sexta-feira, 29 de abril de 2011

"The Busby Babes"

Kenneth Maxwell 


Em 6 de fevereiro de 1958, o voo da British European Airways que transportava o time do Manchester United para a disputa das semifinais da Copa Europeia de Futebol contra o Estrela Vermelha de Belgrado caiu em sua terceira tentativa de decolagem, depois de um pouso para reabastecimento em Munique.

A queda teve 28 vítimas fatais, entre as quais oito jogadores e três dirigentes do Manchester United. Matt Busby, o lendário técnico da equipe, sofreu sérios ferimentos. Ele só voltaria a Manchester de trem e via balsa, 71 dias depois.

Matt Busby assumiu o comando do Manchester United em 1945, depois de servir na Segunda Guerra. Recrutou Jimmy Murphy como seu assistente técnico depois de ouvi-lo fazer uma preleção a um time de futebol formado por soldados ingleses na Itália.

Na década de 50, Busby e Murphy montaram um time de adolescentes, conhecidos afetuosamente como "Busby Babes". Em 1956-57, o Manchester United chegou à semifinal da Copa Europeia, e foi derrotado pelo Real Madrid.

Após o desastre em Munique, Jimmy Murphy, que não havia acompanhado a equipe porque estava dirigindo a seleção do País de Gales em uma partida contra Israel pela classificação à Copa do Mundo, em Cardiff, convenceu a diretoria do Manchester United a não suspender temporariamente as atividades do clube.

Ele escalou uma equipe improvisada com dois sobreviventes da queda, sete reservas e dois jogadores contratados às pressas e, em 19 de fevereiro, derrotou o Sheffield United por três a zero em uma partida pela quinta rodada da FA Cup (Copa da Inglaterra).

Em 3 de maio, 85 dias depois do desastre em Munique, o Manchester United superou todas as adversidades e chegou à final da FA Cup, em Wembley, perdendo por dois a zero para o Bolton Wanderers.

Bobby Charlton, um dos "Busby Babes" e sobrevivente da queda em Munique, descreveu Jimmy Murphy como "o maior professor de futebol que conheci". O Brasil, então campeão mundial, tentou, sem sucesso, contratá-lo.

Nesta semana, a BBC contou a história daquele período heroico num filme evocativo, intitulado "United", recordando uma época em que os garotos locais de classe operária se davam bem no Old Trafford.

Hoje, o Manchester United é controlado pelo empresário americano Malcom Glaser. O futebol está a anos-luz de distância dos dias difíceis da década de 50 e se tornou um grande negócio internacional.

A Argentina tem 1,8 mil jogadores na Europa; o Brasil tem 1,44 mil. No Manchester United, atual líder da Premier League, há jogadores de 11 nacionalidades. Sir Alex Ferguson, o escocês que treina o Manchester United, é o técnico de maior sucesso na história do futebol britânico.

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 28/04/2011.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A funcionalidade do chute no vácuo

Jogasse nos tempos de hoje, Garrincha não seria considerado um artista, mas um expoente da falta de fair play, a ética futebolística segundo a cartilha civilizatória dos campos do Velho Continente e dos velhos cartolas da FIFA. Os joões, por sua vez, seriam o supra-sumo dos operadores da bola, carregadores de piano incapazes de tocá-lo com maestria.

Passada a patrulha sobre Neymar, recaem as acusações dos idólatras do futebol Dunga – ou, se quiserem algo mais “moderno”, do futebol Felipe Melo – sobre o “mago” Valdívia. Na falta dos pênaltis com paradinha ou dos rebolados de Edmundo, o principal exemplo de falta de fair play agora é o “chute no vácuo”. A finta, executada de sobejo pelo chileno do Palmeiras, caracteriza-se por fazer que se vai chutar a bola, chutando o vento. O joão, ou seja, o adversário a marcar Valdívia, é induzido a sair do lugar para interceptar uma bola que permanecerá inerte. Passa por bobo, é certo, mas cumpre a função essencial de vítima, necessária ao futebol arte. Exatamente igual ao adversário de Mané Garrincha quando este ameaçava correr, deixando a bola parada.

