sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Qual Felipão?

Eduardo Maluf




A CBF "apresentou" ontem Luiz Felipe Scolari como técnico da seleção. A questão é: qual Felipão vai assumir a equipe? O campeão da Libertadores de 1995 e 99, mundial em 2002 e vibrante comandante de Portugal ou o desmotivado e acomodado treinador do Palmeiras rebaixado para a Segunda Divisão?

Desde que retornou ao País e ao Palestra Itália, em 2010, Felipão não parece mais aquele líder obcecado por vitórias e por montar grandes times. Seu comportamento até certo ponto apático levou-me a escrever coluna intitulada "A crise de Felipão", em setembro de 2011. Em 2012, apesar do título da Copa do Brasil, manteve-se indolente. Quem acompanhou de perto seu trabalho nos anos 90 e no início da década passada chegou a ficar chocado com a mudança em seu estilo.

Big Phil, como é chamado na Europa, está na lista dos maiores treinadores da história de Portugal e do Brasil por suas notáveis conquistas. Depois de 2006, quando avançou à semifinal no Mundial da Alemanha com os portugueses, porém, não alcançou mais grandes feitos. Foi mal no Chelsea, sumiu no Usbequistão e manchou o currículo com a queda do Palmeiras para a Série B.

Esse simpático senhor de 64 anos tem carisma e é querido por grande parte da população. Tudo isso conta, sobretudo quando falamos de uma Copa no Brasil. Mas... e a eterna conversa de que seleção é momento? Vale para jogador e não para treinador? Ou abrimos exceção? Ele pode, claro, resgatar o entusiasmo ao se ver diante de um novo grande desafio em sua vida profissional. Mas não creio que esta fosse a hora de promovê-lo ao cargo.

Considerei equivocada a demissão de Mano Menezes (também motivada por questões políticas) por acreditar que o menor de nossos problemas estava na comissão técnica. O maior déficit, hoje, é de jogadores. Os principais nomes são jovens demais, como Neymar, Oscar, Lucas. Eles são talentosos, mas precisam de companheiros mais experientes para lhes dar retaguarda. É aí que pecamos.

O sinal de desespero na busca por um líder é a forma como encaramos o retorno de Kaká. Houve um festival de elogios ao meia do Real Madrid depois dos últimos amistosos. Será que José Mourinho não entende de futebol para deixá-lo no banco em quase todas as partidas do Real? Se o brasileiro estivesse no auge da condição, não ficaria fora nem de um conjunto de estrelas como esse espanhol.

A capacidade técnica de Kaká é indiscutível. Faltam-lhe, no entanto, sequência, ritmo, consistência... Tomara que seus problemas físicos tenham, de fato, sido resolvidos, mas só saberemos ao fim de uma temporada inteira.

Não era momento de mudança no comando da seleção - até por não haver nenhum nome com unanimidade para substituir Mano. A amarelinha sozinha já nos põe entre os favoritos em qualquer disputa, independentemente da situação. Mas estamos andando na contramão dos principais adversários e tornando nosso caminho para o hexa cada vez mais distante e esburacado.


Publicado em O Estado de S.Paulo, em 30/11/2012.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Feira de negócios

Tostão





Está praticamente certo que Mano Menezes não foi dispensado por razões técnicas, e que Felipão será o novo treinador da seleção.

Meses atrás, em uma coluna fictícia, escrevi que Mano Menezes, no psicanalista, dizia-se preocupado com a nomeação de Felipão como assessor do Ministério do Esporte. Mano suspeitava que Felipão era o técnico preferido do governo. Um mês depois da Olimpíada, Felipão saiu do Palmeiras. Será que a ficção estava próxima da realidade?

Repito minha hipótese de que a CBF, influenciada pela importância política e comercial da Copa e pelos investidores e marqueteiros, quer um técnico carismático, capaz de empolgar o torcedor, de conviver com a pressão de um Mundial no Brasil e ainda ser um escudo para os dirigentes. Mano é racional, frio e técnico. Sorri pela metade, como José Serra.

No passado, as estrelas do futebol eram os jogadores. Depois, surgiram os treinadores. Agora, é a época dos investidores e marqueteiros.

Isso pode ser bom ou ruim. Nenhum dirigente de clube ou da CBF decide nada sem ouvi-los. Nem sempre o que é bom para o time é bom para o clube, pelo olhar comercial e político. Cada vez mais, futebol é uma feira de negócios.

Guardiola foi um sonho. É lamentável a prepotência e o corporativismo dos técnicos brasileiros, antigos e novos, em relação aos estrangeiros, mesmo sendo Guardiola. Querem manter os empregos, o prestígio e ainda ficar próximos da CBF.

Obviamente, em um passe de mágica, nem mesmo em um ano e meio, Guardiola faria a seleção jogar tão bem quanto o Barcelona. Não temos tantos craques. Mas muitas coisas poderiam ser melhoradas já para o Mundial. Temos de pensar no futuro e criar novos conceitos.

A maior dificuldade do técnico seria a falta de um craque no meio-campo, no nível de Xavi, Iniesta, Busquets, Fàbregas, Xabi Alonso, Pirlo, Yaya Touré. Todos estão em uma lista de 15 armadores, selecionados pela Fifa, que vão ocupar três posições na seleção do ano. Nenhum dos 15 é brasileiro.

Enfim, os treinadores brasileiros perceberam que os volantes, além de marcarem bem, necessitam ter bons passes, serem organizadores, inventivos e ainda chegarem à frente. Só teremos um craque nessa posição quando os técnicos das categorias de base pararem de colocar os armadores habilidosos para ser meias ofensivos ou atacantes pelos lados.

Com a saída de Mano, que tentava mudar a maneira de jogar da seleção, continuaremos no jogo truncado, no estilo vapt-vupt. Às vezes, dá certo. Como disse Paulo Vinícius Coelho, quando Felipão era técnico do Palmeiras, o time parecia de futebol americano, que ganhava terreno (jardas), aos poucos, por meio de faltas, até chegar próximo do gol para Marcos Assunção jogar a bola na área.



