A Itália, assim como fizera a França, não conseguiu compensar a mediocridade de seu futebol com o peso da camisa. As atuais campeã e a vice-campeã mundiais estão eliminadas da Copa. Os Bleus, aliás, já vieram bastante desacreditados para a África do Sul, principalmente depois da mãozinha de Henry no jogo que classificou os franceses contra a Irlanda. A Azzurra, no entanto (seria uma maldição azul?), mesmo não sendo brilhante, trazia mais do mesmo: uma equipe que não encanta, não joga bem, mas todos sabem que passa e depois se fortalece. Passava! Desta vez não deu.
Os mais tradicionalistas dirão que a Copa fica chata, fica mais pobre sem a presença dos favoritos. Afinal, quem quer ver uma final entre Eslováquia e Chile, a não ser os próprios eslovacos e chilenos?
Outros já veem essas zebras como algo positivo. Entre estes identifico alguns subgrupos. Há os revanchistas (jamais se esquecerão de 82, 86, 98 e 2006), os apegados à rivalidade (quero mais que italianos, franceses e, acima de tudo, os argentinos se danem!), os competitivos (quem bom que a Itália saiu: só o Brasil é penta) e os renovadores (por que sempre os mesmos?). Coloco-me entre estes.
Fico contente pelos resultados não por ter qualquer aversão a italianos ou franceses, muito pelo contrário, mas porque gosto de futebol bem jogado, ao mesmo tempo bonito e vitorioso, unido arte e resultado. Algumas seleções mais tradicionais abdicam da bola para se afirmarem pelas estrelas que ostentam nas camisas. Camisa pesa, sim, nós o sabemos bem. Mas não pode pesar mais do que o futebol de fato, jogado em campo. E, a bem da verdade, França e Itália apresentaram um futebol medíocre na África do Sul, fazendo por merecer a eliminação. A propósito, foram as últimas colocadas nos respectivos grupos.
Fico feliz também pelo outro lado da moeda. É interessante ver a ascensão dos norte-americanos, ainda bastante frágeis, mas com vontade, com garra, e com razoável qualidade técnica e tática. Vale lembrar: os EUA eliminaram a Espanha e quase venceram o Brasil na Copa das Confederações e se classificaram em primeiro num grupo que tinha a Inglaterra! Por mais avesso ao “imperialismo ianque” que eu seja, não dá para não aplaudir o time do bom Donavan e do goleiraço Howard.
Há também os que “não são, mas já foram”, ou seja, os que têm uma história, uma tradição, uma camisa de peso, mas que ao longo do tempo perderam a condição de gigantes frente à decadência do seu futebol. O caso clássico é o do Uruguai, bicampeão mundial, mas nunca colocado entre os favoritos a cada nova disputa de Copa. Aliás, é o único que sofre dessa generalizada descrença entre os sete campeões. Porém, nesta Copa o Uruguai está fazendo bonito: com uma boa defesa e um ataque perigosíssimo formado por Forlán e Suárez, nossos vizinhos chegaram bem às oitavas e têm tudo para chegar, depois de muito tempo, às quartas e mesmo às semifinais. E, quem sabe, não cavalgarão com sua zebra celeste até a final?
Há, ainda, os que “são sem nunca terem sido”: jamais venceram uma Copa, mas costumam montar seleções muito boas, a ponto de receberem o status de favoritos. Os principais casos são Holanda e Espanha. Quanto a esta, é bom que se cuide amanhã para não ser a terceira favorita precocemente eliminada. A Espanha chegou à África como a grande favorita, juntamente com o Brasil. Tem jogadores excepcionais e um futebol de primeira, como mostraram na conquista da última Eurocopa. Mas a surpreendente derrota para a Suíça e a vitória até certo ponto suada sobre Honduras colocam em dúvida a capacidade de a Espanha postular algo mais neste Mundial. Tem totais condições de vencer o Chile e passar para as oitavas. Só que isso deverá ocorrer em campo, e não no papel e nos prognósticos.
Enfim, estou curtindo esta Copa. Está saindo da mesmice dos favoritos, em que pese eu torcer pelo sempre favorito Brasil. Estou gostando desta Copa sobretudo porque está colocando de lado o lugar comum de que camisa, por si só, ganha jogo e ganha título. Melhor assim: para vencer, que seja em campo, jogando bola. E, já que falamos em futebol, legal que a própria Copa do Mundo seja uma caixinha de surpresas.
JFQ
A única coisa que lamento é que as favoritas não estão fora porque foram surpreendidas por novas forças, mas porque chegaram com muitos problemas fora de campo e não conseguiram jogar nada.
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