quinta-feira, 26 de julho de 2012

Sim, hoje tem Brasil nas Olimpíadas!



Para os que têm dificuldade em saber dos acontecimentos do país e do mundo quando não são noticiados pela Rede Globo – um sério problema brasileiro este (ainda) quase monopólio, do qual, confesso, também sou vítima –, vai aqui um lembrete:

HOJE TEM JOGO DA SELEÇÃO BRASILEIRA MASCULINA DE FUTEBOL, PELAS OLIMPÍADAS DE LONDRES. SIM, JOGOS OLÍMPICOS, O PRINCIPAL EVENTO ESPORTIVO DO PLANETA!!!!!!!!!! A PARTIDA BRASIL X EGITO SERÁ TRANSMITIDA PELA RECORD (sim, a TV do Edir Macedo... fazer o quê), ÀS 15H45.

Questiono o seguinte: dizem que a Globo tem um jornalismo de primeira, quiçá o melhor entre os meios de comunicação do país. No entanto, a essência do jornalismo, na minha modesta opinião, é trazer às pessoas informações completas sobre fatos relevantes. Combinemos que, tratando-se de esportes, as OLIMPÍADAS são megarrelevantes. Então, como conceber esse jornalismo, que coloca interesses comerciais – às vezes também políticos, ideológicos, etc. – à frente do princípio de informar, como o suprassumo do jornalismo nacional? Para não falar em notícias enviesadas, matérias em que se escuta um lado e não o outro.

JFQ

Um novo patrono para o Engenhão

Elio Gaspari

A cada dia que passa e o estádio olímpico do Engenhão continua com o nome de João Havelange, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, confirma as palavras dos advogados da Fifa no processo que tratou do capilé de US$ 14 milhões recebidos pelo doutor e por Ricardo Teixeira: "Pagamentos de subornos pertencem ao salário recorrente da maioria da população na América Latina e na África".
Havelange e Teixeira receberam, mas a galera que vai aos estádios e elege prefeitos leva a fama. A exposição da malfeitoria, 13 anos depois das primeiras denúncias, mostra que os subornos, quando rolam no andar de cima, são protegidos por um sistema de salvaguardas especiais.
No caso da dupla, a blindagem funcionou na própria Suiça, pois as principais acusações surgiram em 2006. Havelange foi protegido ao limite do possível. Ele dirigiu a Confederação Brasileira de Desportos de 1956 a 1974 e a Fifa de 1974 a 1998, quando foi aclamado seu presidente honorário, título que ainda mantém.
Afora isso, foi membro do Comitê Olímpico Internacional e fez Ricardo Teixeira, que era seu genro, presidente da Confederação Brasileira de Futebol. Os dois saíram de fininho no ano passado, quando a magistratura suíça já estava atrás de suas contas.
Aos 96 anos, Havelange ensinou: "Difícil na vida não é chegar, é saber sair. Tem que sair bem". Ele construiu seu verbete na história do esporte brasileiro e destruiu-o na saída. Charmeur irresistível e grosseirão inesquecível, "nosso querido Havelange" (nas palavras de Lula), encantou governantes e ajudou atletas colocando-se ora como patriarca onipotente, ora como cortesão maltratado.
Quando Pelé o contrariou, disse: "Dei todas as atenções e fiz gentilezas a esse moço". No ano passado, a doutora Dilma tomou-lhe o passaporte diplomático, e ele lamentou-se: "Eu merecia isso? É isso que dói, este é o meu país".
Havelange e Teixeira encarnaram a transformação do futebol num empreendimento bilionário. Em 1958, quando o ex-sogrão trouxe a primeira Copa do Mundo para o Brasil, o goleiro Gilmar ganhou uma bibicleta e um terno. Hoje os craques pilotam Ferraris.
Há patrocinadores para atletas, clubes, seleções e Copas e se isso ajudou a profissionalizar o esporte, serviu também para montar propinodutos e lavanderias de dinheiro.
A rede de interesses criada pelo progresso deu à cartolagem oportunidades para a delinquência e fez da Fifa uma central de negócios, ramificada em donatarias nacionais.
A presença da empreiteira Delta na construção de estádios para a Copa de 2014 é um solene indicador dos perigos que rondam a festa.
Até bem pouco tempo, Joseph Blatter, presidente da Fifa (secretário-geral ao tempo de Havelange) comportava-se nas negociações com o Brasil como se fosse chefe de Estado, manipulando a síndrome de "vira-latas" dos burocratas com quem tratava.
O ocaso de Havelange deveria levar o prefeito Eduardo Paes a aceitar uma disputa com a Fifa. Ganhará quem chegar primeiro: os cartolas suíços extinguindo a presidência honorária da instituição ou o doutor, trocando o nome do Engenhão.
Se o prefeito entregar a escolha do nome do estádio à galera que o frequenta, mostrará que "pagamentos de subornos" não "pertencem ao salário recorrente da maioria da população" do Rio.
Publicado na Folha de S.Paulo e em O Globo, em 18/07/2012.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Ferrolho

Vinicius Mota


Em sete meses, o futebol brasileiro caiu na real. O time mais habilidoso do país, o Santos de Neymar, foi massacrado em Yokohama pelo Barcelona de Messi, Iniesta e Fabregas.
Já a Copa do Brasil e a Libertadores da América foram vencidas por equipes despojadas de craques, organizadas e retranqueiras: o Palmeiras de Felipão e o Corinthians de Tite. Dois técnicos gaúchos durões que não querem saber de poesia.