Publicado na Folha de S.Paulo, em 28/11/2012.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Felipão é o novo técnico da seleção





A CBF já acertou com um novo técnico para a Seleção, mas não tem mais um diretor de Seleções: Andrés Sanches deixou nesta quarta o cargo, que acabou extinto pelo presidente José Maria Marin, e Luiz Felipe Scolari é o substituto de Mano Menezes. O anúncio oficial de Felipão, campeão mundial em 2002 com o Brasil, será feito na quinta.

Andrés pediu demissão do cargo de diretor de Seleções através de uma carta. Em São Paulo, Marin disse que a posição está extinta para a volta da função de coordenador, exercida nas Copas do Mundo de 1994 e 2006 por Zagallo, de 1998 por Zico e de 2002 por Antonio Lopes. Tetra nos Estados Unidos, Carlos Alberto Parreira é o mais cotado para assumir a tarefa de trabalhar na nova função.

FONTE: GLOBO.COM

http://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/2012/11/andres-sanches-deixa-o-cargo-de-diretor-de-selecoes-da-cbf.html

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Mano Menezes é demitido da seleção brasileira



O técnico Mano Menezes foi demitido no comando da seleção brasileira na tarde desta sexta-feira. O UOL Esporte apurou que a decisão sobre a saída do treinador já havia sido comunicada pela cúpula da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), via SMS, a outros integrantes da comissão técnica, como Carlinhos Neves, preparador físico do Atlético-MG. A entidade confirmou a informação em nota divulgada às 16h45 e acrescentou que toda a comissão técnica foi dissolvida. Os substitutos serão divulgados apenas em janeiro.

Fonte: UOL


Fair play e hipocrisia

Antero Greco





A mancada da semana tem Luiz Adriano como protagonista. O rapaz joga no Shakhtar Donetsk, time ucraniano recheado de brasileiros. Não sei se você assistiu ao lance na televisão ou leu reportagens a respeito. Então, repasso o caso aqui para situá-lo e para que possa acompanhar melhor a conversa.

Na terça-feira, o Shakhtar visitou o Nordsjaelland, na Dinamarca, pela Copa dos Campeões. Os donos da casa saíram na frente, e ameaçavam o plano de classificação antecipada do adversário. No meio do primeiro tempo, uma jogada foi interrompida para atendimento de jogador do time da casa. Na reposição de bola, Willian (ex-Corinthians) chuta pra frente, para retribuir a gentileza. Sem mais nem menos, Luiz Adriano aceita o passe, parte sozinho em direção à área, dribla o goleiro estupefato e faz o gol.

O atacante ignorou a bronca dos rivais, comemorou o empate com os companheiros e vida que segue. As imagens mostram a cara consternada de Mircea Lucescu, técnico do Shakhtar, e a de alguns atletas visitantes. A turma do time ucraniano ensaiou até amolecer, na nova saída, para permitir outro gol do Nordsjaelland, como forma de compensar a mancada continental de Luiz Adriano. Ficou na boa intenção, esnobou as vaias, venceu o duelo por 5 a 2 (com mais dois dele mesmo) e garantiu a vaga.

O episódio correu mundo, e Luiz Adriano tomou esculhambação de tudo quanto foi lado. Com razão. O gesto dele representou um bico na boa educação, no espírito esportivo, no respeito aos colegas de profissão e ao público. Uma atitude de rematada grosseria. Num primeiro momento, até fez pouco caso. Em seguida, se explicou, sob a alegação de que estava de costas para a jogada e pensou que ela fosse normal. Desculpa esfarrapada, sem dúvida.

Merecia puxão de orelhas dos companheiros e do treinador. Aliás, se tivesse coragem, Lucescu teria mandado Luiz Adriano para o banco imediatamente após o gol. Não esperaria sequer a bola rolar de novo a partir do grande círculo. Seria a resposta elegante do Shakhtar. Ou, então, exigiria que seus atletas deixassem os dinamarqueses marcarem, como ocorreu tempos atrás, num episódio semelhante (embora com gol involuntário, na reposição) em partida do Ajax. Ou seja, todos foram coniventes.

O desdobramento do incidente é curioso e oportunista. A União Europeia de Futebol ficou chocada com a desfaçatez do boleiro e na próxima semana vai avaliar se cabe punição. Encontrou, para tanto, artigo vago, no regulamento geral das competições, que fala em atitude antidesportiva e coisas do gênero.

Luiz Adriano foi descortês, isso é fato e indefensável. Mas, por ironia, não infringiu nenhuma regra do futebol. Não empurrou zagueiros, não estava impedido, não botou a mão na bola. Tanto foi legal a sequência que o juiz, constrangido, validou o gol.

Cabia, em seguida, algum comunicado oficial do Shakhtar ou da própria Uefa. Um voto de censura e fim de papo. Uma medida educativa e uma exortação ao fair-play. Mas, como vivemos tempos contraditórios, em que se pede liberdade e se exigem proibições, já se clama por punição severa. Os justiceiros de plantão pedem no mínimo suspensão longa, e lamentam que não haja açoite. Ou seja, sugerem mais e mais repressão.

A Uefa daria exemplo de lisura, se investigasse a fundo a origem do dinheiro farto que jorra em muitos clubes sob a jurisdição dela. Mas isso daria um trabalho do cão, mexeria sabe-se lá em quais vespeiros. Muito mais cômodo repreender um tosco.


Publicado em O Estado de S.Paulo, em 23/11/2012.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Às crianças palmeirenses

Juca Kfouri

 

Vovô Rossi estava só magoado quando escreveu que agora é Barcelona , que não quer mais saber do Palmeiras . Ano que vem, escondido no começo, abertamente do meio para o fim, ele torcerá como sempre pelo Verdão.

A força de vontade que ele teve para deixar de fumar não será cúmplice da traição confessada só da boca para fora, mesmo porque não houve traição alguma, só um desabafo de alguém que, de verdade, desde que morou na Espanha , se apaixonou pelo Barcelona , mas sem abandonar a primeira paixão, sempre inesquecível.