A principal acusação que recai sobre o “chute no vácuo” é que não seria objetivo, servindo tão-somente para desdenhar, humilhar, esculachar, enfim, o pobrezinho do companheiro de profissão (oh, dó!). Não obstante, mesmo se considerássemos que tudo no jogo de bola é ou deva ser objetivo, a acusação, ainda assim, é injusta. Tratando-se de objetividade, o lance de Valdívia satisfaz, pelo que contei, três funções claras e próprias do futebol.

A primeira função é tática: como em outra finta ou drible, Valdívia desvencilha-se do marcardor, ganha espaços para avançar, dar assistência a um companheiro ou mesmo chutar a gol. Mexe uma peça adversária e faz com que as peças palmeirenses abram vantagem na distribuição dos espaços no gramado.

A segunda função é psicológica: retomando – pela enésima vez – a tese do doutor Sócrates, segundo a qual o futebol é sobretudo um jogo psicológico, não comportando peças, consoante a perspectiva anterior, mas homens e suas emoções, o “chute no vácuo” faz com que o marcador, em particular, e todo o escrete adversário, em geral, perca a cabeça. Saindo do eixo, desequilibrando-se emocionalmente, é claro que a equipe de Valdívia tenderá a envolver o adversário que, ademais, tenderá a apelar para a violência e ficar com jogador(es) a menos em campo (que o diga Anderson, do Santo André).

A terceira e última função é estética: com respeito aos carregadores de piano, mas se não houvesse quem tocasse o instrumento com a primazia de um craque, o futebol seria tão empolgante quanto o rugby e Domingos, da Portuguesa, deporia Pelé do trono, assumindo ele a condição de rei.

Pelo exposto, salve o chute no vácuo, as dancinhas, os chapéus, os elásticos, os carretéis (viram o lance de Leandro Damião na partida entre Internacional e Juventude?!) e toda a sorte de demonstrações do talento ludopédico.

Termino com um pedido aos apologistas da ética do talento como inimigo do fair play: deixem o “chute no vácuo” em paz ou, se quiserem, passem a aplaudi-lo como fazem os que realmente amam o bom futebol. Sob pena de, não o fazendo, tornarem o futebol atual, já tão diminuto de grandes talentos, num verdadeiro “chute no saco”.

JFQ

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Santos, 99


Juca Kfouri

A vitória santista sobre o Cerro Porteño veio na hora e no dia certos: na data do 99º aniversário do clube que teve o melhor time da história do futebol em fins dos anos 50 e princípios dos 60 do século 20.

Ao começar seu centésimo ano de vida, o Santos, mesmo com três desfalques tão importantes, fruto de uma noite insana em que fez tudo errado na Vila Belmiro, superou as melhores expectativas e se impôs em Assunção do Paraguai.

Como em seus melhores tempos.

Tempos que os sessentões viveram intensamente, fossem ou não santistas por opção, mas obrigatoriamente santistas por amor ao futebol.

Aquelas camisas brancas, aqueles calções brancos e aquelas meias brancas, que sobressaíam principalmente nos jogos noturnos e iluminados pelo lusco-fusco que nem de longe lembra as iluminações feéricas de hoje em dia, só eram menos mágicos que aqueles negros que se confundiam, tamanha a arte que desfilavam pelos gramados do mundo, para encantá-lo.

Era Dorval, era Coutinho, era Pelé, quem era?

Sim, teve ainda Gylmar dos Santos Neves, Carlos Alberto Torres, Mauro Ramos de Oliveira, Calvet, como Ramiro e Álvaro, Jair, Zito, Mengálvio, Pepe, Pagão, Toninho Guerreiro, Almir Pernambuquinho, Lima, Haroldo, Rildo quantos!

Só craques, acredite.

Não, Pelé não pode ser citado apenas entre tantos jogadores admiráveis, alguns geniais mesmo. Mas sempre é bom destacar que se Ele participou dos famosos 5 a 2 no Benfica (o melhor jogo de que participou em sua carreira, segundo o próprio), no estádio da Luz, em Lisboa, na decisão do Mundial de Clubes de 1962, em 1963 Ele não estava quando veio o bicampeonato em duas batalhas memoráveis contra o Milan, no Maracanã lotado.

A primeira delas, sob chuva torrencial, é dos jogos que marcam uma vida.

Porque os italianos, liderados pelo brasileiro e ex-botafoguense Amarildo, o Possesso da Copa do Mundo de 1962, no Chile, saíram com 2 a 0 no placar no primeiro tempo, depois de terem vencido em Milão por 4 a 2.

