terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Na Europa pode. Na Europa não pode. E daí?


São Paulo x Santos, tradicional clássico San-São. Robinho está de volta ao time da Vila, começa no banco e é a grande atração do jogo. Porém, antes mesmo que Robinho entre em campo, os garotos de seu time – em especial, Paulo Henrique e Neymar – mostram que o Santos não está para brincadeira. Ou está, no bom sentido: no sentido lúdico do futebol-arte, tipicamente brasileiro. Pênalti para o Santos, Neymar bate com uma paradinha magistral, jogada eternizada por Pelé, “humilhando” o goleiro são-paulino, nos dizeres maliciosos dos narradores. Um ranzinza Rogério Ceni, que também já converteu pênalti com paradinha, esquecido disto, diz a Neymar mais ou menos assim: “Aproveite para fazer isso aqui, pois quando for jogar na Europa, lá não pode”. Pergunto: não pode por quê? Ah, porque o Blatter não gosta, porque humilha o goleiro, coitado. E, razão essencial: porque configura “atitude antidesportiva”! Tá, mas por que a paradinha é atitude antidesportiva? Porque ilude o goleiro, porque não lhe dá a menor chance de defesa, coitado (de novo), porque faz com que outros jogadores invadam a área, porque... Por mais porquês que surjam, o argumento não me convence. A mim soa como um daqueles “argumentos” que buscam desqualificar o drible, como se fosse humilhação, “atitude antidesportiva”, e não a própria essência da beleza do futebol. Coisa de quem prefere o zagueiro Domingos a Ronaldinho Gaúcho no seu auge. Pobre Garrincha: jogasse nestes tempos, seria expulso a bem da preservação da dignidade dos “joões”! Aliás, por que não se considera com a mesma veemência atitude antidesportiva um time travar o jogo com faltas a todo instante? Ah, mestre Telê, mesmo que não lhe servisse a pecha de antidesportivo, avesso à utilização das faltas como estratégia de jogo, não se adequaria a esse tal futebol moderno, nascido, criado e desenvolvido no Velho Continente.


A propósito, Roberto Carlos deu um carrinho criminoso no último Corinthians x Palmeiras, em lance muito parecido com outro, protagonizado pelo zagueiro Danilo no penúltimo Corinthians x Palmeiras, e foi expulso. Roberto Carlos; Danilo não. Quem acertou e quem errou: Wilson Luiz Seneme, que expulsou o lateral corinthiano, ou Heber Roberto Lopes, que deixou de expulsar o zagueiro palmeirense? A mim a questão é claríssima, como a regra para Arnaldo César Coelho: já que futebol não é jiu-jitsu ou capoeira, carrinho duro, por trás, é vermelho direto! Não obstante, lá vêm os argumentos dos globais e civilizados comentaristas: na Europa esse tipo de jogada não seria sequer falta. Jesus!!! Qual a conclusão? Que devemos copiar a Europa? Não seria por isso que quase se encerraram as carreiras de Juninho Paulista, quando jogava no Middlesbrough, e de Eduardo da Silva, no Arsenal, ambos em campos ingleses, dentre outros, vítimas de entradas duríssimas?!

Sem apelar a discursos ufanistas bobos, por um lado, ou fazer concessões de espírito colonizado, por outro, o fato é que o Brasil é o Brasil e a Europa é a Europa, para o bem e para o mal. O futebol brasileiro é diferente do europeu em estilo, beleza, eficiência. Como diria José Miguel Wisnik, recorrendo a Pier Paolo Pasolini, no livro “Veneno-Remédio: O Futebol e o Brasil” (Companhia das Letras, 2008), o futebol brasileiro expressa-se como poesia, enquanto o europeu o faz como prosa. Aprendamos com as coisas boas do futebol europeu, onde estão os principais craques do mundo. Mas, pelo amor de Deus, copiemos deles só a parte boa. E preservemos o que em nós há de bom, lembrando sempre que somos nós, brasileiros, os maiores campeões mundiais.

JFQ

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