segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Dá-lhe, Teacher!



O Botafogo vingou-se do Vasco, seu algoz na sonora goleada de 6x0 sofrida há poucos dias. Acompanhando a vingança, porém, deveria vir o agradecimento: graças aos 6x0, o Botafogo demitiu Estevam Soares e trouxe o “teacher” Joel Santana, de volta da África do Sul.


A vitória por 2x0 deu ao Fogão o bicampeonato da Taça Guanabara. E a Joel, o 11º título de turno do campeonato carioca, entre Taça Guanabara e Taça Rio, cujas finais jamais perdeu! “Papai Joel”, como está sendo chamado, faturou o carioca pelo Vasco em 1992 e 93, pelo Fluminense em 1995 (no famoso gol de barriga de Renato Gaúcho), pelo Flamengo em 1996 e 2008, e pelo Botafogo em 1997. É o único técnico campeão estadual com os quatro grandes do Rio.

No entanto, resta ao time da estrela solitária o desafio de fugir da sina de campeão de turno que deixar escapar o título carioca. Em especial quando o adversário é o Flamengo. Que fique claro, não estou “urubuzando”, apenas alertando: Botafogo, atenção, pois o campeonato não acabou!

Por ora, no entanto, pode comemorar. Parabéns, Botafogo! A Taça Guanabara foi mais do que merecida e provou a competência e a superação do elenco, dos jogadores, do treinador. Para não falar da força da torcida.

JFQ

Dá-lhe, Porco!

É muito estranho esse recorrente fenômeno, constatado uma vez mais no dia de ontem, no Palestra Itália: um time imerso numa fase de derrotas, supera-se, demonstrando motivação até então inexistente, a partir da chegada de um novo treinador. A bem da verdade, a motivação alviverde era dupla: além de mostrar seu potencial ao novo professor, os jogadores palmeirenses estavam motivados por tratar-se de um clássico contra o São Paulo, um Choque-Rei.

O fato é que o jogo de ontem dá sinal de que o Palmeiras, enfim, sairá da crise surgida na reta final do Brasileirão do ano passado, entrando em uma nova e vitoriosa – quiçá, duradoura – fase. Mesmo não deixando de ser uma incógnita, Antonio Carlos Zago mostra capacidade de armar um time e, além disso, ter “química” com o clube do Parque Antarctica. Muricy, apesar da competência comprovada com títulos, não teve êxito nesse último quesito. A propósito da inexperiência de Zago, o sempre inteligente PVC, Paulo Vinícius Coelho, alerta para o fato de que um ex-jogador como Antônio Carlos, por ter trabalhado com técnicos como Telê Santana, Wanderley Luxemburgo e Fábio Capello, não pode ser taxado de paraquedista.

Além do técnico, destaco duas boas surpresas: Robert, um atacante que não vinha sendo grande ameaça às zagas adversárias e marcou os dois gols do Verdão, e o jovem lateral Eduardo com suas rápidas e perigosas subidas pela esquerda.

Um grande desafio que Antônio Carlos terá pela frente, na minha modesta opinião, é fazer com que o maior talento do seu time, Diego Souza, amadureça. Diego é ótimo jogador, mas às vezes demonstra cabeça e comportamento de jogador inexperiente e excessivamente convencido. Com ele o técnico deverá atuar mais na condição de “paizão” (um papel que Joel Santana, para ficarmos no destaque do momento, desempenha com excelência) do que na de estrategista de jogo.


Chororô Tricolor

Do lado do São Paulo, Ricardo Gomes deveria copiar Luxemburgo na sua inteligência em armar e dirigir uma equipe, mas não no que tem de mais chato: reclamar da arbitragem quando seu time é derrotado. Não, o tricolor não perdeu por culpa da arbitragem, mas por seu futebol ruim e pela superioridade evidente do Palmeiras. A expulsão de Xandão foi justa: tomou dois amarelos que realmente deveria tomar. Assim como em outras expulsões justas ocorridas em 2009, alvo de reclamações contumazes do cada vez mais rabugento Rogério Ceni.