Escrevo para você, menina ou menino palmeirense, que está sofrendo com gozações na escola, no prédio, na rua, na TV, em todo lugar.

Os adultos são mais capazes de conviver com a dor, lidar com a frustração, na mesma medida em que fazem bobagens enormes, como as feitas por essa gente grande apenas no tamanho que andou comandando o Palmeiras nos últimos tempos.

Você, ainda criança, que não tem nada a ver com as lambanças dos mais velhos, precisa saber que amanhã, quando o Palmeiras estiver de volta imponente e vitorioso como sempre, a felicidade do reencontro será muito maior que essa dor passageira que não afeta o coração porque órgão único, sem divisão. Nós, adultos, maduros, racionalizamos tudo, até a paixão. Nós, jornalistas, precisamos ser críticos, aparentar objetividade e, muitas vezes, temos de provocar, para estimular mudanças. Foi o que fez o vovô Rossi.

Acredite, criança verde, sinônimo de esperança, que o 13 do ano que vem é o da sorte, que anuncia novas glórias. Saiba que por grande que seja o clube catalão, o Palmeiras é ainda maior. Nas três vezes em que os dois se encontraram, o gigante brasileiro venceu duas e empatou outra. O primeiro jogo acabou 2 a 2, em 1949, em Barcelona , no velho estádio Les Corts. O segundo foi 2 a 1, em 1969, já no Camp Nou, quando o Palmeiras conquistou a Taça Cidade de Barcelona , e o terceiro, 2 a 0, em Cadiz, em 1974, quando ganhou o Troféu Ramón de Carranza.

Quem sabe se, em 2013, para inaugurar o novo estádio, não se faz um quarto jogo, Barcos x Messi, para ampliar a vantagem?

Do mesmo jeito que este avô aqui em nenhum momento quis enganar você alimentando a ilusão de que o time não cairia, agora o recado é o mesmo dado à minha neta maior quando a queda aconteceu, cinco anos atrás, com o nosso time: desesperar, jamais! E ela hoje, aos sete anos, é uma eufórica campeã da Libertadores .

O mesmo acontecerá com você. Porque o gosto amargo de limão verde pode virar uma doce e deliciosa limonada. Que o vovô Rossi saboreará junto, às gargalhadas.

São os votos deste avô cujo clube rival tem o tamanho que tem também porque do outro lado está o seu, a gloriosa Sociedade Esportiva Palmeiras .

Juca Kfouri é formado em ciências sociais pela USP. Com mais de 40 anos de profissão, dirigiu as revistas "Placar" e "Playboy". Escreve às segundas, quintas e domingos na versão impressa de "Esporte".


Publicado na Folha de S.Paulo, em 22/11/2012.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Ser grande




 
No dia 2 de dezembro de 2007, assisti, sentado no chão e com o som da TV desligado, à partida entre Grêmio e Corinthians que culminou no rebaixamento do meu time para a segunda divisão do campeonato brasileiro. O sofrível desempenho no certame tornara previsível o desfecho trágico. Isso não impediu, ao apito final, o susto, a descrença, a acusação de culpados, a vergonha. Passados alguns minutos, ambiente tomado pela tristeza e pelo som cruel de rojões e buzinas, com os olhos marejados, abri a porta do quarto onde minha mulher, solidária – apesar de são-paulina –, recolhera-se para que eu curtisse minha dor em paz. Pronta para consolar-me, ela se surpreendeu com o improvável sorriso na face do marido. Sabe-se lá por que, sem mais nem menos, fui tomado pela certeza quase absoluta de que tal momento era uma etapa necessária para o Timão tornar-se verdadeiramente forte.

Qual um profeta, liguei para meu cunhado, também corinthiano, ávido por lhe dar a boa nova. Após algumas tentativas frustradas – por razões óbvias, ele evitava o telefone –, consegui despejar-lhe a profecia:

“Cara, pode escrever: o Dualib já está fora, o clube vai se reestruturar, o time vai se reorganizar, vamos ganhar a segundona, o Paulistão, a Copa do Brasil e, esteja certo, mais cedo do que você imagina faturamos a Libertadores!”

O rompante de otimismo não impediu a preocupação com as possíveis consequências da queda em certos torcedores: meus sobrinhos. Frente à primeiríssima grande decepção futebolística, o que pensariam e como reagiriam Ana Laura, 9, Rodrigo, 5, e Pedro, 1? Como absorveriam as gozações na escola e, pior, os questionamentos íntimos? E nós, adultos, como prosseguiríamos na catequização clubística, na pregação de que pertencíamos à torcida mais fiel da camisa mais gloriosa do esporte bretão? Como sustentar a idolatria mosqueteira, enfim, diante de tamanha demonstração de incompetência ludopédica? Eles, que já haviam entrado em campo com os jogadores, passariam a recusar as visitas eventuais ao Pacaembu e ao Parque São Jorge? Sem enrolação, a pergunta fatal era: continuariam corinthianos? Eis a mais angustiante das indagações, uma vez que o distintivo do time do coração não é um mero desenho, pois, sim, um verdadeiro brasão de família: tão importante que a muitos acompanha por toda a vida, do enfeite na porta da maternidade até a bandeira sobre o caixão!

A solução foi aproveitar o momento para dar novas lições às crianças. As lições da derrota, por assim dizer. Primeira, a lição da humildade: vencer e perder fazem parte da vida; aprendemos com ambos. De mais a mais – aí a fala já não era mais tão humilde –, o futebol perderia a graça se só nós vencêssemos... Segunda, a lição do tempo e do trabalho: há fases de conquistas e fases de perdas; é preciso paciência, esforço e inteligência para que superemos o período ruim e voltemos às vacas gordas. Como diz o ditado, não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe. Porém, mudanças não vêm por inércia (tenho minhas dúvidas se as crianças entenderam essa coisa de inércia). Por fim, a mais importante das lições: independentemente das derrotas, somos grandes e jamais deixaremos de sê-lo. A superação será a maior prova da nossa grandeza. Grandeza, aliás, que não está somente nos resultados, mas, acima de tudo, no nosso orgulho em vestir a camisa em qualquer circunstância.