Já eram os campeões mundiais quando São Pedro integrou-se ao time do, é claro, Santos, e Pepe, Mengálvio, Lima e Pepe de novo viraram para 4 a 2, forçando o terceiro jogo, então chamado de "negra", que os praianos venceram com pênalti cobrado por Dalmo, o patinho feio que virou cisne.

Desculpe, meninos, mas eu vi.

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 17/04/2011.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Os machões dançaram

Xico Sá

Amigo torcedor, amigo secador, de repente todos viraram Bolsonaros no ginásio do Riacho, em Contagem, Minas Gerais. Crianças, seguindo a fúria de pais e mestres, vestiram a máscara de Bolsonarinhos. Respeitáveis senhoras da sociedade também bolsonarizaram. Os machões, nem se fala, arrotaram testosterona com bílis verde-oliva.

O bolsonarismo homofóbico tinha como alvo Michael, jogador do Vôlei Futuro, de Araçatuba, que enfrentava o Cruzeiro. O atleta não deixou barato. Com o apoio de seu time e de dirigentes, reagiu publicamente, lavrou protesto e assumiu que era gay mesmo, e daí, qual é o problema, exigiu respeito.

Foi muito mais macho, aqui em um sentido de bravura, do que a massa covarde embalada pelo bolsonarismo latente. "Fiquei constrangido. Já tinha acontecido antes, com grupos menores. Mas foi a primeira vez que vi um ginásio inteiro gritando alto e bom som "gay, bicha". Foi por isso que me manifestei", contou Michael à Folha.

Ninguém é obrigado a se declarar gay e sair do armário. Seja no mundo esportivo, mais conservador e machista do que o pátio dos caminhoneiros, seja na repartição pública. Mas Michael, ao assumir a homossexualidade, deu uma bela contribuição contra o preconceito.

Lá na cidade de Goianinha, a 54 km de Natal (RN), o goleiro Messi, 24, do Palmeira local, aplaudiu a decisão do voleibolista. Ele é um caso raro de jogador de futebol que assume publicamente a orientação sexual. E recomenda o mesmo comportamento aos colegas de bola.

"Depois que assumi [há quatro anos], até mesmo as pequenas manifestações desapareceram. Agora, no máximo, surgem umas brincadeiras", conta o número 1 do Verdão do Agreste. "Além do respeito, me tratam com carinho, dengo, sou o xodó da torcida, como dizem por aqui."

Messi foi o principal responsável pela subida do seu time para a primeira divisão do Campeonato Potiguar. Herói em Goianinha, cidade de 20 mil habitantes, diz que, ao sair do armário, ganhou liberdade também fora de campo. Vai para os forrós, namora, aproveita a vida em público sem constrangimentos.

Os machões dançaram, velho Norman Mailer. Michael e Messi (Jamerson na pia batismal) ficam como exemplos contra a barbárie bolsonarística. Que pode se manifestar em qualquer local e hora. Em Minas ou nas gangues homofóbicas da avenida Paulista.

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 08/04/2011.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Otimismo, pessimismo e indefinição


Copa Libertadores da América:
Jaguares-Mex 1x0 Internacional
Nacional-Uru 2x0 Fluminense
Santos 3x2 Colo Colo-Chile


Após os jogos de ontem, há motivos de otimismo e pessimismo quanto ao futuro dos times brasileiros na Libertadores. O que não há é definição sobre quem está e quem não está classificado para próxima fase.

A pior situação é a do Fluminense. O atual campeão brasileiro, mesmo tentando determinar as ações da partida, foi derrotado para o Nacional, no Uruguai, por 2 a 0. Na última rodada, o Flu, que tem 5 pontos em 5 jogos, no Grupo 3, precisa vencer o Argentinos Juniors, na casa do adversário, e torcer para que o Nacional perca para o América, em Montevidéu. Que dureza!

Já o Internacional, mesmo com a derrota por 1 a 0 para o Jaguares, do México, só perde a vaga se sofrer uma goleada histórica para o Emelec, jogando no Beira Rio. E, mesmo assim, considerando que o Jaguares vencerá o Jorge Willstermann. Moleza!