Além disso, o São Paulo perdeu em parte por erros do próprio Ricardo Gomes. Perdendo por 1x0, substituiu Washington – a grande referência do ataque são-paulino – pelo jovem talento Henrique. É certo que este vem mostrando bom futebol e que o “coração valente” não vinha lá tão bem em campo, mas é sempre uma ameaça ao gol adversário. Além disso, após a substituição, o São Paulo passou a alçar bolas na área palmeirense, não contando mais com a presença de seu melhor cabeceador. O melhor, talvez, teria sido a entrada de Henrique no lugar de Cléber Santana, que também não vinha bem e saiu logo depois.

***

 

Em tempo: Após o jogo, Ricardo Gomes sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) e foi internado no Hospital São Luiz. Fica aqui a torcida deste blog para que o técnico são-paulino tenha rápida e prontamente sua saúde restabelecida.

JFQ

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Agora vai, Verdão?


Para tentar dar um basta à má fase que vem desde 2009, o Palmeiras tomou a providência tradicional: demite-se o técnico. Sai o medalhão Muricy Ramalho, entra o novato (e promissor?) Antonio Carlos Zago.

Mudança parecida ocorreu no ano passado: saiu Wanderley Luxemburgo, entrou Jorginho, o interino que esteve muito bem enquanto comandou o time, obtendo bons resultados, mas já ciente de que seu reinado seria curto. Ainda podemos citar a troca, em 2002, do mesmo Luxemburgo - levado a peso de ouro pelo Cruzeiro - pelo calado Flávio Teixeira, o Murtosa, fiel escudeiro de Luiz Felipe Scolari. Neste caso, a lembrança não é nada boa para os palmeirenses: os maus resultados sob o comando do inexperiente treinador ajudaram o Verdão a amargar o rebaixamento no campeonato brasileiro.

Se Zago passará pelo Palmeiras como um Jorginho, quiçá mais duradouro, ou como um Murtosa, logo saberemos.

JFQ

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O que explica a derrocada do Palmeiras?


A certa altura de 2009 tudo parecia às mil maravilhas para o Palmeiras. Um bom elenco, com destaque para a experiência e liderança de Marcos e o ótimo futebol de Diego Souza e Cleiton Xavier. Ainda, ganhou o reforço do antigo ídolo de trancinhas, Vágner Love. No comando do time, que o inexperiente Jorginho deixara razoavelmente acertado e liderando o Brasileirão, estava Muricy Ramalho, técnico consagrado, tricampeão deste certame. No sempre conturbado âmbito da cartolagem, inclusive, o momento parecia exuberante: na presidência, enfim, alguém confiável, sem os vícios politiqueiros tradicionais, Luiz Gonzaga Belluzzo. Para fechar com chave de ouro, até a paixão palestrina mostrou-se vigorosa dentro de campo, como na inesquecível vitória sobre o Sport pela Libertadores: Marcos voltando a ser São Marcos e o time fazendo seu presidente ir às lágrimas ao entrar em campo cantando o hino do clube. Tudo perfeito, melhor impossível. Quem poderia bater esse Palmeiras? Ele próprio...


A fortaleza alviverde revelou-se castelo de cartas que num leve toque veio abaixo. Aliás, vem abaixo até agora. A gordura conquistada no Brasileirão começou a desaparecer com derrotas consecutivas. Surgiram conflitos no elenco, evidenciados nas críticas do sempre sincero Marcos e, pior, na cena de pugilismo protagonizada por Obina e Maurício. Até a arbitragem resolveu contribuir para o inferno palmeirense, com realce para Carlos Eugênio Simon no jogo contra o Fluminense. Belluzzo passou a falar demais, como nas incitações de violência ao árbitro gaúcho e aos “bambis”, e Muricy passou a tratar a imprensa com a falta de educação que lhe é peculiar, mas não mostrou sua competência idem nos resultados do time em campo. Resumo da ópera: perda de um título brasileiro praticamente ganho e da uma vaga para Libertadores mais ganha ainda.

Como o tempo é remédio para todos os males, o Palmeiras entrou em 2010 prometendo a volta por cima. Para alguns, era o favorito ao Paulista, segundo a tese – que eu refuto – de que leva vantagem quem não está “preocupado com a Libertadores”. No entanto, viu seus adversários reforçarem seus elencos, enquanto perdia Vágner Love para o Flamengo. Pela Copa do Brasil, venceu o fraco Flamengo do Piauí, mas não conseguiu eliminar o jogo de volta. No Paulistão as vitórias mínguam e derrotas importantes foram sofridas para o arquirrival Corinthians – com um a menos na maior parte do jogo, o Timão derrubou um tabu que durava desde 2006 – e para o São Caetano, por 4x1, em pleno Parque Antarctica.

