quarta-feira, 15 de agosto de 2012

"Keep Tense and Carry On"

Lúcio Ribeiro


Amanhã o Brasil pega a Suécia em amistoso festivo que serve de despedida do estádio em que ganhamos a Copa de 1958 e onde começamos a assombrar o mundo. Tudo neste noticioso trecho inicial é verdade.

Mas, além da simples notícia, ele é muito irônico. Alegria, tristeza, começos, fins. O clima não é de festa. É de funeral.

A dois anos de uma segunda Copa do Mundo em casa, tal amistoso vem poucos dias depois de o Brasil perder a Olimpíada mais ganha da história, batendo rivais fracos e perdendo a final para o primeiro selecionado médio que enfrentou. Isso com o "time-base" do Mundial-14, sob o comando do técnico "ideal" do Mundial-14, carregado pelo suposto futuro melhor jogador do planeta na projeção para 2014 etc.

O fiasco olímpico veio mostrar que continuamos a assombrar o mundo. Mas, desta vez, do modo negativo. Em 2011, o grito foi forte contra uma certa capa da revista inglesa "Four Four Two". O título da publicação era impiedoso: "A morte do Brasil". E trazia o símbolo da nossa camisa com um "RIP" (descanse em paz, do inglês "rest in peace") em vez de "CBF", a sigla da nossa empresa regente, da qual os ingleses adoram lembrar os escândalos.

Foi um sinal claro de que os gringos, principalmente os ingleses sempre tão apaixonados pelo Brasil, não estavam mais engolindo o "joga bonito" da propaganda. E, sem discutir os (bons) argumentos da reportagem, se ela fosse publicada agora, não ia ter muitas vozes contrárias. O que vai acontecer do pontapé inicial deste Brasil x Suécia de amanhã até o pontapé inicial do primeiro jogo do Brasil na Copa-14 move perfeitamente o mantra que virou título desta coluna, alusão contrária à famosa frase "Mantenha a Calma e Siga a Vida".

O Brasil ainda consegue façanhas. Para citar dois jogadores recém-vendidos e um cobiçado, Lucas e Oscar foram comprados por cifras astronômicas. Neymar é "incomprável". (Mesmo com a bola que vem jogando, continua um produto em alta. Basta ver esta Folha, com dois anúncios gigantes do jogador ao lado de textos sobre seu fracasso na edição de domingo. Neymar, fora do comercial contra a caspa, só apareceu mais quando foi vaiado.)

Vender jogadores por fortunas é um milagre que nosso futebol continua operando. Um caso algo recente, do atacante Keirrison (R$ 41 milhões para o Barcelona, sem nunca ter jogado pelo clube catalão), é exemplo didático-ilustrativo.

Claro que o Brasil fez por merecer ser chamado de "país do futebol" um dia, mas há tempos que o marketing do "joga bonito" é maior do que a realidade. Não faz sentido ver uma placa no Manchester Stadium dizendo que ver o City é como ver o Brasil jogar. Não em tempos de Barcelona e Real Madrid. Continuamos enganando o mundo. Mas eles estão caindo cada vez menos. E daqui a dois anos vêm nos visitar.


Publicado na Folha de S.Paulo, em 14/08/2012.

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