terça-feira, 7 de agosto de 2012

Moderno e romântico

Paulo Vinicius Coelho


O jornalista argentino Roman Lutch escreveu a biografia de Marcelo Bielsa (La Vida por el Fútbol - O último romântico). No capítulo da chegada do treinador campeão olímpico de 2004 à seleção do Chile, Bielsa define os princípios básicos do futebol moderno em três pontos: pressão, rotação e ataque.

A seleção de Mano Menezes tenta repetir esses princípios, mas sem alcançar resultados tão explícitos quanto os de Bielsa na Argentina campeã olímpica em Atenas. O Brasil joga com bola no pé, marca pressão - mas nenhum de seus 12 gols olímpicos nasceu de bola roubada na frente - e jogou seu melhor futebol quando fez Hulk, Oscar e Neymar mudarem de posição constantemente.

Não aconteceu contra Honduras.

Se não acontecer contra a Coreia do Sul, o Brasil terá problemas. A seleção sul-coreana joga com duas linhas de quatro bem estreitas. É diferente da ofensiva seleção sul-coreana treinada por Guus Hiidink, semifinalista da Copa do Mundo dez anos atrás com Hong escalado como líbero.

Uma das tentativas de Mano Menezes é deslocar Oscar para o lado do campo e jogar com Neymar por dentro, atrás dos volantes, perto do centroavante. Pode ser perfeito contra a Coreia.

Aberto pela esquerda, Neymar tornou-se previsível contra o Egito, em parte do jogo contra a Bielorrússia. Contra Honduras, os dois gols de bola rolando nasceram quando saiu da ponta para o meio, arrastando seu marcador.

Se não há rotação, não há futebol moderno, ensina Bielsa.

Sem pressão, também não. O Brasil precisa ainda acertar o momento de marcar no ataque e tomar a bola lá. O resto é atacar.

As lições de Bielsa levaram a Argentina a sua primeira medalha de ouro, oito anos atrás. Aplicá-las amanhã é a melhor maneira de o Brasil sair da caixa de fósforos com a qual os sul-coreanos tentarão defender-se.


 

Publicado em O Estado de S.Paulo, em 06/08/2012.

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