A situação intermediária fica por conta do Santos, terceiro colocado no Grupo 5. Restam duas rodadas e o Peixe, com 5 pontos, tem à sua frente o Colo Colo, com 6, e o Cerro Porteño, com 8. Na próxima quarta, o Santos pega o Cerro, no Paraguai, e fecha sua participação na primeira fase no dia 20/4, na Vila, contra o Deportivo Táchira.

Na partida de ontem, aconteceu de tudo um pouco. Em jogo nervoso, desde o princípio, o Peixe conseguiu impor seu jogo – destaque para o jovem Danilo – e abrir uma vantagem de três gols. Contudo, a partir da expulsão de Neymar, que tomou o segundo amarelo por comemorar seu gol (um golaço, por sinal, o terceiro do time) colocando uma máscara, o Santos perdeu de vez a cabeça. Em seguida, após entrevero envolvendo o santista Zé Eduardo e o chileno Scott, os dois foram expulsos. Até mesmo Elano, que já havia sido substituído, tomou cartão vermelho por jogar uma toalha no banco de reservas do adversário. Elano, com isso, desfalca o Peixe contra o Cerro Porteño.

Além das expulsões, o Santos quase viu uma vitória dada como certa ir por água abaixo. Aos 36 e aos 41 minutos da etapa complementar, o Colo Colo reagiu, mas não conseguiu evitar a derrota: Santos, 3 a 2.

***

Muricy assume o Peixe


A partida contra o Colo Colo foi a última do Santos sob o comando de Marcelo Martelotte. Doravante, Muricy Ramalho, que assistiu à partida de ontem das tribunas da Vila Belmiro, assume o time com missão idêntica à que tinha no Fluminense: fazer com que seu time consiga uma difícil classificação às oitavas da Libertadores.

Há quem diga que o estilo Muricy, apesar de sobejamente vencedor, não se coaduna com a vocação santista de jogar bonito e para frente. Talvez. No entanto, como se viu ontem, falta ao Santos equilíbrio. Em todos os sentidos, inclusive emocional.

Se Muricy privilegia o aspecto defensivo, também não se pode dizer que anule possibilidades ofensivas de suas equipes. Não se pode aventar, por exemplo, que Muricy anulará o potencial de Neymar, fazendo-o marcar atrás ou impedindo que o jogador arrisque lances mais ousados à frente. A principal mudança deve ser no meio-campo, com maior ênfase na marcação. Jogadores como Adriano e Rodrigo Possebon têm boa oportunidade de mostrar serviço e, caso o façam convincentemente, ganhar uma vaga no time titular. Porém, para maiores especulações, há que se considerar o retorno de Arouca, ainda afastado por contusão.

JFQ

Nem tão dramático assim


Copa do Brasil - São Paulo 2x0 Santa Cruz


Quem esperava uma partida dramática para o São Paulo, ontem – confesso que eu esperava –, frustrou-se com o 2 a 0 imposto ao Santa Cruz, na Arena Barueri. Ou, em se tratando dos são-paulinos, sentiu-se aliviado com a relativa tranqüilidade com que a equipe comandada por Carpegiani obteve sua classificação para as quartas de final da Copa do Brasil. Não que tenha sido fácil, mas foi uma classificação, no mínimo, sem grandes sustos.

Sem a ajuda da entusiasmada torcida pernambucana, que empurrou a equipe na semana passada, e sem a ousadia necessária para buscar o gol adversário, o Santa Cruz não ofereceu grande resistência. O São Paulo, bem superior tecnicamente, impôs-se desde o princípio e não foi importunado por contra-ataques na maior parte do jogo.

Zé Teodoro usou a mesma estratégia de marcar Lucas na base do homem a homem. Só que, desta vez, Evandro Sena não teve a mesma eficiência da partida anterior. O jovem craque buscou desvencilhar-se, conseguindo por algumas vezes. A marcação cerrada, porém, acabou por provocar um desentendimento mais forte entre os jogadores, o que culminou na expulsão dos dois. O vermelho, na minha modesta opinião, foi exagerado.

No mais, o árbitro Gutemberg de Paula Fonseca, em que pese a propensão aos chiliques e manifestações exageradas de autoridade, conduziu bem a partida. Pelo menos, não há que se atribuir a ele o placar e a classificação são-paulina.

