quinta-feira, 28 de julho de 2011

O jogo do ano



Fernando Matsumura

O estádio da Vila Belmiro, palco imortalizado pelo nosso Rei Pelé, ficou pequeno diante da genialidade de dois grandes jogadores que protagonizaram o melhor jogo do ano: Ronaldinho, o craque-fênix, e Neymar, o craque-emo.

Com início avassalador, o time do técnico Muricy provou que, completo, pode ser imbatível. Aos 25 minutos do primeiro tempo já massacrava o Mengão com 3 gols, tendo Neymar feito um golaço de placa, após dribles desconcertantes em Willians, Léo Moura e Ronaldo Angelim.

Tudo levava a crer que o último invicto do campeonato cairia diante do atual campeão das Américas de forma trágica.

Os rubro-negros lançaram-se, então, ao ataque e, ainda no primeiro tempo, diminuíram a diferença com gols de Ronaldinho e Thiago Neves.

O Santos ainda desperdiçou uma ótima oportunidade de ampliar o placar, após pênalti sofrido por Neymar, quando o jogador-cebolinha “é Elano que se aplende” deu uma “cavadinha” bisonha jogando a bola de graça nas mãos de Felipe, que ainda tirou uma onda fazendo uma seqüência de embaixadinhas.

Era o combustível que faltava ao Flamengo para, na raça, empatar a partida com o gol de cabeça de Deivid.

O segundo tempo prometia um jogo ainda mais eletrizante. Logo no início, Neymar, que caminhava para se consagrar naquela noite, desempatou com outro belo gol.

Renascia, nesse momento, o craque Ronaldinho! Após sofrer falta perto da grande área, o jogador chutou a bola por debaixo da barreira e fez um gol genial, enganando a todos.

Mas, faltava a vitória para coroar sua belíssima atuação. Em um rápido contra-ataque, Ronaldinho recebeu livre e marcou o seu terceiro gol no jogo (oitavo gol no campeonato, artilheiro absoluto) brindando a todos como uma vitória inesquecível.

Também, quem mandou convidar o craque para a festa?

* Fernando Matsumura, flamenguista, é colaborador do Ludopédicas.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Ainda há tempo para redescobrir a América

Rodrigo Bueno


Chega ao fim mais uma Copa América com os dez países filiados à Conmebol e dois convidados enfraquecidos das Américas do Norte e Central.

E termina com o presidente da entidade que dirige o futebol sul-americano apontando para uma óbvia, embora nunca tardia, união do continente americano.

México, priorizando (?) a Copa Ouro (?) e uma vaga na Copa das Confederações (?), e Costa Rica, pronta para qualquer parada, mandaram equipes sub-23 para a disputa na América do Sul que prometia ser a mais legal da história, ainda mais sem a presença comercial do Japão (?).

Até hoje, só não saiu a lógica Copa América com 16 seleções, as dez do Sul e outras seis de cima (definidas totalmente ou em parte por torneio qualificatório), por razões políticas tão idiotas quanto nebulosas.

As últimas eleições (?) presidenciais da Fifa mostraram o preço de vários dirigentes da Concacaf, e a mídia britânica escancarou a gula (?) dos principais cartolas sul-americanos.

Fazer uma competição só, fundindo Copa América e Copa Ouro, ganharia o poderoso mercado norte-americano, geraria mais dinheiro para Traffic, Full Play ou quem quer que seja e seria tecnicamente muito melhor, com força total de todos os participantes.

Seria, com tudo isso, uma resposta muito mais honesta e decente à Eurocopa, que namora já 24 seleções participantes, talvez um erro ou uma mania de grande- za europeia.

Mas meia dúzia de cartolas correriam o risco de perder votos e dinheiro sem seu torneio regional de qualidade mais que discutível.

Quem sabe o presidente da Conmebol, Nicolás Leoz, neste momento em que o mundo do futebol está mais atento à transparência e contestando velhas ditaduras, não tenha cedido à realidade afinal?

A globalização já é coisa do passado, o Mercosul já está velho e pequeno, e a Copa América caminha carente de mudanças que a tornariam algo muito maior e melhor.

A Libertadores conseguiu se adaptar aos novos tempos sem perder seu estilo próprio, sua veia desafiadora, sendo um perfeito espelho da Copa dos Campeões com identidade tão única quanto valiosa.

Não custa muito para que a Copa América seja unificada, como são a Copa da Ásia e a Copa da África.

A Pangeia dividiu os continentes, mas não separou as três Américas, ligadas ainda, mesmo que por um pequeno Panamá.

Espero que, quando esta coluna voltar de férias, já tenham descoberto novamente a América, não a América dos norte-americanos nem a América dos latino-americanos, mas a América de todos.
 
 
* Publicado na Folha de S.Paulo, em 21/07/2011.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Todo-poderoso



Até onde irá a invencibilidade do Corinthians ninguém sabe. Mais cedo ou mais tarde, cairá. De qualquer forma, o Timão provou, mais uma vez, que tem uma equipe que encontrou o ponto ideal, dados os seus limites, para disputar o campeonato brasileiro. Encontrou um belo equilíbrio. Tite conseguiu incutir um padrão de jogo baseado na forte marcação - inclusive à frente, com a pressão dos atacantes nas saídas de bola adversárias -, e nos contra-ataques fulminantes. Conta para isso com um bom elenco, não apenas em campo, mas também no banco; fundamental para que se mantenha o ímpeto frenético por todos os 90 minutos. Alguns dos atuais reservas, como Renan, Emerson, Ramon e Alex, seriam titulares na maioria esmagadora dos clubes brasileiros.

Na partida de ontem - a sétima vitória consecutiva, décima de invencibilidade -, o invicto Corinthians mostrou mais do mesmo, e contou com a insistência do Botafogo em atacar por um lado só, a direita. Da mesma forma que atacava com personalidade, o Fogão abusou das tentativas por esse lado do campo, acionando ostensivamente Alessandro e Caio, mas preterindo demais o lado esquerdo. Isso se deveu também à má atuação de Maicosuel. O fato é que o lado esquerdo corinthiano, especialmente Fábio Santos, conseguiu neutralizar a principal jogada de ataque botafoguense. No meio, Renato, que estreou, revelou-se ainda fora de ritmo de jogo.

O Corinthians, ao tomar a bola, partia com determinação, partido à frente de forma variada: ora com bolas de lado alçadas na área, ora com bolas pela centro para o chute de quem chegava.

Além do aspecto técnico e tático, chamou a atenção a garra representada pelo goleiro Júlio César. Após sofrer uma luxação no dedo, faltando cinco minutos para o final da partida, o goleiro decidiu permanecer em campo. Caso contrário, como o Timão já havia realizado todas as substituições, o meia Alex faria as vezes de goleiro. Pois foi o próprio Alex que acionou contra-ataque para Edenílson, que chutou no canto esquerdo de Jefferson. O goleiro botafoguense defendeu, mas, no rebote, Paulinho empurrou a bola para dentro. Final: Corinthians, 2 a 0.

Além de Júlio César, que ficará um mês de molho, também Liedson desfalcará o Corinthians nos próximos jogos por causa de lesão no joelho. Além deles, Fábio Santos cumprirá suspensão automática na partida contra o Cruzeiro. Entram Renan, Emerson e Ramon. Ou seja, o Timão segue forte. Quem sabe, também invicto.

***

Em tempo: a fase do Corinthians é realmente de encher os olhos e as esperanças dos seus torcedores. Minha pergunta é: a estreia de Adriano ajudará ou criará problemas na continuidade dessa ótima fase... A saber.

JFQ

Gigantismo renascido versus mediocridade de resultados



Uruguai e Paraguai farão a final da Copa América 2011. Será a disputa entre um gigante que, após muito tempo de hibernação, renasce para o topo do futebol do continente e do mundo, e uma equipe medíocre que, assumindo a própria mediocridade, alcançou o objetivo de chegar à final.