Por razão insondável, os estilos de jogo das equipes no Brasil tornaram-se motivo de batalhas entre filósofos do esporte. Quando está em questão a conduta da seleção nacional, o embate vira cruzada.
Inventividade, improviso e ofensividade são marcas do futebol brasileiro das quais não se abre mão, diz um dos lados. Sem cautela, marcação e no mínimo três volantes não se ganha campeonato, afirma o outro.

O fato é que o Brasil já teve equipes competitivas nas duas modalidades. Venceu jogando feio (1994) e batendo o fino da bola (1970). Vale também a recíproca. Perdemos dando baile (1982) e passando vexame (1990).

O pior dos mundos são os momentos em que não há jogadores bons o suficiente seja para pressionar o adversário com eficiência, seja para manter a meta incólume diante do assédio adversário.
Corinthians e Palmeiras indicam que o Brasil, na Copa de 2014, pode ser competitivo se optar pelo resguardo defensivo. Já os craques do Santos mostraram-se anuláveis por sistemas de marcação mais organizados.

Neymar, convenhamos, ainda está longe de ser um demolidor de defesas do porte do Romário de 1994 --ou da dupla Ronaldo e Rivaldo de 2002.

Nem sequer sabemos se o 11 santista vai chegar lá ou se seguirá o destino de ciscadores folclóricos, como Robinho e Denílson (ia citar Cafuringa, mas deixa para lá). Por via das dúvidas, é melhor o Brasil armar a melhor retranca possível, o proverbial ferrolho, para 2014. Técnico gaúcho para isso a seleção já tem.


 
Publicado na Folha de S.Paulo, em 16/07/2012.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A gostosa do câmera

Antonio Prata


Demora uns 15, 20 minutos até ela aparecer. Esse é o tempo, imagino, gasto na minuciosa pesquisa: sempre que a bola sai pela lateral, que um jogador cava uma falta, enquanto o goleiro toma distância para bater o tiro de meta, ele vasculha a arquibancada, um olho no campo e outro no zoom, a procurá-la. Talvez fique em dúvida entre a loira de top na numerada, a morena de piercing junto ao alambrado, a ruiva girando o rabão de cavalo no tobogã. Lá pelo meio da primeira etapa, contudo, já chegou a um veredicto, e, quando o jogo é interrompido por alguma razão e o comentarista, num raro momento de iluminação, emudece, eis que surge, pinçada do meio da massa amorfa e catapultada para as televisões do Brasil: a gostosa do câmera.
Por alguns segundos, todos se esquecem do jogo, do time, da tabela e se concentram na brejeira musa dominical, que, ignorando 80 milhões de olhos, segue enrolando uma mexa de cabelo, cantando "Timão, ê, ô!", roendo a unha do dedinho. Em algum lar, uma mãe estará gritando: "É a Kelly! Nestor, é a Kelly!". Perto dali, talvez, um garoto endireite-se na cadeira de latão: "Aí, Rodriguêra, não é aquela tua prima gostosa?!", e Rodriguêra, surpreso, forçando a vista: "Cara, só é!". Aqui em casa, toda vez que a moça invade a TV, há também um movimento: "Aí está ela!", penso, e sorrio satisfeito.

Se digo "a moça" é porque, entra ano, sai ano, o biótipo da eleita não muda -e a constância de seus traços, ou, mais precisamente, de seus contornos, talvez seja a primeira razão da minha felicidade. Mudam os jogadores, os presidentes, a temperatura global, as alianças dos políticos e o sabor dos sorvetes, mas a gostosa do câmera continua igual: fornida, cabelos longos, unhas pintadas. Vá lá: vulgar, no sentido mais puro da palavra, o que pertence ao vulgo, ao povo, pois é isso que ela é, o paradigma da beleza nacional.

Se a primeira razão da minha alegria é a permanência dos contornos, a segunda é o contorno, em si; essa desbragada voluptuosidade. Pois mesmo com o poderoso lobby da anorexia e seu ossudo ideal de beleza, que bombardeia as meninas desde o berço, a libido brasileira ainda se move em direção à fartura. A natureza, que via nas curvas a reserva de alimento necessária para nutrir os descendentes em épocas de escassez, ainda vence o marketing, com suas mulheres desnatadas. O mundo caminha para uma triste assepsia, um raquitismo carnal e anímico, mas sangue corre nas veias daquela garota, há ali vida e vontade de potência.

