sexta-feira, 2 de março de 2012

Viajar é preciso

Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro

A recente participação do Santos no Mundial de Clubes da Fifa nos obrigou a refletir sobre a colocação do futebol brasileiro no mundo. A derrota nos imputou lições que devem ser aprendidas.

Há uma distância física, técnica e até mesmo conceitual entre o futebol que praticamos aqui e o futebol que assistimos apenas pela televisão. Se não buscarmos meios de executar uma reaproximação, o tempo nos colocará ainda mais longe da posição que um dia ocupamos: os melhores do mundo nesse esporte.
Os grandes clubes nacionais, em seus tempos mais gloriosos, tinham embates mais frequentes contra os poderosos clubes do velho continente, integrantes das melhores ligas do planeta.

Esses jogos contribuíam para que nos mantivéssemos tecnicamente equilibrados com essas equipes. Tínhamos maior referência e maior conhecimento sobre o que acontecia no resto do mundo.

Por vezes o Santos deixou de disputar a Libertadores para realizar essas excursões, tamanha sua relevância. Nesse período, entre 1958 e 1970, disputamos quatro Copas do Mundo e conquistamos três.
Por equívocos de planejamento e formulação de calendário, deixamos de realizar partidas contra Barcelona, Milan, Benfica, Manchester United e tantas outras importantes camisas.

Os times brasileiros não fazem mais essas viagens. Isso é um grande erro. Quanto o Leste Europeu não pagaria para ver Neymar, Ganso e companhia? Quanto não poderia ter lucrado o Corinthians se tivesse levado o Ronaldo para se apresentar na Ásia? É imperativo que sejam criados intervalos na agenda do futebol para que as agremiações possam se rentabilizar e intercambiar culturas.

Após a virada do milênio, por exemplo, foram realizados apenas cinco jogos oficiais entre equipes brasileiras e europeias. É pouco! Não é à toa que, nos últimos 15 anos, o Brasil teve apenas três campeões mundiais -os europeus tiveram dez.

Esses embates internacionais também permitem que as marcas dos clubes sejam mais conhecidas no resto do mundo. Hoje, ficamos limitados a aparecer apenas quando conquistamos uma Libertadores.

Com a experiência que vivemos com o Santos no final de 2011, percebemos que os clubes brasileiros precisam explorar a força das suas marcas em mercados como o do Japão, que tanto aprecia nosso futebol. Na China, nação com o maior desenvolvimento econômico no planeta, nossa atuação ainda é quase incipiente. Os clubes europeus, porém, já estão presentes nesses locais e aumentam a cada temporada a sua atuação no mercado mundial.

Já passou da hora, e faço aqui também um mea-culpa, de os grandes clubes se unirem para que exista espaço para três ou quatro amistosos internacionais durante o ano.

Não é enforcando uma semana ou apertando, de forma absurda, três jogos em sete dias, como o Internacional foi obrigado a fazer em 2011, que resolvemos a questão.

A alteração pela qual passará o calendário em 2013, mudando o período de disputa da Copa do Brasil, será uma oportunidade. Sobretudo nesse momento em que temos no departamento de seleções da CBF alguém que viveu fortemente a experiência de comandar um clube e sentiu na pele essas dificuldades, Andres Sanchez.

Os detentores dos direitos de transmissão também terão benefícios claros. A maior exposição do nosso futebol vai valorizar o Campeonato Brasileiro, despertando o interesse de novos mercados.
Não podemos esperar mais para chamar a atenção do mundo para os nossos clubes, e não apenas para a nossa seleção. O futebol brasileiro precisa se preparar, afinal não sabemos quais serão as consequências de uma nova frustração como a ocorrida na Copa de 1950.

Convoco os meus companheiros dirigentes para, junto com a CBF e com a televisão, encontrarmos caminhos para que voltemos a ser o país do futebol.

LUIS ALVARO DE OLIVEIRA RIBEIRO, 69, é empresário e presidente do Santos Futebol Clube desde 2009
Publicado na Folha de S.Paulo, em 01/03/2012.

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