quarta-feira, 16 de maio de 2012

Quando os campeões são de fato os melhores

Ainda que não tivessem levantado canecos no último domingo, estou convicto de que Santos, Fluminense, Internacional, Atlético Mineiro, Coritiba e Bahia são, hoje, as melhores equipes de seus respectivos estados. Nem sempre o campeão (conquista objetiva) é o melhor (avaliação subjetiva). Na minha modesta opinião, 2012 deve ser lembrado como o ano em que as equipes mais bem montadas, com os melhores jogadores, mais competitivas e com o futebol mais vistoso – as melhores, enfim – foram as que comemoraram os títulos de campeãs estaduais.


Já virou lugar-comum elogiar o Santos da “era Neymar” comparando-o com o da “era Pelé”. Diferenças de conjunturas à parte, o que há em comum é o encantamento que o Peixe provoca nos amantes do bom futebol, independentemente de serem ou não santistas. É difícil admitir, mas até eu, corintiano, gosto de ver as diabruras de Neymar, Ganso e companhia. Além da competição, da rivalidade, da luta, do jogo em si – em que um ganha e outro perde –, o futebol também atrai as atenções pela beleza das jogadas, pela habilidade, inventividade, criatividade, plasticidade, etc., demonstradas em campo. Hoje, não apenas no Brasil como em todo o mundo, o Santos é um dos principais expoentes do futebol-arte. Ou seja, não dá para refutar que o tri paulista foi mais do que merecido.


Mérito que também teve o Fluminense, campeão carioca (ou campeão fluminense?). Quiçá, uma nova “máquina”, pelo menos se considerarmos a metade ofensiva da equipe. Do meio para a frente, o Flu conta com um elenco excepcional: Deco, Thiago Neves, Fred, Rafael Sóbis, Wellington Nem, Lanzini. O problema do Flu é atrás, com jogadores um tanto pesados na marcação – Edinho, Leandro Eusébio, Gum –, embora Diego Cavalieri tenha voltado a mostrar que é um grande goleiro.


O “novo baiano” Paulo Roberto Falcão adaptou-se bem à terra de todos os santos. Após a saída abrupta do Inter – onde, inclusive, foi campeão gaúcho –, Falcão conseguiu manter a equipe competitiva de 2011, quando o Bahia confirmou a permanência na Série A, algo digno de nota atualmente para as equipes do Nordeste.

O mesmo pode ser dito do Coritiba, sensação de 2011, quando conquistou o vice da Copa do Brasil e passou 28 jogos em perder. O Coritiba é o único representante paranaense no Brasileirão 2012 e, mantendo a base e o técnico Marcelo Oliveira, deve ser, de novo, um adversário duro de ser batido.

Por fim, o Atlético voltou a ser o melhor de Minas. Porém, apesar da conquista invicta e de contar com jogadores destacados em seu elenco, como André e Réver, o Galo continua longe do nível esperado para um clube com tamanha tradição. Aliás, o futebol mineiro passa por um nivelamento por baixo. Além da supremacia do Galo, o campeonato mineiro expôs a ascensão do América e a decadência do Cruzeiro, que não conseguiu se refazer completamente da derrota para o Estudiantes, na final da Libertadores em 2009, e do quase rebaixamento no Brasileirão de 2011.

***

Dois turnos

Vários campeonatos estaduais são disputados no sistema de dois turnos, em que o campeão do primeiro turno faz a final contra o campeão do segundo. Os campeonatos do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, por exemplo, são disputados assim; inclusive, cada turno é considerado um campeonato a parte, com taça própria. O campeonato paulista já foi disputado em dois turnos; há muito tempo deixou de sê-lo. A favor, a tradição da forma de disputa. Contra, o relaxamento do campeão do primeiro turno na disputa do returno; raramente ganha os dois.