Por último, mas não menos importante, me empolgo com a gostosa do câmera simplesmente porque ela é do câmera. Num espetáculo que movimenta milhões de reais, em que há gigantes da propaganda disputando cada segundo e cada centímetro do estádio, este soldado raso do exército televisivo, com um desejo na cabeça e uma câmera nas mãos, é quem elege a Miss Arquibancada, que, por três segundos, provocará milhões de brasileiros.

Ao ver aquela moça ali, saltitando, anacrônica e contente, semana após semana, acredito que nem tudo está dominado. "No pasarán!", penso, enquanto ela passa em minha TV -e me alegro pela existência do futebol e seus contornos.

Publicado na Folha de S.Paulo, em 11/07/2012.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Cicatrizes do título

Paulo Vinícius Coelho




No dia seguinte ao jogo da classificação para a final da Copa do Brasil, o goleiro Bruno falou sobre a tensão de levar o primeiro gol do Grêmio e sobre como as derrotas do passado serviram de exemplo para chegar à vitória do presente: "Conversamos muito sobre a semifinal da Copa Sul-Americana de 2010, o 1 a 2 para o Goiás. Não poderíamos correr o risco de perder a vaga na final para o Grêmio, depois de vencer por 2 a 0 no Olímpico. Quando sofremos o gol, olhamos uns para os outros e, naquele instante, tive certeza de que estava tudo sob controle."

O Palmeiras levou só seis minutos para empatar com o Grêmio. O caráter do time campeão da Copa do Brasil formou-se na derrota e nos conflitos. Construiu-se com histórias, como a da bronca do diretor Wlademir Pescarmona, no vestiário do Centro de Treinamento, um dia depois do vexame contra o Goiás. Xingou a todos, de vagabundos para baixo, sob o olhar complacente de Felipão, por isso questionado pelo elenco nos meses seguintes.

Construiu-se também no episódio da saída de Kleber do Palmeiras, briga de foice no vestiário da Academia entre o atacante e o treinador. "Em vinte anos no Palmeiras, nunca vi nada tão grave", disse o então goleiro Marcos.

A discussão evidenciou a necessidade de se contratar um gerente de futebol, um anteparo entre o técnico e o elenco. Em seus melhores trabalhos, Felipão sempre teve esse escudo.

Luís Carlos Silveira Martins, o Cacalo, diretor de futebol, no Grêmio, Paulo Angioni, diretor de esportes da Parmalat, no Palmeiras.

Gente capaz de dividir os problemas e impedir a intervenção do treinador em todos os conflitos, como acontecia antes da chegada de César Sampaio, em novembro de 2011.

"O ambiente e o time melhoraram, também, porque alguns do contra não estão mais aqui", disse Luiz Felipe, na manhã de ontem, no saguão do hotel Pestana, em Curitiba.

O técnico se referia a Kleber, mas também a Lincoln, rival ontem, com a camisa do Coritiba.

Com a área limpa, Felipão pôde reconstruir sua família, como nos seus melhores trabalhos. Até o primeiro jogo das finais contra o Coritiba, houve quem cobrasse do Palmeiras um jogo mais trabalhado, mais bola no chão, menos dependente de bolas paradas.

Cobrava isso quem também dizia que Felipão mudou. Não, não. Ele é o mesmo sujeito teimoso, mas de coração mole e futebol duro, das outras três conquistas de Copa do Brasil.

Prova disso é o estilo rigoroso, sem beleza, sem sabor, com que o Palmeiras avançou. Seu time joga com os mesmos méritos e os defeitos de sempre das equipes montadas à moda Felipão. O gol de Vilmar, do título da Copa do Brasil de 1991, do Criciúma, o de Nildo, da conquista de 1994 pelo Grêmio, o de Oséas, Copa do Brasil 1998 do Palmeiras, todos nasceram de bolas paradas.

Nos doze anos do hiato entre a Libertadores 1999 e a Copa do Brasil 2012, quem mudou para pior foi o Palmeiras. Por isso, a Copa do Brasil, forjada no sofrimento e conquistada ao melhor estilo Scolari, deve ser muito comemorada. Também precisa ser encarada como o primeiro passo para o clube voltar a ser um dos mais vencedores do País.


Publicado em O Estado de S.Paulo, em 12/07/2012.

Avanti, Palestra!

Antero Greco




Os palmeirenses foram dormir de alma lavada e enxaguada na alegria e na emoção. Como os rivais corintianos uma semana atrás, na noite de ontem vibraram, choraram, gritaram, soltaram fogos, se mandaram para a rua num buzinaço atordoante. Não era pra menos. Depois de quase uma década e meia de grandes frustrações e pequenas alegrias, viram o time livrar-se do papel de coadjuvante e reassumir a condição de protagonista. Ora, direis, foi apenas uma Copa do Brasil. É verdade, mas com valor de título mundial, ou o equivalente a faturar sozinho a Mega Sena.