Esta última era a lição mais delicada. Mesmo com a retórica bem construída, francamente, é impossível sustentar o discurso da grandeza quando um escrete só faz apanhar. O próprio torcedor, peregrinando anos e anos pelos estádios sem faturar uma tacinha sequer, passa a questionar se seu clube é – ou ainda é – realmente grande. Angústia maior: sendo extremamente penoso torcer para time pequeno, muitas vezes o filho abdica da paixão herdada do pai, virando a casaca em prol de camisa mais vencedora. Sejamos sinceros: quantos filhos de corinthianos, palmeirenses e santistas não se tornaram são-paulinos após as Libertadores e Mundiais conquistados pelo tricolor?!

Para sorte de minha família, o Corinthians, quiçá o time grande mais sujeito ao risco do apequenamento na história do futebol brasileiro – que o digam o jejum de 23 anos, a longa virgindade de títulos nacionais e internacionais, e o rebaixamento –, confirmou minha profecia. Mudanças positivas nas áreas política, administrativa, de marketing e dentro das quatro linhas foram realizadas (em outro momento posso discutí-las), resultando, hoje, no devaneio de virarmos uma potência futebolística planetária. Essa virada não teria ocorrido sem a queda em 2007, não tenho dúvida. Também não seria possível sem a união da Fiel em prol do clube, ostentando o orgulho da nossa condição de “time do povo”. Ou, como dizem pejorativamente os adversários, supostamente “de elite”, unimo-nos como torcida de desdentados, de analfabetos, de favelados, sem estádio, etc. Tomados de nosso espírito popular genuíno, meus sobrinhos incluídos, voltamos a gritar, orgulhosos: “É nóis, mano!”

Toda essa ladainha, claro, foi inspirada na “recaída” do Palmeiras. Quem sou eu para dar conselhos, especialmente a um arquirrival! Ademais, um arquirrival para quem a segundona não é experiência inédita! Todavia, atrevo-me a aconselhar o coirmão, pensando (quase disse “torcendo”) para que o Verdão não apenas volte e permaneça na divisão principal, como também para que recupere a condição de time vitorioso, temido pelos demais. Penso que os palmeirenses devem pressionar sua diretoria a promover mudanças necessárias e definitivas, começando por uma trégua política, passando por ações de marketing (a marca Palmeiras, apesar de desgastada, tem muito valor), pela escolha de um plantel competitivo e pela manutenção do treinador por longo tempo, de preferência, em paz para trabalhar. A propósito, paz é algo há muito não visto no Parque Antártica, vide o nervosismo de vários jogadores observado ao longo do Brasileirão. Por outro lado, dois fatores já pesam a favor: a construção da nova Arena e a participação na próxima Libertadores. Se não for muita afronta ao orgulho próprio, recomendaria ainda usar o “case” de sucesso do maior rival como referência.

Outro conselho, mais subjetivo: busquem e expressem a alma alviverde. Há tempos não vejo torcedores do Palestra, no seu mais legítimo estilo “brasileiro-italianado”, qual o paulistano da gema a encarar sem medo a labuta diária, baterem no peito e dizer: “Aqui é Parmera, bé-lô!”

Termino manifestando especial solidariedade aos amigos palmeirenses ora apreensivos com a reação de suas crianças e com o futuro da família palestrina. A eles digo: aproveitem a queda para transmitir as tais lições aos pequenos. Sobretudo a lição da grandeza, segundo a qual para ser grande é preciso, antes de tudo, sentir-se grande. Aliás, não há ninguém que queira mais ser grande do que os pequenos! Tais como o Lucas e a Renatinha, filhos do palmeirense Fabrízio Hamanaka, o Gustavo, filho do palmeirense Fernando Cunha, ou o Théo, filho do não menos palmeirense Glauber Piva. Para comprovar a sinceridade da recomendação, assevero que farei o mesmo com meu filho Henrique, prestes a chegar. Muito embora espere fazê-lo sem sair da Série A.


JFQ

Rumo certo

Antero Greco




O Corinthians passou a maior parte da temporada em busca de patrocínio para a camisa. No início, fincou o pé em R$ 50 milhões. Diante de mercado conservador, topou negociar por valores menos ambiciosos. Até que, semanas antes da disputa do Mundial de Clubes, conseguiu fechar acordo – e com a Caixa Econômica Federal -, anunciado anteontem. Bateu o martelo por R$ 30 milhões, uma soma nada desprezível.

Apareceu o parceiro e se alastraram comentários pouco elogiosos ao compromisso assumido pelas partes. Muitos já colocam em dúvida a lisura da transação, interpretada como nova ajuda estatal ao clube. Não faltaram ligações com as benesses, indesmentíveis, recebidas para a construção do estádio, assim como se enxergou a mão do ex-presidente Lula, que dá sua forcinha. Sim, o Corinthians tem proximidade com o poder...

Viramos gente desconfiada, quando se trata de atuação de entidades públicas no esporte. Por tantas situações obscuras, há tendência para se detectar maracutaia na mais singela ação. Da mesma forma, não se deve descartar dose aguda de dor de cotovelo, sentimento tão antigo quanto o homem. O sucesso alheio incomoda, e nada melhor do que desmerecê-lo, para aplacar a inveja.

Até prova em contrário, Corinthians e Caixa selaram contrato comercial como ocorre todos os dias, em qualquer área. O clube aceitou a oferta, por considerá-la ajustada a necessidades financeiras dele. O banco viu oportunidade de expansão de negócios com esse meio de divulgação da marca. E é disso que se trata: estratégia publicitária. A Caixa tem concorrentes fortes que descobriram a importância do futebol, e partiu para o contragolpe no mesmo terreno.

