sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Jogo dos sete acertos

Tostão
O Barcelona tem várias particularidades. A primeira é que seus três grandes astros, Messi, Xavi e Iniesta, se comportam como cidadãos comuns. Não vestiram a máscara da celebridade. Iniesta chegou ao Japão, pegou um metrô e, na folga, foi passear, sozinho, sem seguranças. Os japoneses devem ter achado que era um sósia. Não poderia ser um Iniesta.

A segunda particularidade é ter, há três anos, mais posse de bola em todas as partidas. Consegue isso porque os jogadores são bons no passe, vários companheiros se movimentam para receber a bola, recuperam-na com facilidade e não a passam para um jogador marcado.

A terceira é, em um mesmo jogo, mudar o esquema tático sem trocar de jogadores. Guardiola, quando quer ter mais um jogador no ataque, troca a linha de quatro defensores para três. Outras vezes, os jogadores se movimentam tanto, que muitos acham que houve mudança tática.

A quarta é ter apenas um típico volante, marcador, Busquets, que é também ótimo no passe. O time não possui também um meia de ligação. Xavi, Iniesta e Fàbregas são armadores, que marcam, organizam e atacam.

A quinta é não cruzar bola na área apenas para se livrar dela. Ninguém dá um chutão. Nem o goleiro, que, às vezes, erra, já que não é um Rogério Ceni.

A sexta é não ter centroavante. Messi é meia, ponta e atacante. O time possui ainda um jogador de cada lado, que marca e ataca. Contra o Real, Guardiola colocou mais um meia (Fàbregas) no lugar do jogador que atua pelo lado (Villa). A única virtude que falta a Xavi e a Iniesta, a de entrar mais na área para fazer gols, é uma das qualidades de Fàbregas.

A sétima particularidade -há outras- é jogar com os zagueiros mais adiantados. O time fica mais compacto, porém deixa mais espaços nas costas dos defensores. Mesmo assim, o Barcelona leva poucos gols. Isso ocorre porque os zagueiros são muito bons, rápidos, o goleiro sabe jogar adiantado, e o time fica a maior parte do tempo com a bola.

O estilo do Barcelona é uma mistura do Santos de Pelé, do Flamengo de Zico e de outras grandes equipes, de todas as épocas, que privilegiavam a troca de passes, como a do carrossel holandês da Copa de 1974, que marcava por pressão e em que os jogadores não tinham posições fixas.
Os técnicos dizem que só o Barcelona pode jogar dessa forma, por ter criado uma escola. É uma meia-verdade. É também uma boa desculpa para a incapacidade de mudar, de arriscar e de sonhar.
* Publicado na Folha de S.Paulo, em 14/12/2011.

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