A conquista veio com o elenco mais improvável para o sucesso. E invicto, Nos prognósticos de início de temporada, o Palmeiras aparecia em posição modesta na lista de candidatos ao topo. Vinha atrás de pesos pesados na competição, como Grêmio e Cruzeiro (os maiores campeões), ou de São Paulo e Botafogo, ambos em busca de título inédito. Até o bom Coritiba, vice de 2011, tinha precedência nos palpites preliminares.

O ceticismo em relação ao futuro palestrino no torneio não era preconceito gratuito, como lamentam exaltados e traumatizados. Ao contrário, tinha fundamento - infelizmente. O grupo sob o comando de Felipão era quase o mesmo que colecionou fiascos em 2011, com pequenas novidades e com os problemas costumeiros. O roteiro de outra participação interrompida na metade estava prontinho para ser executado. Questão de tempo, até as etapas mais duras.

Pois as fases complicadas vieram, as dificuldades não abandonaram técnico e seus rapazes, e estes não largaram o osso da Copa do Brasil. Torcedores escaldados ficaram na defensiva, à espera do tropeço, do momento de sair de cena. E era uma forma de blindar-se e não cair em depressão, como tem sido rotineiro na história recente. Até os mais empolgados ficaram com um olho no peixe e outro no gato. O palmeirense sabe o que é chorar de tristeza; mais do que ninguém tem noção do quanto é incômoda a maledetta dor de cotovelo.

Mas voltou a sentir o gosto das lágrimas de alegria e recuperou o ar altivo, bem condizentes com a trajetória de glórias quase centenária. Pois vi marmanjo com os olhos cheios d'água, a acompanhar os minutos finais do jogo no Couto Pereira. O rosto daqueles rapazes em Curitiba resumia a tensão, a expectativa, a euforia contida de milhões de alviverdes espalhados pelo país.

E por um jogo que se desenhava interminável quando Airton fez 1 a 0 para o Coritiba aos 16 do segundo tempo. Parecia que haveria uma avalanche pra cima do Palmeiras. Mas quatro minutos depois, Marcos Assunção e sua bendita "bola parada" resolveram, com a cabeça de Betinho no meio do caminho. Que ironia, Betinho, o que está em experiência, o herói acidental.

O Palmeiras tinha segurado bem a onda no primeiro tempo, empurrou a angústia para o Coritiba e se comportou com dignidade. O grupo sem estrelas se superou, na vontade, na raça, na consciência de sua limitação.

O Palmeiras agora tem outra taça valiosa a colocar em destaque na futura casa nova. Mais do que um pedaço de cobre, o troféu deve servir de inspiração para os dirigentes e indicar-lhes que o time precisa retomar o caminho de grandeza e dar um sonoro bico no complexo de inferioridade que baixou no clube. Chega de bom e barato! Basta com o meia-boca!

Avanti, Palestra! Bom retorno ao grupo dos vencedores! E a Libertadores de 2013 já começa pra lá de especial. Quem sabe, com um Palmeiras x Corinthians na final? Que me diz?


Publicado em O Estado de S.Paulo, em 12/07/2012.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Bienvenidos

Rodrigo Bueno


O momento do futebol brasileiro faz pensar. O título invicto do Corinthians na Libertadores e a chegada de renomados jogadores internacionais apontam para a força atual dos clubes do país, algo que vai na contramão da seleção brasileira, só a 11ª colocada no ranking da Fifa.

O cenário lembra um pouco o da Espanha de antigamente: clubes poderosos e seleção enfraquecida. Retrato do crescimento da economia nacional, as últimas oito Libertadores tiveram ao menos um time brasileiro na final, e todas essas edições foram concluídas no Brasil (sinal de que um clube do país teve melhor campanha).

O abismo que se viu entre o ótimo Santos de Neymar e o histórico Barça de Messi não deve se repetir no Mundial próximo entre o milionário Chelsea (sexto no mundo em faturamento) em transição e o quase milionário Corinthians (25º no planeta em faturamento) encaixado.

Há quem possa classificar D'Alessandro, Deco, Forlán, Juninho, Loco Abreu, Luis Fabiano, Montillo, Renato, Ronaldinho, Seedorf, Vágner Love, Zé Roberto e alguns outros como decadentes, em fim de carreira ou sem mercado na Europa. Mas é fato que ainda são atletas caros, úteis e que poderiam estar jogando em outras ligas periféricas que pagam bem ou mesmo em clubes de médio porte no velho continente.

Dedé, Fred, Ganso, Leandro Damião, Lucas, Neymar, Paulinho, Ralf, Réver e Victor, entre outros, integram vasta lista de selecionáveis que estão no futebol brasileiro, que tem cobiçado nomes como Beckham, Conca, Del Piero, Diego, Kaká, Lugano, Nilmar e Riquelme. Alguns dos principais técnicos do país estão entre os mais bem pagos do mundo, e a perspectiva é que a injeção de dinheiro no esporte só aumente até 2014, quando haverá Copa aqui e modernos estádios darão uma cara ainda mais europeia ao futebol nacional.

