
Os meninos de sete anos da época de Leônidas deviam se orgulhar da jogada que ele criara e operava como ninguém: a bicicleta. Não me lembro de nenhuma bicicleta dada por meu ídolo. Assim como não me lembro de ninguém usar o calcanhar com tamanha habilidade e visão de jogo como ele.
Compreendo os guris de Minas que aos sete anos idolatravam o atleticano Reinaldo e o cruzeirense Tostão. Como aquele, meu ídolo marcava gols e comemorava com o braço esticado para cima e o punho cerrado. Como este, também era doutor e vestia a oito.
Vi crianças de sete anos idolatrando Ronaldo e venerando Romário. Logo surgiram as comparações. Quem era melhor? Quando eu tinha sete anos, meu ídolo era comparado a Zico. Acho até que este era melhor, mas o bom é que estavam juntos na seleção de Telê, a melhor de todas para mim. E, como meu ídolo, Zico também sabia alegrar o povão, brilhando em um clube de massas. Multidões que se entristeceram quando o Galinho saiu do Flamengo, assim como eu e outros tantos milhões lamentamos a despedida do nosso ídolo rumo a campos italianos. Logo a Itália, quanta injustiça!
A propósito, consigo até enxergar os pequenos holandeses de 74 e os garotos húngaros de 54, inconformados por não verem Cruyff e Puskas campeões do mundo. Desde criança, não admito que meu ídolo, capitão do mágico escrete de 82, tenha deixado de levantar o caneco.
Nos anos 90, seu irmão Raí foi idolatrado por pequenos são-paulinos. Também começara em Ribeirão, também jogava de modo elegante. Tinha um físico bem mais atlético, é verdade. E – coisa de família? – também se revelou um cidadão genuíno, participativo, politizado a ponto de apresentar suas demandas, de expor suas opiniões, de buscar um Brasil melhor. Muito embora tivesse o perfil de bom-moço, e não o de intelectual boêmio, como o do meu ídolo. Ainda que não tivesse ajudado a construir uma inusitada democracia em tempos de ditadura.
Meu ídolo tinha nome de filósofo e fama de inteligente, ao contrário do ingênuo e folclórico Garrincha. Mas, como Mané, era PhD da bola. Penso que os meninos com sete anos em 62 jamais aceitariam que a bebida, e não os zagueiros, seria capaz de derrubar seu ídolo. Eu, pelo menos, não consigo aceitar.

Ontem foi um dia, ao mesmo tempo, feliz e triste. Ontem, nosso time foi campeão e meu ídolo morreu. Lembrei-me da primeira vez que comemorei um título do nosso time. Meu ídolo jogou, foi o principal responsável pela conquista. E eu tinha sete anos.
JFQ
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