quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O dia em que acordei pra viver um sonho



 

30 Anos do Título Mundial do Flamengo

Renato Furtado de Oliveira

Me lembro como se fosse ontem. Meu pai me acordou a meia noite, naquela época com onze anos de idade e com a programação televisiva menos noturna, eu dormia cedo, lá pelas nove e meia, então foi um evento "acordar pra ver o Flamengo jogar".

O sol estava a pino, lá em Tóquio é claro, e o uniforme branco que o Flamengo usava naquele dia, diferente do tradicional vermelho-e-preto, parecia combinar com o dia ensolarado, apesar de que o vermelho-fogo do Liverpool, de uma forma agressiva, também combinava. Veríamos no final qual das duas vestimentas seria a roupagem imortalizada.

E por falar em Liverpool, do lado de cá do mundo a gente pensava: "ai Meu Deus, é o Liverpoool..." não é um Cobreloa ou outro time sul americano é o Liverpool !!! Os "The Reds" ! Enfim a imprensa daquela época, já enchia muito bem a bola do futebol europeu, acontece que tinha um cara aqui, um cabeludão, na dele, que ou por não acompanhar assiduamente esta imprensa ou simplesmente por ninguém ter avisado ele com "quem" iriam jogar, simplesmente tratou os vermelhos com o mesmo respeito que tratava o Vasco, Atlético, Corinthians ou o Olaria: GOL !

Logo no inicio do primeiro tempo, nem tinha chegado aos quinze minutos, ele foi buscar a bola lá no meio de campo, onde, depois de uma tabela, deixou ela de calcanhar para o Mozer, grande zagueiro, inteligente e por isso mesmo passou logo a bola pro Maestro da orquestra rubro-negra, o Galinho de Quintino, isso mesmo ele: Artur...Zico ! Do meio de campo, com um lançamento de precisão cirúrgica, colocou a bola nos pés de Nunes que sem muita firula, com um toque deslocou o goleiro e correu pra galera nipônica que enchia os olhos com aquele futebol.

O segundo gol saiu dos pés do Maestro novamente, na arte que ele dominava como ninguem: cobrança de faltas. O goleirão não conseguiu segurar e no bate rebate Adilio coloca pra dentro.

Nesta altura o meu nervosismo ia se transformando aos poucos em euforia, os músculos da testa relaxando e o das bochechas se esticando, mostrando os dentes, os olhos brilhando, naquela ocasião de admiração e neste momento, que escrevo, de emoção.

Raul (Plasman), Adilio, Andrade, Tita, Nunes, Junior, Mozer, Leandro, só tinha fera naquele time ! O mercado europeu não estava tãããão aquecido ainda e podíamos curtir um pouco mais nossos craques nos nossos times sem ter que torcer para dream-teams multinacionais. Na verdade, era um tempo de transição entre aquele futebol romântico da era Pelé/Garrincha para os contratos comerciais midiáticos de hoje.

Pra fechar a goleada, advinha quem, novamente com um passe raro de see ver hoje em dia, deixou a linha burra dos Reds totalmente confusa e perfurando a defesa, como se já soubesse desde o primeiro momento que Zico tinha pegado na bola onde ela estaria dali poucos segundos, correndo feito um louco novamente o "Artilheiro das Decisões" como era chamado, fez valer sua alcunha. Na entrada da área, acoçado por um zagueiro e outro se aproximando, ele podia ter driblado e chutado de esquerda, ele podia ter chegado mais perto e tocado por cobertura na saída do goleiro, ele podia ter feito um punhado de coisas, inclusive errado, mas ele não fez nada disso. Ele simplesmente chutou, com força, com determinação, com vontade de fazer, sem piedade ou respeito, ele fez o terceiro e fechou a goleada.

Então, eu lembro, caí de joelhos e agradeci aos céus por ter nascido na década de 70, pra ver aquele time dos sonhos da década de 80, naquele dia iniciando de forma tão gloriosa uma década inesquecível !

Lembro ainda, que antes da partida, se exibiam dois carrões "top" da Toyota, marca que nem sonhávamos em ter por aqui: Um seria pro melhor jogador em campo e outro para o artilheiro da partida. Nem isso pode ficar de consolação pros ingleses. Claro, um foi pro cabeludão "sem respeito" e outro pro Maestro.

E até hoje lembro de ir dormir em estado de êxtase e poucas horas depois acordar e ir pro clube onde jogava bola com os colegas, com o peito estufado, vestindo uma linda camisa branca com a insígnia do Flamengo. Sorriso largo na boca, sem precisar falar nada, meus ídolos tinham falado por mim. Minha mente agora só trazia um pensamento: SOU CAMPEÃO DO MUNDO !

 
Renato Furtado de Oliveira,
41 anos, Formado em Engenharia Engenharia Eletrica na Universidade Federal de Uberlândia,
Hoje trabalha como Agente Fiscal de Rendas do Estado de São Paulo
Flamenguista, colaborou com o Ludopédicas.

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