O ensaio começou meses atrás, com pactos semelhantes, embora mais baratos, com Avaí, Atlético-PR e Figueirense, até chegar ao Corinthians, com ou sem padrinho influente. A diferença de investimento é compreensível, e não há comparação entre o apelo dos times do Sul em relação ao do paulista. Por mais que simpatizantes de outras agremiações se sintam incomodados, é incontestável a expansão alvinegra. E, pelas regras capitalistas, normal que ele receba mais.

O Corinthians está em evidência, também, pelo desempenho em campo. Logo mais estará no Japão, em evento de alcance global; em 2013, disputará outra vez a Taça Libertadores, fora as competições nacionais de praxe. Como dá audiência, aparecerá muito na televisão aberta. Ou seja, vive um círculo virtuoso que o favorece. Maré mansa que naturalmente atrai interessados em convênios.

O Corinthians tem uma interessante atividade de marketing, isso é inegável. Muitas vezes exagerada, com mais barulho do que resultados. Já foram vários os tiros n’água, e embarcou neles quem quis. Mas, melhor atrever-se, com risco de errar, do que acomodar-se e perder o trem da história. Com esse ajuste, o campeão da América dá salto de qualidade e mais um passo para amarrar o burro na sombra. Bem nutrido e saciado.


Publicado em O Estado de S.Paulo, em 21/11/2012.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Na rota do iceberg

Luiz Zanin


Dizem os especialistas que uma falha apenas não basta para derrubar um avião ou afundar um navio. É preciso que várias delas aconteçam ao mesmo tempo e se aliem a erros humanos. Também acredito que uma só causa, por forte que seja, não explique o descenso de um dos gigantes do futebol. Estamos falando do Palmeiras, afinal um octocampeão brasileiro, time de passado invejável. Caiu. Pela segunda vez em dez anos.

Todos já falaram sobre o assunto e mesmo eu quando a queda era provável mas não consumada. E todos fomos unânimes em apontar a incúria administrativa como responsável pelo péssimo desempenho do time, que acabou por levá-lo ao buraco.

Não tenho a mínima intenção de livrar a cara dos dirigentes. São mesmo ineptos a mais não poder – e não apenas no Palmeiras. Além disso, mais usam os clubes (por motivos políticos, vaidade ou razões inconfessáveis) do que o servem. No Palmeiras, o caso fica pior pela interminável disputa interna, o que só agrava as incompetências. E não deixa que os competentes trabalhem, o que parece ter acontecido com Luiz Gonzaga Belluzzo, economista brilhante que simplesmente não conseguiu impor suas ideias no Parque Antártica.

A minha dúvida é se, por ineptos que sejam, esses dirigentes conseguiriam, sozinhos, derrubar um gigante. A minha impressão é que não. Embora sejam os principais responsáveis, pois afinal estão no “comando”, tiveram o auxílio de vários outros fatores para conseguirem levar o Palestra ao abismo.

É possível, também, que parte da torcida tenha dado a sua inestimável contribuição. Foi responsável pela perda de mandos na etapa crucial da decisão. Fazer ameaças num momento desses equivale a jogar um balde de gasolina para apagar o incêndio. Nada a ver com a torcida de verdade, essa que acompanhou e sofreu com o time, lágrima por lágrima. Esta estará lá, na série B, incentivando os jogadores para que o time esteja de volta à série A em 2014.

Há também o aspecto psicológico, aquele lance do “vamos fazer os pontos quando quisermos, etc”, depois da conquista da Copa do Brasil que garantiu a vaga na Libertadores. Esse otimismo simplório deve ter contaminado o elenco – que já não é dos melhores. Como se sabe, a pior coisa do mundo é aliar incapacidade a ego inflado. Essa mistura explosiva pode ter contribuído para o resultado final. Talvez a diretoria tenha imaginado um elenco que não existia na realidade. Os técnicos podem ter se enganado. E pode ser que o próprio elenco tenha participado dessa ilusão coletiva.

Há um aspecto perverso nessa valorização excessiva da Libertadores da América. Adoro o torneio e o acho o mais difícil do mundo, além de ter o nome mais bonito. Mas, que diabos, não é tudo na vida. O Palmeiras, com a vaga assegurada, deu o ano por ganho. Esqueceu do compromisso no Campeonato Brasileiro. Quando acordou, era tarde. Pior: pensou que, como já tinha a Libertadores, não havia nada a temer. Time que está na Libertadores não cai.

É aquela história de que também falam os entendidos: se não achassem o Titanic insubmergível, talvez ele tivesse chegado a Nova York.



Publicado em O Estado de S.Paulo, em 20/11/2012.

Paixão rebaixada

Escrevi o texto abaixo quando o Palmeiras caiu pela primeira vez, em 2002. Mutatis mutandis, serve para o momento atual. Aos amigos palestrinos.
JFQ

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Paixão rebaixada


“Me diga sinceramente uma coisa, Mr.Buster:/ O senhor sabe lá o que é um choro de Pixinguinha ?/ O senhor sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal ?/ O senhor sabe lá o que é torcer pelo Botafogo ?”. Assim termina o poema “Olhe Aqui, Mr.Buster...” em que Vinícius de Moraes tenta explicar a um americano podre de rico como ele, o “poetinha”, então residente nos Estados Unidos, poderia voltar à “Latin America", mesmo com grande prejuízo financeiro. Vinícius, como bom brasileiro, apontava ao americano as nossas delícias, as nossas belezas e, sobretudo, as nossas paixões. Uma delas, talvez a maior de todas, a paixão pelo futebol. Como diria outro gigante da literatura nacional, Nelson Rodrigues, em crônica ao Jornal dos Sports: “Fala-se que o amor é a mais sombria, a mais violenta, a mais cruel paixão do homem. Mentira: é o futebol”. Provavelmente o é, em se tratando de um país cujo maior orgulho é dizer-se pentacampeão. Aqui, mais que em qualquer outro lugar, o futebol é fonte eterna de inspiração, alegrias, risos, mas também de choro, frustração, angústia, dor. É uma paixão, enfim.