Não acho que tudo seja ouro de tolo (talvez o ouro em Londres seja) e concordo que há um certo exagero no que é gasto hoje no futebol. No entanto, se o Campeonato Brasileiro nunca virar uma NBA, ao menos vive um bacana e singular momento de vitrine mundial.

A CBF, ainda atrasada no tempo, deveria rever o limite de estrangeiros por clube em seus torneios. Aumentar para cinco "gringos" por time (número de "forasteiros" do Inter) me parece algo sensato, que ampliaria a atratividade do Brasileiro e o domínio nacional nas competições sul-americanas (sem grande prejuízo para a seleção).

Pelas festas de apresentação de jogadores que tenho visto no país, milhões aprovam a ideia.



Publicado na Folha de S.Paulo, em 11/07/2012.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Vai, Coxa!

Lúcio Ribeiro




Antes de prejulgar o título acima, vale o esclarecimento. Talvez me considere o palmeirense mais palmeirense que eu conheça. Um dos mais que meus amigos próximos conhecem, com certeza.

Não o mais dramático, desses que se descabelam quando o juiz "ladrão" inverte um lateral duvidoso que era "nosso" (sim, uso os pronomes na primeira pessoa do plural). Nem o mais exibicionista, que em épocas de grandes vitórias vai a concerto de música clássica com um paletó por cima de certa camisa verde.

Mas, se um dia eu fosse escrever uma autobiografia, certamente teria que usar o futebol e em particular o Palmeiras como ponto de referência dos meus altos e baixos, da passagem da infância à adolescência e depois à adultescência, pois por exemplo consigo fácil relacionar as namoradas que tive com as fases do time na época delas. Ok? Posso continuar?

Cravei o apelido do Coritiba no título para falar sobre a final de amanhã da Copa do Brasil e a responsabilidade que tem nas mãos o time paranaense diante da história do futebol recente. Da história palmeirense, quero dizer. Dentro da bizarrice tragicômica que é acompanhar as notícias do Palmeiras nos últimos tempos, o time vai a Curitiba levando na bagagem uma enorme vantagem e um cheiro de desastre de mesma medida.

O time, na semana em que o presidente saiu na mão com um conselheiro, que o maior rival alcançou glória inédita e que sua maior esperança de gols teve uma crise de apendicite no dia da primeira final, fez 2 a 0 no jogo de ida. Quando podia ter saído do primeiro tempo com um 0 a 4 desfavorável, mas também terminado o segundo com um favorabilíssimo 3 a 0, não fosse um gol perdido sem goleiro.

Na fila por uma taça que preste, o Palmeiras, suas crises internas e seu elenco mais ou menos rumam a Curitiba sem sua esperança de gol (o do apêndice), sem seu mais hábil jogador (o recém-sequestrado craque que pode nem jogar mais no clube, por medo) e sem talvez sua principal válvula de escape na hora da pressão que vai sofrer (o veloz e amalucado Maikon Leite, machucado domingo na derrota contada no Brasileiro).

E, para jogar no mesmo estádio que perdeu de seis na última visita na mesma Copa do Brasil em 2011, para o mesmo time que talvez devesse ter sido o campeão daquele mesmo torneio. Vai, Coxa! Direciona esse filme palmeirense de amanhã para a prateleira que a ele cabe na locadora do futuro: a das aventuras épicas, a dos dramalhões chorosos ou a da comédia, em que ele na verdade já está.


Publicado na Folha de S.Paulo, em 10/07/2012.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Após assistir à eliminação da seleção no Sarriá, chorei pela segunda vez na vida, já aos 32 anos

Juca Kfouri




Por que toda uma geração chora até hoje a eliminação brasileira na Copa de 1982, em Barcelona, no acanhado estádio de Sarriá, que nem existe mais? Fosse no Camp Nou, muito mais adequado para o tamanho do embate, a sorte seria outra?

Pode ser que sim, pode ser que não, e desde já deixo claro que o jogo, simplesmente espetacular, foi vencido com justiça pela Itália.

Choramos porque tínhamos Leandro, Oscar, Luisinho, Júnior, Cerezo, Falcão, Zico, Sócrates e Éder?

Lamentamos porque Telê merecia o título?

Culpamos o azar pela perda de Reinaldo e Careca ainda antes de a Copa da Espanha ter início? Por tudo isso, creio, e mais um pouco.

Porque apesar de a vitória italiana ter sido justa no detalhe, mesmo com o pênalti em que Gentile rasgou a camisa de Zico ainda no primeiro tempo, o time brasileiro era melhor, tanto que foi o que entrou para a história, como o húngaro de 1954 e o holandês de 1974.

Mas ouso dizer, passadas três décadas, que nosso choro tem mais a ver com um sentimento de ternura, que era o que aquele inteligente grupo despertava.

A começar, pasme!, pelo então presidente da CBF, Giulite Coutinho, um homem conservador, enérgico a ponto de ser autoritário, mas limpo até a medula e de grande sensibilidade.

