sexta-feira, 27 de abril de 2012

O mal e o bem

Rodrigo Bueno



Desde que o mundo é mundo há a disputa entre o bem e o mal. E desde que o Barcelona é o Barça de Messi e Guardiola criaram mundo afora uma nova e tola disputa entre o bem e mal.

Por que todos os times precisam copiar e tentar jogar como o fabuloso time catalão? Por que um Chelsea não pode montar uma linha de defesa parecida com a de um time de handebol e se segurar na defesa fora de casa com um jogador a menos por quase uma hora? Por que o Stoke City não pode ficar com 1% de posse de bola e ainda vencer com justiça por um gol de lateral-monstro ou ligação direta?
As regras do futebol não falam que um time precisa atuar no ataque, que é obrigado a jogar bonito etc. Na NBA, as torcidas cantam eufóricas "Defense" quando o time está lutando pela vitória ali todo atrás. Faz parte do esporte (de quase todos) atacar e se defender.

Já teve gente comparando a derrota do Barça de ontem com a do Brasil de 1982, a única que me fez chorar na vida (entendi, tempos depois, que a Itália mereceu aquele triunfo naquele dia). Há quem tema que, agora, após "José Mourinho ter ensinado como derrotar o Barcelona", o planeta será tomado por retrancas porque é isso que funciona, que o Barça acabou... Calma lá!

Durante o jogo, conferi ao máximo em mídias sociais as manifestações dos "defensores do bem" e dos "torcedores do mal": "Quem quiser torcer para o Chelsea torça, tem gosto para tudo" x "Encostou em jogador do Barça é falta e expulsão, que time mais chato".

O triunfo do Chelsea foi bravo, heroico, magnífico, épico... Drogba foi um monstro. Ramires destruiu o confronto nos dois jogos. Messi, bem marcado (pela primeira vez perdeu um pênalti e levou um amarelo no mesmo jogo), manteve sua sina de não balançar as redes do Chelsea e do Cech. Mérito do time inglês, que perdeu sua dupla de zaga titular ontem, que tem um elenco envelhecido, que trocou de técnico faz pouco tempo, que faz temporada irregular em seu país, que superou a torcida de boa parte do planeta... Fez o possível (como em 2009, quando foi prejudicado ante o Barça) e o que parecia impossível (agora).

O Chelsea cresceu demais nas mãos de um milionário e, curiosamente, pode ganhar a Europa quando já está decadente e sem o Special One (que não é o Diabo, creiam). Abramovich também não é o mal. Nem muito menos Sandro Rosell (Qatar Foundation e "otras cositas más") é o bem.

O Chelsea não é o Barça e é ótimo que seja assim, assim como é ótimo que saibamos conviver com as diferenças.

Publicado na Folha de S.Paulo, em 25/04/2012.

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