sexta-feira, 15 de julho de 2011

Para comemorar, sem se iludir



Copa América
Brasil 4x2 Equador

Há alguns dias, quando a seleção brasileira feminina bateu a Noruega por 3 a 0 e a masculina não passou de um empate sem gols contra a Venezuela, vários jornais publicaram foto de uma Marta esfuziante ao lado de um Neymar cabisbaixo. Na ocasião, comentei que, dada a natureza do futebol, não seria de se estranhar que num futuro próximo os semblantes dos retratados se invertessem. Por acaso, a situação das duas seleções se alteraram: enquanto a feminina voltou para casa, eliminada do Mundial (pela enésima vez) pelos EUA, o Brasil de Neymar segue na Copa América, classificado em primeiro no seu grupo.

Contudo, não se deve esquecer a natureza fugaz desse esporte. Da mesma forma, os gritos de gol na partida contra o Equador podem dar lugar ao silêncio vexatório depois do jogo contra o Paraguai, no próximo domingo. Tudo depende da continuidade ou não das evoluções – nem tantas assim, diga-se de passagem – notadas na última peleja. Vamos a ela.

Contra o Equador, as melhores novidades aconteceram do meio para frente: 1) Maicon mostrou-se ótima opção de ataque, nas passagens pela direita, qual um ponta das antigas; 2) Os três atacantes movimentaram-se bastante, não ficando presos a um espaço do campo, e, até que enfim, finalizaram várias vezes: Pato marcou dois gols, Neymar, outros dois, além de arriscar tiros até com exagero, e Robinho chutou bola na trave e marcou um gol legítimo, erroneamente anulado pela arbitragem. Como pontos negativos: 1) Ganso continua perdido, o que deve continuar enquanto não houver um parceiro no meio, como foi Jadson na partida contra o Paraguai; 2) Ramires está afoito, não servindo de opção para as subidas pelo meio ou como auxiliar de Lucas Leiva na marcação; 3) os zagueiros e o goleiro Júlio César, até pouco tempo, inquestionáveis, passaram a falhar com preocupante constância.

Parece ter havido uma inversão no desequilíbrio brasileiro. De uma equipe com boa defesa e articulação/ataque fraco, o que se viu na partida contra o Equador foi um escrete com tendência a marcar e sofrer gols com facilidade. Quanto ao ataque, apesar de Maicon ter jogado muito bem – o melhor em campo –, a seleção não pode depender apenas de suas jogadas pela direita. André Santos também deve servir como opção à esquerda e, principalmente, Ganso deve mostrar a que veio: ser o maestro do time, o ditador do ritmo no meio-campo brasileiro. Mas, repito, o problema de Ganso não é individual, assim como não era o de Messi; da mesma forma que o craque argentino encontrou em Gago um parceiro, Ganso precisa do seu, como foi Jadson. Por falar em Argentina, apesar da vitória brasileira, a seleção de Mano Menezes não demonstrou contra o Equador ter encontrado um padrão de jogo, como se pôde observar na partida dos hermanos contra a Costa Rica.

Quanto à defesa, alguns acertos devem ser feitos no posicionamento dos zagueiros e Júlio César, apesar das falhas – considero apenas o primeiro gol de Caecedo um frango, mas não o segundo –, continua sendo o melhor goleiro brasileiro e um dos melhores do mundo. Em que pesem os comentaristas que batem na tecla da má fase do arqueiro da Inter de Milão, não consigo enxergar Victor ou Jefferson como opções à altura de Júlio César. Enfim, ele merece crédito.

O problema maior está em Ramires: mal na marcação e à frente. Nem rouba as bolas com a pressão veloz outrora observada, nem serve de elemento surpresa a compor o ataque. Se Mano quiser ousar, Jadson seria uma opção, mas que acarretaria na presença de apenas um volante, Lucas Leiva, a ser compensada pela diminuição das subidas dos laterais e/ou em marcação à frente feita pelos atacantes. Aliás, por que o Brasil desistiu da postura de marcar no campo de ataque, como se viu no início do jogo contra a Venezuela?


De qualquer forma, há que se admitir que o Brasil melhorou contra o Equador. No entanto, há também que se lembrar – o placar final muitas vezes obscurece o enredo da partida – que a seleção mostrou um bom futebol apenas no segundo tempo. No primeiro, repetiram-se as mesmas falhas dos jogos anteriores. Para se ter uma ideia, ao final da primeira etapa o Brasil tinha 65% de posse de bola, mas finalizara 5 vezes, contra 6 do Equador. Ou seja, repetiam-se as estéreis trocas de passes das partidas anteriores.

Torçamos para que o Brasil do segundo tempo do jogo contra o Equador retorne contra o Paraguai. Melhor: além disso, que sane as deficiências demonstradas. Comemoremos a evolução, mas com os pés no chão; ainda há muito o que melhorar. A vitória, contudo, é fundamental do ponto de vista emocional: resultado e placar dão confiança, ajudam a desinibir os garotos para a continuidade do trabalho. Em outras palavras, é uma excelente motivação para que, após a partida de domingo, Neymar e companhia continuem a sair sorridentes nas fotos dos jornais.

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Sabe com quem está falando, professor?

Muito interessante a reação de Mano Menezes a cada gol feito pelo Brasil. Da comemoração no banco de reservas seguia-se o chamamento de algum jogador para instruções (broncas?), levando a reações de revolta por parte dos comandados. Lucas Leiva esboçou inconformidade em relação a alguma crítica do treinador e Thiago Silva chegou a jogar um copo d’água em claro sinal de discordância com alguma reprimenda do “professor”.

Apesar da relação hierárquica, fica a impressão de que o comandante é mais fraco que os comandados. Mais ou menos como se todos soubessem da fragilidade de Mano no cargo de treinador da seleção, podendo cair a cada má atuação do time, ao contrário de jogadores consagrados, certos de que voltarão ao selecionado nacional pelas mãos de um outro técnico.

Mais ou menos como o caso de Pelé que, expulso em uma partida amistosa, voltou a campo, enquanto o árbitro foi substituído. Surreal, pitoresco, etc., mas revelador de que ter estrela, e não apenas o cargo ou a função, é fundamental para manter-se no futebol.

A Mano ainda carece conquistar essa estrela.

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Em tempo: Ganso mostrou certa timidez ao ser substituído. Não que devesse vociferar contra o treinador, atitude imbecil de jogador marrento, até porque não fez boa partida. O meia do Santos saiu com semblante acanhado, mantendo-se assim no banco de reservas. Paulo Henrique precisa se convencer de que é um craque, não duvidar disso. Ganso tem estrela, mas, por ora, talvez esteja colocando em dúvida sua capacidade de brilhar.

JFQ

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