O Uruguai, após um começou sofrível - talvez para fazer companhia a Argentina e Brasil -, mostrou o que tem de melhor. Um escrete muito entrosado, cujos jogadores atuam juntos na seleção desde a época da base, muito forte na marcação, que congestiona o meio-campo para dificultar as investidas adversárias e facilitar as próprias, e com um ataque rápido a contar com jogadores de qualidade como o inteligente Forlán, o implacável Suárez, o ligeiro Álvaro Pereira e o impetuoso Cavani. Este, porém, não participou dos jogos decisivos do time por conta de contusão; o que não foi suficiente para enfraquecer o Uruguai, a ponto de passar pela Argentina, em um jogaço, com um a menos e Muslera em atuação esplendorosa.

Contra o Peru, no entanto, o time de Tavárez resgatou uma característica da qual parecia ter abdicado: confundir garra com violência. Arévalos Rios e, principalmente, Lugano abusaram das faltas. Algumas bastante violentas, como uma entrada de Lugano no bom jogador peruano Vargas. Acho, inclusive, que Lugano deveria ter sido expulso por esta falta; se não, por merecer dois amarelos após as tantas faltas cometidas ao longo da partida. Usando da experiência - mas não da famosa e, por hora, aposentada catimba -, assim como da inexperiência dos jovens e briosos jogadores do Peru e da falta de pulso do árbitro, o Uruguai aplicou sua boa, mas um tanto exagerada, marcação ao limite e quem acabou com um a menos foram justamente os peruanos: o próprio Vargas, cansado de apanhar, tomou um vermelho quando resolveu bater. De qualquer forma, a celeste foi mais time durante a maior parte do jogo, da mesma forma que é mais time que qualquer outro desta Copa América.

O Uruguai vive um momento brilhante sob o comando de Oscar Tavárez. Começou a vivê-lo quando o treinador - muito criticado por isso, diga-se de passagem - decidiu fazer tanto as seleções de base como a principal jogarem o que seus compatriotas chamam de “jogo de moças”, ou seja, deixar de se valer da catimba e da violência desmesurada e apostar no talento dos jogadores e na construção de um time bem engrenado. Conseguiu. Para ser sincero, já considero o Uruguai como um dos favoritos para a conquista da Copa de 2014, em que pese a lembrança do Maracanazzo (dois raios caem no mesmo lugar?). Sim, é bom que nós, brasileiros, nos despreguemos do conservadorismo futebolístico de achar que, independentemente das campanhas, somente Brasil, Argentina, Alemanha e Itália competirão pela conquista do título. Que o digam a Espanha e a Holanda no último mundial.

***


Já o Paraguai demonstrou apego à mediocridade. Claro, uma mediocridade que o levou à final. Uma mediocridade, por assim dizer, “de resultado”. É certo que na primeira partida contra o Brasil e na primeira partida contra a Venezuela – um 3 a 3 inesquecível, só que por conta da bravura dos venezuelanos -, o time fez gols, sempre em contra-ataques e dependentes de falhas dos adversários. Na segunda partida contra o Brasil e no jogo de ontem, contra a mesma Venezuela, esteve, na maior parte do tempo, atrás, acuado, à mercê dos erros alheios, da competência do goleiro Villar, da trave e da sorte. A Venezuela, ainda que utilizando excessivamente a ligação direta e os chutões na área, ganhava as bolas e produzia chances de gol. Mas, infelizmente, não os fez.


O Paraguai, que empatou todos os jogos nesta Copa América (duas vezes contra o Brasil, duas contra a Venezuela e uma contra o Equador), assumiu a condição de escrete medíocre e assim se posta dentro de campo. A propósito, também fora dele, a se julgar pela provocação aos jogadores venezuelanos que descambou em briga generalizada ao final da partida. Independentemente se o adversário é o incipiente Brasil ou a guerreira Venezuela, essa foi a postura paraguaia nesta Copa América. Assumiu, no decorrer da competição, uma estratégia idêntica à da Argentina na Copa do Mundo de 1990 que, mesmo tendo Maradona e Canniggia, arrastava a partida à decisão de pênaltis, confiando nas defesas de Goycochea. Ironicamente, perdeu a final para a Alemanha, por 1 a 0, em uma cobrança de pênalti. Talvez por torcida, mas também pelo que observei, estou convencido de que essa estratégia, repetida contra o Uruguai, não dará certo.

***

Sim, torcerei para o Uruguai. Torço, mesmo, para que a celeste goleie, para não deixar dúvidas sobre a mediocridade da seleção paraguaia. Não se trata, absolutamente, de rancor de brasileiro eliminado em uma inusitada disputa por pênaltis, mas de um sentimento nascido pela admiração por uma equipe que vem crescendo e outra que se furta de jogar bola. Torço para o Uruguai pelo ótimo trabalho que Oscar Tavárez vem desempenhando, e por conta do talento de jogadores como Forlán e Luisito Suárez, quiçá um dos melhores atacantes da atualidade. E torço contra o Paraguai – que me perdoe Larissa Riquelme – pela falta de coragem, de iniciativa, de abuso em contar com as falhas do adversário. Este Paraguai, apesar de contar com o bom goleiro Justo Villar e do fato de ter chegado à final (podendo até chegar, quem sabe, ao título), não honra a camisa outrora vestida por Romerito, Gamarra, Chilavert e Cabañas.

Que me perdoem os paraguaios, mas eu gosto é de futebol. Avante, celeste!

***

CAMPEÃ MORAL


O título do texto é uma provocação. Nada mais bobo do que a expressão “campeão moral”, usado por quem perdeu, mas acha que deveria ter ganho. Ou porque se sente garfado, ou porque pensa que jogou melhor. De qualquer forma, perdeu.

Mas este título - em todos os sentidos - não parece tão descabido ou exagerado para a seleção da Venezuela. Sim, não ganharam, não passaram sequer para a final e talvez nem vençam a disputa pelo terceiro lugar contra o Peru. No entanto, a Venezuela apostou no sonho de ir o mais longe possível do que já fora em toda sua história, e conseguiu. Ousou jogar sem medo contra adversários vistos como imensamente superiores; provou que não o eram. Confiou no próprio talento e na própria capacidade e deu um show de auto-confiança e de espírito esportivo. E como fez bonito: empatou com o poderoso Brasil, venceu o Equador, arrancou um empate heroico contra o Paraguai, despachou o surpreendente Chile e foi eliminado pelo Paraguai, na disputa por pênaltis, após ter feito uma partida em que foi melhor. Invicto, disputa o terceiro lugar contra o Peru.

A Venezuela, para a qual esta Copa América marca a saída do grupo dos “bobos” ou, quem sabe, da condição de último “bobo” sul-americano, desdenhou de quem a estigmatizava, revelando, inclusive, bom conjunto e talentos individuais a serem observados com carinho daqui para frente.

Confesso que fiquei fã da Venezuela. E, vá lá, na condição de reles torcedor e amante do jogo ludopédico, outorgo-lhe o título: campeã moral desta Copa América.

JFQ

terça-feira, 19 de julho de 2011

Qual a medalha de Ricardo Teixeira?

Editorial da revista Lance!
LANCE! OPINA:


Nada melhor para definir o caráter de uma pessoa do que ouvir o seu próprio discurso. As recentes declarações do presidente da CBF e do COL (Comitê Organizador da Copa de 2014) à revista Piauí deixaram à mostra um Ricardo Teixeira que ninguém seria capaz de descrever. Só ele mesmo. Os maus modos das palavras de baixo calão, a arrogância de se achar dono do futebol e ameaçar os que não comungam de seus interesses e a prepotência de se colocar acima das instituições, da Justiça, da Imprensa, da opinião pública, resumem a personalidade do homem que há mais de duas décadas reina no nosso futebol.

