terça-feira, 3 de abril de 2012

Os oito eleitos

Luiz Zanin


Duas rodadas antes de terminar a fase de classificação, o Campeonato Paulista já tem seus oito finalistas. Como era fácil prever, lá estão os quatro grandes. Entram mais quatro “convidados”: Mogi Mirim, Bragantino, Guarani e Ponte Preta. Não é um anticlímax, um daqueles finais manjados que arruínam qualquer suspense? O que ainda pode se alterar nessas últimas rodadas são as colocações, que determinam quem joga contra quem nos jogos eliminatórios e concedem a única vantagem aos quatro primeiros, a do mando do campo. Quer dizer, um tédio só, como já se sabia, aliás, antes de a bola rolar no primeiro jogo.

Daí para a frente, surge outra aberração, a disputa de quartas de final e semifinais em jogo único para, em seguida, o mata-mata ser restabelecido para a disputa da taça de 2012. Quem bolou esse absurdo deveria ganhar um prêmio. Ou melhor, um antiprêmio, como ser obrigado a frequentar essas reuniões de cartolas por toda a eternidade. Ou ficar de castigo até apresentar uma proposta convincente para redesenhar o calendário futebolístico brasileiro em seu todo. Porque, claro, os campeonatos regionais são parte de um problema que é muito maior e desafia qualquer racionalidade, que é o calendário brasileiro.

O problema do Campeonato Paulista é mais político que logístico. A medida óbvia seria abaixar o número de clubes na divisão principal para dezesseis, embora haja quem fale em apenas 12. Mas como a federação faria para implantar medida tão impopular? Esse é o desafio, mesmo porque o desnível entre times aumentou demais e isso também compromete o interesse do campeonato. É raro que um grande encontre problemas ao jogar contra um pequeno, mesmo que seja no campo deste. Se o campeonato concentrasse na 1.ª Divisão apenas os melhores clubes do interior, a competitividade aumentaria.

Como enfrentar o desafio de desagradar aos que ficariam de fora? Bem, esse é um problema que não é nosso, da crônica, mas de quem ocupa o poder na Federação Paulista. Ossos do ofício, ônus do cargo, que exige decisões difíceis de tomar. O fato é que o campeonato não pode ter esse formato de coração de mãe, que pode satisfazer a alguns interesses, mas compromete o espetáculo na sua dimensão principal que é a de manter um certo equilíbrio.

Já que não se pode eliminar vários clubes, a solução talvez fosse reunir os competidores em grupos, tendo os grandes como cabeças de chave e fazê-los jogar entre si. Avançam apenas os primeiros, ou os primeiros e segundos de cada grupo, que disputam entre si em eliminatórias até chegar à decisão. Algo no modelo da Copa do Mundo. Alguém por certo vai dizer que os times mais fracos teriam carreira breve e logo seriam eliminados, ainda na fase de grupos. É verdade. Mas como alterar esse sistema que aí está, e desagrada a todos os observadores, sem que alguém se sinta prejudicado? Impossível, mas algo precisa ser feito para que o campeonato não caia em descrédito.

Publicado em O Estado de S.Paulo, em 03/04/2012.

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