O Brasil enfrentou Zimbábue e Tanzânia como últimos amistosos de preparação para a Copa do Mundo. Considerando apenas o placar, foram vitórias fáceis: 3x0 contra o Zimbábue, 5x1 contra a Tanzânia.
Primeira ponderação: considerando a fragilidade dos adversários, não foi lá um teste muito válido para a seleção. De qualquer forma, algumas lições podem ser tiradas.
O poderoso sistema defensivo do Brasil, grande mérito do novato treinador Dunga, mostrou suas falhas. Contra o Zimbábue, antes de abrir o placar, a seleção sofreu três ou quatro ataques bastante perigosos. Dependeu um pouco da sorte para não estar atrás no marcador. Também contra a Tanzânia, o Brasil mostrou seus momentos de desatenção, além da ansiedade de Felipe Melo, que às vezes confunde garra com brutalidade. É um sério candidato a expulsões durante a Copa.
No entanto, como em outros jogos nesses quase quatro anos sob o comando de Dunga, após o gol o Brasil se solta e o jogo fica fácil. Aliás, o Brasil é sempre superior quando o adversário se abre e parte para cima, o que sempre acontece quando está em desvantagem no placar.
Eis a constante da seleção de Dunga: jogos difíceis contra seleções mais fracas, que jogaram recuadas (Colômbia, Venezuela, Bolívia) e jogos bons contra seleções fortes e que partiram para cima (Itália, Argentina, Inglaterra). Evidência dos pontos fortes e fracos da nossa seleção.
Ponto forte: além da boa defesa, um contra-ataque fulminante. A bola sai da defesa e chega ao gol adversário com uma rapidez impressionante, levada, no mais das vezes, pelos laterais, pelos meias e atacantes mais leves. Aliás, essa arma fica ainda mais poderosa quando Ramires ou Daniel Alves é um dos volantes.
Ponto fraco: o Brasil passa boa parte do jogo com muita dificuldade na saída de bola, quiçá pela ausência do tal meia de ligação. Ou seja, o Brasil é bom de contra-ataque, mas nem tanto de ataque propriamente dito. A criação das jogadas ofensivas depende muito de como o adversário se coloca em campo, o que é preocupante, especialmente por não termos opções no banco capazes de produzir uma mudança tática quando necessária.
Voltando a Felipe Melo, o volante ganhou a confiança de Dunga com razão, pelas boas apresentações na seleção. Muito embora esteja mal na Juventus e venha mostrando uma afobação que precisa ser contida. Junto com Gilberto Silva compõe uma dupla de volantes pesada, sem criatividade na saída, mas sólida na marcação. E é isso que Dunga quer.
E, podem me xingar: acredito que Josué e Ramires dão conta do recado, cada um a seu modo, quando forem requisitados. Só não compreendo a presença de Kleberson como opção no banco, ainda mais porque Daniel Alves também pode fazer – e melhor – a função que o flamenguista faria. Aliás, há sim uma razão: Kleberson só foi convocado porque Dunga não terá pressão constante para colocá-lo em campo como teria caso convocasse Ganso ou Ronaldinho. No entanto, a seleção perde muito em possibilidades táticas, o que, mesmo os joguinhos chochos contra Zimbábue e Tanzânia mostraram que pode, sim, ser uma necessidade durante a Copa.
A preocupação ficou por conta de Júlio César, que sentiu dores após lance no jogo contra o Zimbábue. Gomes deu conta do recado, porém, nem ele nem nenhum goleiro é capaz de passar a segurança de Júlio César, hoje o melhor arqueiro do futebol mundial.
Boa notícia: Robinho está bombando. Está com vontade e em boa forma física e técnica. Quem sabe venha dele a motivação para que o Brasil mostre seu melhor futebol.
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Futebol e Política
Ponderação final: A imprensa brasileira deu uma cobertura exagerada, na minha singel opinião, ao associar o amistoso do Brasil contra Zimbábue como concessão a uma ditadura. Certo, Mugabe é um ditador, Zimbábue não é um regime político a ser aplaudido, muito menos copiado, etc. Só não acredito que se deva escolher adversários em campo seguindo cálculos e juízos políticos. Caso contrário, o Brasil deveria recusar a própria estréia contra a Coréia do Norte, país do sinistro presidente Kin Jon Il.
A propósito, tenho seríssimas dúvidas quanto à associação que boa parte da imprensa tenta dar entre futebol e política. Que o digam as “teses” sobre vitórias da seleção em Copas e benefícios decorrentes aos presidentes de ocasião. Só para lembrar: em 2002 o Brasil foi penta e nem por isso o candidato governista venceu as eleições daquele ano; da mesma forma, em 2006, mesmo com a derrota para a França, Lula conseguiu se reeleger.
Em suma, a César o que é de César e à bola o que é da bola.
JFQ
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