terça-feira, 31 de maio de 2011

O estilo Barcelona

Paulo Vinicius Coelho

 

Uma enquete do diário Marca, na Espanha, apontou que 89% julgam o Barcelona o melhor time da história. Mesmo sem valor científico, a pesquisa impressiona. Ainda mais porque o jornal é conhecido por sua ligação com o Real Madrid. A melhor resposta sobre esse assunto foi de Josep Guardiola: "Houve outras grandes equipes, algumas que não vi jogar, como o Milan de Sacchi, o Real de Di Stéfano, o Santos de Pelé. Fico feliz por saber que daqui a vinte anos, este Barcelona será lembrado assim".

Troque uma palavra. Em vez de melhor, único. O estilo do Barcelona não está apenas na posse de bola, nem na troca constante de passes. Está no jeito de marcar. Dos times citados por Guardiola, nenhum marcava por pressão por tanto tempo. Só o Milan de Sacchi, a Holanda de Michels, o Ajax de Kovacs avançaram a marcação, mas não havia preparo físico para jogar dois terços das partidas assim, como o Barça faz.

O jogo do Barça é arte, porque o time tem força. Não se tem a bola por tanto tempo sem retomá-la. E não se retoma no campo de ataque se não houver preparo físico para fazer isso. "Um jogador da seleção me disse que os adversários correm tanto atrás do Barcelona que, quando têm a bola, não conseguem chegar na grande área", disse Mano Menezes.

E ainda tem Messi! O melhor do mundo é único e joga numa posição exclusiva. Centralizado no ataque, recebe sempre às costas dos volantes. Quando Carrick voltava para bloqueá-lo, Iniesta ficava livre. Quando Giggs tentava acompanhá-lo, Xavi se liberava. Se Park tentava persegui-lo, esquecia Daniel Alves.

Na mesma medida em que os marcadores procuram por Messi, os observadores buscam adjetivos. O mais brilhante foi o ex-auxiliar de Alex Ferguson, Brian Kidd: "O Barcelona é a melhor coisa do futebol desde a invenção da bola".



JOGADA ENSAIADA

Recuo estratégico. Na sequência de clássicos com o Real Madrid, o Barcelona só foi parado na pancada. Mas é de se lembrar como José Mourinho marcou Messi. Tirou Pepe da zaga e colocou-o à frente dos beques, atrás dos volantes. Lembre-se que, antes da expulsão do luso-brasileiro na semifinal, o Barça empatava por 0 a 0. Depois do cartão vermelho, Messi marcou duas vezes.

Pressão de Muricy. O atual técnico da seleção brasileira, Mano Menezes, conta que costumava treinar maneiras de sair da marcação pressão quando enfrentava o São Paulo de Muricy Ramalho. Não há milagre, claro. Mas o treino consistia em jogar nas costas da pressão.

Ou seja, com passes curtos, criar triangulações que façam a bola chegar atrás do jogador que avança na marcação. Na derrota do Barcelona para o Arsenal, nesta Liga dos Campeões, o segundo gol inglês nasceu de uma jogada assim. Saiu da pressão e chegou ao campo de ataque livre.


* Publicado em O Estado de S.Paulo, em 30/05/2011.

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