Em suma, o que explica a infindável derrocada palmeirense? A falta de aplicação dos jogadores, a inexperiência de Belluzzo, os erros de arbitragem, o destempero de Muricy? Nada disso? Ou tudo isso somado? Freud explica?

JFQ

Provocante campeonato carioca

Vasco e Botafogo farão a final da Taça Guanabara. Nas semifinais, o primeiro despachou o Fluminense nos pênaltis, enquanto o segundo, de virada, eliminou o favorito Flamengo.


O campeonato carioca mantém a fórmula tradicional em que o campeão do primeiro turno disputa a final com o campeão do segundo turno. No caso, cada turno é um torneio à parte, com direito a título e taça. O primeiro turno, a ser definido no próximo domingo é a Taça Guanabara e o segundo, a Taça Rio.

Um detalhe, porém, deve perturbar botafoguenses e cruzmaltinos: além de vencer a Taça Guanabara, há que se manter a pegada para, caso não se conquiste também a Taça Rio, vencer também as finais do Carioca, o que realmente importa. Outro detalhe: desde 1999, sempre que Botafogo e Vasco pegam o Flamengo nas finais, o caneco sobra para o time da Gávea. Pior: nesse período, o Flamengo foi tricampeão em finais consecutivas contra o Vasco (1999/2000/2001) e contra o Botafogo (2007/2008/2009). Quer dizer, para ambos, melhor não deixar que o Mengo, ora derrotado, imponha seu “Império do Amor” na Taça Rio.

Provocações à parte, o campeonato carioca está bem mais interessante neste ano. Por conta justamente dos quatro grandes que, por conquistas, superações e contratações, chegaram em 2010 mais fortes. O Flamengo, além de ostentar o título de hexacampeão brasileiro (outra provocação), formou um ataque fortíssimo com Adriano e Vágner Love, além de manter boa parte do vencedor elenco de 2009. O Fluminense conquistou um “quase título” com a fuga de um rebaixamento praticamente inescapável, mantendo seu time de guerreiros – e, melhor que isso, de bons jogadores – , com destaque para Conca e Fred, além do técnico Cuca. O Vasco, por sua vez, não só retornou com facilidade para a primeira divisão do Brasileiro, como montou um time promissor com jovens talentos – ressalto Philippe Coutinho e Souza – aliado à experiência de Carlos Alberto e Dodô. Por fim, o Botafogo, também aliviado com a permanência na primeira divisão do Brasileiro, trouxe o bilíngue da prancheta, Joel Santana – competentíssimo em campeonatos cariocas, não importa o time que dirija – , e montou um poderoso ataque de estrangeiros com o argentino Herrera e o uruguaio Sebastian El Loco Abreu.


A propósito, para finalizar com uma terceira provocação, meu palpite é de que o campeão, não só da Taça Guanabara como do Carioca, será o time da estrela solitária. Se bem que, como sabem, têm coisas que só acontecem com o Botafogo... Inclusive (derradeira provocação) perder uma quarta final consecutiva para o Flamengo?

JFQ

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

"Trouxedor"

Quem gosta, apesar dos pesares, de ir ao estádio de futebol, certamente já sofreu as agruras descritas no ótimo artigo de José Roberto Torero, publicado na Folha de S.Paulo (pag.D3, 16/02/2010) e no blog do autor (http://blogdotorero.blog.uol.com.br/), transcrito abaixo:
(JFQ)


Torcedor + trouxa = Trouxedor
José Roberto Torero


“Torcedor”, segundo o dicionário Houaiss, significa “Aquele que torce nas competições esportivas”. Já “trouxa” quer dizer “Aquele que é facilmente iludido; tolo”.


Pois bem, creio que precisamos de uma nova palavra: “trouxedor”. Uma mistura de trouxa com torcedor. É isso que nós, aqueles que gostamos de ver uma partida de futebol ao vivo, somos.