Havia ali, até entre os reservas (exceção feita a Edinho, que passou a Copa de cara amarrada, inconformado com a titularidade de Luisinho, que lhe era superior), uma gente que era tão deslumbrante com a bola nos pés como numa simples conversa à beira do gramado ou na concentração, quase sempre aberta.

Não por acaso o capitão do time não era ninguém com o porte de Hideraldo Luiz Bellini ou Mauro Ramos de Oliveira, talhados para erguer a taça. Em vez de Oscar Bernardi, outro zagueiro do mesmo estilo, o capitão era um poeta, magro e feio, chamado Sócrates Brasileiro.

Que um dia me disse -e nunca acreditei- que o melhor que poderia ter acontecido àquele time era a derrota, porque uma lição de vida, e que, em caso contrário, eles virariam pessoas insuportáveis.

Como doeu!

Eu dirigia a revista "Placar", então, e não tinha saída a não ser bancar o jornalista frio e insensível, para tratar de não atrasar o fechamento. E saí dando ordens aos repórteres e fotógrafos, relembrando cada um de suas missões. Mas, já na porta do Sarriá, indo para o centro de imprensa, um repórter de rádio quis me ouvir...

Tentei afastar o microfone, ouvi que ele já me apresentava e comecei a falar lamentando que aquela geração talvez não tivesse outra chance e... desabei.

Tinha chorado uma vez na infância, por causa de fracasso do meu time. Voltei a chorar, naquele dia, já aos 32 anos de idade e pai, então, de três filhos.

Algo ainda me diz que, um dia, Éder, em vez de chutar em cima do beque, irá passar para o Magro a bola que empataria em 3 a 3 e eliminaria a Itália.


Publicado na Folha de S.Paulo, em 05/07/2012.

Los Secretos

Rodrigo Bueno



O sucesso da Espanha não é por acaso. Quando o país recebeu a Copa de 82, a que o Brasil fez arte e não venceu, o time espanhol era medíocre. A partir daí, criou-se uma cultura de formação de atletas.

Dois anos depois, já pintava o vice no Europeu sub-21. Em 86, a Espanha levou o troféu nessa categoria e no sub-17. Em 88 e 91, novas taças juvenis, e, no ano seguinte, o ouro olímpico já veio com bom futebol, tendo o Barça do jogador Guardiola como pano de fundo. Entre 1995 e hoje, seis conquistas europeias no sub-19, cinco no sub-17, duas no sub-21 e prata em Sydney. Após a Copa-82, três finais de Mundial sub-20 (título em 99) e três decisões de Mundial sub-17 (e o país virou potência no futebol de salão, areia etc.).

Os espanhóis estão entre os favoritos (como brasileiros e uruguaios) para ganhar uma medalha em Londres. Javi Martínez, Mata e Alba, melhor lateral da Euro-12, compõem o time olímpico, cheio de promessas-realidades, como De Gea, Azpilicueta, Thiago, Isco, Adrián e Tello.

Do time bi da Euro, o mais ameaçado por idade de não jogar a próxima Copa é Xavi, mas ele já disse "2014 seguro". O império espanhol tende a continuar. E o ótimo trabalho de base pode criar reinado maior que os de Uruguai (24/28/30), Itália (34/36/38) e Brasil (58/62/70).

A França ganhou Mundial e Euro recentemente (1998/00), além de duas Copas das Confederações (2001 e 03), mas fator casa e fator Zidane pesaram muito. A Espanha é mais coletiva.

Há sim uma "chatice" nas seleções que dominam o futebol desde 1990: são equipes que pouco sofrem gols. A Espanha não foi vazada nos mata-matas da Euro-08, Copa-10 e Euro-12, absurdo! Isso significa pouca chance para o rival, muita imposição de jogo, domínio grandioso da bola. Casillas, primeiro a alcançar cem vitórias por uma seleção, não é vazado a 990 minutos em mata-matas de grandes torneios pela Espanha.

A Itália, que com Prandelli não tinha caído em jogo de competição até domingo, levou a única goleada em final de Euro. Desde 1957 a Azzurra não perdia por quatro ou mais gols de diferença. O alemão Bonhof era o único jogador campeão de duas Euros, agora 12 espanhóis igualaram o feito.

O chavão do grupo unido é um dos segredos da outrora rachada Fúria. Leia "Los Secretos de la Roja" e veja como cinema em grupo, pocha, músicas do DJ Sergio Ramos, pôquer, videogame, apelidos carinhosos e passeios em família deram resultado. Não à toa os filhos dos campeões espanhóis invadiram de forma linda o gramado no domingo.

