quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Para que franquia você torce?



Em 2010 fui a Nova York e assisti a uma partida da NFL, o campeonato de futebol americano. NY Giants versus Detroit Lions, no belíssimo estádio New Meadowlands (ver vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=Eq55qRxdlIU&context=C3f78fb3ADOEgsToPDskI6OyyXFfEi6vFZjm-UTTfN). Peguei gosto pela coisa. De lá para cá, após me tornar torcedor fiel do Giants, acompanho jogos da NFL com considerável assiduidade. No último domingo, eis que “meu” time sagrou-se campeão do Super Bowl 46. Comemorei feito bobo, após passar sufoco e desfolhar todo repertório de mandingas já testadas e aprovadas em pelejas do Corinthians, meu time de “soccer”, eternamente e acima de todos em meu coração. Já trato Manning, Nicks, Cruz e Jacobs com a mesma intimidade com que aplaudo e xingo Júlio César, Liedson, Ralf e Paulinho. Ou quase.

Só que há os senões, os obstáculos que nem um torcedor avesso às acusações de estar americanizado (agora sei o que passou Carmem Miranda) é capaz de transpor. O maior exemplo: não dá para torcer para uma “franquia” como se torce para um time. É quase um crime de lesa-torcida na cultura ludopédico-brasileira entregar a taça ao “dono da franquia”, e não ao capitão, representante da “nação”, do escudo adorado por milhões de apaixonados. No caso do futebol americano – como, quiçá, do futebol (soccer, futebol mesmo!) inglês –, o time tem um dono. Pode ser vendido e comprado quando bem entenderem os investidores do mercado. Capitalismo demais para o meu gosto! Diga a um corinthiano roxo, crente na tese de que não pertence ao time, mas que este, sim, lhe pertence, que o Timão pode ser comprado e vendido por um simples e endinheirado mortal! Tá louco, mano! Eis uma diferença não apenas esportiva, mas, acima de tudo, cultural. Gritante, muito maior do que as diferenças de regras e características do futebol jogado com os pés (como o nome diz) e o futebol jogado com as mãos.

Outras diferenças interessantes envolvendo os dois “futebóis” podem ser destacadas: 1) como se dá a formação do jogador no futebol (Brasil e mundo afora) nas peneiras e bases dos clubes e como as universidades forjam os jogadores do futebol americano, geralmente inseridos nas franquias pelo chamado draft; 2) os estádios do futebol americano são enormes e lotados e os de futebol vêm encolhendo (por aqui virou moda achar que estádio moderno é pequeno); 3) o americano não suporta empates, enquanto para os adoradores do futebol esse resultado é visto como normal; 4) a TV já dominou o futebol americano, fazendo parte da própria contagem de tempo (o two-minute warning, parada de jogo para intervalos comerciais, afetando as estratégias das equipes), enquanto por aqui não admitimos tanta interferência, em que pese o poder da Globo em determinar horários de partidas e outras coisas mais; 5) a estatística é essencial às estratégias e análises do futebol americano, enquanto no futebol, apesar de ter crescido exponencialmente, o comentário com base estatística é nitidamente forçado e pouco esclarecedor (a propósito, Sócrates dizia que no futebol um time pode ser superior em todos os quesitos estatísticos e perder a partida, e que o futebol como arte entrou em decadência na mesma época em que a estatística passou a ser presença constante dos comentários); 6) o tempo no futebol americano tem contagem aberta a todos, dependendo da circunstância para, dependendo não, e os jogadores trabalham o tempo sem utilizar a cera, usual no nosso futebol, em que o tempo é corrido e observado exclusivamente pelo árbitro; 7) no futebol americano, a tecnologia auxilia a arbitragem e as equipes (é possível desafiar decisões da arbitragem), enquanto no “esporte bretão” muito se discute e nada se aceita sobre utilização de recursos tecnológicos. Bem, essas são algumas das comparações possíveis, que serão melhor desenvolvidas em outra oportunidade.

JFQ

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