Para começar, a ida ao estádio é um suplício. Se você vai de ônibus, fica com inveja das sardinhas. Se vai de carro, tem que deixar algum dinheiro com o flanelinha, o primeiro de vários malandros que você encontrará em seu caminho até o campo. Este personagem não passa de um chantagista. O dinheiro que você lhe paga não é para que ele cuide do seu carro, mas para que não o risque.


Neste domingo fui comprar ingresso no estádio do Pacaembu várias horas antes do jogo, e eles já estavam lá. Para quem não sabe, o Pacaembu tem zona azul, mas mesmo assim havia muitos deles.


Pois bem, depois de você deixar um cartão de zona azul no seu carro e de também pagar o flanelinha, você vai para a fila. Uma grande fila. Os responsáveis sabem que o número de compradores será enorme, mas nem se pensa em colocar mais gente trabalhando, o que pode não ser apenas incompetência, mas conivência com um esquema de corrupção que explicarei logo abaixo.


Depois de esperar quarenta minutos na fila, vi um torcedor sair do guichê dizendo em voz alta: "Cuidado aí, pessoal, eles estão vendendo ingresso de estudante a preço de inteira!"


Logo depois, um fiscal se aproxima da fila e esclarece: "Para o tobogã só há meia entrada. Mas tudo bem, todos poderão comprá-la e só pagarão metade do preço."


Porém, quando chego ao guichê, o bilheteiro, um sujeito usando uma camisa do Santos, diz que a entrada custaria trinta reais. Eu protesto e repito o que o fiscal havia dito. O bilheteiro resmunga e, milagrosamente, a entrada volta a custar R$ 15,00.


É claro que, se você preferir não enfrentar a fila, pode recorrer aos cambistas. Pagará uma “tarifa de conforto” e depois basta torcer para que o bilhete não seja falso. Em resumo, na hora da compra do seu ingresso, você pode escolher o pilantra para o qual vai deixar seu dinheiro.


E é um bom dinheiro, caro trouxedor. O ingresso mais barato custava R$ 30. Se você quiser um lugar melhor, o preço vai para R$ 50 ou R$ 60, mais que o ingresso de cinema mais caro da cidade, o do shopping Cidade Jardim (R$ 46).


Então, depois de pegar uma longa fila para entrar no estádio, você sentará sob o sol, no cimento, e será vítima de outro malandro: o ambulante. Neste caso, nem sei qual é pior, se o clandestino ou o oficial. Este vende seus produtos a preços inacreditáveis (um picolé custa R$ 4,00). Os do clandestino são mais baratos, mas não venha reclamar da qualidade.


Não, você não tem saída, trouxedor. Pois, se não quiser mais ir ao estádio, vai acabar no pay-per-view, que tem preços absurdos.


Ou, pensando melhor, há uma saída. É jamais comprar de cambistas, é fotografar bilheteiros pilantras e colocá-los na internet, é levar seu próprio alimento, é reclamar e dedurar os pilantras.


O torcedor desorganizado tem que se organizar de alguma forma. Senão será para sempre um trouxedor.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O marketing, o antimarketing e o ridículo

O São Paulo fez sua estreia na Libertadores contra o Monterrey do México, no Morumbi, na última quarta-feira. No intervalo, Cléber Machado, numa súbita invasão ao Big Brother Brasil 10, revela aos seus integrantes que terão uma surpresa: na casa estão escondidas luvas de goleiro, e quem encontrá-las ganhará a camisa que Rogério Ceni usa em campo. Aliás, o que não é surpresa é a onipresença do BBB 10 na programação da Globo, passível de incursões inusitadas em novelas, telejornais, programas de auditório, de variedades ou transmissões esportivas. Muito bem, eis que um brother acha o objeto e, ao final da partida, Rogério Ceni é chamado pelo repórter para tomar conhecimento de quem levará sua camisa. Mais rápido que o repórter, surge um sujeito com um banner de publicidade, desses que ficam atrás de jogadores e técnicos quando dão entrevistas, postando-se às costas do goleiro são-paulino. Mais rápido ainda é o editor da transmissão: tira a imagem de Rogério e joga para a torcida, mantendo, contudo, o áudio com a fala do goleiro.

A situação, de tão ridícula, é engraçada. Briga de gato e rato: um, de um lado, correndo para fazer determinadas marcas aparecerem na tela; a Globo, de outro lado, já que não foi paga para promover tais marcas, correndo suas câmeras para impedir que apareçam. No meio, nós, torcedores/telespectadores, obrigados a assistir esse pequeno e grotesco espetáculo sob a lógica do marketing, além, é claro, do interessantíssimo grupo de confinados na “casa mais famosa do Brasil”.