A fome de poder do senhor Teixeira não tem limites. Montou o COL à sua imagem e semelhança. Notória competência, independência, reconhecimento social não foram requisitos para escolha dos membros. Tão somente, precisavam ser amigos ou parentes do rei. Da filha ao advogado, passando pelo assessor de imprensa. Sócio do comitê – uma situação inédita em toda a história das Copas – foi flagrado por este LANCE! que denunciou artifício que lhe permitiria manobrar a seu bel-prazer – inclusive em benefício próprio e privado – eventuais lucros do Mundial. Ao menos nesse ponto, viu-se forçado a recuar.

Ele é assim. Diz que ninguém tem nada a ver com as contas da CBF por ser ela uma empresa privada. Como se o futebol não fosse um patrimônio cultural, um bem do povo brasileiro. Tentou mesmo passar por cima da lei, devolver os incentivos fiscais que o COL terá direito até 2014, como forma de se livrar da fiscalização dos tribunais de contas. Manobra, enfim uma boa notícia, que a Receita Federal promete abortar.

Teixeira diz que exerce controle sobre a política editorial da maior rede de televisão do país. E o mais impressionante é que nenhuma notícia sobre as acusações que vem sofrendo mundo afora – e que o atiram no mar de lama e corrupção que ronda a alta direção da Fifa –, ganha destaque nos noticiários dessa emissora. Em contrapartida, diz que pode retaliar, "fazer maldades" contra os veículos (além deste LANCE!, Folha de S.Paulo, UOL e ESPN ) que não considera aliados. Atitude vingativa. Como vingativa foi a decisão de afastar Romário – o agora deputado que teve a petulância de convidá-lo a depor na Câmara sobre as suspeitas de irregularidades – da solenidade de sorteio das Eliminatórias da Copa.

O Brasil – ou pelo menos um lado do Brasil – está cheio de Ricardo Teixeira. Num país onde governadores beijam-lhe as mãos à caça de um joguinho a mais ou a menos da Seleção, louve-se os deputados do Amazonas que negaram-lhe o direito de receber o título de cidadão amazonense. “Ele merece receber uma medalha do presídio”, resumiu Marcelo Ramos, do PSB local.

Ainda há tempo de reagir. Para ser grande, para atrair investimentos e a admiração do mundo, não basta a um país ter uma economia estável. Não bastam grandes eventos. É preciso dar um sinal de que a moralidade, a defesa do interesse comum, a transparência no trato da coisa pública – que a presidente Dilma tem pregado desde a sua posse – são bens irrefutáveis de toda a Nação.

Manter Ricardo Teixeira no comando da Copa com certeza não é sinal disso. É um mau recado para o mundo. E faz mal ao Brasil.


* Publicada no LANCE PRESS!, em 14/07/2011 às 23:42
Leia mais no LANCENET! http://www.lancenet.com.br/gremio/EDITORIAL-medalha-Ricardo-Teixeira_0_517148530.html#ixzz1SZInvAzR
© 1997-2011 Todos os direitos reservados a Areté Editorial S.A Diário LANCE!

Ciência e futebol

Tostão

O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, importante pesquisador, radicado nos EUA, utilizou, em um dos capítulos de seu livro "Muito Além do Nosso Eu", o quarto gol do Brasil contra a Itália, na final da Copa de 1970, como exemplo para discutir a plasticidade e a interação dos neurônios e dos circuitos cerebrais.

O pesquisador contou em detalhes, tão bem quanto os melhores narradores e comentaristas esportivos, como oito jogadores trocaram passes, durante 30 segundos, sem interrupção.

Ele disse, e concordo, que nenhum dos oito atletas tinha a ideia sobre o que seria o resultado final de sua interação com os companheiros, além de ser impossível planejar o lance.

Já os reducionistas, lembrou o neurocientista, tentariam explicar a complexidade da jogada estudando as características de cada jogador e separando as ações de cada um no momento da jogada.

O conjunto não é apenas a soma das partes. Quando partes se juntam, pode ocorrer algo novo, inimaginável. O time encaixa, como diz o chavão do futebol. Os técnicos aproveitam para falar que tudo foi planejado.

Paradoxalmente, quanto mais os jogadores estão preparados para ocupar vários setores do campo, em uma mesma partida, mais eles são compartimentados, pela visão reducionista dos técnicos, a atuar pelos lados ou pelo centro, pela direita ou pela esquerda, de volante ou de meia, de primeiro ou de segundo volante, de primeiro ou de segundo atacante.

O sonho dos técnicos é transformar o futebol em um jogo mais previsível, onde tudo pode ser planejado e ensaiado.

A principal deficiência da seleção brasileira é não ter um armador de grande talento, desses que os comentaristas não sabem se é volante ou meia.

Contra o Equador, a principal qualidade coletiva do Brasil foi a troca de posições entre Robinho, Neymar e Pato. Por outro lado, os três e mais Ganso estavam sempre no campo do adversário. Lucas e Ramires ficaram sozinhos na marcação.

O Equador tocou a bola com facilidade no meio, pelos lados e nas costas dos volantes. Hoje, contra o Paraguai, um time bem melhor, isso poderá ser um problema.

A solução não é escalar Jadson no lugar de Robinho. Jadson também joga no campo do outro time. Se entrar Elano, melhora a marcação, mas o time perde um jogador na frente. O que fazer? É um problema para Mano resolver, para outra coluna, para uma discussão acadêmica ou para uma boa conversa em um botequim.

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 17/07/2011.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Sobre vexames, zebras e lições



O final de semana foi de zebras e “quase zebras” no futebol. Para muitos, a palavra certa é vexame. Fico com a primeira opção.

As “quase zebras” ficam por conta das eliminações de Argentina e Brasil, em que pese o “quase” ser pouco para muitos brasileiros. Grande parte da população de nosso “país do futebol” não admite derrotas, nem empates, contra quem quer que seja. Da Holanda à Venezuela, da França ao Paraguai. O Brasil, dizem, sempre tem obrigação de ganhar. Então, tá.

O fato é que, considerando tão somente a camisa e a circunstância, esperava-se que Argentina, Brasil, Colômbia e Chile fizessem as semifinais da Copa América. Deu Uruguai, Paraguai, Peru e Venezuela. Eis o futebol, simples assim. Até mesmo no futebol feminino, as poderosas norte-americanas sucumbiram, também nos pênaltis, diante das japonesas. Por acaso, este foi o final de semana das prorrogações e dos pênaltis. Por falar nestes, também foi o final de semana dos goleiros.

***

São Muslera e Tevez, o herói que virou vilão



Na visão simplista do futebol, reduzido a chavões, mitos e maniqueísmos - em vez de ser entendido em sua complexidade shakespeariana, como diria Nelson Rodrigues, para não dizer em sua complexidade humana -, a sempre trágica Argentina jogava em casa, com a obrigação de ganhar a Copa América. Afinal, não fatura este e nenhum outro caneco desde a Copa América de 1993. Neste período, para piorar, tornou-se freguês do arquirrival Brasil em finais.

Os argentinos contavam com Messi, o melhor do mundo, cujas costas carregam o fardo pesadíssimo de super-heroi ingrato, capaz de voar com a camisa do Barcelona, mas impotente com a da seleção de seu país (¿seu país não é a Espanha?, perguntariam alguns), como se o glorioso uniforme branco e azul fosse untado de criptonita. Heroi ingrato e degenerado, pois não sofreu as mazelas sociais do mais europeu dos sul-americanos, e não conta o hino nacional, ao contrário do filho dileto, Carlitos Tevez, o menino de Forte Apache, periferia de Buenos Aires.

Quis o destino, porém, que justamente Carlitos perdesse o pênalti decisivo da eliminação argentina e que garantiu o Uruguai nas semifinais. Talvez a melhor perspectiva fosse a de que Muslera, um goleiraço nesta partida, pegou mais esta bola, posto que Tevez não bateu mal. Contudo, como nas tragédias a culpa é fator importante...

Afora as mitologias e simplismos, o fato é que nem Uruguai, nem Argentina, nem ninguém fez uma grande Copa América até aqui. Todos estão se preparando para 2014, alguns com mais base - consolidada em 2010 ou mesmo antes - e outros estão mais atrasados, como o Brasil. O Uruguai de Oscar Tavárez jogou muito bem contra a Argentina, ganhou nos pênaltis como também poderia ter perdido.