 

Publicado na Folha de S.Paulo, em 04/07/2012.


quinta-feira, 5 de julho de 2012

O maior dos campeões

Juca Kfouri



Campeão invicto, o Corinthians se iguala ao Santos de 1963, embora Pelé & cia tenham jogado apenas quatro jogos --uma vitória e um empate com o Botafogo, sem Mané Garrincha, e duas vitórias sobre o Boca Juniors.
Agora, só sete clubes ganharam sem derrota --e desde 1978 que a façanha não era atingida.
O Corinthians, como se sabe, disputou e não perdeu nenhum dos 14 jogos. E deixou pelo caminho o Vasco campeão de 1998, o Santos tri e o Boca hexa. Certamente este time corintiano não é o melhor dos campeões brasileiros na Libertadores, mas se tornou o maior deles.
Porque o Santos de Pelé, o Cruzeiro de 1976, o Flamengo de Zico, o São Paulo de Telê Santana e Raí, o Palmeiras de Felipão e Alex, o São Paulo de Paulo Autuori e Rogério Ceni de 2005 e o Santos de Neymar no ano passado tinham times melhores, assim como o bicampeão Inter era do mesmo nível e por aí afora.
Verdade que o Grêmio, em 1983, também superou três campeões: Flamengo, Estudiantes e Peñarol. Que o Vasco, em 1998, passou por Grêmio, Cruzeiro e River Plate.
Que o Palmeiras, em 1999, derrotou Olimpia, Vasco e River Plate.
E que o Santos, no ano passado, eliminou Colo-Colo, Once Caldas e Peñarol.
Mas o Corinthians venceu campeões maiores, que somam dez títulos --e invicto o dobro de jogos dos maiores invictos.
Sim, o próprio Corinthians, com times superiores, não conseguiu ganhar no começo do século, o que apenas aumenta a façanha deste time que Tite conduziu com serenidade.
Oswaldo Brandão e Basílio, em 1977; Nelsinho Baptista e Neto, em 1990; Osvaldo de Oliveira e um timaço em 2000 têm agora companhia ilustre e cada um escolherá o seu herói.
Ralf que fez o gol do empate no último minuto na estreia e evitou uma crise.
Paulinho que fez no Vasco e roubou de Riquelme. Emerson e Danilo que despacharam o Santos.
Romarinho!
Cássio, Chicão e Leandro Cástan, todos que permitiram ao Corinthians sofrer tão poucos gols.
E a Fiel, é claro, que mais uma vez transbordou num Pacaembu que está se despedindo da vida do Timão, mas que entrou em sua história no IV Centenário de São Paulo, em 1954, sob a batuta de Cláudio, Luizinho e Baltazar para sair em grande estilo quase 60 anos depois.

Publicado na Folha de S.Paulo, em 05/07/2012.

terça-feira, 3 de julho de 2012

A Fúria voltou

Antero Greco




A Espanha reservou para a final da Eurocopa de 2012 recital impecável. A agora bicampeã continental ofereceu ao público, durante a maior parte da competição disputada na Polônia e na Ucrânia, exibições corretas como sempre, mas de brilho escasso. Por alguns rivais passou com sufoco (c0mo aconteceu contra Portugal na semifinal). Manteve a confiança de quem sabe da força que possui, porém com ar indolente. Superou fases como se cumprisse obrigação. Em resumo, apresentou momentos de chatice, mesmo com a consciência de que tinha qualidade para regalar os fãs com mais.

A Fúria felizmente reincorporou o espírito cativante do Barça e o modo incisivo do Real na decisão, diante da Itália. Não por acaso a única equipe que a obrigara a jogar melhor, no empate por 1 a 1 na estreia de ambas. Contra a surpreendente Squadra Azzurra, a turma de Vicente Del Bosque gastou a bola como se deve, como se espera de quem tem Xavi, Iniesta, Casillas, Xabi Alonso, Fernando Torres e outras figurinhas carimbadas.

A Espanha foi tão diferente, no tira-teima com os italianos, que até a metade do segundo tempo não ostentava superioridade na posse de bola, quesito festejado pelos adoradores de estatísticas. Os campeões do mundo ficaram menos com a redondinha, ao contrário do habitual, e nem por isso deixaram de ser ofensivos. Ao contrário, desta vez foram práticos e expeditos. Coube aos adversários segurarem mais, para encontrar brechas na marcação. Os ibéricos compensaram com velocidade no contragolpe, com ousadia que economizaram antes.

Ressurgiu, então, em Kiev, estilo que agrada aos que entendem o futebol como mistura da arte de estratégia e técnica com a malícia e o improviso. Daí os espanhóis fartaram o público com esse repertório. Alegraram os que se nutrem do encanto do joguinho de bola e também aqueles obcecados por resultados e conquistas. Teve para todos os gostos.

Os italianos foram bravos, ao encarar os favoritos sem temor, e se saíram bem até David Silva abrir o placar aos 14 minutos. O gol abalou Cassano, Balotelli, Pirlo & compagnia bella; mas acusaram mesmo o golpe nos 2 a 0, com Jordi Alba. A Itália saiu grogue para o intervalo. Cesare Prandelli apelou para Di Natale no lugar de Cassano e, na volta, por pouco não se deu bem: com 5 minutos, o artilheiro da Udinese teve chance de diminuir. O nocaute veio por volta dos 15, com a contusão de Thiago Motta, que acabara de entrar na vaga de Montolivo.