Quem errou feio foi André Oliveira, zagueiro do Santa Cruz, que cometeu pênalti absolutamente desnecessário em Dagoberto – a bola já estava nas mãos do goleiro. A atitude de Oliveira foi decisiva, não por provocar o segundo gol são-paulino, já que Rogério Ceni perdeu a penalidade, em inusitada tentativa de cavadinha, mas por deixar a equipe pernambucana com um jogador a menos. Com isso, induziu o time de Zé Teodoro a uma estratégia defensiva, buscando a decisão por pênaltis quando um golzinho praticamente resolveria a parada a favor do Santa.

Contundido, Fernandinho deu lugar a Marlos, que imprimiu boa movimentação no meio-campo. A substituição mais produtiva, porém, aconteceu no segundo tempo. Ilsinho entrou no lugar de Casemiro e passou a criar várias oportunidades pelo lado direito. Aos 27, ele próprio marcou o gol da classificação.

Dada a opção defensiva e sem conseguir executar contra-ataques eficientes – Landu e Gilberto não se encontraram na partida – a manutenção do placar foi fácil para o São Paulo. Ainda mais depois que o Santa perdeu mais um jogador, Renatinho, expulso.

O Goiás será o adversário do Tricolor paulista nas quartas de final da Copa do Brasil

JFQ

***

Os confrontos das oitavas de final da Copa do Brasil

Flamengo x Horizonte-CE
Grêmio Prudente x Ceará
Caxias x Coritiba
Vasco x Náutico
Atlético-PR x Bahia
Palmeiras x Santo André
Botafogo x Avaí
São Paulo x Goiás

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Afinal, quem são esses mercenários?

Luiz Zanin


Sei que a situação entre Ganso e Santos está cada vez pior. Parte da torcida tachou o jogador de mercenário na derrota para o Palmeiras, domingo na Vila. Como não estava lá, não sei avaliar a dimensão da coisa. Pode ter sido uma minoria. Depois ouvi por uma rádio o coro dos descontentes. Pareciam uns três ou quatro gatos pingados, aquele tipo de gente que fica indignada diante das câmeras de TV e os microfones abertos, e depois se cala. De toda forma, mesmo vindo de uma minoria e, portanto, de parte não representativa da torcida, esse tipo de xingamento revela pelo menos um sintoma. A relação não é boa, e pode se deteriorar ainda mais, precipitando a saída do jogador. Mas não é exatamente isso o que ele deseja? Não é essa uma atitude padrão? Jogador anuncia que deseja ir embora; torcida o repudia; ele então diz que não tem mesmo mais ambiente e vai-se embora. Fim de jogo.

Todo jogador sabe que se quiser se queimar com a torcida, basta dizer que tem vontade de deixar o clube. É infalível. E por motivo dos mais simples. A torcida recebe esse tipo de declaração como insulto àquilo que mais preza no mundo - a camisa do seu time de coração. É como se o jogador dissesse que aquele manto sagrado não o aquece; que o clube é mera vitrine, passo intermediário para o que de fato interessa, o grande europeu onde terá fortuna e fama planetária. A torcida se ofende, mesmo se o boleiro repetir o chavão generalizador: "Todo jogador sonha em ir para a Europa e eu não sou diferente, etc."

Não adianta colocar as coisas nestes termos. Há um abismo intransponível entre esse tipo de jogador negociável e a torcida. Um trabalha na base da fria racionalidade econômica; a outra, no registro da emoção. Dificilmente se encontram. E, quando se encontram, o casamento é breve. Assim é a vida, no nosso tempo. E, para falar a verdade, a coisa pode ter se agravado, mas vem de muito longe. Dizem que quando Leônidas da Silva trocou o Flamengo pelo São Paulo, foi chamado de...mercenário, do que mais? E não parece ter sido o primeiro. Domingos da Guia, o Divino Mestre, conhecido pela dureza com que negociava contratos, era malvisto por dirigentes. O inocente Garrincha brigou com a diretoria do Botafogo, etc.