Apesar da eliminação, a Argentina teve a lição de que Messi precisa de um parceiro no meio e de atacantes que se movimentem na frente. Como está acostumado a jogar no Barça: não como um salvador da pátria, mas como o melhor em um conjunto excelente. Sergio Batista deve repetir a formação nascida no jogo contra a Costa Rica. Aos poucos, aparecerá uma Argentina muito forte.

Já o Uruguai, a cada dia vem mostrando que renasce como grande selecionado mundial. Ainda que não apresente um futebol brilhante, é bastante competitivo. O grande responsável por isso é Tavárez, que trabalhou não apenas no time principal, mas também nas seleções de base. Não é à toa que a celeste tenha chegado às semifinais da última Copa do Mundo, tenha eliminado o Brasil e feito a final do Mundial Sub-17, tenha se classificado para disputar as Olimpíadas de Londres e vá disputar na próxima quarta-feira, contra o Paraguai, as semifinais da Copa América. Tudo isso faz parte de um mesmo processo de renovação e mudança de paradigma - leia-se: sai o Uruguai brigador e catimbeiro, surge o Uruguai técnico e aguerrido, mas sem violência - cujo grande mentor é Oscar Tavarez.

***

Terminou como começou



Não tomo a eliminação do Brasil pelo viés do vexame. Prefiro o viés das lições. A principal: a seleção de Mano Menezes mostrou ao final nada muito diferente do que se vira no começo - um time em formação, sem padrão de jogo formado, com alguma, mas pouca, evolução. Entendo que a Argentina saiu melhor do que o Brasil. Os hermanos encontraram um caminho a ser desenvolvido; nós, nem isso.

Das quatro partidas feitas pelo Brasil, a última foi justamente a melhor. No entanto, após três empates e uma vitória, fica claro que temos muita dificuldade em marcar gols e pioramos no aspecto defensivo. Na frente, o Brasil até melhorou no quesito finalizações, mas não no colocar a bola para dentro... sequer estou me referindo aos quatro pênaltis perdidos.

No aspecto defensivo, jogadores de confiança vêm falhando: zagueiros, laterais e até o goleirão Júlio César. Nem mesmo Lucas Leiva e Ramires mostram-se como uma dupla confiável de volantes.

Não obstante, não há que se busca culpados. Não há propriamente culpados, mas, isto sim, “peças” a serem trocadas. André Santos e Ramires, em primeiríssimo lugar. E, principalmente, há um padrão de jogo a sair da teoria para se consolidar na prática. No papel, Mano tem muito clara a seleção ideal; não obstante, está fracassando em executá-la na prática. É certo que isso requer muita repetição, como também é certo que a insistência vale a pena quando se vislumbra que algo está se encaixando. Não é o caso. Ganso, no Santos - da mesma forma que Messi, no Barcelona - não é salvador da pátria. Joga com Elano e Arouca o auxiliando na armação e para se desvencilhar de marcadores. Não pode ser tomado como único articulador, “O” distribuidor de jogadas, “O” ditador do ritmo, “O” cadenciador. Nem Ramires, nem Lucas lhe servem como anteparo. Para que se continue a apostar em Ganso, é necessário que Mano ouse, colocando um único volante de contenção. O melhor jogo de Ganso foi quando Jadson esteve a seu lado, no primeiro tempo da primeira partida contra o Paraguai. Eis a evidência de um caminho a ser seguido.

O trio de ataque formado por Robinho, Pato e Neymar teve momentos bons e momentos de pouca ou nenhuma inspiração. Foi pior quando cada um se limitava a uma região do ataque – Neymar pela esquerda, Robinho pelo meio e Pato pelo meio –, e melhor quando os três se movimentavam por todos os cantos. Neymar precisa perder uma certa marra que ganhou ao ser destacado por todos, ao ser considerado como “o Messi brasileiro”. Precisa se lembrar de que está na seleção, não no Santos; com a amarelinha, pelo menos a princípio, todos são grandes jogadores, não apenas ele.

Na zaga, da mesma forma que Daniel Alves cedeu o lugar a Maicon, todos os demais precisam de uma sombra, não se sentirem intocáveis. Mesmo Lúcio e Júlio César, ainda que o resultado final seja a manutenção de todos. Como o mesmo Maicon revelou, algum tempo na reserva pode ser muito bom como provocação íntima. Em especial, André Santos precisa de uma sombra ou, na reserva, ser alçado à condição de sombra de Marcelo ou de Adriano.

***

Mano, o ousado medroso


Mano Menezes mostrou seu lado “professor Pardal”. Ou, quem sabe, tenha mostrado seu lado titubeante, pouco convicto. Tenho comigo que Mano passa por um dilema entre ousadia e conservadorismo. Ao combinar os dois, não dá certo. É preciso optar: ser ou não ser... “dunguista”.

Ao colocar Jadson ao lado de Ganso, inova. Ao não observar apenas um volante, é medroso. Ao colocar três atacantes que se movimentam e marcam a saída, opta uma característica positiva da “referência Barcelona”. Ao cair no clichê de que é preciso um atacante de área que sirva de referência, cai no conservadorismo. Ao perceber que Ganso tem qualidades para ser o articulador, aposta em uma potencialidade que existe certo. Ao definir Fred como o centroavante, como fora Romário e Ronaldo, aposta em uma potencialidade que não existe.

Há vários equilíbrios possíveis. Mas é preciso achar o ponto. Ser ousado. Ou não.

A definição de um padrão é fundamental. Até porque, dos principais candidatos ao título em 2014, o Brasil é o mais atrasado.

***

Pênaltis, goleiros e areia


Decisão por pênaltis não é loteria. Tampouco é pura técnica. Penso que seja o mais emocional de todos os momentos ludopédicos possíveis. Assim, em tantos casos, o “melhor” time ou aquele que joga em casa - como Brasil e Argentina, respectivamente - vão para a disputa muito mais pressionados e, portanto, muito mais passíveis de cometerem erros.

No caso do Brasil, o péssimo gramado, cheio de areia, não explica, por si só, as quatro cobranças erradas. Ou melhor, as cinco, já que o paraguaio Barreto também errou. Do mesmo modo, não se pode deixar passar em branco que o estado lamentável do gramado, indigno de figurar em um jogo tão importante de Copa América. Uma coisa que falta, aliás, ao futebol são critérios bem definidos do que seja um gramado passível de abrigar uma partida oficial.

De qualquer forma, apesar de estranho, não é tão surpreendente assim que os quatro brasileiros que cobraram tenham perdido (não considero que o Brasil perdeu quatro cobranças, já que o pênalti é um ato individual, em que pese o jogo ser coletivo). Assim como o tenham perdido Tevez, na partida da Argentina contra o Uruguai, e Falcão Garcia, no jogo Colômbia x Peru.

Mais do que repreender e estigmatizar os cobradores, talvez seja melhor louvar a competência dos goleiros. A propósito, o uruguaio Muslera e o paraguaio Justo Villar foram, sem dúvida, os melhores jogadores de seus times nesses jogos decisivos.

***

A surpresa do último bobo


Ninguém merece mais aplausos nesta Copa América do que a seleção da Venezuela. De suposto bobo, saco de pancadas dos adversários, a Venezuela classificou-se, pela primeira vez em sua história, para disputar uma semifinal.

Time muito bem montado, forte na marcação e perigoso nos contra-ataques, os venezuelanos provaram que não é um simples acaso seu sucesso no torneio. Que o digam o Brasil, com quem empataram por zero a zero, o Paraguai, contra quem buscaram um empate heróico por 3 a 3, e o Chile, sensação do certame, onde joga o badalado Alexis Sanchez, eliminado após perder por 2 a 1.