JFQ

Orlando

Aos 74 anos, morreu Orlando Peçanha, zagueiro da seleção brasileira campeã de 1958. Orlando formava dupla de zaga com Bellini e é o quarto titular daquele timaço a falecer. Além dele, Didi, Garrincha e Vavá já se foram.


Orlando teve participação vitoriosa também nos clubes, em especial no Vasco e no Boca Juniors.

Fica aqui a homenagem deste blog a este que muitos dos comentaristas, principalmente os mais antigos, concebem como um dos maiores zagueiros da história do futebol, e que ajudou o Brasil a conquistar sua primeira Copa do Mundo.

JFQ


Foto: Seleção Brasileira campeã da Copa do Mundo de 1958.
Em pé: Djalma Santos, Zito, Bellini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar.
Agachados: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá, Zagallo e o massagista Mário Américo.

Ainda, a lista de Dunga

Os polivalentes da seleção

Além da considerável constância nos nomes dos jogadores convocados e da aversão às estrelas, a lista de Dunga para o jogo contra a Irlanda – quiçá, a lista para a Copa –, tem outra marca: a busca por polivalentes. Ou seja, jogadores multifuncionais, que podem atuar em mais de uma posição, possibilitando mudanças táticas no decorrer de uma partida, sem a necessidade de substituição. Nessa condição, identifico os seguintes:

Daniel Alves:
É lateral direito, reserva de Maicon. Mas pode ser aproveitado no meio-campo, como volante ou meia avançado, e que também já jogou como lateral esquerdo.

Elano:
Meia, avançado pela direita, que já atuou como volante e lateral direito.

Júlio Batista:
O, em tese, reserva de Kaká é caso raro de jogador que começou, no São Paulo, como volante e foi “promovido” a atacante. Hoje, está no “meio termo”: joga mais como um meia que chega à frente quando possível. De qualquer forma, precisando, pode-se contar com ele em qualquer uma dessas funções.

Gilberto:
A princípio, foi convocado como lateral esquerdo, posição na qual deixou de atuar há muito tempo, sendo um meia armador no Cruzeiro. Aliás, a seleção passa a ter um armador, enfim. Diga-se de passagem, é uma função tentada por Dunga logo em sua primeira convocação, frustrada pela recusa de Zé Roberto, naquela época, em servir à seleção brasileira. Espera-se, porém, que Gilberto não tenha na seleção a compulsão por cartões vermelhos que vem tendo no Cruzeiro.

Conclusão: É bom ter opções. O problema é que nenhuma delas refere-se a um jogador que desequilibra. Quer dizer, a um craque.

O fator extra-campo

Outra característica da lista de Dunga: a predileção por jogadores com poucas chances de lhe causar problemas com o grupo ou problemas extra-campo. Especialmente, escapadelas de concentração, presença em baladas e delitos afins. Isso ficou evidente na resposta ríspida que o técnico deu aos jornalistas quando perguntado (pela enésima vez) sobre a ausência dos Ronaldos. Disse, mais ou menos, o seguinte: Os defensores da convocação desses jogadores são contraditórios, pois também eram críticos do comportamento, digamos, descontraído, descompromissado ou festivo do grupo de 2006. Em suma, Dunga, imitando uma postura Telê Santana – mas só nesse aspecto! – preza jogadores disciplinados, obedientes e concentrados. Aqueles com vocação para fugas de concentração, brincadeiras e namoros fortuitos –– em plena época de Copa, principalmente – não têm vez com o professor.

Dunga aposta em jogadores com comportamento à la Kaká (religioso, bom-moço, família), e refuta aqueles como Ronaldinho Gaúcho (acusado de organizar festas antes da derrota de seu time, o Milan, para o arquirrival Internazionale) ou Ronaldo Fenômeno (ora respondendo a processo de paternidade, após envolvimento amoroso em Cingapura, em 2004). Certo. Mas o que importa é: independentemente do fator extra-campo, que Kakás e Ronaldos façam o que sabem em campo, craques que são. Oxalá, a ausência dos baladeiros Ronaldos não seja sentida nos resultados obtidos pela seleção na Copa. Assim como seriam as de outros de seus congêneres, como Garrincha em 58 e 62 ou Romário em 94.