Enfim, o profissionalismo implica conflitos de interesse e cada um procura onde pode realizar suas aspirações, em especial se estas se traduzem em cifras astronômicas. Simples assim. Claro que tudo se alterou muito da época de Leônidas para cá. Naquele tempo, o jogador era pouco mais que uma mercadoria do clube, que fixava o preço do seu passe como bem queria. Hoje tudo mudou para o extremo oposto e o clube virou a parte fraca na relação. Jogadores e seus representantes, incluindo aí aqueles que detêm parte dos seus direitos econômicos, ditam as regras. Ao clube cabe formar atletas, pagar salários de marajás a crianças imberbes, sustentá-los quando se contundem, investir no tratamento médico (e psicológico) e, quando curados, ouvi-los dizer que à noite sonham mesmo é com o Barcelona e com o Milan. É a vida, amigos. Mas é claro que também isso não está direito e um certo reequilíbrio deverá ser encontrado no futuro. Mesmo porque existem contratos e eles deveriam ser respeitados, como acontece em qualquer outro tipo de relação na sociedade, de aluguéis a vínculos de trabalho.

Ganso, por exemplo, tem contrato assinado com o Santos até 2015 e não deveria estar fazendo marola tanto tempo antes do seu vencimento. Deveria voltar a jogar bola e deixar as coisas correrem mais frouxas porque, ao reencontrar seu futebol de antes da contusão, fará fortuna de uma maneira ou de outra. Não precisa se afobar e nem entrar na conversa de quem quer apenas lucro rápido e fácil. Esses, sim, são os verdadeiros mercenários. Os profissionais.
 
* Publicado em O Estado de S.Paulo, em 05/04/2011.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Racismo, não! Homofobia, pode?

Há poucos dias, o lateral Roberto Carlos, em partida do seu time, o Anzhi Makhachkala, contra o Zenit, ambos da Rússia, foi alvo de manifestação racista ao entrar em campo. Um torcedor aproximou-se para lhe entregar uma banana. Na partida entre Brasil e Escócia, uma banana foi jogada no gramado, causando enorme mal-estar por, num primeiro momento, suspeitar-se tratar de ato racista contra Neymar.

Os dois episódios, pela associação com o racismo, causaram asco na maioria das pessoas. “Como pode acontecer algo assim em pleno século XXI?”, indagam jornalistas, jogadores, torcedores e cidadãos em geral.

No entanto, a mesma repulsa não ocorre em relação à homofobia. Como se esta forma de preconceito não tivesse alcançado, digamos, o status de atitude moralmente reprovável ou mesmo criminosa que já alcançaram o machismo e o racismo, por exemplo.

Prova disso foi a manifestação da torcida do Cruzeiro, em partida pelas semifinais da Superliga de vôlei masculino, contra o jogador Michael dos Santos, do Vôlei Futuro, de Araçatuba (ver matéria: http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2011/04/volei-futuro-reclama-de-homofobia-e-tumulto-em-minas-cruzeiro-rebate.html ).

É bom que se diga: a repulsa causada pelo racismo e a quase normalidade com que se dá a homofobia não é um estranho contraste na cabeça de poucos, mas cultivado pela maioria das pessoas na nossa sociedade. Por um lado, há que se comemorar o fato de negros, apesar dos pesares, terem avançado nas suas conquistas. Reforço: apesar dos pesares, ou seja, apesar de estarmos muito longe de considerar superado o problema do racismo no Brasil. Por outro lado, é premente que sejam tomadas atitudes enérgicas para que atos de hostilidade contra homossexuais deixem de ser entendidos como fruto de um “preconceito aceitável” ou, pior, como reação legítima de resguardo da família, dos bons costumes ou qualquer valor tradicional concebido de modo bitolado, fechado, cujos defensores mais radicais se veem como guardiães da palavra de Deus, da Moral ou o do que os valha.

Por falar nisso, o deputado Jair Bolsonaro, ontem, no programa CQC, da Band, confirmou que fora mal interpretado na entrevista de semana passada. Tentando externar toda sua raiva contra os homossexuais, foi, coitado, tomado por racista. Quanta injustiça! A propósito, parabéns a Marcelo Tas, que, expondo a si próprio e à filha, que é gay, deu verdadeira prova de coragem ao tornar público seu orgulho por ela. Quem sabe, um dia esse orgulho possa superar o ódio e incapacidade de convivência ainda vistos em campos, quadras, parlamentos e alhures. Chegou a hora de dar uma banana a todas as formas de preconceito, inclusive a homofobia.

