segunda-feira, 7 de maio de 2012

Naná Nike

José Roberto Torero

Naná Nike foi a primeira das chamadas marias-chuteiras. "Epa! Maria-chuteira, não. Caçadora de talentos ludopédicos-financeiros", explica a veterana senhora.

Hoje em dia, já de cabelos brancos (totalmente pintados de loiro, é claro), Naná Nike dá aulas para senhoritas que pretendem se casar, ou ter conta conjunta, com jogadores de futebol.
"O amadorismo ficou para trás. Acabou-se o tempo do chuteirismo-arte. Hoje a coisa tem que ser tratada como ciência. É o chuteirismo de resultados."

Seu curso inclui as cadeiras de Estratégias Futebolísticas Modernas ("É sempre útil para puxar conversa"), Contabilidade, Kama Sutra (básico, avançado e contorcionista), Direito Familiar (com enfoque em pensão alimentícia e herança), Maquiagem, Silicone (1, 2 e 3), e, quem quiser fazer pós-graduação, pode optar entre Sociologia das Churrascadas e Psicologia dos Centroavantes.
Aliás, Naná Nike ensina que a verdadeira chuteirista tem que escapar das festinhas dos jogadores, sempre repletas de atrizes pornôs, garotas de programa e demais senhoritas generosas.

Ela afirma que o melhor mesmo é se encontrar a sós com o futuro provedor. Tanto que suas meninas aprendem a se disfarçar de arrumadeiras de hotel, a fim de entrar nas concentrações, e de enfermeiras, para penetrar nos hospitais e pegar os atletas no frágil período de recuperação. Houve ainda uma que chegou a usar bigode para se passar por motorista particular de um famoso meia. O caso só não foi em frente porque o jogador preferia que o bigode fosse verdadeiro.

Entre as sabedorias distribuídas por Naná Nike está a de escolher o alvo certo: "Goleiros? Nunca. Ganham pouco e, se levarem um gol numa final, caem em desgraça. O melhor são os atacantes.
Mas os meias também são muito bons. Para longo prazo, volantes e zagueiros. Eles são o DI e o RF do futebol."

Outro ensinamento importante do chuteirismo é "Pegar os jovens. Nada de ir para cima de jogador que já teve vários casamentos. Fatiar o passe, tudo bem. A pensão, jamais!"

A sábia senhora avisa que é fundamental resistir à tentação de sair com os empresários dos jogadores. "Nem pensar! Esses são melhores que a gente. Acabam levando o do jogador e o nosso."

Naná Nike só dá o curso pelo prazer de passar sua vasta cultura acumulada, pois não precisa mais de dinheiro. "Cheguei ao ápice da profissão. Casei com um dirigente. O bom não é ser maria-chuteira, é ser maria-cartola."
Publicado na Folha de S.Paulo, em 05/05/2012.

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