Pode até parecer crime de lesa-pátria aos mais fanáticos torcedores do meu time, o Corinthians, mas não fiquei exatamente feliz com o rebaixamento do Palmeiras. Não compartilho da cruel felicidade assentada na desgraça alheia, nem que seja a do pior inimigo. Tenho velhos e bons amigos palestrinos, sei o que é a paixão por uma camisa, que a chateação por tamanha derrota não é das menores. Ademais, o mundo dá voltas e prudência não faz mal a ninguém. Há porém uma outra razão para não ficar contente: na qualidade de corintiano, sei que o arqui-rival cumpre uma função de suma importância. O freqüente combate entre os dois escretes fortifica também a minha paixão futebolística, especialmente a paixão pelo Timão.

Comecei a gostar de futebol pelos idos de 1979. Dois anos após o título de 77 que tirara o Corinthians do sofrido jejum de quase 23 anos, repetia-se a vitória contra a Ponte Preta. Logo após veio o bicampeonato paulista de 1982/83 com a chamada “democracia corintiana”, um time comandado por Sócrates, Casagrande e companhia, senão brilhante, bastante combativo. Lembro-me de que nessa época o Palmeiras estava abatido, desanimado, até certo ponto frágil. Passava pela fila que durou dezessete anos e tinha-se a impressão (pelo menos eu a tinha convictamente), de que estava fadado a sempre nadar, nadar e morrer na praia. Talvez fosse uma impressão parecida, guardadas as devidas proporções, à dos palmeirenses que acompanharam o calvário do “faz-me-rir corintiano” na época em que Ademir da Guia, Leivinha e outros encantavam com sua “academia”.

O fato é que, dada a fraqueza do adversário, não tinha ainda a noção exata do que era um Corinthians x Palmeiras. Só a tive quando este, fortalecido pelo dinheiro da Parmalat, montou uma equipe quase imbatível, tendo-lhe rendido vários títulos. Nesse período, clássicos inesquecíveis foram jogados entre ambos. Como esquecer as finais dos paulistas de 1993, ganha pelo Palmeiras, e de 1995, ganha pelo Corinthians ? Como esquecer daquelas decisões por pênaltis na Libertadores, dois anos seguidos, 1999 e 2000, em que (infelizmente para mim) o goleiro do Verdão fez mais que jus ao apelido de “São Marcos”. Como esquecer, afinal, de tantos embates entre dois clubes cujas torcidas mantêm um espírito inigualável de concorrência, alicerçado pela força de seus times dentro de campo. E vale lembrar que nesse período os dois foram bicampeões brasileiros, um ganhou a Libertadores, o outro, o Mundial da FIFA. Em suma, o fortalecimento do Palmeiras pós-Parmalat proporcionou o retorno da rivalidade frente ao Corinthians, assim como o fortalecimento da paixão das duas torcidas. Se o rebaixamento do clube de Parque Antártica arrefecer a paixão de sua torcida, temo que em alguma medida rebaixem-se também os ânimos da paixão corintiana.

Por fim, envio aos meus cabisbaixos amigos palmeirenses uma mensagem de alento: não há desgraça que dure para sempre. Deixe estar. Não me resta dúvida de que o Palmeiras, qual Fênix, renascerá das cinzas mais cedo ou mais tarde. O mesmo vale aos torcedores dos outros rebaixados. A propósito, “se esse negócio de espiritismo funciona”, como diria o supracitado botafoguense Vinícius de Moraes, o próprio poetinha está neste instante amargando a vergonha de ver seu clube da estrela solitária na segundona. O mesmo Botafogo de Nilton Santos, Didi e Garrincha, quem diria ! No entanto, também é certo que o tricolor Nelson Rodrigues o estará consolando, sabedor que é das agruras do descenso; afinal de contas, seu Fluminense, ora classificado, há pouco caiu não só à segunda, mas também à terceira divisão. Nelson dirá a Vinícius em seu consolo o mesmo que escrevera sobre as derrotas em uma crônica no Jornal da Tarde: “Sem elas, meu clube não seria tão grande”.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Crônica da queda anunciada: o Palmeiras está rebaixado! De quem é a culpa?

Roberto Avallone





Agora, procura-se o mordomo. Quem é o culpado pelo rebaixamento do Palmeiras para a Série B do Campeonato Brasileiro, a popular Segundona? Aliás, e o que é mais grave, a segunda queda em 10 anos, pois a primeira aconteceu em 2002, na última rodada.

Desta vez, antecipadamente, ao empatar com o Flamengo (1 a 1) e ver vitoriosos Bahia e Sport, o Palmeiras teve consumado o infeliz destino neste Campeonato-matematicamente- com o empate da Portuguesa com o Grêmio em 2 a 2.

Mas quem é o mordomo?

Em minha opinião, foram várias as causas, não apenas um culpado. E lembrando que o Palmeiras já flertou com o rebaixamento no ano passado, escapando de um risco maior graças a maestria nas bolas paradas de Marcos Assunção. Mas não podia uma equipe com ambições maiores viver basicamente das bolas paradas.

Entre as causas, destaco algumas delas:

1- As velhas brigas políticas, sem a pacificação que há muito tempo se deseja para que o clube tenha um único objetivo.

2- A falta de um estádio definido para os jogos.

3- A falta de um parceiro ideal para Barcos, que fez 28 gols no Campeonato e poderia ter feito muito mais se tivesse companhia ideal.

4- A ausência em vários jogos de Marcos Assunção. Jogador fundamental para um time limitado.

5- O insucesso de Felipão em encontrar uma formação ideal para o Campeonato Brasileiro, embora com os méritos de ter conquistado, de maneira invicta, a Copa do Brasil. E com Gilson Kleina até que começou bem. Depois, voltou à rotina.

6- A ilusão da Copa do Brasil. Tudo bem, classificou o Palmeiras para a Libertadores, mas pode ter causado a falsa impressão de que “quando bem entendesse”, a equipe reagiria no Campeonato Brasileiro. O que, como se sabe, não aconteceu.