Com um a menos, os italianos ficaram vulneráveis demais. A Espanha tirou o pé e abusou dos toques, convencida de que a taça não lhe escaparia. Os gols de Fernando Torres e Mata foram retoques cruéis num placar que não esteve ameaçado. Fecho de ouro.

Os espanhóis vivem fase esplendorosa e sem precedentes, com geração fora de série e um esquema que funciona. A autossuficiência quaselhes custou caro no choque com os vizinhos portugueses e levou à disputa de pênaltis. Magnífica, no entanto, a resposta ao desafio proposto pela ascensão da Itália e pelas críticas ao estilo por vezes monótono. Os astros campeões mostraram grandeza quando foram questionados, e jogaram bola.

Muitos integrantes dessa Fúria particular pararão após a Copa das Confederações e o Mundial. Podem sair de cena com uma coleção de títulos outrora inimaginável, mas ainda aquém de Brasil, Alemanha e Itália. Empolgação (justa) à parte, só a História comprovará se a Espanha vive um lampejo ou se veio para ficar. Para avaliação serena, é necessário tempo. Tomara vingue a segunda hipótese

Publicado em O Estado de S.Paulo, em 02/07/2012.

Bola no chão

Paulo Vinícius Coelho

O empate na Bombonera impediu reflexões sobre a maneira como o Corinthians jogou a primeira partida das finais da Libertadores. O time não marcou por pressão, como Tite pretendia - ou pelo menos afirmou ser sua intenção. Esse não foi o maior pecado.

O Corinthians jogou uma final como se joga, com raça. Ou quase. Porque além de raça, é preciso ter cabeça no lugar e bola no chão. Reveja a atuação de Alessandro, um dos mais seguros da defesa. A cada susto, bola pro mato.

No lance do gol de Romarinho houve o acerto. Antes, o excesso de chutões, para impedir a presença do Boca Juniors perto do gol de Cássio.

Quando Paulinho colocou a bola no chão, o Corinthians chegou. Foi assim aos 7 minutos, tiro de meia distância dele, bola espalmada por Orión. Foi assim principalmente na jogada de Paulinho e Émerson, do gol de Romarinho.

Quando o Corinthians rifou a bola, chamou o Boca para seu campo, risco que não deve correr na quarta-feira. Com bola no pé, o Boca procura Riquelme e este vai atrás do espaço vazio. No segundo tempo, jogou às costas de Ralf, entre o volante e o lateral Fábio Santos. Armou todas as jogadas.

Quarta-feira, o Corinthians tem dois caminhos. Se mesclar a raça da Bombonera, com marcação pressão - sua melhor característica - e paciência para sair da defesa para o ataque com bola no pé, o Corinthians será campeão da Libertadores. Se deixar o Boca trocar passes, como no segundo tempo de Buenos Aires, corre o risco de perder. Em vez de bola pro mato, porque o jogo é de campeonato, a receita é bola no chão, para ser campeão.





Publicado em O Estado de S.Paulo, em 02/07/2012.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

20 anos da primeira Libertadores do São Paulo


Maurício Rafael


Primeiro gostaria de dizer que fiquei muito honrado em receber um pedido para dissertar sobre a comemoração dos 20 anos da conquista do 1° Título da Copa Libertadores da América pelo São Paulo Futebol Clube. Principalmente por esse convite ter sido feito por um corinthiano roxo, meu grande amigo João.

Bem, os neurônios que sobreviveram as gandaias da época da faculdade, ainda guardam bem as lembranças daquele time magnífico, liderados por Zetti, Cafu, Raí, Muller e Palhinha e orquestrado pelo melhor técnico que eu já vi atuar, o saudoso Telê Santana.

Enfrentamos um time argentino com nome estranho – Newell´s Old Boys. O jogo foi difícil como era de ser uma disputa com qualquer time argentino, pois eles tinham mais experiência nesse tipo de competição, visto que, até hoje eles são os maiores ganhadores de títulos da Libertadores com o Independiente, que possui 7 taças.

Jogamos a partida final no Morumbi e ganhamos o jogo por 1 X 0, gol de Raí no segundo tempo, o que levava  a decisão para as penalidades máximas. Nos pênaltis vencemos por 3 X 2 e nos sagramos Campeões da Taça Libertadores da América de 1992.

É bem verdade que a disputa desse título não tinha para nós são-paulinos o peso que tem hoje para os corinthianos, pois deve ser duro ter que esperar mais de 100 anos para possuir um titulo desses...rsrsrsr!!!! , mas mesmo assim eu tinha a consciência que esse, seria um título muito importante para o meu clube, pois nos daria a chance de disputar o campeonato mundial inter-clubes, campeonato esse conquistado meses depois em cima do todo poderoso Barcelona.

Enfim, esse 1° Título da Libertadores, abriu as portas do cenário mundial para o São Paulo, que a partir desse campeonato conquistado com muita técnica e garra, mostrava  o inicio de uma historia de grandes glórias nos certames internacionais.

* Maurício Rafael é são-paulino e colaborou com o Ludopédicas.