Xico Sá
Amigo torcedor, amigo secador, coube a um dos
maiores escritores do mundo, o espanhol Javier Marías, em crônica para o jornal
"El País", exaltar, peça de brilhante defesa, a saudável função do
futebol como ópio do povo -este velho tabu que nos persegue até hoje.
Marías tratou da necessidade dos esclarecidos europeus, não "nosotros" colonizados tapuias, aliviar a barra da realidade econômica com a Eurocopa. Em vez das obras de Marcel Proust ou de Sartre, a bola. Com a mesma função da literatura: suspender, por um momento que seja, o pesadelo da realidade. Nisso o futebol é melhor ainda do que o maior dos Kafkas ou Quixotes. Eu acredito.
Repare, amigo, nesse Santos x Corinthians, Corinthians x Santos, na Libertadores, começou quase um mês atrás e parece não terminar nunca, ainda mais agora, com o time mosqueteiro quase na final da obsessiva e secular peleja. Quase campeão, quase.
Tem jogo que não termina nunca mesmo, vara o calendário, move montanhas, moinhos e botecos, anota certezas bíblicas na súmula, fala a incompreensível língua dos sábios comentaristas, para tudo recomeçar, quase do zero, na noite da próxima quarta-feira.
Pobre de quem pensa que a partida são os 90 minutos no campo. Ignora a capacidade da imaginação de milhares de narradores que acordam, rezam, comem, dormem sonhando com a disputa. Como dizia meu amigo doutor Sócrates (Santos desde criancinha e corintiano enquanto jovem artista da bola), o futebol é mesmo um engradado de surpresas. Quem perder a aposta, meu jovem, devolve os cascos, os vasilhames, na esquina. Passa a régua.
Vale pela função narcótica. Pela história que cada jogo conta, qual uma linda e misteriosa Sherazade, para nos engambelar na vida. E temos escritor capaz de manter esse suspense? Não mesmo. Somente este interminável Corinthians x Santos nos mantém vivos até o próximo embate.
Repare quantas "verdades" discutiremos até lá e dias depois: Neymar não é de nada (livro dos Corintios), o alvinegro tem sob controle total qualquer jogo da Libertadores, o futebol-arte do Santos pode fazer um milagre etc. etc. Verdades absolutas até a próxima quarta.
E justiça seja feita à margem esquerda do Tietê. Antes mesmo do Javier Marías, a dupla MarkAntonyo e Franco 4 Dedos, editores de "O Ópyo do Povo", novíssimo periódico anarcorintiano de SP, havia cantado a bola. Só o futebol anestesia mais gostoso.
Marías tratou da necessidade dos esclarecidos europeus, não "nosotros" colonizados tapuias, aliviar a barra da realidade econômica com a Eurocopa. Em vez das obras de Marcel Proust ou de Sartre, a bola. Com a mesma função da literatura: suspender, por um momento que seja, o pesadelo da realidade. Nisso o futebol é melhor ainda do que o maior dos Kafkas ou Quixotes. Eu acredito.
Repare, amigo, nesse Santos x Corinthians, Corinthians x Santos, na Libertadores, começou quase um mês atrás e parece não terminar nunca, ainda mais agora, com o time mosqueteiro quase na final da obsessiva e secular peleja. Quase campeão, quase.
Tem jogo que não termina nunca mesmo, vara o calendário, move montanhas, moinhos e botecos, anota certezas bíblicas na súmula, fala a incompreensível língua dos sábios comentaristas, para tudo recomeçar, quase do zero, na noite da próxima quarta-feira.
Pobre de quem pensa que a partida são os 90 minutos no campo. Ignora a capacidade da imaginação de milhares de narradores que acordam, rezam, comem, dormem sonhando com a disputa. Como dizia meu amigo doutor Sócrates (Santos desde criancinha e corintiano enquanto jovem artista da bola), o futebol é mesmo um engradado de surpresas. Quem perder a aposta, meu jovem, devolve os cascos, os vasilhames, na esquina. Passa a régua.
Vale pela função narcótica. Pela história que cada jogo conta, qual uma linda e misteriosa Sherazade, para nos engambelar na vida. E temos escritor capaz de manter esse suspense? Não mesmo. Somente este interminável Corinthians x Santos nos mantém vivos até o próximo embate.
Repare quantas "verdades" discutiremos até lá e dias depois: Neymar não é de nada (livro dos Corintios), o alvinegro tem sob controle total qualquer jogo da Libertadores, o futebol-arte do Santos pode fazer um milagre etc. etc. Verdades absolutas até a próxima quarta.
E justiça seja feita à margem esquerda do Tietê. Antes mesmo do Javier Marías, a dupla MarkAntonyo e Franco 4 Dedos, editores de "O Ópyo do Povo", novíssimo periódico anarcorintiano de SP, havia cantado a bola. Só o futebol anestesia mais gostoso.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 15/06/2012.
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