez a diretoria tenha imaginado um elenco que não existia na realidade. Os técnicos podem ter se enganado. E pode ser que o próprio elenco tenha participado dessa ilusão coletiva.

Há um aspecto perverso nessa valorização excessiva da Libertadores da América. Adoro o torneio e o acho o mais difícil do mundo, além de ter o nome mais bonito. Mas, que diabos, não é tudo na vida. O Palmeiras, com a vaga assegurada, deu o ano por ganho. Esqueceu do compromisso no Campeonato Brasileiro. Quando acordou, era tarde. Pior: pensou que, como já tinha a Libertadores, não havia nada a temer. Time que está na Libertadores não cai.

É aquela história de que também falam os entendidos: se não achassem o Titanic insubmergível, talvez ele tivesse chegado a Nova York.



Publicado em O Estado de S.Paulo, em 20/11/2012.

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