Agora, inconcebível, no meu modesto entendimento, é o campeonato de dois turnos em que o time que ganha ambos não é considerado automaticamente o campeão estadual. Como, por exemplo, aconteceu em Santa Catarina. O Figueirense, campeão de turno e returno, acabou derrotado pelo Avaí. Eis um grande incentivo para que as equipes levem todo o certame “nas coxas”, concentrando-se apenas nas fases eliminatórias e nas finais.

A propósito, uma curiosa lembrança: A famosa Copa União, realizada em 1987, foi disputada no sistema de dois turnos. O Atlético Mineiro, na época treinado por Telê Santana, faturou os dois. No entanto, premiado tão-somente com a vantagem do empate nas semifinais, foi eliminado pelo Flamengo. Absurdo dos absurdos, o Galo, mesmo vencendo turno e returno, sequer chegou às finais da Copa União de 87! Um ingrediente a mais para quem passa horas e horas discutindo se o campeão brasileiro daquele ano foi o Flamengo ou o Sport.

***

Anos 2000: a era dos times do interior no Paulistão

Muitos afirmam que os times do interior são relegados da disputa do título paulista. Talvez essa afirmação não seja totalmente correta. Ao menos se tomarmos como referência os campeonatos disputados nos anos 2000 e se considerarmos como “do interior” todos os que estão fora da capital. Assim, o Santos e o São Caetano, por exemplo, seriam considerados times do interior.

Desde 2000, o Peixe faturou 5 dos 13 títulos disputados (2006 – após 22 anos de jejum no estado –, 2007, 2010, 2011 e 2012) e foi vice em outras duas oportunidades (2000 e 2009).

Disputado somente por equipes interioranas, o Paulistão de 2002 foi conquistado pelo Ituano, em final contra o União São João de Araras. Em 2004, contando com a presença dos clubes da capital, o campeonato foi decidido entre São Caetano (campeão) e Paulista de Jundiaí (vice). O Azulão, aliás, quase ganhou também em 2007, quando deixou escapar a taça no final da partida contra o Santos. Em 2001, em 2008, em 2010 e em 2012 outras equipes interioranas foram vice-campeãs paulistas: respectivamente, Botafogo, Ponte Preta, Santo André e Guarani.

E ainda tem gente que diz que o interior não liga para o Paulistão.

***

O melhor jogo do domingo e um dos melhores dos últimos tempos




Em que pesem as conquistas em solo brasileiro, o jogaço, aço, aço do último domingo se deu nas terras da Rainha Elizabeth. O Manchester City sagrou-se campeão após 44 anos e longuíssimos 90 minutos diante do Queens Park Rangers. A partida oscilou entre a euforia e o desespero – ao final, a torcida estava absolutamente angustiada, muitos chorando –, assim como toda a temporada caracterizou-se pela alteração entre o “já ganhou” (quando o City abriu 8 pontos), o “já perdeu” (quando o rival United abriu vantagem) e pelo “sim, nós podemos” (quando o City venceu o United e empatou com o arquirrival em pontos).

Sabendo que o Manchester United vencia seu confronto contra o Southampton, o Manchester City tinha a obrigaçao de vencer o QPR, jogando em casa. Abriu o placar logo no início da partida. O Rangers virou a partida e segurou o placar até os acréscimos da segunda etapa. Foi quando aconteceu o desfecho épico: com dois gols em dois minutos. O City, enfim, pode soltar o grito de campeão.

A reação da torcida, com direito a invasão de campo, foi uma verdadeira catarse coletiva, um momento histórico que emocionou a todos, inclusive a mim, que nada tenho de simpatia em relação àquela camisa azul. Pelo contrário, confesso que a dinheirama colocada pelo árabe Sheik Mansour causa-me certa aversão. Qual o quê! Diante do que se viu no domingo após o gol do argentino Aguero, tudo é secundário em relação a tamanha luta e a tamanha conquista. Eis a beleza do futebol, essa espetacular invenção inglesa, de complexidade shakespeariana.

JFQ

Nenhum comentário:

Postar um comentário