terça-feira, 16 de agosto de 2011

A fase anal do poder

Xico Sá


Amigo torcedor, amigo secador, na minha mania de Freud de botequim, refletia, com os cavalheiros da távola redonda, ainda sobre essa história, repetida ad nauseam, da oratória suja do senhor Ricardo Teixeira, o tutacamon da CBF.

Isso mesmo. Recapitulávamos a oralidade do mandatário, especialmente o episódio do "montão" de dejeto humano que diz despejar sobre a cabeça dos jornalistas que teimam em revelar o óbvio sobre o seu mandato perpétuo.

Não seria, amigo, manifesta confissão de quem não conseguiu ultrapassar a tal fase anal, a que se passa ali entre os dois e os quatro anos de idade?

A diferença, recorrendo à sabedoria do Dr. Sigmund, é que, no caso do cartola, talvez haja noção clara e consciente da sujeira que se pratica dentro de casa. Não existe, porém, a menor possibilidade de evolução para distinguir o sujo do mal-lavado, principalmente quando o assunto é dinheiro.

No pobre diagnóstico de boteco, também concluímos que o apego do dirigente à sujeira evita o famoso "tchau" que o pirralho dá às fezes durante a citada fase freudiana. A pequena criatura se orgulha de fazer cocô no lugar certo, mas se despede da sujeira.

Com o mandatário do futebol verde e amarelo, o desejo manifesto, a tomar pela sua oralidade, é emporcalhar os supostos adversários, como a imprensa que se rebela diante dos seus podres.

Dá para viajar um montão na leitura, com toda licença aos profissionais do divã, da fala ricardiana. Provavelmente outras interpretações bem mais humoradas e inteligentes aparecerão amanhã à tarde na avenida Paulista, local da marcha "Fora Ricardo Teixeira".

Uma coisa que não tem faltado a essa rapaziada que protesta nas ruas é juntar humor e política. Talvez acreditando no velho ditado latim "Ridendo castigat mores", ou seja, rindo corrigimos os costumes.

Tomara que a frase, citada de "O Carapuceiro" -jornal recifense da primeira metade do século XIX- ao grande esculhambador-geral José Simão, faça todo o sentido do mundo nos próximos meses. Só, assim, quem sabe, o alvo da passeata perca a sua garantia até a próxima Copa.

Sonha, meu filho, sonha, como dizia minha santa mãezinha dona Maria do Socorro. Sonha, meu filho, pois sonhar ainda é de graça aqui na serra do Araripe. Motivo é o que não falta para ir às ruas, ainda a mais eficiente das redes sociais da humanidade, e dizer um montão para o cara.

@xicosa
* Publicado na Folha de S.Paulo, em 12/08/2011.

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