sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Fácil, mas dolorido




Barcelona 4x0 Al Saad
Mundial de Clubes 2011



Onze em cada dez comentaristas diziam não haver a menor chance do frágil catariano Al Saad desbancar o quase perfeito Barcelona. A previsão foi confirmada. Porém, a partida não foi um mero cumprimento de tabela, revelando algumas pistas ao Santos e um grande prejuízo ao escrete catalão.

Comecemos pelo fim. A perda de David Villa - que teve confirmada fratura na tíbia - será sentida pelo Barça, não apenas neste Mundial, mas, principalmente, na continuidade do campeonato espanhol. É certo que o atacante - maior artilheiro da história da seleção espanhola - não vive sua melhor fase. Aliás, vem iniciando as últimas partidas no banco, dando lugar ao chileno Alexis Sanchez. Por azar, também o substituto saiu contundido, sentindo dores musculares, e é dúvida para a final de domingo.

Em que pese a má fase de Villa, o atacante não deixa de ser uma “peça” importante no time de Pep Guardiola, que não se resume a onze titulares. Ontem, aliás, isso ficou claro. O jeito do time jogar, o, digamos, “padrão Barça de qualidade” é mantido mesmo com substituições de jogadores que muitos poderiam achar imprescindíveis. Já disse, e repito: o Barça de Guardiola é fenomenal como conjunto, não como soma de ótimas individualidades, ainda que estas, óbvio, existam. Nem mesmo Messi, o melhor do mundo, é imprescindível nesse time. Ontem, inclusive, a equipe esteve desfalcada - de propósito, para preservá-los - de Piquet, Busquets e Xavi, sem que mudasse em uma vírgula na sua excepcional qualidade.

Além de ter opções no elenco capazes de manter o padrão coletivo, foi possível constatar outra vantagem desse time: a capacidade de variar taticamente. O Barcelona não muda sua filosofia de jogo - toques exaustivos, formação compacta e adiantada, supremacia absoluta na posse de bola, não rifar a bola ou dar chutões, fazer a bola girar da direita para a esquerda e da frente para trás, e vice-versa - mas é capaz de variações interessantíssimas. Por exemplo: via de regra, o time joga com uma linha de quatro atrás e seis (quando sobe um lateral, geralmente Dani Alves) do meio para frente, trocando passes até encontrar o espaço para a finalização. Ontem, sabedor da fragilidade do adversário, o time espanhol foi ainda mais ousado: montou uma linha de três atrás (Abidal, Puyol e Mascherano), com todos os demais adiantados: Adriano (na direita), Thiago Alcântara, Keita, Iniesta, Messi, Pedro e Villa.

Em ritmo de treino, o Barça foi se impondo, encurralando cada vez mais o adversário. Erro fatal do Al Saad: não contra-atacar. Não por falta de vontade e instrução do seu técnico, o uruguaio Jorge Fossatti, mas por abismal diferença técnica entre as equipes. Quando o fez – eis a melhor informação para o Santos -, em duas únicas oportunidades, no final do primeiro tempo (Kader Keita, aos 44, e Niang, aos 45 minutos), criou perigo ao gol de Valdes. Ou seja, a grande chance do Peixe sair campeão no domingo está, além da atenção constante na marcação, em montar e não desperdiçar contra-ataques.

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Independentemente do quão forte ou fraco seja o adversário, é impressionante a forma que o Barcelona sempre joga, encurralando-o. Se o adversário se arvora em jogar de igual para igual, é abatido no primeiro espaço dado. Se monta uma retranca, ainda mais se não tem competência em aproveitar contra-ataques, o Barça toca a bola com paciência de jó, até furar o bloqueio. Também impressionante é a multifuncionalidade dos jogadores nesse esquema: os volantes viram zagueiros e vice-versa, os meias viram atacantes e vice-versa, os laterais viram zagueiros e vice-versa.

Confesso que, juntamente com o São Paulo de 92, o Flamengo de 81 (que está completando 30 anos do título mundial) e a seleção brasileira de 82, o Barcelona de Guardiola é a exceção a todos os times que vi. Já assisti a ótimas equipes, mas sempre com um que de normalidade. Essas foram as únicas “anormais”, excepcionais, fora do comum que tive o prazer de assistir.

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A diferença fundamental entre Barcelona e Santos é que aquele se caracteriza pelo conjunto, este, por individualidades. O toque do Barça se contrasta com o drible do Santos, especialmente de Neymar. Justo por isso, Neymar faz muito mais falta à equipe brasileira do que Messi à espanhola.

No domingo, penso que nem Santos deve jogar como jogou contra o Kashiwa, nem Barça como jogou contra o Al Saad. O Santos porque descobriu a fragilidade de manter Durval improvisado como lateral esquerdo, sobretudo com o retorno de Daniel Alves. Aposto que Danilo atuará como volante, compondo o setor de marcação no meio com Arouca; neste caso, Elano ou Henrique deve ser sacrificado, e Pará deve ocupar a lateral direita. Já o Barcelona deve ser um tanto mais precavido, porém não menos criativo e poderoso. Caso Alexis Sanchez não possa jogar, Fábregas deve substituí-lo. E devem voltar Piquet, Busquets, Xavi e Dani Alves.

JFQ

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