JFQ

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Saiu o Time da Copa?

Dunga acaba de anunciar a convocação de 22 jogadores para enfrentar a Irlanda, em Londres, dia 2 de março. A princípio, é o último jogo da seleção brasileira antes da estreia na Copa da África do Sul. Portanto, é bem possível que a lista dos 23 convocados para a Copa seja composta exatamente pelos 22 chamados hoje mais o terceiro goleiro. Será?

Espaço aberto às especulações dos quase 200 milhões de técnicos canarinhos, faço cá as minhas. Exceção feita a Gilberto e Kléberson, tenho convicção de que os outros 20 estarão na África do Sul. Kléberson é provável, mas não certeza. A convocação de Gilberto evidencia o dilema de Dunga em relação à lateral esquerda. Acredito que Michel Bastos esteja certo, mas não descarto que o outro lateral esquerdo não seja Gilberto, mas André Santos ou Kléber. Gostaria de ver Marcelo, do Real Madrid, ser pelo menos testado; possibilidade, pelo jeito, descartada.

Quem parece ter perdido a vaga é Miranda, já que Thiago Silva realmente passa mais segurança atualmente. A chance de Miranda, remota, consiste na impossibilidade de Juan participar do torneio, vítima de contusões sucessivas.

Quanto ao terceiro goleiro - infelizmente teremos que confiar no eternamente instável Doni na reserva de Júlio César -, gostaria muito de ver Marcos, do Palmeiras, convocado. Mas tenho a ligeira impressão de que a vaga será de Gomes, do Tottenham.

Por fim, quanto às grandes estrelas das últimas Copas, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho, ficou claro que Dunga "não se enganará", sugestionado pela pressão da imprensa e da torcida. Opta por um time eficiente, vitorioso, de sua estrita confiança. Além disso, à exceção de Kaká e Robinho, não há "medalhões" a colocarem em risco a liderança e a autoridade do técnico perante o grupo. Eis a opção de Dunga. Todavia, trata-se de uma escolha arriscada, como seria se convocasse os Ronaldos. Ganha em estabilidade, perde no caso de necessecitar de craques capazes de desequilibrar. Se perdermos Kaká e Robinho - bate na madeira três vezes! - teremos um time bom, mas sem o brilho de uma seleção brasileira.

Após participar do fracasso de 1990 e do tetra de 1994, a pergunta é: qual desses será o destino da Terceira Era Dunga?

JFQ

Abaixo, os convocados por Dunga para o jogo contra a Irlanda:

GOLEIROS


Julio César (Inter-ITA)

Doni (Roma-ITA)

ZAGUEIROS

Lúcio (Inter-ITA)

Juan (Roma-ITA)

Luisão (Benfica-POR)

Thiago Silva (Milan-ITA)

LATERAIS

Maicon (Inter-ITA)

Gilberto (Cruzeiro)

Michel Bastos (Lyon-FRA)

Daniel Alves (Barcelona-ESP)

VOLANTES

Gilberto Silva (Panathinaikos-GRE)

Felipe Melo (Juventus-ITA)

Josué (Wolfsburg-ALE)

Kléberson (Flamengo)

MEIAS

Kaká (Real Madrid-ESP)

Elano (Galatasaray-TUR)

Julio Baptista (Roma-ITA)

Ramires (Benfica-POR)

ATACANTES

Luis Fabiano (Sevilla-ESP)

Robinho (Santos)

Nilmar (Villarreal-ESP)

Adriano (Flamengo)

Na Europa pode. Na Europa não pode. E daí?