JFQ

Futebol comparado

Antero Greco


Na crônica de ontem, falei de como certos clubes nos marcam, por proezas que vimos na infância. Pois vários deles renovaram, no espaço de 24 horas, o fascínio que sempre provocaram em mim. Aqui em Milão, pude assistir ao vivo à vitória do Milan por 3 a 0 sobre a Inter, na noite de sábado, numa experiência única. Já neste domingo, de maneira também inédita, vi o Palmeiras fazer 1 a 0 no Santos, mas pela telinha da do computador. Graças à tecnologia me senti em casa. Só não entendo como certos sites passam jogos que pagamos aí...

Tanto um clássico quanto outro tiveram tudo o que se espera deles: tensão, provocações entre torcidas e jogadores, lances de técnica e criatividade, vitórias convincentes. A do Milan representou grande passo para o título Italiano, num torneio por pontos corridos e a sete rodadas do fim. A dos palmeirenses serviu para fortalecer a autoestima de um grupo que partiu desacreditado, lidera a fase de classificação e pode sustentar a pretensão de colocar a mão na taça do Paulista na fase de mata-mata.

O Palmeiras não se comportou totalmente como o Milan, que foi muito ofensivo diante da Inter. Mas, assim como o rubro-negro italiano, a equipe de Felipão mais uma vez soube ser consistente na defesa. A segurança na retaguarda tem sido a base para que ambas obtenham sucesso em seus respectivos campeonatos. Os milaneses têm mais opções para o ataque.

Vi um clássico tenso na Vila, pelo menos no início. Ninguém alisou, a ponto de sobrarem safanões aqui e ali entre Kleber e Neymar. Ainda bem que Vinicius Furlan teve o bom senso de acalmar e apelou para a advertência, não para a expulsão direta como muitos de seus colegas. Gosto quando árbitros só mostram cartão vermelho em casos extremos.

A partir do momento em que se preocuparam mais com a bola, os dois times melhoraram. O Santos reclamou de pênalti em duas ocasiões - e fiquei em dúvida no lance do chute do Danilo santista que bateu no braço do xará alviverde. Foram poucas, porém, as oportunidades de gol. As que mais me chamaram a atenção se limitaram a duas defesas de Deola e a bolas que Marcos Assunção mandou na trave, para espanto e alívio do goleiro Rafael. Esses velhos rivais já tiveram encontros mais notáveis.

O Palmeiras desatou o nó graças à persistência de Kleber e à ação dos vários "operários" que compõem o time. O gol veio numa hora decisiva, em que o desgaste era evidente para ambos os lados. Depois do baque, o Santos entregou os pontos, da mesma forma como aconteceu com a Internazionale. Só não sofreu a humilhação da turma de Julio Cesar, Maicon e Thiago Motta, que levou um baile do Milan e agora deve pensar mais na Copa dos Campeões, já que amanhã recebe o Schalke na abertura das quartas de final. Na Séria A, está em 3.º

Milagre napolitano. Entre um clássico e outro, pude também acompanhar, ta aqui na Itália, um dos confrontos mais sensacionais dos últimos tempos, que terminou com vitória de virada do Napoli por 4 a 3 sobre a Lazio, no começo da tarde. Tenho certeza de que San Gennaro, o protetor de Nápoles, deu uma forcinha para sua gente. Só assim para explicar o que aconteceu no Estádio San Paolo.

A Lazio abriu vantagem de 2 a 0 - um dos gols, de André Dias, já na etapa final -, permitiu o empate com gols um atrás do outro, ficou novamente na frente com gol contra (Aronica), teve outro não validado (a bola bateu no travessão e caiu atrás da linha) e ainda sofreu a reação no final. O uruguaio Cavani foi o herói do dia, com três gols que só não deixaram o Vesúvio entrar em erupção, mas que botaram fogo nas arquibancadas. O Napoli está a três pontos do Milan e a briga pelo scudetto promete ser bonita. Quem sabe o santo não intervém de novo? Seria bacana. Amém

PS. Estava sem palpite para o clássico na Vila e prometi ontem que, ao ver a Santa Ceia, original, que está em Milão, tentaria inspirar-me. Voltei para o hotel com intuição de que daria Palmeiras. Juro que foi isso mesmo!

* Publicado em O Estado de S.Paulo, em 04/04/2011.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Favorito, sim!


Santos 0x1 Palmeiras

No início do Paulistão, o Palmeiras era, talvez, o representante dos quatro grandes no qual a maioria dos comentaristas esportivos menos botava fé. Apesar do comando de Felipão, o Verdão era – e continua sendo – o grande com elenco mais limitado tecnicamente. Ainda mais se considerarmos que Valdívia, a grande contratação do clube, passa por longo período afastado dos gramados por lesão. Bem como o eterno ídolo Marcos.

