André Barcinsky
Depois de comemorar o título, todo
torcedor do Fluminense tem uma missão: pedir desculpas a Abel Braga. Ele é o
verdadeiro herói desse time. Ninguém foi tão criticado e soube, com a fidalguia
que prega o hino do Flu, trazer esse título para as Laranjeiras.
Perdoe-nos, Abelão, pelas tantas vezes
em que o xingamos e amaldiçoamos a sua teimosia. Em que reclamamos da retranca
do time e de escalações que consideramos absurdas.
Que torcedor não chiou quando você
insistiu com Bruno na lateral direita? Ou quando escalou Edinho, apesar de toda
a gritaria por Valencia? Ou quando pôs Anderson na zaga? Ou quando manteve
Thiago Neves no time titular, contrariando a torcida e os comentaristas?
Muitos esquecem que alguns dos destaques
do time só o foram por insistência sua. Ou não foi você que promoveu Diego
Cavalieri a titular? Que pediu tranquilidade e paciência na época em que Fred
ameaçou sair das Laranjeiras? Que insistiu com a diretoria para renovar com
Rafael Sóbis? Que não chiou quando perdeu Conca e deu força para os que
ficaram? Que promoveu, com serenidade e paciência, a subida de uma geração de
ouro dos juniores, como Marcos Junior, Samuel e Higor.
Demorou, Abel, mas hoje todos os
tricolores sabem: você estava certo. Seus números dizem tudo: melhor campanha
do segundo turno do Brasileirão de 2011; campeão carioca, melhor campanha na
Libertadores (que perdemos por detalhe e azar, tendo jogado com o Boca sem meio
time); melhor campanha da história dos Brasileiros de pontos corridos em 2012.
Ao longo desse tempo, aprendemos a lidar
com suas idiossincrasias: se estamos ganhando, sabemos que você vai tirar o
Wellington Nem e botar mais um volante. Muitos reclamam, mas, no fundo,
confiamos em você. Afinal, ninguém ganha Libertadores e Mundial de Clubes, como
você fez pelo Inter, enfrentando o favoritíssimo Barcelona, sem sabedoria.
O Fluminense de 2012 aprendeu com o
Corinthians de 2011 que não é preciso dar show para empolgar. Uma defesa sólida
e um contra-ataque mortal são armas poderosas. É um time traiçoeiro e seguro,
que ganhou a confiança da torcida.
Desde o time tricampeão carioca (1983 a
85) e campeão brasileiro (1984), não confiamos tanto num time.
Ontem, em Presidente Prudente, ninguém
se abalou quando cedemos o empate. Sabíamos que a vitória era questão de tempo.
E, Abel, as perspectivas para 2013 são
as melhores: mais uma Libertadores, um novo CT, a recente mudança de estatuto
que criou o sócio-futebol. Muita coisa boa junta.
Para completar, vibramos quando você
gritou "Eu vou ficar!" para a torcida, acabando com rumores de uma
saída. O Flu sem você não faz sentido. De quem vamos reclamar no ano que vem?
ANDRÉ BARCINSKY é torcedor do
Fluminense.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 12/11/2012.
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