7- A não evolução de alguns jogadores, dos quais se esperava muito mais: um exemplo, sei lá a razão, é Juninho, ótimo no Figueirense e extremamente discreto no Palmeiras.

Na verdade- e devem existir muito mais causas- só matematicamente o Palmeiras caiu neste domingo. Porque foi mal durante o Campeonato inteiro, com performance pífia e trajetória desastrosa. O Palmeiras já tinha caído. Até que não se houve mal no empate com o Flamengo, com o time todo remendado, cedendo o empate no fim. Era tarde demais.

Foi a crônica da queda anunciada.


Palmeiras, confesso que te traí, mas o culpado é você, que murchou e ficou feio

Clóvis Rossi






Confesso, Palmeiras, eu tenho outro. Mas não espere um pedido de perdão nem arrependimento. Você mereceu a traição.

Relaxou, ficou murcho, feio, de quinta (categoria) ou de segunda (divisão).

Quando nos apaixonamos, faz uns bons 60 anos, você estava sempre entre os primeiros da classe.

A cada início de ano, sonhávamos sempre com um título, qualquer que fosse o torneio em disputa, a Taça Rio (lembra?), o Rio-São Paulo, o Paulistão, que nem era Paulistão à época, os torneios nacionais com seus diversos nomes ao longo do tempo que passamos juntos e em que éramos felizes --e sabíamos.

Nos últimos muitos anos, o sonho mais brilhante que podemos ter é o de ficar não no topo, mas entre os quatro primeiros, para disputar a tal Libertadores.

Não me casei com você, Palmeiras, para ser classe média apenas.

Pior: em vez de brigarmos para ficar entre os quatro primeiros, neste campeonato, brigamos para não ficar entre os quatro últimos.

Dá vergonha sair por aí de braço dado com você.

E dá mais raiva ainda verificar que nem merecemos a gozação dos casais inimigos.

Não tenho visto no meu Facebook brincadeiras de corintianos, são-paulinos e santistas, como se eles todos estivessem é com dó da gente.

Ou, pior, tristes por saberem que vão perder o saco de pancadas em que transformamos nosso lar.

Aliás, nem lar temos, destruído que foi o Parque Antarctica para a construção de uma arena, nome pomposo à beça para receber jogos da segunda divisão.

Eu até te perdoaria pelas poucas oportunidades que você me oferece do orgasmo de um gol.

Mas, caramba, na maioria dos jogos você não me dá nem o direito sagrado de gritar o "uuuh" do quase-gol, da bola que passou raspando.

Nosso amor cresceu nos tempos em que os companheiros de farra chamavam-se Ademir da Guia ou Luís Pereira.

Que interesse posso ter em sair com Maurício Ramos e Valdívia, que, aliás, mais sai do que entra em campo?

Fico olhando os casais vizinhos e vejo que reimportam um Fred, um Luis Fabiano, um Ronaldinho.

Nós reimportamos um Daniel Carvalho, que teria dificuldades em jogar no time dos casados na pelada da fábrica Matarazzo, se ainda há uma fábrica Matarazzo.

Aproveito para dar o nome do "outro": F.C. Barcelona.

É mais bonito, continua na primeira divisão (da Espanha), disputa a Libertadores deles, fornece um punhado de craques para a seleção campeã do mundo e ainda por cima tem um certo Lionel Messi, um deleite para a vista e para os sentidos.

Vou ser feliz com eles.

Ciao, bello!


Aconteceu de novo

Juca Kfouri





O Palmeiras caiu novamente.

Time grande cai sim.

Até mais de uma vez.

Mas só quando seus cartolas são pequenos.

A segunda vez em dez anos!

É muito.

Não há o que console o palmeirense, mas não há mais o que fazer.

Aliás, há sim.

Mudar de cima abaixo, de baixo para cima.

Já que nem na hora da agonia as facções se uniram em torno da salvação nesta verdadeira faixa de Gaza que habita o Parque Antarctica, chegou a hora de botar para fora os responsáveis pela nova humilhação.

No voto, não na pancadaria, nem botando fogo em coisa alguma, quebrando ou pichando nada. No voto!

Porque 2013 pode ser, apesar de tudo, um ano inesquecível na vida do Palmeiras, seu centésimo ano e em casa nova.

Ser bi da Série B não acrescenta nada, além de mais gozação, embora seja obrigatório buscar o título.

Mas ser bicampeão da Libertadores pode salvar tudo, pode tornar a segunda divisão brasileira apenas um acidente, um roteiro turístico diferente do habitual, domingos liberados para a família.

Para tanto, no entanto, será preciso que a eleição em janeiro tenha o efeito de uma revolução.

Não pode ser fruto de acordos espúrios, acomodação entre gente que não se dá, que tão logo assuma o poder passe a brigar entre si em lutas fraticidas.

Ou o Palmeiras acorda para uma nova fase em sua existência centenária, ou corre o risco de mais do mesmo, para voltar a sucumbir adiante.

E se uma vez já é muito e duas é demais, três será insuportável.

Até fatal.


Parte da coluna de hoje na “Folha de S.Paulo” e comentário para o “Jornal da CBN” desta segunda-feira, 19 de novembro de 2012.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Alex Alves, ex-Palmeiras e Cruzeiro, morre no interior de São Paulo





Morreu, na manhã desta quarta-feira, o ex-atacante Alex Alves, de 37 anos, que passou com sucesso por equipes como Vitória, Palmeiras e Cruzeiro. A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa do hospital Amaral Carvalho, de Jaú, onde ele estava internado há alguns meses para tratar uma leucemia. Alex Alves deixa uma filha, fruto do relacionamento dele com a empresária Nádia França.

Fonte: UOL

http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2012/11/14/alex-alves-ex-palmeiras-e-cruzeiro-morre-no-interior-de-sao-paulo.htm  

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Flu, sem dúvida

Luiz Zanin


Um time com mais de 72% de aproveitamento dos pontos disputados e com apenas três derrotas ao longo de um campeonato difícil precisa de alguma justificativa de mérito? Claro que não. No caso do Fluminense, grande campeão brasileiro de 2012, os números falam por si. Não há qualquer contestação possível e foi um título obtido rodada após rodada, quando o time de Abel mostrou fôlego, ao passo que seu principal concorrente, o Atlético-MG, começava a botar a língua de fora ao subir a ladeira da reta final. Questão de timing.