JFQ

Japão supera os EUA e é campeão da Copa do Mundo feminina



O Japão é o novo campeão mundial do futebol feminino. Coroando uma campanha histórica e surpreendente, a seleção japonesa desbancou o favorito Estados Unidos na final deste domingo, em Frankfurt, na Alemanha, e ganhou nos pênaltis por 3 a 1, após um empate de 1 a 1 no tempo normal e outro 1 a 1 na prorrogação.

Sem nenhuma tradição no futebol feminino, o Japão tinha somado apenas três vitórias nas cinco edições anteriores do Mundial organizado pela Fifa - duas contra a Argentina e uma contra o Brasil. Dessa vez, porém, a seleção japonesa não se intimidou diante das grandes potências do esporte e foi avançando até o título inédito.

Na primeira fase do Mundial, o Japão somou duas vitórias (Nova Zelândia e México) e uma derrota (Inglaterra). Depois, já nas quartas de final, eliminou a anfitriã Alemanha. Na sequência, passou pela tradicional Suécia nas semifinais. E, por fim, derrotou os Estados Unidos, que buscavam o tricampeonato.

Os Estados Unidos já foram campeões mundiais duas vezes (1991 e 1999) e chegaram ao pódio nas outras três edições realizadas. Além disso, conquistaram três das quatro medalhas de ouro disputadas na história do futebol feminino na Olimpíada. E, para completar, eliminaram o Brasil da estrela Marta nas quartas de final da competição da Alemanha. Por isso, eram os favoritos na decisão deste domingo.

Diante de um público de 48.817 pessoas que lotou o estádio em Frankfurt, além da torcida do presidente Barack Obama, que acompanhou a final pela TV, os Estados Unidos começaram melhor, pressionando o adversário. E chegaram a mandar uma bola no travessão aos 27 minutos, com Wambach. Mas, aos poucos, o Japão equilibrou o jogo e passou a ter maior controle de bola.

Os gols, porém, saíram apenas no segundo tempo. Num rápido contra-ataque aos 23 minutos, Morgan, que tinha entrado no lugar de Cheney no intervalo, abriu o placar para os Estados Unidos. Mas o Japão empatou aos 34, quando Miyama aproveitou vacilo da zaga adversária e deixou tudo igual.

A decisão, então, foi para a prorrogação. E os Estados Unidos saíram novamente na frente, com uma cabeçada de Wambach aos 13 minutos do primeiro tempo. Mas o Japão voltou a empatar aos 11 da segunda etapa, quando Sawa também fez de cabeça, tornando-se a artilheira do Mundial (cinco gols) - Marta ficou com quatro.

Na disputa por pênaltis, as experientes jogadoras norte-americanas sentiram o nervosismo e desperdiçaram três cobranças - a goleira Kaihori defendeu os chutes de Boxx e Heath, enquanto Lloyd chutou por cima. Assim, os Estados Unidos marcou apenas com Wambach. Do lado do Japão, Nagasato também errou, mas Miyama, Sakaguchi e Kumagai fizeram os gols e garantiram o título inédito.

* Publicado pela agência Estado: http://www.estadao.com.br/noticias/esportes,japao-vence-eua-e-e-campeao-do-mundial-feminino,746170,0.htm

Após terceira derrota consecutiva, Falcão é demitido do Inter


A sequência de resultados inconstantes do Internacional desde o começo do Campeonato Brasileiro fizeram o presidente Giovanni Luigi demitir o técnico Paulo Roberto Falcão e o responsável pelo departamento de futebol, Roberto Siegmann. A informação foi confirmada pelo cartola que deixa o comando do grupo profissional.

http://esporte.uol.com.br/futebol/campeonatos/brasileiro/serie-a/ultimas-noticias/2011/07/18/presidente-do-inter-demite-o-tecnico-falcao-e-o-responsavel-pelo-futebol.htm

Adilson Batista, o novo técnico do São Paulo

Nem mesmo os maus resultados obtidos em seus últimos trabalhos tiraram a empolgação de Adilson Batista. O treinador vai comandar o São Paulo a partir desta segunda-feira, quando será apresentado oficialmente no clube paulista.

Muito criticado em suas passagens por Corinthians, Santos e Atlético-PR, seus três últimos clubes, Adilson quer agora recuperar o status de treinador de ponta, que conseguiu ao conduzir o Cruzeiro ao segundo lugar da Libertadores de 2009.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Crítica à crítica

Virou lugar-comum a crítica de vários locutores e comentaristas esportivos sobre a arbitragem brasileira. Eis o bordão: “no Brasil, o árbitro apita qualquer faltinha”. O paradigma é a civilizada Europa, onde se deixa o jogo correr, não se amarra a partida com o apito. O falante Galvão Bueno, por exemplo, é um que adora bater nessa tecla, deixando em segundo plano as ponderações de um constrangido Arnaldo César Coelho. Para o comentarista de arbitragem, “a regra é clara”; e falta é falta!

No entanto, com o crescimento dessa crítica quase unânime – tem razão Nelson Rodrigues: toda unanimidade é burra, de fato! –, alguns árbitros passaram a tolerar lances mais ríspidos, como se fosse “coisa do jogo”. Com isso, algumas partidas beiram à perda de controle, com seguidas jogadas violentas.

Foi o que ocorreu ontem, no jogo entre Corinthians e Internacional. Apesar de vários lances violentos – com destaque para uma cotovelada de Bolívar em Liedson e outra, de Juan em Emerson –, o juizão Ricardo Marques Ribeiro deixou de reprimi-las apontando a falta ou mostrando cartão. No final, os dois únicos amarelos, dados a Zé Roberto e Gilberto, ambos do Inter, foi muito pouco para o que foi a partida. Deu sorte o senhor Ribeiro.

Às vezes, quando se papagaia muito uma coisa, esta passa a ser entendida como verdade absoluta. A quem pensa que a Europa é exemplo de arbitragem, talvez seja apropriada uma boa pesquisa sobre as contusões graves que ocorrem por lá, e uma análise do porquê certos “guerreiros” como Felipe Melo, Van Bommel ou Gatuso são, vez por outra, concebidos como craques.

JFQ

Para comemorar, sem se iludir



Copa América
Brasil 4x2 Equador

Há alguns dias, quando a seleção brasileira feminina bateu a Noruega por 3 a 0 e a masculina não passou de um empate sem gols contra a Venezuela, vários jornais publicaram foto de uma Marta esfuziante ao lado de um Neymar cabisbaixo. Na ocasião, comentei que, dada a natureza do futebol, não seria de se estranhar que num futuro próximo os semblantes dos retratados se invertessem. Por acaso, a situação das duas seleções se alteraram: enquanto a feminina voltou para casa, eliminada do Mundial (pela enésima vez) pelos EUA, o Brasil de Neymar segue na Copa América, classificado em primeiro no seu grupo.

Contudo, não se deve esquecer a natureza fugaz desse esporte. Da mesma forma, os gritos de gol na partida contra o Equador podem dar lugar ao silêncio vexatório depois do jogo contra o Paraguai, no próximo domingo. Tudo depende da continuidade ou não das evoluções – nem tantas assim, diga-se de passagem – notadas na última peleja. Vamos a ela.

Contra o Equador, as melhores novidades aconteceram do meio para frente: 1) Maicon mostrou-se ótima opção de ataque, nas passagens pela direita, qual um ponta das antigas; 2) Os três atacantes movimentaram-se bastante, não ficando presos a um espaço do campo, e, até que enfim, finalizaram várias vezes: Pato marcou dois gols, Neymar, outros dois, além de arriscar tiros até com exagero, e Robinho chutou bola na trave e marcou um gol legítimo, erroneamente anulado pela arbitragem. Como pontos negativos: 1) Ganso continua perdido, o que deve continuar enquanto não houver um parceiro no meio, como foi Jadson na partida contra o Paraguai; 2) Ramires está afoito, não servindo de opção para as subidas pelo meio ou como auxiliar de Lucas Leiva na marcação; 3) os zagueiros e o goleiro Júlio César, até pouco tempo, inquestionáveis, passaram a falhar com preocupante constância.