São Paulo x Santos, tradicional clássico San-São. Robinho está de volta ao time da Vila, começa no banco e é a grande atração do jogo. Porém, antes mesmo que Robinho entre em campo, os garotos de seu time – em especial, Paulo Henrique e Neymar – mostram que o Santos não está para brincadeira. Ou está, no bom sentido: no sentido lúdico do futebol-arte, tipicamente brasileiro. Pênalti para o Santos, Neymar bate com uma paradinha magistral, jogada eternizada por Pelé, “humilhando” o goleiro são-paulino, nos dizeres maliciosos dos narradores. Um ranzinza Rogério Ceni, que também já converteu pênalti com paradinha, esquecido disto, diz a Neymar mais ou menos assim: “Aproveite para fazer isso aqui, pois quando for jogar na Europa, lá não pode”. Pergunto: não pode por quê? Ah, porque o Blatter não gosta, porque humilha o goleiro, coitado. E, razão essencial: porque configura “atitude antidesportiva”! Tá, mas por que a paradinha é atitude antidesportiva? Porque ilude o goleiro, porque não lhe dá a menor chance de defesa, coitado (de novo), porque faz com que outros jogadores invadam a área, porque... Por mais porquês que surjam, o argumento não me convence. A mim soa como um daqueles “argumentos” que buscam desqualificar o drible, como se fosse humilhação, “atitude antidesportiva”, e não a própria essência da beleza do futebol. Coisa de quem prefere o zagueiro Domingos a Ronaldinho Gaúcho no seu auge. Pobre Garrincha: jogasse nestes tempos, seria expulso a bem da preservação da dignidade dos “joões”! Aliás, por que não se considera com a mesma veemência atitude antidesportiva um time travar o jogo com faltas a todo instante? Ah, mestre Telê, mesmo que não lhe servisse a pecha de antidesportivo, avesso à utilização das faltas como estratégia de jogo, não se adequaria a esse tal futebol moderno, nascido, criado e desenvolvido no Velho Continente.


A propósito, Roberto Carlos deu um carrinho criminoso no último Corinthians x Palmeiras, em lance muito parecido com outro, protagonizado pelo zagueiro Danilo no penúltimo Corinthians x Palmeiras, e foi expulso. Roberto Carlos; Danilo não. Quem acertou e quem errou: Wilson Luiz Seneme, que expulsou o lateral corinthiano, ou Heber Roberto Lopes, que deixou de expulsar o zagueiro palmeirense? A mim a questão é claríssima, como a regra para Arnaldo César Coelho: já que futebol não é jiu-jitsu ou capoeira, carrinho duro, por trás, é vermelho direto! Não obstante, lá vêm os argumentos dos globais e civilizados comentaristas: na Europa esse tipo de jogada não seria sequer falta. Jesus!!! Qual a conclusão? Que devemos copiar a Europa? Não seria por isso que quase se encerraram as carreiras de Juninho Paulista, quando jogava no Middlesbrough, e de Eduardo da Silva, no Arsenal, ambos em campos ingleses, dentre outros, vítimas de entradas duríssimas?!

Sem apelar a discursos ufanistas bobos, por um lado, ou fazer concessões de espírito colonizado, por outro, o fato é que o Brasil é o Brasil e a Europa é a Europa, para o bem e para o mal. O futebol brasileiro é diferente do europeu em estilo, beleza, eficiência. Como diria José Miguel Wisnik, recorrendo a Pier Paolo Pasolini, no livro “Veneno-Remédio: O Futebol e o Brasil” (Companhia das Letras, 2008), o futebol brasileiro expressa-se como poesia, enquanto o europeu o faz como prosa. Aprendamos com as coisas boas do futebol europeu, onde estão os principais craques do mundo. Mas, pelo amor de Deus, copiemos deles só a parte boa. E preservemos o que em nós há de bom, lembrando sempre que somos nós, brasileiros, os maiores campeões mundiais.

JFQ

Futebol Para Ler

Ídolos


Os dois livros abaixo foram lançados em 2009 e tratam de ídolos. No caso do livro de Washington Olivetto, há uma coletânea de minibiografias de jogadores corinthianos e de outros times. Já o livro de André Plihal trata de Rogério Ceni, um dos maiores ídolos da história do São Paulo Futebol Clube. A conferir:



Corinthians x Outros – Os Melhores Nossos
Contra os Menos Ruins Deles
Washington Olivetto
(Editora Leya Brasil)


