quinta-feira, 26 de maio de 2011

Competitivo e banal

Tostão


Hoje, o Santos deve ter dificuldades para vencer o Cerro Porteño. Muricy Ramalho precisa criar opções de ataque. O time não pode depender tanto de Neymar.

Mudo de assunto.

Jogar de contra-ataque não significa, necessariamente, formar uma retranca. Sempre que a bola é recuperada, inicia-se o contragolpe. A equipe que toma a bola mais à frente é ofensiva e contra-ataca bastante.

Paulo César Carpegiani mostrou, contra o Fluminense, que sabe armar um time para jogar de contra-ataque e na defesa, com oito jogadores bem posicionados, marcando no próprio campo. Qualquer bom técnico sabe fazer isso, ainda mais quando tem dois atacantes rápidos e hábeis, como Dagoberto e Lucas. Dagoberto evoluiu bastante e aprendeu a finalizar. Lucas é um atacante. Não é jogador de meio-campo.

Mas Carpegiani não quer só isso. É um treinador inquieto, que gosta de futebol bonito e de criar variações. O que deveria ser virtude passa a ser deficiência quando não se consegue vitórias. O lugar- -comum conspira contra o treinador. O futebol, espelho da sociedade, só pensa em resultados. É o mundo competitivo e banal.

O Barcelona, por conseguir unir eficiência com beleza e qualidade, passou a ser símbolo da resistência contra o senso comum. O time catalão possui as principais virtudes dos grandes times do passado e do presente. Mas não foi fácil chegar a esse ponto. Os operatórios são cada dia mais numerosos.

O Barcelona é a única equipe do mundo que costuma marcar por pressão na maior parte do tempo, que atua com apenas um volante (Busquets), que não faz lançamentos longos nem cruzamentos para a área, para se livrar da bola e contar com a sorte, e que, em qualquer estádio, gosta de ficar com a bola. Por isso e por tomá-la com facilidade, tem, em todas as partidas, desde maio de 2008, maior posse de bola que o adversário.

Já o Manchester United, além de ter ótimos jogadores, é o maior representante do futebol equilibrado, organizado e regular. Raramente erra e perde. Mas é um time comum. Faz o que outros grandes fazem. A diferença está em executar melhor o que foi planejado.

Não será surpresa se o Manchester for campeão da Europa. Não será por um jogo que vou mudar meus conceitos. Se o Barcelona vencer, o que é mais provável, quem sabe surjam outros técnicos preocupados não somente com a vitória, mas também com a qualidade e a beleza do espetáculo.


* Publicado na Folha de S.Paulo, em 25/05/2011.

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