Parece ter havido uma inversão no desequilíbrio brasileiro. De uma equipe com boa defesa e articulação/ataque fraco, o que se viu na partida contra o Equador foi um escrete com tendência a marcar e sofrer gols com facilidade. Quanto ao ataque, apesar de Maicon ter jogado muito bem – o melhor em campo –, a seleção não pode depender apenas de suas jogadas pela direita. André Santos também deve servir como opção à esquerda e, principalmente, Ganso deve mostrar a que veio: ser o maestro do time, o ditador do ritmo no meio-campo brasileiro. Mas, repito, o problema de Ganso não é individual, assim como não era o de Messi; da mesma forma que o craque argentino encontrou em Gago um parceiro, Ganso precisa do seu, como foi Jadson. Por falar em Argentina, apesar da vitória brasileira, a seleção de Mano Menezes não demonstrou contra o Equador ter encontrado um padrão de jogo, como se pôde observar na partida dos hermanos contra a Costa Rica.

Quanto à defesa, alguns acertos devem ser feitos no posicionamento dos zagueiros e Júlio César, apesar das falhas – considero apenas o primeiro gol de Caecedo um frango, mas não o segundo –, continua sendo o melhor goleiro brasileiro e um dos melhores do mundo. Em que pesem os comentaristas que batem na tecla da má fase do arqueiro da Inter de Milão, não consigo enxergar Victor ou Jefferson como opções à altura de Júlio César. Enfim, ele merece crédito.

O problema maior está em Ramires: mal na marcação e à frente. Nem rouba as bolas com a pressão veloz outrora observada, nem serve de elemento surpresa a compor o ataque. Se Mano quiser ousar, Jadson seria uma opção, mas que acarretaria na presença de apenas um volante, Lucas Leiva, a ser compensada pela diminuição das subidas dos laterais e/ou em marcação à frente feita pelos atacantes. Aliás, por que o Brasil desistiu da postura de marcar no campo de ataque, como se viu no início do jogo contra a Venezuela?


De qualquer forma, há que se admitir que o Brasil melhorou contra o Equador. No entanto, há também que se lembrar – o placar final muitas vezes obscurece o enredo da partida – que a seleção mostrou um bom futebol apenas no segundo tempo. No primeiro, repetiram-se as mesmas falhas dos jogos anteriores. Para se ter uma ideia, ao final da primeira etapa o Brasil tinha 65% de posse de bola, mas finalizara 5 vezes, contra 6 do Equador. Ou seja, repetiam-se as estéreis trocas de passes das partidas anteriores.

Torçamos para que o Brasil do segundo tempo do jogo contra o Equador retorne contra o Paraguai. Melhor: além disso, que sane as deficiências demonstradas. Comemoremos a evolução, mas com os pés no chão; ainda há muito o que melhorar. A vitória, contudo, é fundamental do ponto de vista emocional: resultado e placar dão confiança, ajudam a desinibir os garotos para a continuidade do trabalho. Em outras palavras, é uma excelente motivação para que, após a partida de domingo, Neymar e companhia continuem a sair sorridentes nas fotos dos jornais.

***

Sabe com quem está falando, professor?

Muito interessante a reação de Mano Menezes a cada gol feito pelo Brasil. Da comemoração no banco de reservas seguia-se o chamamento de algum jogador para instruções (broncas?), levando a reações de revolta por parte dos comandados. Lucas Leiva esboçou inconformidade em relação a alguma crítica do treinador e Thiago Silva chegou a jogar um copo d’água em claro sinal de discordância com alguma reprimenda do “professor”.

Apesar da relação hierárquica, fica a impressão de que o comandante é mais fraco que os comandados. Mais ou menos como se todos soubessem da fragilidade de Mano no cargo de treinador da seleção, podendo cair a cada má atuação do time, ao contrário de jogadores consagrados, certos de que voltarão ao selecionado nacional pelas mãos de um outro técnico.

Mais ou menos como o caso de Pelé que, expulso em uma partida amistosa, voltou a campo, enquanto o árbitro foi substituído. Surreal, pitoresco, etc., mas revelador de que ter estrela, e não apenas o cargo ou a função, é fundamental para manter-se no futebol.

A Mano ainda carece conquistar essa estrela.

***

Em tempo: Ganso mostrou certa timidez ao ser substituído. Não que devesse vociferar contra o treinador, atitude imbecil de jogador marrento, até porque não fez boa partida. O meia do Santos saiu com semblante acanhado, mantendo-se assim no banco de reservas. Paulo Henrique precisa se convencer de que é um craque, não duvidar disso. Ganso tem estrela, mas, por ora, talvez esteja colocando em dúvida sua capacidade de brilhar.

JFQ

quarta-feira, 13 de julho de 2011

A conquista de um sonho




Rafael Soares

Acredito que poucos se deram conta das vitórias conquistadas pelo Corinthians no seu Centenário. A primeira delas, e talvez a mais importante porque abriu caminho para as que se seguiram, foi a reestruturação da diretoria do clube. O Corinthians, semelhante a grande maioria dos clubes brasileiros, nunca havia conseguido emplacar uma administração profissional de seu futebol. A história do alvinegro paulista foi marcada por diretorias amadoras, escândalos, declarações acaloradas, negócios realizados por pura emoção ou que não beneficiavam em nada o clube.

No entanto, após umas das piores crises, que levou o clube ao inferno da segunda divisão, surgiu no Corinthians uma nova administração muito mais próxima ao modelo profissional que todos desejam. A marca Corinthians foi reconhecida como uma das mais importantes do país, gerando uma série de ações de marketing muito bem sucedidas, auferindo muitos recursos ao clube, além do reconhecimento internacional. O time passou por um grande período mantendo a base e o treinador, comportamento que permitiu o retorno a primeira divisão do futebol nacional, lhe rendeu títulos tanto regional quanto nacional e o colocou novamente na disputa do mais desejado título para os corinthianos, o da Copa Libertadores.

A Libertadores não foi conquistada, ainda, porém algo mais importante, e que parece passar desapercebido, sim. A construção de seu estádio, sonho mais antigo do que a conquista da América, foi garantida hoje. E mais, este estádio tão desejado e tão importante para seu crescimento e afirmação do clube como o mais importante do país, será nada mais nada menos do que a abertura da Copa do Mundo de 2014! Esta conquista, articulada no ano do Centenário, é muito mais importante do que a Libertadores, porque elevará o clube a um novo estágio e proporcionará muitos títulos, inclusive o da Libertadores.

* Rafael Soares, corinthiano, é colaborador do Ludopédicas.

Messi brilhou porque a Argentina mudou ou a Argentina mudou porque Messi brilhou?



Até que enfim, a Argentina mostrou bom futebol nesta Copa América. Mais do que isso, o grande ídolo Lionel Messi também desencantou. Pouco importa se o adversário era a Costa Rica. Os adversários anteriores, Bolívia e Colômbia, que empataram com os argentinos, também eram, no papel, muito inferiores; vale dizer, a Bolívia foi derrotada pela mesma Costa Rica por 2 a 0.

O que aconteceu, não nessa partida, em que a “verdadeira Argentina” se mostrou, mas nas anteriores, quando se viu a caricatura de uma das mais importantes seleções mundiais e do melhor jogador do planeta? Tenho uma hipótese: na partida contra a Costa Rica, o técnico Sergio Batista perdeu o medo de jogar apostando na vocação ofensiva e de toque de bola da Argentina. As quatro alterações que fez - saíram Cambiasso, Banega, Lavezzi e Tevez, entraram Gago, Aguero, Di Maria e Higuain -, menos pelos jogadores e mais pelo reenquadramento tático, possibilitou uma nova postura, uma nova dinâmica e, principalmente, que Messi pudesse jogar tudo o que sabe. E como ele sabe jogar!