A rigor, o Palmeiras tem um grande jogador – Kleber, o gladiador – e um veterano, digamos, que impõe respeito – Marcos Assunção. No mais, trata-se de um elenco de jogadores regulares. Porém, pelo que vêm mostrando no campeonato, esses mesmos jogadores compensam a menor qualidade técnica com rigorosa disciplina tática. Quiçá, dos grandes, o aquele com padrão de jogo mais bem definido. O que faz desse time, com todos os méritos, o líder do campeonato e tão favorito ao título quantos os demais grandes.

Na partida de ontem, em que, ironicamente, o Peixe mostrou dificuldades em jogar embaixo d’água, o escrete de Felipão soube impor sua vigorosa marcação sobre Elano, Ganso, Neymar e companhia. Aliás, afora Neymar, que mostrou bastante empenho – mas longe do brilho costumeiro –, as demais estrelas santistas estiveram irreconhecíveis. Principalmente Ganso, que errou passes curtos e teve a bola roubada algumas vezes. No entanto, a má atuação do time da Vila não desvaloriza em nada a eficiência – ou o equilíbrio, termo da moda – demonstrada pelo Palmeiras. Pelo contrário, foi o Palmeiras que soube se impor e determinar seu ritmo ao adversário.

Cicinho foi implacável na marcação de Neymar. Rivaldo mostrou a aplicação de sempre, marcando e arriscando perigosas subidas ao ataque. Márcio Araújo, Danilo e Thiago Heleno compuseram um paredão quase intransponível à frente de Deola. Patrik mostrou habilidade e ótima visão de jogo ao deixar Kleber na cara de Rafael para fazer o gol da vitória.

O gladiador – o Rooney brasileiro, se me permitem a comparação –comprovou a boa fase, movimentando-se constantemente, buscando a bola no meio e partindo para o ataque, na base da velocidade e da força.

Seu companheiro de ataque, Adriano, iniciou a partida demonstrando excessivo nervosismo, assim com Neymar, e deu lugar a Luan. O substituto entrou muito bem. Arrisco até a dizer que a entrada de Luan foi o divisor de águas da partida, dando ao Palmeiras maior poder de articulação e ataque, além da eficiência defensiva, seu ponto mais forte.

***

São Paulo 1x0 Mirassol

O São Paulo passou por maus bocados contra o bom Mirassol, na Arena Barueri. Sofreu investidas perigosas e até tomou bola na trave. Em um jogo bastante equilibrado, foi salvo pela genialidade de Lucas, autor do gol de placa que garantiu os três pontos do Tricolor. Será difícil a Mano Menezes não colocar o garoto no time titular da seleção.

Botafogo 0x0 Corinthians

Já o Corinthians fez partida sofrível contra o fraco Botafogo, em Ribeirão Preto. O pobre Liedson passou os 90 minutos de jogo à procura de alguém que lhe servisse a bola em condições de marcar. Em vão. O 0 a 0 foi o resultado mais justo, uma vez que as regras do jogo não preveem a possibilidade de placar negativo.

JFQ

sexta-feira, 1 de abril de 2011

É duro ser bonito


Dentinho sempre disse que era lindo. Eu e o resto da torcida do Corinthians, apesar do gostarmos do seu futebol, não fazíamos o mesmo juízo da lata do moleque. Mas, depois da notícia veiculada ontem, talvez tenhamos que rever nossos conceitos.

Foi noticiado que Dentinho – sim, o Bruno Bonfim, atacante do Corinthians – está namorando nada mais, nada menos que Daniele Souza, a Mulher Samambaia. Pois é, as aparências enganam. No caso, suspeito que tenham enganado a ex-paniquete. Bem...

Enfim, apesar de verde, Dentinho, que não é palmeirense – nem são-paulino –, está encarando a Samambaia. E, pasmem, vice-versa!

Pelo jeito, como o Ozzy Osbourne, que entrou no Ginásio do Inter com uma bandeira do Grêmio, a moça é bem louca. Pelas mãos de Dentinho, ainda, será muito bem-vinda ao bando.

Ai,ai,ai, ui, ui!

JFQ