Este livro, escrito por Washington Olivetto com colaboração preciosa do jornalista Celso Unzelte, é um verdadeiro deleite aos amantes do futebol, sobretudo os corintianos. Ilustrado com fotos inspirados na antiga coleção Futebol Cards, da Ping Pong, o livro reproduz uma série de jogos fictícios narrados pelo autor, entre o Corinthians de todos os tempos e outras 14 equipes, também de todos os tempos, cada qual escalada por um torcedor ilustre. Exemplos: Jô Soares escala o Fluminense, Samuel Rosa escala o Cruzeiro, Luís Fernando Veríssimo, o Internacional, José Serra, o Palmeiras, Fausto Silva, o Santos. E, claro, o próprio Olivetto escala o Corinthians de todos os tempos. Após os jogos, vencidos todos pelo Timão que, ao final, sagra-se campeão do todos os campeonatos possíveis, há uma minibiografia de um jogador corintiano e de outro, da equipe rival (Falcão, pelo Internacional, Canhoteiro, pelo São Paulo, Ademir da Guia, pelo Palmeiras, Tostão, pelo Cruzeiro, são alguns deles). Alguns jogadores constantes do selecionado mosqueteiro foram escalados também nos rivais: Gamarra, no Internacional, Rivellino, no Fluminense; Gilmar, no Santos. As minibiografias revelam alguns fatos curiosos, como a frustrada tentativa de Rivellino em jogar no Palmeiras, time de coração de seu pai, a breve experiência de Sócrates como técnico de futebol (da LDU, do Equador, por exemplo), e da obstinação de Castilho, ex-goleiro do Fluminense e da seleção brasileira nas Copas de 1950, 54, 58 e 62, que convence o médico a amputar parte de um dos seus dedos da mão, que estava lesionado, para voltar mais rápido aos campos. Além disso, vale ressaltar alguns chistes bem parciais quando da narração dos jogos: contra o River Plate, por exemplo, em que o Corinthians vence um “torneiozinho” chamado Libertadores da América quase que exclusivamente pelo esforço de Carlito Tevez, o único interessado na partida, uma vez que as preocupações da torcida alvinegra voltava-se às oitavas de final da Taça São Paulo; ou na partida contra o Fluminense que, ávido por revidar a invasão corintiana de 1976, conta com a colaboração dos torcedores do tricolor paulista para lotar o Morumbi, frustrada, porém, porque os são-paulinos vão em massa a uma determinada passeata que ocorria na mesma hora na Avenida Paulista. E por aí vai.

Em resumo, trata-se de um livro leve, bem escrito, gostoso de ler. O problema é que, apesar do que defende o autor logo no início, trata-se de um livro voltado aos corintianos. Muito embora não deixe de ser interessante a outros torcedores ou a quem esteja simplesmente a fim de curtir estórias do futebol.



Maioridade Penal: 18 Anos de Histórias
Inéditas da Marca da Cal
André Plihal
(Editora Panda Books)


Além do título de gosto um tanto duvidoso, este livro tem outro problema evidente. Pior que o livro de Olivetto, este é voltado a são-paulinos!

Brincadeiras à parte, o livro é interessante por retratar um dos jogadores mais importantes da história do futebol brasileiro – em que pesem os protestos dos torcedores rivais ao tricolor – e ainda em atividade. Rogério Ceni, sem dúvidas, é um dos maiores ídolos da história do São Paulo Futebol Clube, e um dos maiores goleiros do futebol brasileiro e mundial. Mesmo que seja lembrado mais pelos gols marcados – 88, até hoje – e pela liderança exercida no time tricolor, não dá para tirar-lhe o mérito de exímio goalkeeper. Basta lembrar sua atuação fundamental na conquista do último Mundial do São Paulo contra o Liverpool.

Em texto leve, André Plihal conta vários episódios da carreira de Rogério Ceni, carreira de 18 anos (daí a palavra “maioridade”), à frente do gol (daí a palavra “penal”, em referência à penalidade máxima, ao pênalti, momento de grande pressão sobre os goleiros).

Alguns relatos são bastante interessantes. Como a do medo que Rogério e todo o time do Morumbi passou com o avião que ameaçava cair, rumo a Presidente Prudente para um jogo contra o Palmeiras; sua entrada no gol são-paulino em decorrência da suspensão de Zetti e da morte do reserva, Alexandre, em um acidente automobilístico; as poucas chances e a indisfarçável mágoa com a seleção brasileira (Ceni participou de duas Copas, 2002 e 2006, na reserva); suas conquistas e suas experiências com outros grandes do futebol, como Telê Santana. Enfim, é um livro leve, com passagens pitorescas sobre a carreira longeva e brilhante desse extraordinário jogador.

JFQ