Nas partidas contra Bolívia e Colômbia, Batista colocou Messi em uma cilada. Atrás dele, três volantes com características mais defensivas do que de armação; à frente, dois atacantes de lado de campo, cada qual muito isolado, à esquerda e à direita. O craque do Barça ficava sozinho com a responsabilidade de criar jogadas no meio e buscar Tevez e Lavezzi, que, apesar de movimentarem-se bastante, tendem a correr com a bola nos pés, não de receber a bola passada e finalizar de pronto.

A mudança mais ousada foi a colocação de um único volante de contenção - Mascherano - , compensada pela retenção dos laterais para função exclusiva de marcação; aliás, os pesados Zabaleta e Zanetti, ainda que bons jogadores (especialmente o último), atualmente não têm muitos recursos para o apoio.

Gago passou a auxiliar Messi no meio, participando da articulação e, não sendo “La Pulga” o único alvo a ser marcado, dificultou sobremaneira as ações defensivas costa-riquenhas no meio-campo. Além disso, para ajudar ainda mais as jogadas criadas por Messi nas assistências, calharam muitíssimo bem as três opções à frente, Aguero, Di Maria e Higuain. Todos se movimentaram muito e foram premiados com bolas açucaradas, no jeito para a finalização. Dessa forma, apesar da fase (ou característica?) de Higuain, que não consegue enfiar a bola para dentro, considerando a abundância de chances criadas e finalizações realizadas, os três gols foram até pouco.

Em suma, as mudanças no elenco e no esquema tático fizeram muito bem à Argentina e a Messi, que, finalmente, conseguiu melhores condições para mostrar que é, sem dúvida, o melhor jogador do mundo.

Além dos fatores acima, há que se ressaltar as consequências psicológicas positivas da boa receptividade da torcida de Córdoba sobre o escrete argentino. A começar pela presença no estádio do lendário Mário Kempes, que dá nome ao estádio. Isso também tirou muita pressão dos jogadores. Bem melhor do que começar as partidas questionando Messi por não cantar o hino nacional.

***

Lições para o Brasil

A mudança na seleção argentina pode bem servir de lição ao Brasil. Principalmente quanto à assunção de uma postura vencedora. Em outras palavras: para que se “arrisque” a jogar com apenas um volante, há que se estar convencido de que a equipe tem potencial para manter a bola na frente. Eis a lógica: manter a posse de bola e a ofensividade é uma maneira, quiçá a melhor, de proteger-se atrás. Em linguagem popular: o ataque é a melhor defesa.

No caso da articulação no meio, Jadson provou que pode ser o anteparo de Ganso (guardadas as devidas proporções, o nosso Messi). À frente, Lucas Silva poderia compor com Pato e Neymar um trio de ataque a se movimentar como fizeram Aguero, Di Maria e Higuain.

Ramires seria sacado, mas os laterais deveriam ficar mais atrás para não deixar a defesa desprotegida. De qualquer forma, nossos laterais têm mais recursos para apoiar do que os argentinos, o que, eventualmente, seria uma “vantagem comparativa” brasileira.

Claro que não se trata de uma fórmula que sirva a Barcelona, Argentina ou Brasil a qualquer hora e contra qualquer adversário. Cada um tem características, potencialidades e limites distintos, que devem ser sopesados quando das escolhas táticas. Entretanto, há que se considerar, ao menos como uma lição, o jogo da Argentina contra a Costa Rica. Até para que não se faça o samba de uma nota só, como Galvão Bueno, para quem tudo parece se resumir à falta de referência na área. A propósito, talvez seja o momento de o nobre locutor considerar que Ronaldo e Romário não jogam mais, e Fred, apesar de um jogador muito esforçado, pode não ser um salvador da pátria.

JFQ

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sina de freguesas



Mundial Feminino
Brasil 2(3) x 2(5) EUA

Sem fazer uma “profecia de fato”, bastante conveniente, mas também desleal, não era nada impossível vislumbrar que os EUA desclassificariam nossas meninas pela enésima vez. Os EUA estão para nossa seleção feminina assim como a França está para a masculina. Em que pese a inegável qualidade de Marta – a Pelé das mulheres –, o esporte bretão é coletivo e nossas meninas não estavam bem neste Mundial, apesar das vitórias. Na verdade, estavam mal tática e psicologicamente.

Em todos os jogos o Brasil demonstrou extrema dificuldade em armar jogadas de ataque, apelando inesgotavelmente para os chutões. A tal da ligação direta, de exceção tornou-se regra, assim como a dependência de Marta. As coisas só funcionavam depois que surgia um gol, em uma jogada fortuita, decorrente de um “detalhe”, como ensinou o mestre Parreira. Na frente no placar, nossas meninas tomavam-se de confiança, soltando-se no ataque e marcando mais gols. Ou seja, o componente psicológico sempre muito, muito forte nessa seleção feminina, que, é bom que se diga, não é a melhor que já tivemos. Além de Marta, Erika, Maurine, Rosana e Adréa merecem cuidados especiais para o futuro próximo do escrete canarinho. No caso de Cristiane, de boa capacidade técnica – embora já tenha se mostrado melhor –, há que se fazer um preparo mental especial: a atacante está extremamente individualista, pensando mais nela que no time, além de um tanto marrenta. Menos, Cris, menos!

As americanas, ainda que menos habilidosas, foram melhores na distribuição tática em campo e na concentração com que levaram a partida. Destaque para a bela goleira Hope Solo e para a capitã Wambach. Com menos de dois minutos de partida, aproveitando-se de uma desconcentração defensiva do Brasil, as americanas abriram o placar em uma infelicidade de Daiane: a brasileira, tentando interceptar o cruzamento na área, fez contra.


Daí até os 23 minutos do segundo tempo, a tônica foi o Brasil tentando se encontrar em campo e os EUA armando contra-ataques perigosos. E, por essas coisas do futebol, o que parecia ser um fato adverso, acabou servindo às nossas adversárias como força extra. Todo o estádio passou a vaiar a seleção brasileira e a apoiar as americanas após pênalti sofrido por Marta, que, ainda, acarretou a expulsão da zagueira Buehler. Além do pênalti, a árbitra Jacqui Mlksham, em péssima tarde, mandou voltar a cobrança após Cristiane praticamente recuar a bola para as mãos de Solo. Das duas possibilidades para justificar a nova cobrança, nem a goleira ter se adiantado (o que não aconteceu), nem a invasão da área por jogadora americana parece ter convencido aos torcedores que lotavam o estádio de Dresden de que as americanas não estavam sendo “garfadas”. Aliás, é sempre bom lembrar que pênalti é lance determinante para o resultado e, apesar de não estar na regra escrita, há certos usos e costumes, certas tolerâncias admitidas quase consensualmente por quem joga futebol. Por exemplo: adiantamento de goleiro ou invasão de área tem que ser acintosa para que se justifique a repetição da cobrança, o que, no caso, não ocorreu.

Marta assumiu a condição de batedora no lugar de Cristiane e converteu a cobrança. Dali em diante, o Brasil, embora tenha conquistado o empate, também passou a carregar um “fardo energético” (?): a aura do estádio passou conspirar pela vitória das americanas, tornadas vítimas da arbitragem e de certa malandragem brasileira (adendo: somos cada vez mais odiados nos campos “civilizados” da Europa por nosso estigma de malandragem; Neymar que o diga). Isso persistiu mesmo depois do golaço de Marta no início da prorrogação, que parecia selar um destino diferente dessa vez. A incessante luta das adversárias, porém, juntamente com a força negativa direcionada a Marta e companhia, assim como o interminável medo de sermos feliz contra as representantes de Tio Sam (em jargão boleiro: freguesia), culminou no gol de empate no último lance da prorrogação e à derrota nos pênaltis. Aliás, com pênalti perdido por Daiane, justamente a jogadora que fizera o gol contra e que jamais deveria ter sido relacionada para as cobranças pelo técnico Kleiton Lima.