É verdade que, enquanto jogou, o Atlético encantou mais que o Fluminense. Bem montado por Cuca, com um Ronaldinho Gaúcho redivivo e o talento da revelação do ano, Bernard, o Atlético parecia a reencarnação do bom e velho futebol brasileiro, aquele que une arte e eficácia. Mas depois vimos que estávamos longe disso. E o Galo foi se distanciando, a ponto de ser superado até mesmo pelo Grêmio, do professor Luxemburgo. A segunda colocação do campeonato ainda está em aberto, e essa disputa entre mineiros e gaúchos é um dos últimos focos de interesse de uma competição que já tem seu vencedor.

Os amantes do futebol-arte talvez preferissem o Atlético campeão, mas e daí? Se o Fluminense não encanta, o Corinthians, campeão do ano passado, também não encantou, assim como o Flamengo, vencedor em 2009. Foram campeões indiscutíveis e fizeram a alegria de suas torcidas. Mas deixaram os apreciadores do futebol um pouco decepcionados. A pergunta que se faz, a esta altura, é a seguinte: poderia ser diferente? Até que poderia, haja vista a ótima campanha inicial do Atlético. Mas o que prevalece, no atual futebol brasileiro, é o cálculo, o pragmatismo, a capacidade de se mostrar regular, sem grandes oscilações. E, nesse ponto, o Fluminense foi absoluto. Basta olhar os números, mais uma vez.

Claro que o futebol é um ente indefinido, que muda segundo a perspectiva de quem o vê. Daí as discussões intermináveis. Daí, também, a infinidade de donos da verdade, gente que se acha o último copo d’água gelada no deserto quando o assunto é tática, técnica e previsões de resultados. Por isso, convém lembrar que o Flu é campeão porque contou com alguns jogadores em estado de graça, e nos momentos certos. Não teria vencido com três rodadas de antecedência não fossem as atuações de Fred e Diego Cavalieri, com certeza. Ou a velocidade de Wellington Nem. Ou seja, o Fluminense não é essa entidade puramente coletiva (como se supunha fosse o Corinthians de 2011), da qual seria impossível eleger destaques individuais. O time tem seus craques, e eles foram fundamentais. Ainda assim, faltou aquele futebol sedutor, que faz a delícia da própria torcida e empolga mesmo a dos outros times.

Quantos desses times sedutores surgiram nos anos mais recentes? O Santos de 2002 e do primeiro semestre de 2010, o Cruzeiro de 2003, e quantos mais? É muito pouco para um futebol que gostava de se definir como o melhor do mundo.


Publicado em O Estado de S.Paulo, em 13/11/2012.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Perdoe-nos, Abelão!

André Barcinsky
 
 
Depois de comemorar o título, todo torcedor do Fluminense tem uma missão: pedir desculpas a Abel Braga. Ele é o verdadeiro herói desse time. Ninguém foi tão criticado e soube, com a fidalguia que prega o hino do Flu, trazer esse título para as Laranjeiras.
Perdoe-nos, Abelão, pelas tantas vezes em que o xingamos e amaldiçoamos a sua teimosia. Em que reclamamos da retranca do time e de escalações que consideramos absurdas.
Que torcedor não chiou quando você insistiu com Bruno na lateral direita? Ou quando escalou Edinho, apesar de toda a gritaria por Valencia? Ou quando pôs Anderson na zaga? Ou quando manteve Thiago Neves no time titular, contrariando a torcida e os comentaristas?
Muitos esquecem que alguns dos destaques do time só o foram por insistência sua. Ou não foi você que promoveu Diego Cavalieri a titular? Que pediu tranquilidade e paciência na época em que Fred ameaçou sair das Laranjeiras? Que insistiu com a diretoria para renovar com Rafael Sóbis? Que não chiou quando perdeu Conca e deu força para os que ficaram? Que promoveu, com serenidade e paciência, a subida de uma geração de ouro dos juniores, como Marcos Junior, Samuel e Higor.
Demorou, Abel, mas hoje todos os tricolores sabem: você estava certo. Seus números dizem tudo: melhor campanha do segundo turno do Brasileirão de 2011; campeão carioca, melhor campanha na Libertadores (que perdemos por detalhe e azar, tendo jogado com o Boca sem meio time); melhor campanha da história dos Brasileiros de pontos corridos em 2012.
Ao longo desse tempo, aprendemos a lidar com suas idiossincrasias: se estamos ganhando, sabemos que você vai tirar o Wellington Nem e botar mais um volante. Muitos reclamam, mas, no fundo, confiamos em você. Afinal, ninguém ganha Libertadores e Mundial de Clubes, como você fez pelo Inter, enfrentando o favoritíssimo Barcelona, sem sabedoria.
O Fluminense de 2012 aprendeu com o Corinthians de 2011 que não é preciso dar show para empolgar. Uma defesa sólida e um contra-ataque mortal são armas poderosas. É um time traiçoeiro e seguro, que ganhou a confiança da torcida.
Desde o time tricampeão carioca (1983 a 85) e campeão brasileiro (1984), não confiamos tanto num time.
Ontem, em Presidente Prudente, ninguém se abalou quando cedemos o empate. Sabíamos que a vitória era questão de tempo.
E, Abel, as perspectivas para 2013 são as melhores: mais uma Libertadores, um novo CT, a recente mudança de estatuto que criou o sócio-futebol. Muita coisa boa junta.
Para completar, vibramos quando você gritou "Eu vou ficar!" para a torcida, acabando com rumores de uma saída. O Flu sem você não faz sentido. De quem vamos reclamar no ano que vem?
 
ANDRÉ BARCINSKY é torcedor do Fluminense.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 12/11/2012.