De positivo ficou a marca de 12 gols de Marta, a maior artilheira de todas as Copas junto com a alemã Prinz. E a lição para as Olimpíadas do ano que vem: não basta ter Marta, há que se acertar o time em campo e, fundamental, a cabeça das meninas. Além do mais, quando se enfrentar os EUA, seria recomendável alguma macumbazinha, só para garantir.

Além do Brasil, também a Alemanha, quiçá a grande favorita ao título, foi eliminada do Mundial. Nas semifinais, os EUA pegam a França e o Japão pega a Suécia.


***

Como ontem não era dia do Brasil, além da eliminação no Mundial feminino, também os meninos do sub-17 perderam para a Alemanha, por 4 a 3, na disputa do terceiro lugar no mundial da categoria. O México, país anfitrião, conquistou o título ao vencer o Uruguai por 2 a 0.

JFQ

Pardal Menezes, a volta de Ganso e o apagão defensivo



Copa América
Brasil 2x2 Paraguai

Acompanhando seus colegas de (passado) gigantismo, Argentina e Uruguai, o Brasil novamente decepcionou. Não pelo resultado – empate com o Paraguai não é vexatório, ainda mais na atual conjuntura –, mas pelo modo como a seleção de Mano Menezes deixou escapar o resultado positivo em um jogo cujas rédeas pareciam em suas mãos.

Três destaques: o retorno de Ganso, senão a um futebol brilhante, a uma boa atuação; o apagão da defesa, até então o ponto forte do time; e a fase “professor Pardal” que acometeu o treinador da seleção.

Se Paulo Henrique não fizera uma boa partida na estreia – na verdade, só não foi substituído por absoluta benevolência e confiança de Mano –, contra o Paraguai procurou a bola e protagonizou boas jogadas. Em especial, procurou fazer o que dele se espera: distribuição de jogadas e assistências precisas. Infelizmente, no momento em que isso se deu, os companheiros de ataque e das laterais não ajudaram. A presença de Jadson no meio ajudou Ganso a produzir mais; no entanto, o jogador a menos no ataque parece ter confundido Pato e Neymar, perdidos e confusos. Além disso, nem Daniel Alves, nem André Santos apoiaram as subidas para o ataque, não se sabe se por instrução do treinador ou por incapacidade momentânea, uma vez que o apoio é uma das principais características de ambos.

Aliás, Dani Alves e André Santos fizeram por merecer críticas também na atuação defensiva. Causaram tamanho descontentamento que podem até ceder suas vagas de titulares a Maicon e Adriano, na partida contra o Equador. Os dois gols do Paraguai – que não fez muito mais do que os gols – saíram de falhas bisonhas e seguidas do sistema defensivo. Nos dois gols, os paraguaios aproveitaram a falha de posicionamento de Daniel Alves, bem como de cobertura dos zagueiros Lúcio e Thiago Silva e do lateral André Santos. Juro que cheguei a pensar que a coisa era de propósito, sei lá, talvez como um protesto pela proibição de discursos religiosos como nos tempos de Dunga (será?). Contudo, prefiro crer que foi apenas um momento ruim. Muito ruim! Lúcio e Thiago Silva, além das falhas na marcação, abusaram das tentativas de ligação direta. Justo no dia em que Ganso estava bem na articulação e auxiliado por Jadson!

Por falar em Jadson, o contestado jogador foi a primeira “invenção” do professor Pardal Menezes. Como na partida contra a Venezuela, em que se via problemas no meio e Mano colocou um atacante, Jadson só era opção para início de jogo contra o Paraguai na cabeça do técnico. Elano e Lucas Silva, até pelas alterações anteriores feitas por Mano, eram opções mais esperadas. Não que o treinador deixe Jadson de lado – muito pelo contrário! –, mas parecia certo que no seu esquema só caberia um articulador, no caso, Ganso. Bem, o fato é que a opção deu certo, pelo menos por alguns minutos. Mais do que isso: Jadson foi o autor de um golaço que colocou o Brasil na frente. Só que, para contrariar o ditado futebolístico, Mano resolveu mexer em time que estava ganhando. Após convencer a muitos de que fizera a escolha certa, tirou Jadson para colocar Elano. Qual seria a intenção do treinador? A desvendar.

A seleção tomou os gols já citados, frutos da competência paraguaia, especialmente dos atacantes Santa Cruz e Valdez e do meia Lucas Barrios, e da incompetência defensiva, e passou a ser dominado. No momento em que o meio-campo era perdido, Mano mexeu no ataque. Parece ter ouvido o clamor de Galvão Bueno: falta o atacante de área, falta a referência, falta o centroavante!!!! Só faltou gritar: falta o Rrrrrrrrrrrroooonaaallllldo!!!! Mano colocou Fred, seu novo talismã, que aproveitou ótima assistência de Ganso para marcar o gol de empate no fechar das cortinas.

O empate não foi bom, mas ficou a sensação de que poderia ter sido pior. E, apesar dos pesares, o Brasil está numa situação até menos preocupante que a de Argentina e Uruguai. Ademais, para que é chegado a “superstições estatísticas”, quando o período pré-Copa é ruim é porque o Mundial promete, e vice-versa.

Agora, é bom Mano Menezes colocar as barbas de molho. Já deve haver muita gente dentro e fora da CBF convencida de que Muricy Ramalho não recusaria um convite pela segunda vez.

JFQ

Teixeira por Teixeira

Juca Kfouri


Dá até pena.

As declarações de Ricardo Teixeira, o cartola que comanda o Comitê Organizador Local da Copa do Mundo no Brasil, à repórter Daniela Pinheiro, da revista "Piauí", são uma saraivada de tiros nos próprios pés.

Fora as balas perdidas em devaneios que os fatos não comprovam, como por exemplo a menção às pesquisas que aprovam seu trabalho na CBF. Fosse assim, por que ele fugiria de qualquer evento público no país? Por que foi vaiado na festa da própria CBF no fim do ano passado, no Theatro Municipal do Rio? Ou por que ouviu o coro que ouviu até da elite que estava na premiação do último Mundial de futebol de areia em Copacabana?

Outro tiro que erra o alvo é o que tenta convencer os leitores de que não foram as manobras protelatórias de seus advogados, pagos pela CBF, que conseguiram levar ao arquivo boa parte das denúncias que teve de responder na Justiça.

Mas nada disso surpreende.

Nem mesmo sua arrogância e o vocabulário destemperado, de baixo calão, típico de quem usa o discurso para esconder o sentimento, embora faça questão de revelar seu indiscutível poder.

Poder, como ele mesmo diz, de fazer maldades, de negar credenciamentos e até de constranger os amigos, ao deixar mal, por exemplo, o jornalismo da Rede Globo que, segundo ele, lhe seria subserviente.

Mas poder que não o faz nem ter credibilidade nem ser querido, apesar de achar que merece pois imagina que ganhou as duas Copas do Mundo conquistadas em sua gestão interminável.

Apesar disso, fica evidente que Teixeira sofre.

Porque quem crê nele? Nem sua pequena filha, que protagoniza episódio delicioso na reportagem, ao se surpreender com a repentina mudança de candidato apoiado por ele na recente eleição da Fifa e levar um beliscão por baixo da mesa para calar-se e deixar de ser inconveniente.

Que o ex-sogro, João Havelange, aos 95 anos, o tenha na conta e diga que ele é a própria definição de malandragem ("no bom sentido, claro") é compreensível. Mas que ele, ainda aos 64, fale que um portal como o UOL dá traço, ou que faz parte, com a Folha, o "Lance!" e a "ESPN", de uma "patota" é digno de internação, porque só Freud explica.

Teixeira imaginou que uma publicação com laços com o banco Itaú, patrocinador da CBF e da Copa, o pouparia. Enganou-se e falou demais.

Deu bom-dia a cavalo.


* Publicado na Folha de S.Paulo, em 10/07/2011.

Obs: A entrevista concedida por Ricardo Teixeira à Revista Piauí: http://blogprosecontras.blogspot.com/2011/07/entrevista-de-ricardo-teixeira-revista.html